Orã
Tenho um
amigo engenheiro de minas que, acompanhando a expansão da empresa em que
labuta, tem corrido mundo e se encontra neste momento na Argélia, mais
precisamente na cidade costeira de Ourã, onde a empresa desencantou na sua saga
expansionista, vai para três ou quatro meses, um contrato vultuoso para
construção de um porto de mar, molhes quebra-mar protectores contra a
ondulação, acessos, cais de carga / descarga e embarque / desembarque para navios
com calado superior a 30
metros e tonelagem impensável, em especial para
transporte de gás natural, recurso em que esse país é riquíssimo.
Trata-se de,
como lhe costumo afirmar, da nossa nova diáspora, agora num mundo globalizado
com tendência a minimizar ou menorizar Portugal. Mais uma razão para uma
expansão nossa, agora em moldes diferentes da época de quinhentos.
Vulgarmente
envia-me por mail fotos de maquinaria impressionante pelo tamanho e funções, guindastes,
gruas, escavadoras, dragas, e, por vezes, uma ou outra foto tirada por certo do
alto de grua gigante, deixando ver os afadigados operários que em baixo mais
parecem formiguinhas, em especial se comparados com os blocos utilizados para
travar ou reforçar os molhes contra a fúria das ondas, quais colossos trípedes
que, enganchando uns nos outros, tanto mais reforçam a coesão quanto mais as
ditas cujas tentarem dispersá-los.
Portugal tem
sido nos últimos anos um país em obras, nem tantas quanto desejaríamos dirão
algumas, nem as que deveriam ser prioritárias, acrescentarão outras, mas isso
não tira porém validade à questão nem esperança às obras agendadas. Não
descortino a ligação que inferi entre estas obras, que no país vão surgindo ou
surgiram um pouco por todo o lado, mais ou menos apreciadas, menos ou mais
contestadas, e as obras que esse meu amigo dirige, o que é certo é que cada vez
que passo por obras, e são muitas essas vezes, não deixo de lembrar esse meu
amigo.
Talvez esta
inusitada analogia derive do facto de as obras que vejo, ambas serem obras, já
que nada mais lhes consigo encontrar em comum, não sei, não sei explicar, até
porque a dimensão de umas e de outras são por vezes completamente díspares,
certo é que as ligo em
pensamento. Da empreitada que ao meu amigo compete vou dando
conta pelas imagens que me envia, a par da descrição da vida na Argélia, país
com cidades, hábitos e cultura muito diferentes da nossa e onde, não passando
fome, se vê obrigado a dieta forçada que o tem tornado muito mais elegante.
Nas obras que
pelo país vou vendo e dou conta cada dia que passa, claro que involuntariamente
observo ou aprecio o esforço, o ímpeto, o avanço e o empenho que cada um dos
formigueiros aplica no seu mister. Não direi que fico embevecida, mas comove-me
o empenho, o profissionalismo e a organização engendrada por essas formiguinhas
e que, pouco a pouco, vão dando corpo e realização aos projectos que abraçaram
com uma entrega digna de nota.
No nosso país
espero que contribuam para enriquecer o património, em especial de equipamentos
sociais em que ainda somos tão carentes, infantários, creches, lares, novas
escolas e hospitais, mas também outras estruturas, viárias, portuárias e
aeroportuárias, empreendimentos turísticos e outros, que criem emprego,
serviços e permitam a captação de divisas, que equilibrem a nossa balança de
pagamentos, ajudem a colmatar ou a fazer desaparecer o malfadado deficit, que
ponham fim a dramas de desempregadas e deslocadas.
Não sei
porquê quero, ou desejo que, apesar da desigualdade e dissemelhança entre projectos e obras,
de tal modo os intui como análogos apesar de nem eu saber as razões, acreditar
piamente que alguma coisa no mundo, ou alguém, os colocou de molde a que os
avalie a par e passo e venha a ter o prazer de os achar terminados e acumular motivos para duplamente comemorar e dar por satisfeita.
Terminariam
os incómodos a que o aperto de cinto nos obriga e teria em simultâneo o prazer
da chegada e visita desse amigo agora longe e que, como sempre, não se
esquecerá de me trazer inigualáveis tabletes de genuínas tâmaras, como só
naquele país e no médio-oriente se encontram.
Truck, obras, Orã
Truck, obras, Orã
Orá, panorâmica de rua
Évora, obra no largo de Sertório
Évora, renovação da linha da CP
* Texto concluído numa quinta-feira, 13 de Novembro
de 2007, pelas 11:14:54h e publicado por esses dias na coluna Kota de Mulher
do Diário do Sul - Évora