terça-feira, 10 de outubro de 2017

468 - AS MAMAS DA GRACINDA BRÀS CUBAS ...



A amiga nem tanto, mas ela sim, deixava-a a um canto. Tanto, canto, ta bom e rima, estou inspirado hoje, talvez saia alguma coisa de jeito. A amiga, comecemos pela amiga, vinha acompanhada de um sujeito franzino, com cu de mulher, daqueles cus demasiado largos para homem. Como sabemos um homem deve ser talhado a direito de cima a baixo, mas não aquele que tinha uma cintura adelgaçada, as ancas largas e um cu grande, metido debaixo dos braços, quero dizer não tinha tronco ou parecia nem o ter. O maroto do Álvaro deu-me uma cotovelada mas respondi-lhe entredentes que já a tinha visto, aliás vira-a primeiro a ela e só depois à amiga. No tipo com o cu de gaja só reparei quando começou a dançar impaciente junto do balcão, talvez carência da bica, da cafeína, ou teria bichos carpinteiros…

O maroto do Álvaro tinha sido meu aluno no último ano antes de me aposentar, era um pinante, birrepetente, nem seria naquele ano que acabaria o nono, para além de História e Geografia, as duas que eu leccionava, estava chumbado a mais duas e ultrapassadas as três estaria fodido, iria ficar mais um ano a patinar. Para surpresa de todos na sessão de cante das notas passei-o nas duas e levantou-se um clamor de exclamações pelo meio do qual ele teve que passar a fim de ir à vida e deixar a escola e a todos nós pelas costas. Não mais castigou os contribuintes e tornou-se um dos melhores técnicos de frio e refrigeração no nosso distrito e, se tenho continuado a teimar no ensino hoje ganharia seguramente mais que eu, fiz bem em reformar-me, este país nunca esteve tão bom para quem não faça nada, mas estou a distrair-me, fixava eu os olhos na camisola que ele trazia envergada, com uma icónica imagem do CHE gravada no peito quando a loura, pousando-me a mão suavemente no ombro:

- Posso ?

O bom do Teles ia derribando as cadeiras ao recuar para lhe dar espaço, realmente a amiga nem tanto, mas ela sim, deixava-a a um canto, a milhas como o Ricardo diria depois delas abalarem, mas também ele lhe cedeu lugar e ela sentou-se, eu estranhei mas mal lhe senti o perfume recordei anos e anos de camaradagem em segundos.


Isso e a admiração pelas mamas dela, inda hoje as mesmas, sem querer o olhar fugira-me, fugiu-me e traiu-me,

- Inda gostas delas ?

fiquei embaraçado, embora os outros não percebessem patavina da conversa eu percebia-a e bem, não nego, apesar do meu feitio extrovertido corei, corei e pedi desculpa por não a ter reconhecido mas com aquele cabelo e penteado quem a adivinharia aqui? E a Guarda, ou o Fundão ou lá o que é, como estavam ?

- Estão no mesmo sitio, disse ela, na Serra da Estrela, onde haveriam de estar ? E tu meu caramelo, como vais ? Estás mais velho, mais velho e mais bonito.

Pronto, estava armada a barraca, rebentou-me com o ego, havia autoconfiança e auto-estima pairando no café como se repentinamente algo num forno tivesse jorrado fumo sem fim, por momentos cheirou-me a torradas queimadas acreditem. Claro que o resto da conversa nem se aproveitou, nem o Álvaro ou o Teles pescaram o que quer que fosse, e enquanto o Ricardo foi à rua queimar um paivante ela aproveitou p’ra recomeçar, digo teimar e rememorar:


- Eram uma ambição minha desde os catorze tu sabes e quando cheguei aos dezoito já eram assim, tu lembras-te, impossível teres-te esquecido. «A tua amiga é que saiu ao pai, tem uns peitos que mais parecem uma tábua» acrescentei.

- Não sejas maluco, és um parvo, tótó, ganha juízo e fica bem que eu tenho que ir fazer uma mamografia e não quero atrasar-me.

E lá foram, ela, a amiga de passar a ferro e o cu com pernas, porta fora em fila indiana e, comandando a traquitana ela, como sempre.

- Quem era prof. ?

Uma colega da minha irmã e também minha amiga, já não a via há uns tempos, por quê ?  Queres assassiná-la ?

A do assassinar atirei-lhe como provocação aludindo à camisola que trazia, o rosto do CHE, como já dissera, e por baixo em vermelho bem vivo a palavra KILLER.

Apercebi-me ao longo dos tempos que a maior parte do pessoal quer o admire quer o abomine não conhece o CHE, não conhece patavina mesmo, tristemente nem fazem por conhecer, então perguntei-lhe com a minha velha paciência de santo de antanho se conhecia a teoria da relatividade de Einstein, ou o conceito de “relativismo” ao que me respondeu prontamente ter uma outra camisola daquelas com a imagem de Einstein de cabelos em pé, e nada mais, nada mais sobre Einstein, nada mais sobre o CHE, o assassino, segundo ele.


O retorcido do Teles que chegara a fazer dois ou três anos de sociologia acompanhava a conversa interessado, tendo balbuciado qualquer coisa como as circunstâncias, Ortega e Gasset, o homem e as suas circunstâncias, bla bla bla, o CHE não foi um assassino, foi um comunista feroz, um animal feroz gracejou, pelo que aproveitei, puxei da maiêutica e estendi-lha na frente como uma passadeira a fim de que os dois descobrissem por eles as verdades que não viram ou que não tinham visto, tendo acabado os dois por me explicar que bem, não era bem assim mas, quer dizer a coisa é complexa, não pode ser vista só por uma óptica, isto é naquela altura…

E assim fiquei sabendo que o regime de Baptista, exercendo uma repressiva ditadura sobre Cuba e assente numa policia politica impiedosa jamais aceitaria o jogo democrático, pelo que não restaria outra solução que não a via armada, aliás aceite pela própria ONU, e claro, quem vai à guerra dá e leva, morre e mata, erros há sempre, sempre os houve e sempre os haverá, embrulharam-se os três, afinal o CHE já não era KILLER afiançava o Teles, nem tão pouco comunista garantia o Ricardo, fora ministro dos estrangeiros e da economia mas depois de visitar a China e a URSS apercebendo-se de como era o mundo e o rumo totalitário que se abria à sua frente abandonou Cuba e os privilégios que tinha, foi lutar pela liberdade, dignidade e libertação onde quer que um povo estivesse reprimido, primeiro para África, Congo, depois para a Bolívia mas já tinha a CIA no encalço que lhe fez a folha, digo a cama, que o terá feito fugir a sete pés duma revolução que amava e pela qual matou para não ser morto ? 


Eles nisto e eu pensando nas mamas da Gracinda, sim foi a CIA, mamas grandes auréolas grandes, pois a CIA armou-lhe uma cilada, já aos dezoito anitos toda ela eram só mamas, se calhar quando começava a saber alguma coisa da vida morreu, coitado, uma mulher perfeita como diria um primo meu, olha tem graça tu falares nisso, morrer quando começava a saber alguma coisa, e não é sempre assim? 

Agimos mais vezes animados pela ignorância que pelo saber e experiência das coisas, infelizmente é assim, tantas vezes, vezes demais, estou aqui lendo a entrevista do Carvalho da Silva ao Observador e a lembrar-me se nada disto que aborda e diz lhe veio à memória quando era sindicalista, agora é que certas coisas lhe dão cuidados, não se lembrou delas a tempo, ou não as conhecia, não as sabia, não sabia que era assim, mais um agindo sem saber e agora já entradote e indo p’ra velho é que está aprendendo, vendo o que nunca viu, não me recordo de o ver preocupado com o investimento estrangeiro que anda a zero há alguns anos, nem com esse nem com o nacional, a produção nunca lhe interessou mas agora está preocupado em que não baixe o nível dos impostos cobrados, inacreditável como com meia dúzia da patacoadas tira o crédito a outras tantas que disse acertadas, se não visse nem acreditaria, está como o CHE que deve ter somado dois mais dois e se meteu a milhas mal as coisas em Budapeste foram espremidas e antes que lhe fizessem o mesmo ou o atirassem para o saco de gatos em que a história se estava transformando.

Cada vez me convenço mais que os governos nunca deveriam ser entregues nem a gente com menos de sessenta anos nem a ignorantes, é um perigo, veja-se o Trump, o Maduro, o Kim Koreia, o Socas, o Passos, o Puigdemont, o Macron, o Costa e tantos outros…

Quem sabe o que teria sido de Cuba se o bloqueio americano não a tivesse atirado para os braços de Nikita Khrushchev. O bloqueio económico foi mais um erro de gente nova, Kenedy estava verde e muito muito longe dos sessenta anos… Claro que tudo isto são suposições, não há uma história dos “ses” nem nunca haverá…

- E a outra prof. quem era a outra ?

Qual outra pá ? Quais mamas meu ? Se não fossem elas como teria eu conseguido a vossa atenção e que lessem todo este arrazoado que hoje tenho para vos oferecer ? Foste enganado parvalhão ! Com verdades te enganei !

HASTA LA VITÓRIA SIEMPRE COMANDANTE CHE GUEVARA ! 


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