A
amiga nem tanto, mas ela sim, deixava-a a um canto. Tanto, canto, ta bom e rima, estou
inspirado hoje, talvez saia alguma coisa de jeito. A amiga, comecemos pela
amiga, vinha acompanhada de um sujeito franzino, com cu de mulher, daqueles cus
demasiado largos para homem. Como sabemos um homem deve ser talhado a direito
de cima a baixo, mas não aquele que tinha uma cintura adelgaçada, as ancas
largas e um cu grande, metido debaixo dos braços, quero dizer não tinha tronco
ou parecia nem o ter. O maroto do Álvaro deu-me uma cotovelada mas respondi-lhe
entredentes que já a tinha visto, aliás vira-a primeiro a ela e só depois à
amiga. No tipo com o cu de gaja só reparei quando começou a dançar impaciente
junto do balcão, talvez carência da bica, da cafeína, ou teria bichos
carpinteiros…
O
maroto do Álvaro tinha sido meu aluno no último ano antes de me aposentar, era
um pinante, birrepetente, nem seria naquele ano que acabaria o nono, para além
de História e Geografia, as duas que eu leccionava, estava chumbado a mais duas
e ultrapassadas as três estaria fodido, iria ficar mais um ano a patinar. Para
surpresa de todos na sessão de cante das notas passei-o nas duas e levantou-se
um clamor de exclamações pelo meio do qual ele teve que passar a fim de ir à
vida e deixar a escola e a todos nós pelas costas. Não mais castigou os
contribuintes e tornou-se um dos melhores técnicos de frio e refrigeração no
nosso distrito e, se tenho continuado a teimar no ensino hoje ganharia seguramente
mais que eu, fiz bem em reformar-me, este país nunca esteve tão bom para quem
não faça nada, mas estou a distrair-me, fixava eu os olhos na camisola que ele
trazia envergada, com uma icónica imagem do CHE gravada no peito quando a
loura, pousando-me a mão suavemente no ombro:
-
Posso ?
O
bom do Teles ia derribando as cadeiras ao recuar para lhe dar espaço, realmente
a amiga nem tanto, mas ela sim, deixava-a a um canto, a milhas como o Ricardo
diria depois delas abalarem, mas também ele lhe cedeu lugar e ela sentou-se, eu
estranhei mas mal lhe senti o perfume recordei anos e anos de camaradagem em
segundos.
Isso
e a admiração pelas mamas dela, inda hoje as mesmas, sem querer o olhar
fugira-me, fugiu-me e traiu-me,
-
Inda gostas delas ?
fiquei
embaraçado, embora os outros não percebessem patavina da conversa eu percebia-a
e bem, não nego, apesar do meu feitio extrovertido corei, corei e pedi desculpa
por não a ter reconhecido mas com aquele cabelo e penteado quem a adivinharia
aqui? E a Guarda, ou o Fundão ou lá o que é, como estavam ?
-
Estão no mesmo sitio, disse ela, na Serra da Estrela, onde haveriam de estar ?
E tu meu caramelo, como vais ? Estás mais velho, mais velho e mais bonito.
Pronto,
estava armada a barraca, rebentou-me com o ego, havia autoconfiança e auto-estima
pairando no café como se repentinamente algo num forno tivesse jorrado fumo sem
fim, por momentos cheirou-me a torradas queimadas acreditem. Claro que o resto
da conversa nem se aproveitou, nem o Álvaro ou o Teles pescaram o que quer que
fosse, e enquanto o Ricardo foi à rua queimar um paivante ela aproveitou p’ra recomeçar,
digo teimar e rememorar:
-
Eram uma ambição minha desde os catorze tu sabes e quando cheguei aos dezoito
já eram assim, tu lembras-te, impossível teres-te esquecido. «A tua amiga é que
saiu ao pai, tem uns peitos que mais parecem uma tábua» acrescentei.
-
Não sejas maluco, és um parvo, tótó, ganha juízo e fica bem que eu tenho que ir
fazer uma mamografia e não quero atrasar-me.
E lá
foram, ela, a amiga de passar a ferro e o cu com pernas, porta fora em fila
indiana e, comandando a traquitana ela, como sempre.
- Quem era prof. ?
Uma
colega da minha irmã e também minha amiga, já não a via há uns tempos, por quê
? Queres assassiná-la ?
A do
assassinar atirei-lhe como provocação aludindo à camisola que trazia, o rosto
do CHE, como já dissera, e por baixo em vermelho bem vivo a palavra KILLER.
Apercebi-me
ao longo dos tempos que a maior parte do pessoal quer o admire quer o abomine não
conhece o CHE, não conhece patavina mesmo, tristemente nem fazem por conhecer,
então perguntei-lhe com a minha velha paciência de santo de antanho se conhecia
a teoria da relatividade de Einstein, ou o conceito de “relativismo” ao que me
respondeu prontamente ter uma outra camisola daquelas com a imagem de Einstein
de cabelos em pé, e nada mais, nada mais sobre Einstein, nada mais sobre o CHE,
o assassino, segundo ele.
O
retorcido do Teles que chegara a fazer dois ou três anos de sociologia
acompanhava a conversa interessado, tendo balbuciado qualquer coisa como as
circunstâncias, Ortega e Gasset, o homem e as suas circunstâncias, bla bla bla,
o CHE não foi um assassino, foi um comunista feroz, um animal feroz gracejou,
pelo que aproveitei, puxei da maiêutica e estendi-lha na frente como uma
passadeira a fim de que os dois descobrissem por eles as verdades que não viram
ou que não tinham visto, tendo acabado os dois por me explicar que bem, não era
bem assim mas, quer dizer a coisa é complexa, não pode ser vista só por uma óptica,
isto é naquela altura…
E
assim fiquei sabendo que o regime de Baptista, exercendo uma repressiva
ditadura sobre Cuba e assente numa policia politica impiedosa jamais aceitaria
o jogo democrático, pelo que não restaria outra solução que não a via armada,
aliás aceite pela própria ONU, e claro, quem vai à guerra dá e leva, morre e
mata, erros há sempre, sempre os houve e sempre os haverá, embrulharam-se os três,
afinal o CHE já não era KILLER afiançava o Teles, nem tão pouco comunista
garantia o Ricardo, fora ministro dos estrangeiros e da economia mas depois de
visitar a China e a URSS apercebendo-se de como era o mundo e o rumo
totalitário que se abria à sua frente abandonou Cuba e os privilégios que
tinha, foi lutar pela liberdade, dignidade e libertação onde quer que um povo
estivesse reprimido, primeiro para África, Congo, depois para a Bolívia mas já
tinha a CIA no encalço que lhe fez a folha, digo a cama, que o terá feito fugir a sete pés duma revolução que amava e pela qual matou para não ser morto ?
Eles nisto e eu
pensando nas mamas da Gracinda, sim foi a CIA, mamas grandes auréolas grandes,
pois a CIA armou-lhe uma cilada, já aos dezoito anitos toda ela eram só mamas,
se calhar quando começava a saber alguma coisa da vida morreu, coitado, uma
mulher perfeita como diria um primo meu, olha tem graça tu falares nisso,
morrer quando começava a saber alguma coisa, e não é sempre assim?
Agimos mais
vezes animados pela ignorância que pelo saber e experiência das coisas,
infelizmente é assim, tantas vezes, vezes demais, estou aqui lendo a entrevista
do Carvalho da Silva ao Observador e a lembrar-me se nada disto que aborda e
diz lhe veio à memória quando era sindicalista, agora é que certas coisas lhe
dão cuidados, não se lembrou delas a tempo, ou não as conhecia, não as sabia,
não sabia que era assim, mais um agindo sem saber e agora já entradote e indo p’ra
velho é que está aprendendo, vendo o que nunca viu, não me recordo de o ver
preocupado com o investimento estrangeiro que anda a zero há alguns anos, nem
com esse nem com o nacional, a produção nunca lhe interessou mas agora está
preocupado em que não baixe o nível dos impostos cobrados, inacreditável como
com meia dúzia da patacoadas tira o crédito a outras tantas que disse acertadas,
se não visse nem acreditaria, está como o CHE que deve ter somado dois mais
dois e se meteu a milhas mal as coisas em Budapeste foram espremidas e antes que lhe fizessem o mesmo ou o atirassem para o saco de gatos em que a história se estava
transformando.
Cada
vez me convenço mais que os governos nunca deveriam ser entregues nem a gente
com menos de sessenta anos nem a ignorantes, é um perigo, veja-se o Trump, o
Maduro, o Kim Koreia, o Socas, o Passos, o Puigdemont, o Macron, o Costa e tantos
outros…
Quem
sabe o que teria sido de Cuba se o bloqueio americano não a tivesse atirado
para os braços de Nikita Khrushchev. O bloqueio económico foi mais um erro de
gente nova, Kenedy estava verde e muito muito longe dos sessenta anos… Claro
que tudo isto são suposições, não há uma história dos “ses” nem nunca haverá…
- E
a outra prof. quem era a outra ?
Qual
outra pá ? Quais mamas meu ? Se não fossem elas como teria eu conseguido a
vossa atenção e que lessem todo este arrazoado que hoje tenho para vos oferecer
? Foste enganado parvalhão ! Com verdades te enganei !
HASTA
LA VITÓRIA SIEMPRE COMANDANTE CHE GUEVARA !