quarta-feira, 22 de junho de 2016

354 - AMOR, LIÇÕES PARTICULARES * ….............


À candente questão que tanto nos tem preocupado nos últimos tempos, ensino público ou ensino privado ? privado ? público ? privado ? Ninguém deu uma resposta cabal, qualquer dos lados nos atirou com areia aos olhos deixando intocável o que deveria ter sido revirado, os resultados desse ensino. Temos melhor ensino ? Privado ou público temos melhores cidadãos ? Melhores condições, melhor nível de vida, melhor desafogo económico ? Sim, porque isto anda tudo ligado, e o que vemos é uma massa de lumpemproletariado ignorante de quem os mais oportunistas se aproveitam. Oportunismo que se aprende na escola ao deixar em aberto o lugar das filosofias, da moral, da educação cívica e até sexual, da honra, do mérito, pormenores só aparentemente despiciendos e que andamos por acertar vai para quarenta anos. 

Quer queiramos quer não uma vez cá fora os nossos meninos serão avaliados a cada minuto, e, desabituados que vêem da escola, aliás até virão é mal habituados, marram no muro da realidade virtual que governos sem princípios constroem meticulosa e pacientemente há quarenta anos e onde os enrolam para depois paparem como caramelozinhos. Escola que não avalia e onde os que avaliam não se deixam avaliar nada vale, nem ela nem os que por lá andam, aprendendo ou ensinando, o resto são peanuts…

Do meu vício pela leitura de Biografias* de vez em quando deparo com tesourinhos inimagináveis, desta vez a bola branca calhou a Thomas Edison, que em criança frequentara os dois tipos de ensino e nos dois fora infeliz. Pouca gente sabe, eu confesso só agora o ter sabido, Edison acabara expulso da escola aos nove anos sendo a sua educação terminada pela mãe, uma ex-professora de origem canadense (do pai sabe-se que era oriundo da Holanda), mãe que lhe escondeu ter ele sido expulso da dita escola, que lidaria mal com alunos extrovertidos, irrequietos, curiosos, bla bla bla e ainda por cima diferentes, o catraio era mouco, tudo pormenores abundantes na personalidade do pequeno Edison. Um dos professores chegara mesmo a admitir aos pais do miúdo "ter ele bichos-carpinteiros no corpo, ser um coca-bichinhos estúpido que não pararia de fazer perguntas custando-lhe imenso aprender". 

             Parece pois que o mouquinho se acomodava mal ao estereótipo do mundo redutor e silencioso que lhe estaria destinado, há quem afirme ter ele inventado o fonógrafo devido ao facto de lhe ter ocorrido ainda criança, que a informação nem somente pelo som se podia difundir e a partir daí ter inventado com as latas de feijões um telefone, por achar que a linguagem binária de inputs ponto traço traço ponto com a qual brincava não entusiasmava. Na ocasião poucos lhe deram crédito, contudo veio a inventar e a aperfeiçoar o microfone e milhentas outras coisas que hoje damos por certas e banais, o que fez durante toda a vida e, como todos sabemos, a um ritmo completamente alucinante.

Sua mãe, em vez de lhe comunicar a expulsão confessou-lhe o quanto ele era inteligente, não podendo por isso andar naquela escola, prejudicando e arrastando os demais, obrigando-os a acompanhar o seu ritmo, e que doravante a mãezinha se encarregaria das lições dele. Acabou como todos sabemos registando ao longo da vida milhares de invenções e patentes, tudo porque a escola não lhe atrofiou o cérebro e a sua mãe, mais que ensinar-lhe inglês, gramática ou religião o ensinou a pensar, a ver, a meditar, a observar um problema e a equacioná-lo. O petiz aprendeu bem a lição e devoraria em pouco tempo toda a biblioteca que sua mãe possuía, em especial os livros sobre ciências. O resto da história já todos mais ou menos a conhecemos, ter sido o primeiro "cientista" a montar ou instalar um laboratório e a dedicar-se à investigação pura e prática de forma organizada e metódica, o que diz muito sobre ele ...

Depois da mãezinha morrer, isto passados uns bons cinquenta anos sobre o episódio em que ela, sem ele o ter sabido descaradamente lhe mentira, no rescaldo do funeral, enquanto arrumava as coisa dessa carinhosa e falecida mãe, Edison encontrou numa gaveta uma caixa com jóias de pouco valor e uma carta que nunca vira, pertences que a mãe guardara certamente por envolverem alguma recordação ou nutrir por eles qualquer especial carinho, entre eles e muito amarelecida a carta a expulsá-lo da escola, a carta com a verdade. Só então Edison se apercebeu da dimensão da vida e do amor que sua mãe lhe devotara... 

O meu obrigado a Nancy Elliott Edison, que provou ser uma professora de verdade, e o meu reconhecimento a Thomas Alva Edison seu filho, um aluno exemplar, tal qual as nossas escolas, o nosso ensino e os nossos catraios não acham ?????? 

* http://mentcapto.blogspot.pt/2013/11/171-o-sabor-da-maca.html
http://canalhistoria.pt/blog/biografia-de-nancy-elliott-edison/