Podemos comparar o que comparação não
tem ?
Pode, ou é licito, pacífico ou
conveniente arriscar uma comparação ?
Em que condições a devemos fazer ou
evitar ?
Estas e outras semelhantes interrogações
me coloco a mim mesmo sempre que uma amiga minha lança, atira, ou provoca
comparações.
Vou mais longe e digo mesmo arrisca
comparar-se.
Tenho-me apercebido que em cada estádio
(em cada momento), tenderem muitas mulheres a imaginar-se iguais mas mais
genuínas que todas. Tendem, aspiram, julgam-se, intentam, pretendem, e poucos
serão os casos em que tal desiderato as não aqueça ou arrefeça.
A essa pretensão responderei com algum
saber empírico que me concedem as mais de cinco décadas de vida que já levo.
Primeiro que tudo dir-vos-ei que neste
precioso item não há coisas comparáveis, pelo que estais a perder a partida no
momento em que a comparação é gizada. Cada ser humano é uma panóplia bem
recheada de atributos, e os que são relevantes num caso podem não o ser no
outro, pelo que a pretensão de encontrar ou ultrapassar semelhanças em
realidades diferentes é manifestamente impossível.
Em segundo lugar, e volto a frisar estar
falando por mim, tenho por preguiça mental ou por inata facilidade a tendência
para a categorização, o “arrumar” cada pessoa numa categoria simplificada mas
de fácil discernimento ou consulta no “catálogo”.
É deste modo que no meu portefólio junto
a Felícia faladora, a Armanda mamalhuda, a Rosa recalcitrante, a Alicia
boazona, a Teresa beata, a Marília complicadinha, a Gertrudes aflita ou a
Lurdes loira…
Em princípio todas me merecem igual
consideração, e desde já ressalvo todas gozarem, partilharem ou beneficiarem
das qualidades e defeitos umas das outras, ainda que em diferentes graus,
embora nenhuma seja tão complicada como a Lurdes, que aliás tem umas mamas tão
boas como as da Armanda, que por sua vez é tão boazona quanto a Alicia.
Onde eu quero chegar é ao facto de, se a
amiga A pretende comparar-se com a B eu puxo do cardápio e julgo de imediato a
partir daí, é óbvio que raramente se podem comparar, logo, ao tentar
estabelecer qualquer comparação a tentativa falha, e ao falhar resulta em perda
para quem alimentou a pretensão. Note-se que o contrário é igualmente válido, A=B
e B=A, a ordem dos factores é arbitrária, mas o resultado é igual.
Naturalmente não privilegio A, B, C ou D
pelo tamanho das mamas, mas conta. Evidentemente privilegio o diálogo com
alguém menos complicado, mais simpático ou agradável, certamente aprecio a
loquacidade dum espírito espirituoso (desculpai-me a redundância), e em
concreto afasto-me de ambientes azedos, enfermiços ou socialmente complicados,
perturbados, enleados ou embaraçados.
Aprecio falar de musica com X mas
detesto fazê-lo se ela puxar o tema da arte, considero platina os diálogos
sobre romantismo de K mas vitupero-lhe o perfil psicológico, dou muito apreço à
ternura meiga de W mas não lhe aparo a rigidez estética, acho muita piada aos
horizontes largos de M mas não lhe suporto a estreiteza exagerada dos
parâmetros éticos, convivo pacífica e agradavelmente com N mas estou a milhas
das suas balizas morais.
Em cada amigo ou amiga elegemos, eu
faço-o, um rol mínimo de particularidades que definem quem ele é, ou ela é, e
como será o nosso relacionamento, a nossa amizade, os nossos diálogos, os temas
abordados, e cada um, ou cada uma é, nesse item, único (a), pelo que pretender
comparações é arriscar a invasão pelo espaço de um qualquer outro(a), espaço em
que esse outro (a) se afirma há bastante tempo e domina como ninguém.
É tentar imiscuir-se na pele de outrem,
sendo muito difícil que o fato lhe assente à medida, ou seja, é muito difícil
igualar ou superar a comparação pretendida. Perde-se. Como já disse são coisas
diferentes, e o que é diferente só à martelada se tornará igual.
Mas adianto-vos o que penso de cada vez
que alguém propositada ou inadvertidamente me suscita comparações.
Segurança. Ocorre-me ao pensamento o
factor segurança.
Não conheço maior testemunho da falta de
segurança em si mesmo (a), sendo que considero tal a prova da existência de um
amor-próprio muito baixo. Baixíssimo.
Pelo contrário, jamais vi uma pessoa
segura de si suscitar uma comparação. Quem é seguro de si vive satisfeito
consigo mesmo, (a) tem um ego alimentado, não necessita nem quer ser como mais
ninguém. Sabe que é único (a) e assume essa autenticidade.
Não a mascara nem dilui, reforça-a.
Assume-a. Vive-a.
Só quem não está seguro de si que ser
“outro” (a), ou ser como o outro (a), imitar ou igualar o outro (a), no fundo
perder todas as características que o (a) fazem genuíno (a), único (a), para
ser mais um como quaisquer outros (as). Não vejo vantagem a não ser para passar
anónimo (a), despercebido (a).
Forçosamente (forço-me a isso) quando
confrontado com situações dessas, exigindo-me ou sugerindo-me comparações,
afivelo logo a simpática máscara da empatia, todavia não vos deixeis enganar,
sob ela uma dolorosa condescendência me anima, e não raras vezes a infelicidade
desse pretensiosismo entristece-me. (o vosso pretensiosismo).
Vejam por mim, casado há trinta anos com a mesma mulher, (o tempo
entretanto passou, fiz a 9 de Agosto de 2018, o mês passado 43 anos de casado)
uma mulher incomparável, que não é linda como uma Miss Venezuela mas ainda acho
linda como no primeiro dia, que nunca tentou comparar-se a ninguém nem tem
comparação com quem quer que seja, não é um prémio Nobel mas é sábia quanto baste,
não é faladora mas agradável dialogante, nem soberba nem obstinada, nem devota,
atormentada ou confusa, é erudita, fluente nos mais diversos assuntos, cozinha
muito melhor que eu, nem é baixa nem alta antes pelo contrário, tinha boas
mamas e não ficou pior depois de perder uma e de a Dr.ª Maria Afonso
(https://www.facebook.com/maria.afonso.37?fref=ts) lhe ter dado duas que aliás
teve a gentileza de me deixar escolher (escolhi meio tamanho e arrebitadas), é
uma companhia esplêndida e uma óptima companheira, mas, sobretudo, sempre
gostou e gosta cada vez mais de ser ela, de ser quem é e ser como é.
Meditai meninas… Esta sim, é única, é
genuína, e é uma lutadora …