A minha Mimi
não tardou a entreter-se pulando-me em cima, ritual habitual e que só pára
quando me levanto e lhe renovo a ração de granulado na gamela e o patê fresco
num pires bem lavado, caso contrário nem lhe toca… Basta-lhe
adivinhar uma nesga de claridade nas persianas e o seu reflexo é despoletado,
só desarmando quando consegue acordar-me e ver-me levantado para a servir. É uma gata
manhosa da qual nada consigo fazer. Em pequena não consegui, e agora, na plenitude
da sua juventude e irreverência, muito menos consigo. Mais
perseverantes e teimosas que ela só outras gatas que passaram pela minha vida.
Devia ter adoptado um cão. Não por acaso é esse o fiel amigo do homem.
Razão teve a
minha vizinha de cima. Tem um cão minorca que é o cúmulo do bom comportamento. A dona sai de
casa cedo para enregar ás oito, deixa-o numa cestinha com uma peça de roupa
dela que o conforte e aqueça e dali não se mexe até à hora de almoço, em que a
dona vem aos morfes e o vai passear pá mijinha da hora. À tarde o processo
repete-se até a dona regressar, lá pelas vinte ou vinte e uma horas, dependendo
do dia e do turno em que labuta. Pasmo ver um
cão tão ladino e arisco com comportamento exemplar, vai daí nutro pela minha
vizinha uma admiração de espantar.
Admiração
aliás de todo merecida. Indo já no terceiro ou quarto marido, pelo menos este
último, um capitão do exército, o único que lhe conheci, está tão bem adestrado
como o cãozinho minorca. Nas folgas
desencontradas, deixa-o na cama o dia todo, com uma ida à varanda para sugar um
cigarro, ao almoço, e espreguiçar os braços ao fim da tarde. Só não sei,
mas imagino, que também o deixe com uma peça de roupa que o conforte e aqueça
até ela voltar, e aqui, se me permitem a ousadia, imagino a lingerie que devia
ter ido para a maquina de lavar mas cuja limpeza foi adiada devido a motivo de
força maior…
A cada um as
suas taras, vivemos numa democracia, e desde que a liberdade individual não
colida com a liberdade dos outros não vejo motivos para lapidação…
A este
propósito lembro aqui a tara do meu amigo Maurício, “ NÃO, NÃO É O QUE PENSAM… * tara a que ele foi dando continuidade sem que daí tenha vindo mal ao
mundo, a não ser para ele mesmo que nem sei como consegue dormir imerso naquele
odor grosso e forte, minado de feromonas prontas a assaltar a índole mais bem
treinada e a dominar o ego mais convencido, por exemplo o do Narciso… ehehehehe
!!!
É domingo, as
pálpebras pesam-me. O vizinho de cima acabou de sugar o cigarrito habitual. A
Mimi está tratada, agora desapareça, vá caçar ratos.
Eu vou xonar,
estarei a dormir antes que a cabeça tombe na almofada.
Tentarei caçar
as memórias que o R.E.M. fizer correr durante…
Se as não
esquecer prometo contar-vos as mesmas.
Bjssssssssss
Xau !