Com
a verdade me enganas poderia ser logica e legitimamente um mote apodado à recém-vencedora
coligação PAF. Fartos de quarenta anos de conversa de meias tintas os
portugueses prendaram-na, apesar dos tantos defeitos que quotidianamente lhe apontavam. Lá terão pensado e quem os não
tem ? …
Brindaram quem apesar
das quedas, dos tropeções, do amadorismo, da carolice, do improviso, da falta
de jeito e de habilidade, da estultícia, das desculpas esfarrapadas, das
justificações atabalhoadas, da falta de profissionalismo, da xico-espertice,
apesar disso tudo dizia eu, os portugueses gostaram que lhes falassem verdade e
se lha não falaram pelo menos assim lhes terá parecido.
Aos
mais sensíveis direi, em abono do seu conforto moral, que Hitler também chegou
ao poder ganhando eleições e nem por isso ficou mais bem visto na história,
como sabemos, portanto consolem-se, ganhou a PAF, que não é nazi que até é
rapaziada portuguesa na mesma, diria mais são portugueses que têm também uma
palavra a dizer, e não temos todos ? Esta república das bananas ainda não é uma confederação.
Na
realidade nem podemos acusar a PAF de ter ganho as eleições, a PAF ficou à
frente nas eleições que o PS perdeu. Bem, a esquerda soma mais deputados, embora na prática isso não sirva para nada, nem de consolo a ninguém. Quanto a António Costa e o PS, os grandes perdedores, não perceberem em
devido tempo (e passou muito) que com a queda no buraco negro da crise muita coisa
mudara, entre elas a percepção que os portugueses passaram a ter da política e
dos políticos. Antes da queda no astronómico e negro buracão a PAF dificilmente ganharia ao PS umas
eleições.
Eles,
Costa e o PS, não perceberam que o tempo das favas contadas se acabara, que o
tempo do clubismo perdera viço, e nesse aspecto a campanha do PS foi
desastrosa, pessoalmente senti-me melindrado com aquela forma de fazer
campanha, como quem gere uma claque de futebol, debitando sound bites e frases
feitas a torto e a direito, prometendo, ameaçando, e retirando para as trincheiras como se tudo fosse uma guerra e tudo tivesse que ser comentado, contestdo ou contrariado.
Estava
visto ter o tempo desses modos passado. Acrescento que mau grado os sound bites
e frases pré fabricadas o PS esqueceu não ser virgem, nem isento de culpas,
faltou-lhe autoridade moral e a cada frase feita e por ele atirada ao ar
poderia contrapor-se-lhe o seu contrário, e o seu contrário apontava o dedo ao
PS.
Faltou
ao PS autoridade moral para falar como falou durante a campanha, a menos que já
tivesse pedido desculpa aos portugueses por nos ter trazido ao buraco negro. Ora
se há coisa que os portugueses sabem é quem nos arrastou para tamanho buraco, e
já nem vale a pena apontar culpas a Cavaco e à sua destruição do tecido
económico nacional às mãos da CEE, está demasiado longe essa época e não foi na
altura contrariado pelo PS, aliás por ninguém, e nem vale a pena bater em Durão
Barroso que fugiu, porque para batermos nesse teremos que bater primeiro em
Guterres, que fugira primeiro. Santana Lopes nem menciono, tal o desastre… a
esse incluo-o nos desastres naturais que uma nação está sujeita a sofrer… Mas
voltando a Guterres, o tal que fugira, então não era precisamente quem o PS
adoraria ter na calha para PR ? Depois que esperavam digam-me lá ?
Que
tentem fazer de mim parvo é uma coisa, que eu aceite sê-lo já é outra muito
diferente topam ? Não me levaram com essa como não me levam com a flausina da
Maria de Belém.
Na
verdade e apesar da trapalhice do governo não nos ter tirado de lá, por não
querer ou não saber, sublinho o não saber, faltou ao PS admitir a sua parte no buraco
e no mínimo pedir desculpa ao país. Não o fez, tentou passar sem se queimar
sobre assunto tão candente e não passou, levou os votos da claque clubista e
nem esses garanto que tenha levado todos. Costa pode não ter culpa, mas à sua
derrota não é alheia a constante indefinição do PS, há quarenta anos a fingir
que faz sem fazer, há quarenta anos alimentando uma politica de NINS, nem sim
nem sopas, antes pelo contrário, nem a malta almoçava nem o pai morria, desta
vez teve uma trombose, lixou-se.
Presunção
e água benta cada um toma a que quer, há coisas do foro da psicologia que
marcam muito fundo, há coisas a nível da legislação que são o que são, e são
para cumprir, e coisas ao nível da ética e da moral em que cada um toma o que
quer nem obedecendo nem tendo que obedecer a quaisquer enquadramentos legais.
Espero que os votos sumidos do PS para beneficio de outras áreas da esquerda
sejam pronuncio perene de manutenção fundamentada, embora nem acredite em tal,
tal beneficio parece-me muito mais fruto de uma circunstancia especifica e
circunscrita no tempo que capacidade de manter, proteger, acarinhar e fazer
crescer. Se for como penso tenho pena, decerto teremos pena, contudo todavia
mas porém, acuso o toque, em todas, e sublinho em todas, as entrevistas que vi,
li e assisti dadas por responsáveis das nossas esquerdas, foi sintomática a
ausência de abordagem aos modos do país fazer dinheiro.
Dá-me
sempre a ideia de julgarem ser esse o nosso menor mal, quando é precisamente o
nosso maior handicap, dá-me sempre a ideia de gente que com facilidade
ordenaria ao Banco de Portugal que imprimisse notas e notas, ou se considerem felizardos
a quem o dinheiro caia do céu resolvendo todos os nossos problemas. Desse-lhes
a volta que der para eles um quadrado só tem três lados, e o quarto lado é
ignorado, o das empresas, dos empresários, como se fossem entidades abstractas
que constituíssem um mundo à parte, um mundo de metecos a quem bastasse ordenar
que trabalhassem, que fizessem o que deviam fazer, pagassem impostos e ficassem
quietinhos e caladinhos. Quando muito a nossa esquerda aceita trazer à colação
pequenos empresários, pequenos industriais, pequenas e médias empresas,
pequenos produtores, pequenos negócios, como se estes pela sua dimensão fossem
tocados pela virtude e aos outros aos maiores, aos grandes, lhes tivesse
acometido a lepra, a peste, o pecado.
A
incapacidade da nossa esquerda em incluir na equação este lado do quadrado,
apesar de se tratar de portugueses, lado tão hostilizado o dos nossos empresários/
investidores que têm sido abatidos ou substituídos por pretos, angolanos, ou
amarelos chinocas, lado em que qualquer dia não restará quem queira investir além
de mafiosos caucasianos.
Têm
alguns amigos meus da chamada esquerda radical alvitrado terem contribuído para a
vitória da PAF as “dificuldades” na votação desta vez levantadas aos emigrantes, e
concedo-lhes razão. A PAF tanto lhes dificultou a vida como outros
anteriormente lha tinham facilitado no sentido de se banquetearem com os seus
votos. Contudo acrescentarei que para governar, dentro da legalidade, é preciso
ter votos, ter deputados, e ser governo, o que a PAF conseguiu e a esquerda
não, PAF que não podemos acusar de nesse item ter transgredido a legislação,
que ela estava em condições de legitimamente produzir, como outros noutros
tempos a produziram de sentido contrário.
Claro
que ética e moralmente a situação pode ser criticável ou condenável, mas isso
não a torna ilegal. Sabe-se que presunção, água benta, moral e ética, por
enquanto cada um toma a que quer. O mito da superioridade moral da esquerda,
das nossas esquerdas, incompatíveis entre si e inúteis, obriga-me por pudor a
ficar calado quanto a essa pretensa superioridade pois não nos faltam na
história exemplos de esquecimentos e atropelos seus pelo que nos dizem ter de
mais querido. A tal ética e moral que apregoam, cai por terra com a reeleição
desta PAF que, curiosamente, é também constituída por portugueses, mau grado
terem sido e serem ignorados existem, e parece que contam, e que cada vez são
mais. Apesar de enorme perda de votos obteve a PAF um resultado notável, um natural
desgaste de 4 anos em que todas as reformas que deviam ter sido feitas não o foram,
as que foram ficaram-se pela rama e os sacrifícios exigidos sobretudo e
injustamente às classes abaixo de si.
Quanto
aos emigrantes que atrás citei, deixem-se estar e fiquem bem, pois neste
cantinho nem o povinho ainda sabe o que quer ou fazer escolhas com tino.
Já
aqui tinha confessado a minha admiração pelo facto de o PS, apesar de tanta
contradição que encerra, ir mantendo continuadamente bons registos em eleições.
O tempo acabou por me dar razão, e talvez esta derrota sirva para que inicie
uma autocrítica profunda, uma catarse que o conduza de novo à sua pureza
matricial (de matriz). Há males que podem vir por bem, dizem até que Deus
escreve direito por linhas tortas, e Constança Cunha e Sá, que tem a boca de
esguelha, exortou ontem mesmo na Tv. os jovens turcos do partido a não se
deixarem comer pelos velhos do Restelo.
Ainda
a ética, o modo como Costa afastou Seguro, no mínimo deselegantemente, decerto
não lhe granjeou votos e, apesar de eu não apreciar Seguro, foi por aí que
perdeu o meu voto. As atitudes dão, mas também tiram votos, no saber geri-las é
que está a sabedoria. Aproximo-me dos cinquenta, não sou nem jovem nem idoso,
nada tenho na favor ou contra uns ou outros, mas Costa ter enchido num dos
últimos dias da campanha o palco com velharias, a quem na altura chamei a
brigada socialista do reumático, perdeu-o certamente. Quem é que, especialmente
entre o eleitorado mais jovem iria apostar naquelas velharias ? Não tinham elas
por acaso sido a brigada responsável, culpada por nos deixar cair no buracão ?
Toda aquela gente está fadada, está tocada pelo destino, aquela gente é culpada
de quarenta anos de mentiras, de défices escondidos debaixo do tapete, culpada
de cumplicidade, culpada de ter pactuado, de ter calado.
A estratégia
escolhida de olhar para o lado e fingir não ver o buraco, a atitude estulta de
fingir nada ter que ver com esse buracão, a táctica de o ignorar pura e
simplesmente como se nada tivesse que ver com ele ou o buraco nem existisse
foi-lhe fatal. Claro que foi a PAF e o autocarro das esquerdas quem na hora
derradeira nos empurrou para o buraco, quem nem admitiu o PEC IV, quem foi a
Bingo e viu saírem-lhe as contas furadas, mas o que estava em jogo era a
paternidade do buraco, ser filho incógnito caiu muito mal… o resto não passou
de habilidades de parte a parte.
Costa
devia ter partido da culpa para o perdão, mas não, partiu do esquecimento
manhoso para a apoteose das favas contadas. Os portugueses não lhe perdoaram.