SIM
SENHOR PRESIDENTE, UMA IDEIA DE CIDADE
Texto 1 de 12, Publicado no Diário do Sul em 24/07/2000
O
presidente da república, Jorge Sampaio, apelou em Espinho a que as cidades
portuguesas se desenvolvam harmoniosamente, com qualidade, e com a participação
dos cidadãos.
Afirma
Jorge Sampaio que não deverão ser feitas obras que ninguém entenda, ou que os
cidadãos não sintam como suas”, “é trabalho da democracia e dos eleitos
convencer as pessoas, explicando-lhes os projectos e, até mudar de decisão se a
participação dos cidadãos for nesse sentido, afirmou.
Numa
outra ocasião destacou o importante papel das iniciativas locais e da sociedade
civil, e confirmou que se tem verificado que algumas das fórmulas mais
inovadoras, por exemplo em matéria de combate à pobreza e ao desemprego, tenham
sido levadas a cabo por instâncias descentralizadas da Administração Pública,
muitas vezes em parceria com actores colectivos da sociedade civil, e com a
própria participação dos cidadãos.
“Outro
bom exemplo de uma articulação sensata diz respeito aos problemas da
dinamização económica e ordenamento do território”… Muita
razão reconheço ao senhor presidente, confesso até que já tinha começado há
muito como cidadão empenhado a preocupar-me com os destinos da minha cidade, e
que as suas afirmações só anteciparam o que tinha em mente, isto é, uma serie
de crónicas sobre UMA IDEIA DE CIDADE, a minha ideia para esta cidade.
Esta
crónica será pois a primeira de uma série sobre esta temática, e que me perdoem
os leitores se acaso alguns pormenores não coincidirem com os vossos interesses
ou desejos, não esqueçam contudo que não
sou um especialista nestas coisas, sou, como vos, um cidadão que tem uma
ideia de cidade, uma outra ideia que não a que se nos depara aos olhos há
demasiado tempo.
No pós
25 de Abril foi feito um apreciável esforço de requalificação urbana, foi um
período áureo, de fácil contentamento das populações, ávidas dos mais
elementares atributos de um urbanismo de que só uma ínfima parte do país
beneficiava.
A
dispersão da população por bairros clandestinos, erguidos à revelia dos poderes
locais e estatais que faziam orelhas moucas das nossas mais básicas
necessidades e direitos, são ainda em alguns casos raiz de um tecido urbanístico
obrigado a acolher no seu seio esse espaço edificado, criando escolhos a um
perfeito ordenamento territorial da nossa cidade. Contudo águas correntes, electrificação
e saneamento básico foram concluídos.
Hoje
colocam-se-nos novos desafios, todos aspiramos a um melhor padrão de vida, a
mais segurança, no fundo a novos modelos de gestão, muito mais exigentes do que
os necessários no tempo em que tudo estava por fazer e em que facilmente se
identificavam as nossas mais prementes carências, que com relativa facilidade e
engenho se iam superando.
Previsão
e planeamento são agora as palavras de ordem e as bandeiras a erguer, acabou o
tempo do improviso, acabou o tempo em que ser do partido era condição
necessária e suficiente. Aos homens do aparelho nunca ninguém questionou as
competências, nem os seus eleitores, eles também beneficiados ou prejudicados
pelas capacidades ou falta delas nos seus eleitos, nem sequer a oposição, nem grupos
de cidadãos.
Tão
importante quanto derrotar o adversário teria sido obrigado obrigá-lo a jogar
de modo diferente, as exigências e contestações teriam levado a uma superior
qualidade de gestão. Contudo, durante décadas, ninguém se importou com a gestão
do burgo, que cresceu sem dúvida, mas pouco, e na exacta dimensão de horizontes
de quem o conduziu.
Querer
hoje apontar responsabilidades a quem é um decano dos autarcas em Portugal, e
que soube como nenhum outro promover uma imagem que vale por muitos será um
erro, mas recordem quem esteve à sua volta e compreenderão por que há razões
para rirmos de tanta ingenuidade, nossa e não só.
Os
erros pagam-se caro, e todos os estamos a pagar, cidadãos, oposições e
situações. Certamente haverá guerra em 2001. Estes novos tempos não se
compadecem com hábitos rotineiros, exigem uma corajosa rotura com o tradicional
e uma muito clara aposta nos recursos humanos, os tempos que correm impõem
equipas cultas, com elevados níveis de instrução, com aptidão para desenvolver
processos sustentáveis de crescimento, ao invés de que é costumeiro, as
tradicionais actuações pontuais de cariz eleiçoeiro.
Nesta
terra nada de significativo se faz há muitos anos, para repentinamente surgirem
em catadupa obras que servirão de bandeira no próximo acto eleitoral.
Premeditado
?
Não
sei que dizer…
Na próxima crónica abordarei à lupa alguns factos indesmentíveis.
Texto1 de 12, Publicado no Diário do Sul
em 24/07/2000
***** ATENÇÃO !!
NESTA SÉRIE TODOS OS TEXTOS TÊM VINTE ANOS !!!!!
MAS ESTÃO ACTUALISSÍMOS....