quinta-feira, 25 de março de 2021

679 - SIM SENHOR PRESIDENTE, UMA IDEIA DE CIDADE ... *****

 

SIM SENHOR PRESIDENTE, UMA IDEIA DE CIDADE

Texto 1 de 12, Publicado no Diário do Sul em 24/07/2000


O presidente da república, Jorge Sampaio, apelou em Espinho a que as cidades portuguesas se desenvolvam harmoniosamente, com qualidade, e com a participação dos cidadãos.

Afirma Jorge Sampaio que não deverão ser feitas obras que ninguém entenda, ou que os cidadãos não sintam como suas”, “é trabalho da democracia e dos eleitos convencer as pessoas, explicando-lhes os projectos e, até mudar de decisão se a participação dos cidadãos for nesse sentido, afirmou.

Numa outra ocasião destacou o importante papel das iniciativas locais e da sociedade civil, e confirmou que se tem verificado que algumas das fórmulas mais inovadoras, por exemplo em matéria de combate à pobreza e ao desemprego, tenham sido levadas a cabo por instâncias descentralizadas da Administração Pública, muitas vezes em parceria com actores colectivos da sociedade civil, e com a própria participação dos cidadãos.

“Outro bom exemplo de uma articulação sensata diz respeito aos problemas da dinamização económica e ordenamento do território”… Muita razão reconheço ao senhor presidente, confesso até que já tinha começado há muito como cidadão empenhado a preocupar-me com os destinos da minha cidade, e que as suas afirmações só anteciparam o que tinha em mente, isto é, uma serie de crónicas sobre UMA IDEIA DE CIDADE, a minha ideia para esta cidade.

Esta crónica será pois a primeira de uma série sobre esta temática, e que me perdoem os leitores se acaso alguns pormenores não coincidirem com os vossos interesses ou desejos, não esqueçam contudo que não sou um especialista nestas coisas, sou, como vos, um cidadão que tem uma ideia de cidade, uma outra ideia que não a que se nos depara aos olhos há demasiado tempo.

No pós 25 de Abril foi feito um apreciável esforço de requalificação urbana, foi um período áureo, de fácil contentamento das populações, ávidas dos mais elementares atributos de um urbanismo de que só uma ínfima parte do país beneficiava.

A dispersão da população por bairros clandestinos, erguidos à revelia dos poderes locais e estatais que faziam orelhas moucas das nossas mais básicas necessidades e direitos, são ainda em alguns casos raiz de um tecido urbanístico obrigado a acolher no seu seio esse espaço edificado, criando escolhos a um perfeito ordenamento territorial da nossa cidade. Contudo águas correntes, electrificação e saneamento básico foram concluídos.

Hoje colocam-se-nos novos desafios, todos aspiramos a um melhor padrão de vida, a mais segurança, no fundo a novos modelos de gestão, muito mais exigentes do que os necessários no tempo em que tudo estava por fazer e em que facilmente se identificavam as nossas mais prementes carências, que com relativa facilidade e engenho se iam superando.

 As exigências de hoje não apontam já para a satisfação de necessidades básicas, mas para muito mais complexas ambições e aspirações, muito mais difíceis de identificar e satisfazer, e cuja apreensão por parte dos poderes públicos lhes impõe um desenvolvimento de competências que não se coaduna com amadorismos, e muito menos com eleitoralismos, manobra a que qualquer um já desvenda as intenções.

Previsão e planeamento são agora as palavras de ordem e as bandeiras a erguer, acabou o tempo do improviso, acabou o tempo em que ser do partido era condição necessária e suficiente. Aos homens do aparelho nunca ninguém questionou as competências, nem os seus eleitores, eles também beneficiados ou prejudicados pelas capacidades ou falta delas nos seus eleitos, nem sequer a oposição, nem grupos de cidadãos.

Tão importante quanto derrotar o adversário teria sido obrigado obrigá-lo a jogar de modo diferente, as exigências e contestações teriam levado a uma superior qualidade de gestão. Contudo, durante décadas, ninguém se importou com a gestão do burgo, que cresceu sem dúvida, mas pouco, e na exacta dimensão de horizontes de quem o conduziu.

Querer hoje apontar responsabilidades a quem é um decano dos autarcas em Portugal, e que soube como nenhum outro promover uma imagem que vale por muitos será um erro, mas recordem quem esteve à sua volta e compreenderão por que há razões para rirmos de tanta ingenuidade, nossa e não só.

Os erros pagam-se caro, e todos os estamos a pagar, cidadãos, oposições e situações. Certamente haverá guerra em 2001. Estes novos tempos não se compadecem com hábitos rotineiros, exigem uma corajosa rotura com o tradicional e uma muito clara aposta nos recursos humanos, os tempos que correm impõem equipas cultas, com elevados níveis de instrução, com aptidão para desenvolver processos sustentáveis de crescimento, ao invés de que é costumeiro, as tradicionais actuações pontuais de cariz eleiçoeiro.

Nesta terra nada de significativo se faz há muitos anos, para repentinamente surgirem em catadupa obras que servirão de bandeira no próximo acto eleitoral.

Premeditado ?

Não sei que dizer…

Na próxima crónica abordarei à lupa alguns factos indesmentíveis.


Texto1 de 12, Publicado no Diário do Sul 

                    em 24/07/2000

***** ATENÇÃO !! 

NESTA SÉRIE TODOS OS TEXTOS TÊM VINTE ANOS !!!!!

MAS ESTÃO ACTUALISSÍMOS....