Não aguentaria mais. Nem mais nem mais tempo. Falei
hoje sobre o que queria para a minha vida e não quero continuar assim. Isto
tinha que se dar. Agora que já está acho ter demorado tempo demais. Devia
ter-lhe posto fim mais cedo. Demorado e durado. Lá haverá quem pense que acabou
antes de tempo, por mim durou até demasiado.
Se bem o pensamos melhor o fazemos, isto devia ser
atar e pendurar como na mercearia. Depois de pensada a coisa nada se ganha em protelar. Pagar e
morrer é que quanto mais tarde melhor. Na verdade agora até sinto um alívio. Os
últimos dias acabaram comigo. Devia ter-me decidido mais cedo. Nem sei que
imaginava eu que tanto temia a decisão. Afinal foi fácil, nem zaragatas, afinal
foi uma surpresa, a bem dizer nada do que previra aconteceu.
Mas é isso que é estranho. Algo devia ter acontecido.
Mas ao certo que devia ter sucedido que não sucedeu ?
Esta falta de reacção é inusitada, não a esperava de
todo, estive a preparar-me para tudo menos para esta indiferença muda. Desolação,
foi o que ficou depois da decisão anunciada. Mas para mim antes esta desolação
consumada que a apreensão em que passava os dias.
As crianças já foram. Já foram crianças, o Antonino já
tem a vida dele traçada, e a Ermelinda meteu o pé na portada e empurra agora,
e, se bem a conheço não vai tirá-lo. O caminho é em frente, que atrás vem gente
e nisso a Salsichinha sai à avó que quando se lhe metia uma coisa na cabeça não
descansava. À avó ou à mãe. A alguém têm que sair os miúdos né ? Se não for ao
pai só pode ser à mãe. Olhem esta agora.
Descobri a pólvora para aqui a falar para as paredes,
para o boneco como soa dizer-se. Podia ser pior. Afinal vivo uma acalmia que há
meses não sentia. Há males que vêem por bem. As coisas vão até mais calmas do
que estava à espera. Já nada há que me cause alarido. O pior vem agora mas acho
que me dominei, me acalmei, e tudo isto me deu preparação foi isso que
aconteceu.
Este assunto andava a matar-me o pensamento, agora já
posso sair do esconderijo, não sinto raivas mas algum medo, preciso
organizar-me, vou estar uns tempos sem aparecer, espero que compreendam, tempos
difíceis se avizinham. Falei hoje sobre o que queria para a minha vida e não
quero continuar assim. Foi isso que aconteceu.
Tenho de parar com isto, falar só p’ra mim, falar
para as paredes, logo eu que até tenho perfeita consciência de me perder por
falar demais, mas preciso ocupar-me, não posso pensar que agora estou só, eu e
eu comigo, esta fase solitária há-de passar, é tudo estranho agora, anda tudo
estranho, ou serei eu que verei tudo diferente, finalmente as coisas
esclareceram-se, foram demasiado longe, muito mais do que imaginava, do que
queria, terem ido longe demais desta vez até foi positivo, e não era o que eu
queria ?
Foram mais longe e ficaram mais sérias, a vida é uma
merda, é uma merda mas é assim mesmo, e esta vida de merda nem traz manual de
instruções, tenho é que desanuviar, meter baixa, ou meter férias, ir à praia,
estou a ficar branquelas e detesto.
Não, não foi um capricho do momento, andámos foi
demasiado tempo engonhando, fazendo de conta que nada se passava, mas passava,
agora já passou, a vida não pára, em frente que atrás vem gente, até me sinto
mais leve, até sinto um alivio que há meses não sentia, ainda me custa
acreditar que já estou noutra, vou mas é meter férias atirar duas ou três
coisas para o carro e partir à desfilada.
Allgarve here i go !!!
Não aguentava mais, não aguentaria mais, nem muito mais
nem muito mais tempo. Isto tinha que se dar. O que durou a mais foi o que se perdeu. Afinal
foi fácil, afinal nem zaragatas, afinal nem surpresas, no final só uma
indiferença muda. Olhem-me esta agora, por esta é que não esperava de todo.
Podia ser pior, podia ter sido pior mas cá estou eu a falar para as paredes,
para o boneco como soa dizer-se, preciso ocupar-me, esta fase solitária há-de
passar-me sem que me perca por falar demais, ninguém está ouvindo pois não ?
Ninguém ouviu nada então não ?
Quando voltar de férias logo se verá, os miúdos, os
carros, logo se verá quem fica com o quê ou quais, os discos e os livros não
deixam duvidas e até lá não me doa a cabeça.
Preciso aliviar, distrair-me, sentir de novo a vida,
as emoções fervilhando em mim, os sentimentos palpitando como pipocas, o sangue
correndo nas veias e a pele arrepiando-se de novo. Vivo a ternura dos quarenta
e inda valho, ainda presto, ainda preciso, ainda sou capaz. Preciso é esquecer
a sensaboria do passado, o sentimento de inutilidade, esta sensação de ser
invisível, de quase nem existir, vão ter que me aturar de novo, terão que olhar-me
de novo, ver-me, reparar em mim, aguentar-me que renasci e estou aqui de novo
para as curvas, para a vida !!
Cuidem-se !
Allgarve here i go
!!!
Faro here i go !!!
https://www.youtube.com/watch?v=XbwtOekK3qY
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