Uma das minhas
amizades destas lides julga-se um anjo. Não que isso me incomode, nada mesmo,
pelo contrário, até gostava que fosse, e certamente não eu exclusivamente, mas
todos que beneficiássemos da protecção das suas asas miraculosas.
Cada um tem a pancada
que quer, ou pode, ou lhe calhou em sina. A nós nos cabe aturá-la, aguentá-la ou sacudi-la ...
Sucedeu que um texto
meu lhe não agradou e largou-me um desafio, como as vacas largam bostas, de um
tema à sua escolha.
Não quero imaginar
tudo que pensou enquanto lia esse texto que achou abominável, aquele que tanto
a impressionou e lhe desagradou. Aliás, desagradou a mais gente e acabei por
retirá-lo.
É preciso ser mazinha
pensei eu perante o seu desafio, coisa que sobre ela jamais me ocorrera, mas
como não gostou aceitei-lhe a prerrogativa de escolher um a seu jeito, de sua
livre vontade, e a seu gosto, ao que ela inteligentemente (?), a vingança é
sempre terrível, respondeu com o repto para que eu escrevinhasse sobre “a
importância do escaravelho no cultivo da batata”.
Sorri, eu sei, mas ela
não parece ter-se apercebido, que a qualquer texto se dá a volta como entendermos.
A aposta não estava ganha á partida mas não era difícil. A batata será
importante pelo menos para ela, para os entendidos nem tanto, ou nem por isso,
não passa de um tubérculo perene, sendo um dos vegetais mais usados em todo o
mundo, e também um daqueles com que se enganam os parvos e fazem fortunas, pois
dá dinheiro fácil, imaginem o valor de um quilo de batatas fritas em pacote, um
dinheirão !
E nem o muito gasto em
ginásios encolherá às consumidoras o tal pneu uma vez adquirido. De tão grande
riqueza, a batata, é alimento humano há mais de 7000 anos por ser rica em amido
e é nas suas plantações que surgem os besouros ou escaravelhos mais conhecidos
por coleópteros, que se caracterizam por poderem voar e possuir um par de asas,
os élitros.
Existem mais de 350.000 espécies no mundo, sendo estes insectos o grupo animal mais diverso que existe de entre os que melhor conhecemos. A Joaninha, os besouros, ou escaravelhos, os vaga-lume ou pirilampos, o gorgulho e o rola-bosta, sim, esse mesmo, o rola-bosta, ou escaravelho da merda, fazem dele parte.
Mas estou a desviar-me
do meu fito, já que esses insectos, nas suas variadas fases de vida, se
transformam ou comutam, de larvas a mariposas, não olvidando o intermédio de
crisálidas.
A minha desafiadora amiga
não será uma mariposa, mas julga-se um anjo e os anjos têm asas, durante muito
tempo a sua presença fez-me sentir como quem sente a Primavera e quase
diariamente “poisava” no meu perfil, e em tantos outros decerto, o que era uma
alegria, ver a marca da sua pose.
Não a conheço, aliás
nunca a vi ou conheci, mas imagino-a crisálida presa na sua espécie e ávida
desses voos que desferia como se a vida lhe desse um dia apenas de alegria.
Foi-se, nem sei se por, como as borboletas de verdade, a vida lhe ser curta e a
condição tão breve quanto a tolerância.
Deixou-me saudades e,
hoje, que a Primavera já vai entrada, com saudade a lembro em cada borboleta
que vejo, e em cada volteio com que me rodeiam a relembro e imagino, será ela ?
Não sei, nunca
saberei, ficou-me contudo a doce lembrança dos seus voos e a doce sensação
deixada cada vez que, como um anjo, no meu perfil poisava.
...