Somente
agora, que permanentemente me convocas o pensamento, reparei nesta imagem por ti
escolhida para capa da página na rede social onde pontificas.
Só
agora atentei nela com olhos p'ra ver e cabeça p'ra pensar, para cuidar de a
observar e, andando isto tudo ligado, nada nem ninguém me convencerá não ter
havido aqui criteriosa escolha, tu que nada deixavas ao acaso nem davas ponto
sem nó.
Talvez
ao escolhê-la já sentisses em ti a melancolia de Outono, um Outono contudo rico
de cor e prenhe de significado, talvez sentisses já em ti a nostalgia e o apelo astral do
universo para que o teu Karma se cumprisse pois nada se perde, nada se cria,
tudo se transforma.
Talvez tivesses sido convocada pelo Outono para um outro e novo
desafio. Nasceste, amadureceste, deste fruto, foi chegada a hora da metamorfose
e, para que tudo em nosso redor rejuvenesça, tal como as folhas que caem, qual
húmus, qual Fénix, talvez tenha chegado para ti o tempo e a hora de nova viagem
e somente agora eu me tenha apercebido disso, olhando enquanto caminho as suaves cores
desta paisagem tua, desta desolada paisagem que me deixaste.
Sim
porque é aqui que radica esta tristeza profunda que sinto duradoura, este desgosto
incomensurável, este abatimento indefinível contido pela estranha
serenidade deste peculiar momento, p’la acalmia da vida em que, diminuindo a
passada, apurando a atenção, me parece ouvir o sussurro do vento trazendo-me a tua voz,
desculpa Berto, estava na hora de partir
para outra, sinto o apelo do meu signo, a coragem do Leão, outros mistérios me
esperam.
É
debaixo deste sol de Outono que caminho, agasalhado na solidão que me vestiste,
todavia sinto paz, contigo partiu a inquietação que a ambos assaltava e
finalmente encontrámos a paz calma que Outono permite, este Outono, o
Outono da vida, de calma, da paz que apesar de tudo tanto ambicionáramos porque o sofrimento não é catarse nem é divisível, mas propaga-se e multiplica-se sem
controlo, como a divisão celular que numa citocinese imparável origina a vida.
Deus
deixou-nos o livre arbítrio mas, egoísta, guardou pra Ele mesmo a última
palavra, deixou que chegasses a Outono, deixou que amadurecesses, que desses
fruto, frutos, tão frutuosa foi a tua vida, cumpriste o teu papel, foste
marioneta nas mãos Dele e agora o Outono, o cenário ideal para saíres de cena,
o silêncio outonal, o dever cumprido, apesar de tudo obrigado meu amor.
É
por entre os espinhos do silêncio que caminho, lembrando-te, concentrado nas
memórias de ti qual porto de abrigo precipitadamente procurado e nas quais me
refugio, habituado a que aí encontre a abundância pois sempre colhi do que
semeaste, sempre fui bafejado p’la felicidade enquanto viveste e agora o
silêncio, somente o silêncio e estas constantes lembranças de ti.
Penso-te e,
inconscientemente pontapeio as folhas multicoloridas que o Outono espalha neste
lugar de desolação em que, numa atitude comodista me vejo, ignorando a
transformação que diante de mim se processa, não reparando, não estranhando, não
dando atenção nem contemplando a metamorfose, a renovação, a recôndita regeneração que
esta abundante miríade de odores e cores anunciam.
No céu está agora mais uma estrela, dos cambiantes cromáticos de Outono renasce como Fénix a vida, enrolando no seu âmago a
vitalidade que matura secretamente o recomeço. Por isso doravante te recordarei
em cada Outono, a estação
tua. Nem só, mas em cada Outono recordar-me-ei especialmente de ti que sempre recusaste a tristeza, a rendição, a renúncia, o declínio, a resignação.
Nasceu uma estrela, “Sois
pó, e em pó vos haveis de converter” disse o Padre António Vieira citando a
Bíblia, nada se cria, nada se perde, tudo
se transforma, apostrofou e provou Lavoisier e no que creio firmemente. Também eu saberei manobrar os meus Chakras, transmutando esta dor melancólica numa
lição correctora, qual recompensa que me tenha sido dada, qual fruto maduro
deste Outono singular em que te vi partir, abalar, Outono que não esquecerei
jamais, como jamais te esquecerei a ti meu amor, Outono que recordarei sempre
como aquele em que foste incensada e me foi concedido o privilégio de ver-te subir
aos céus.
Algo
renascerá das cinzas, tenhamos esperança, após a tempestade sempre sempre
sobreveio a bonança.
Adeus
meu amor de sempre, adeus meu amor eterno.
Maria Luísa Baião quando começámos namorando.