Somente por acidente não recebera um
descomunal ramo de rosas. Coisa que lamentou profundamente, pois nunca com tal
obséquio tinha sido prendada. Debalde o arrependimento, perdera esse momento
mágico e como viria a dizer mais tarde, a estranha sensação de ter-se sentido
desejada, nem que por um momento só,
pois reconhecera quanto bem isso faria ao ego de qualquer pessoa.
Ele surgira do nada na vida dela,
talvez por essa circunstãncia tenha sentido medo, inda que pouco pois nem
acreditava em acasos, e nem tempo tinha tido para assimilar a ideia. Para
agravar a confusão ele expressava-se de maneira muito romântica, coisa rara de
se ver nos dias de hoje, principalmente nos homens, particularmente nesse homem,
que já trocara com ela algumas palavras.
Contudo nunca se haviam visto, não se
conheciam, sempre tinham comunicado pelo telefone ou outros meios nada
pessoais. Nunca suas vidas se haviam cruzado nem na virtualidade do destino. E
aquele era o momento em que pela primeira vez se viam. Verdade seja dita, ficaram
logo amigos, ambos se viram rodeados por arco-íris e solstícios, ouviram dó ré
mis, lás e bemóis não ouvidos por mais ninguém, acreditaram e concordaram que
na vida não havia mesmo coincidências.
Ela era agradável, tão depressa ria
como mudava de conversa, e, coisa curiosa, tinha um olhar perdido que os olhos
dele fitavam, daí, metade do seu olhar clamar aflita, a outra metade como que chamando-o
para marinhar. E era um olhar doce, como que encerrando amores prometidos, enleados
nuns olhos castanhos apontando ao infinito… abrindo e prometendo caminhos.
Ele mudo e quedo, deslumbrado, lá fora
a lua, tão formosa, e ali mesmo a seu lado que coisa gostosa, ele louco de
desejo, sonhando o mar e deitando-lhe um
ensejo para, num lampejo voltar a si ficando assim… um pouco tonto, tanto que
num fulgor lembrou momentos agradáveis esquecendo os demais.
Virou a cabeça ao céu buscando Deus,
talvez Ele lhes estivesse dando uma oportunidade para serem felizes, quem sabe.
Não sabiam, eram respostas que ainda não desvendavam. Ela riu, confessou gostar
que ele soubesse quanto tinha adorado tê-lo conhecido e logo ali combinaram falar-se
no dia seguinte. Ele pasmou, não sabendo se ela estava falando se mirando-o ou
fitando-o, cândida, virando a cada minuto e repentinamente a conversa como um
sinaleiro, ele pensando e amando tanto que de tanto amor achou que ela era bem bonita e por momentos nem acreditou em tamanha felicidade …
“Nenhum sabia se chegaria o dia em
que, desprevenidos ou intensamente, cairiam no chão como dois amigos, se abraçando
e beijando com falta de jeito, qual milagre da vida em que suas vontades
quebrariam todinhas, e talvez então”... se quebrasse o dilema que desde então o
passou a assaltar...
Ele respeitava-a, e mais, sabia não
ser o homem que ela buscava e queria, um homem para a vida, um homem que virasse
seu companheiro, que com ela viajasse, que estivesse sempre a seu lado, que
vivesse consigo, e, querendo ser honesto consigo e com ela, confessou-lhe não
ser esse homem que ela procurava. Ela fora simpática, dele gostara e aceitaria
o que Deus lhe desse para seu conforto, conformar-se-ia. Nada desejava para ele
que não quisesse igualmente para os outros. Ele achara-a muito bela, doce e meiga,
e queria retribuir tanta doçura, meiguice. Ele era só um homem, ávido de dar e
receber, só isso.
Confusão a dela, imaginam a situação
? Pedira a Deus que lhe aparecesse na vida um homem íntegro, este ano já, que
merecesse seu amor, bem, aparecera-lhe aquele, ainda por cima sem o ramo de
rosas que ela por acidente não recebera. Aí ela perguntou a Deus o que queria
Ele com estas ciladas na sua
vida, ou Ele o estaria colocando na sua estrada para ela, quem sabe, para a pôr
à prova ?
Para terem um momento de delírio ?
Jamais saberemos, jamais qualquer
deles foi visto por estes sítios.
Amem.