Para ser prosaico o que me levara ali fora a nostalgia, a nostalgia e a Cândida, cuja candura teimava apostar em nos reunir a todos num almoço comemorativo dos trinta anos de curso. Já o Adriano manifestara idêntica ideia. Ela sonhava delirando com os comensais, os sorrisos, as piadas, e com as famílias no entretanto formadas e as alargadas, acompanhando-me com um ar ora exaltado ora meditativo que aos olhos de quem a observasse a pintava de tolinha. De parva não tinha nada, mas parecia.
O
primeiro revés surgiu mal nos aproximámos da entrada, uma informal tabuleta
convidava o visitante a desembolsar três euros se quisesse desfrutar da beleza
do lugar, um dispositivo electrónico zelava pelo cumprimento da norma e não
permitia a abertura das portas a menos que…
- Não
acredito ! Desabafou com pouca ou nenhuma candura a Cândida.
Confesso
que há uns tempos atrás ouvira na mesa do café um zumzum, mas como nem os
jornais da terrinha nem quem quer que fosse tivesse voltado a mencionar a coisa
o assunto acabara por ser esquecido.
Depois
de breves trocas de impressões com um funcionário e algumas professoras e professores
que ou entravam ou saiam a Cândida, puxando do seu vernáculo desabafaria:
- Se
ao menos se limitassem a codilhar os de fora, mas não, nem os da terra se
safam, nem os da terra nem os antigos alunos, uma vergonha, fosca-se !
Estive
tentado a concordar com ela, porém tentando simultaneamente junto dos
interlocutores que se iam juntando ao debate no incerto equilíbrio entre
entradas e saídas averiguar de quem partira a decisão, como fora votada a
questão. E que teriam adiantado em prol ou contra o Senado e a Associação
Académica ?
Debalde,
de positivo ninguém sabia nada de nada e todos me deixaram de balde na mão, de
balde e de esfregona, e freando a minha enormíssima revolta e contestação que
ao longo de duas semanas esperei me abandonassem para não escrever este texto
debaixo do efeito do sangue na guelra que é como quem diz a sangue quente. Eu
não sou a Cândida mas também não sou cândido.
Dei-me
tempo para arrefecer, para pensar, para ponderar, dei tempo ao tempo para que o
bom senso retomasse a mim de novo, pelo que agora calmo, reitero a opinião que
então formulara. A liberdade de isenção de taxa de entrada deveria abranger
todos, eborenses e não só, ex-alunos e não só, porque se os eborenses e os nacionais
já pagam tudo enquanto contribuintes e através dos impostos que entregam à
Fazenda, não é justo que um particular pagamento lhes seja exigido para
visitarem o que afinal é deles, a eles pertencem e eles pagam ou mantêm.
Do
ponto de vista meramente fiscal tratar-se-á no mínimo de dupla tributação, com
a desvantagem de discriminar quem cheio de boas intenções se lembre de visitar
tão vetusto lugar.
Sim,
esta semana cheio de nostalgia fui visitar a minha UE, a nossa UE, não pude
entrar, não levava trocos, exigiram-me pagamento à entrada... Ali não há
direitos adquiridos... Há tristeza. E há falta de vergonha. Ainda aleguei ser
minha, ser eu que a pago, que pago tudo... Foram insensíveis.
É
muito difícil ao comum dos mortais avaliar em consciência ou com alguma
exactidão esse tipo de impacto, desde logo porque a própria academia
propositadamente se fecha sobre si mesma, o que já é um mau sinal, um mau indicativo
ou mau sintoma Diz-se, deduz-se, intui-se, supõe-se que a academia terá algum
impacto sobre a região, e certamente terá, qual a sua dimensão ou qualidade é
segredo que ela esconde como coisa que a envergonhe.
Através
dos seus sábios pouco ou nada se sabe, nem tão pouco o que pensam sobre a
civitas que os acolhe, donde, à mesa do café extrapolámos o seguinte
pensamento; “não vivem para a civitas, vivem da civitas”, tendo sido deduzido
entre nós ser o seu impacto real muito inferior ao que o vulgo lhe atribui, o
que, e ninguém o negou, constituía para todos uma vera preocupação.
Que
produzirão de positivo tantos departamentos e tanta gente que os contribuintes
sustentam ? É que na ausência de informação cabal e insuspeita quaisquer
teorias da conspiração nos acodem ao espírito, a percepção que a população em
geral tem da U.E. e do trabalho que esta desenvolve, e quem diz desta diz dos
seus sábios. população para quem a vida está cada vez mais difícil e que, ao
olhar as estatísticas que jornais e televisões diariamente apresentam nada mais
vê do que Portugal consecutivamente no fim de qualquer tabela, e a descer, e
atrás dele, ou nele, o Alentejo como região mais pobre no seio da pobreza.
Há
pouquíssimo tempo num texto educadíssimo um docente da Universidade de Évora,
Dr. Carlos Cupeto de seu nome e em crónica cujo link vos deixo no fim da página
abjurava o distanciamento existente entra a faculdade e a cidade, ora pelos
vistos a faculdade cultiva com primor esse distanciamento, cultiva-o,
alimenta-o e promove-o, a cidade paga-lhe pela mesma medida ignorando-a com
acrimónia.
Tenho
aqui acusado a instituição universitária de se fechar excessiva, se não
maliciosamente sobre si mesma, volto à carga, se é de falta de verbas que a UE
carece carregue sobre o ministro da tutela e exija mais, ou, faça render o
peixe e busque rendimentos no fruto do trabalho dos seus sábios, no fruto do
trabalho que produzirão tantas escolas de excelência, tantas escolas do saber
que em si própria alberga ainda que eu não esteja a ver nem como nem quando nem
quem seja capaz de atingir tal desiderato.
É
vergonhoso que a faculdade seja incapaz de gerar por si mesma os recursos de
que carece para resolver os seus problemas taxando com uns míseros três euros
os desgraçados que a procuram e consideram, tão lesta é a consumir os recursos
do Orçamento de Estado cada vez mais e vitalmente sempre necessários noutras
áreas das nossas vidas.
É
igualmente incompreensível que nenhum órgão de comunicação social local ou
regional, a Região de Turismo e até a autarquia não tenham então, nem nunca,
trazido o assunto à berlinda ou não tenham tido sequer uma palavra a dizer
quanto à estratégia turística local, regional ou nacional, deixando nas mãos de
académicos o perigoso perigo, desculpai-me a redundância, de tomar decisões
sobre matérias que não entendem nem dominam mas com efeito sobre as vidas de
todos nós. Como dizia o venerável estadista Georges Clemenceau “a guerra é uma
coisa demasiada grave para ser confiada aos militares” eu direi que esta é uma
questão, como muitas outras, demasiado séria para ser deixada nas mãos de
académicos.
Que
se dediquem às ciências, às artes, às filosofias, às línguas, á história, às
letras, matérias onde pontificarão sabiamente, sem porém lograrem obter
benefícios ou rendimentos que não os que mensalmente levam para casa à custa de
todos nós.
O
Turismo é para ser fruído por todos, a vinda de turistas a Portugal ou a Évora
não é feita para providenciar rendas à Universidade ou para esta se aboletar à
custa deles, o turismo é pensado, promovido, gerido e acolhido a pensar em
centenas de negócios e milhares de portugueses a quem dá emprego, negócios e
empregos que a avidez cega da nossa improdutiva universidade assusta e enxota
como quem espanta corvos do quintal ou da seara os pardais.
Na
universidade ninguém de entre os nossos sábios parece querer ser incomodado na
pacatez mesquinha da sua vidinha e esquecem-se que tudo devem à cidade, à
população que ignoram e hostilizam, desde o edifício onde estão belamente
instalados, ao orçamento anual que os alimenta.
Observando
os números sérios que estatísticas e estudos ou sondagens várias nos
proporcionam, forçoso se torna concluir que a academia não tem tido impacto
nenhum no desenvolvimento da região pelo que me pergunto muito legitimamente
quantas patentes a U.E. registou nos últimos trinta ou quarenta anos, a quantas
empresas se ligou, quantas formou de raiz, e quantas vezes a U.E. fez ouvir a
sua voz aconselhando, corrigindo, reclamando ou sugerindo uma estratégia de
curto ou longo prazo para a região em que se insere e que cada vez mais ocupa o
fundo da tabela, de todas as tabelas.
Pois
que com tantos sábios façam alguma coisinha de original, comecem por acabar com
a vergonhosa cobrança de entradas, só para compararmos a Alemanha tornou
gratuita a frequência de todas as Universidades do país porque lá as
universidades rendem, isto é cobram o fruto do seu trabalho, pois que a UE as
imite e continue, publique anual e publicamente o seu orçamento institucional
para que todos saibamos quanto nos custa e quanto nos rende tanta sabedoria.
Pela ordem de ideias que preside à UE os turistas teriam direito a cobrar a
divulgação da imagem que lá fora fazem dela e da região, do país, imagem que
traz cada vez mais deles até nós a julgar pelos números que têm vindo a ser
divulgados nos mídia.
A
pequenez do alcance e visão da universidade parece todavia mais apostada em
matar a galinha dos ovos de ouro, matar a galinha, comê-la sozinha e atirar-nos
os ossos, que é como quem diz ignorar-nos e ofender-nos.
É
pena, é triste, é o nosso fado.