Albino Tavares da ANPC
Não
casual mas propositadamente este texto leva o nome de um filme que ao contrário
do que vem sendo habitual deu posteriormente e por sua vez origem a um livro
homónimo. Curioso é o facto de que, quer vejamos o filme quer tenhamos lido o
livro, qualquer deles demasiado extenso, poderemos não dar à primeira vista com
o significado moral da obra, tão longa, permeável e inconsequente nos parece por
vezes ser o fio invisível que nela nos conduz do início ao final, como se
caminhássemos passo a passo sobre instáveis dunas ou velozmente numa montanha
russa. Assim me fizeram sentir as rápidas sequências da fita correndo
lentamente, ou as suas lentas cenas passando rapidamente. A leitura de que
depois me socorri não viria a mostrar-se mais visível mas deu-me a vantagem de
poder rebobinar as páginas, voltar atras e repetidamente reler as partes
cruciais até completamente as esclarecer.
Todavia
que a velocidade da fita ou da vida não nos tire nunca o discernimento, pois essa
linha invisível estará sempre lá, está sempre presente e toda a obra, como toda
a vida, todas as vidas giram em torno de quem a pisa, a ultrapassa ou mui
singelamente e quantas vezes com sacrifício pessoal a respeita. Sim, no caso
presente trata-se de um filme, ou de um livro de guerra, porém daí só releva
ser sobretudo em situações limite que a tentação se nos coloca de forma mais
exigente ou tentadora, pondo-nos à prova no limite, sabido ser em situações
extremas que melhor se pode testar a fibra de um caracter, de uma
personalidade, de uma qualquer pessoa.
Dispomos
actualmente de uma panóplia de instrumentos científicos que, desde o tempo à
geologia d terra, à medicina ou à física, mesmo à astrofísica, nos permitem
medir, aferir e apreciar ou aquilatar o que observarmos mas, contudo o insondável
mistério da mente continua fechado a sete chaves, quantas vezes
deslumbrando-nos pela negativa, quando não de modo quotidiano. Basta-nos olhar
para os exemplos de Albino Tavares, triste figura do dia, pejado de
condecorações, homenagens, considerações, e no entanto um individuo sem escrúpulos,
como um vulgar assassino. Sem pestanejar mandou ocultar as provas da sua
incompetência e culpa nas mortes trágicas de Pedrogão Grande, quando o que
deveria ter feito era devolver o tacho de boy ao Instituto da Juventude ou ao
partido que o pariu.
Muitas
honrarias tem este país proporcionado a mafiosos, eu poria nesse leque Zeinal
Bava, Granadeiro, Sócrates e tantos outros que há muito pisaram, cortaram,
desviaram ou simplesmente puseram de lado para evitar incómodos essa linha invisível
que vínhamos seguindo e traçando neste texto.
É a
consciência e o racional que nos separam dos animais, porém, perdido o pudor,
ultrapassada a linha vermelha da ética a raça humana só tem para oferecer animalidade, pior que isso,
bestialidade, brutalidade. Nada, nadinha, nada substitui a moral e a ética por
muito bom corte que tenham os fatos dos predadores ou aqueles que vistamos…