Olho
para trás, olho para Évora por cima do ombro, não porque esteja desconfiado,
mas por tentar alcançar assim o passado. Revejo décadas atrás mas não encontro
nada que me ajude a perceber esse passado, o que se passou, algo que explique o absurdo em que esta cidade se tornou.
Será
assim tão difícil de compreender por que estou hoje aqui empunhando esta
bandeira, empunhando um estandarte que tantos portugueses já empunharam, em
defesa da nossa terra, do nosso solo, das nossas tradições e cultura, do nosso
passado e futuro ?
Eu
sou eborense, sou português, sou povo e jamais poderei esquecer-me disso creiam-me.
Não sou materialista, nem consumista, os meus luxos são apenas discos, livros,
uma mota já antiga para os padrões actuais, e memórias, lembranças, muitas.
Não façam
de mim o burguês que não sou, muito menos o fascista com que a ignorância de
alguns me pinta, sou de direita, tornei-me de direita porque sou um homem culto,
a cultura muda-nos. Para além disso sou democrata, sou conservador por ser aí
que as virtudes do mundo se conservam mais tempo, e precisamos delas amiúde,
frescas, viçosas, conservadas com e de confiança, tal como a igreja conservou o
que restou da nossa civilização após a queda do império romano às mãos dos
ímpios, dos bárbaros…
Temos
que deixar de viver na ilusão, ou escondidos, sempre atrás da janela ou sempre
atrás do portão, lutemos por ser livres e jamais deixemos de sonhar. Há que
avançar contra as velhas regras de um cerimonial que nos impuseram há quase
cinquenta anos e nos atrofia, por isso eu tinha que aceitar.
Então
aceitei lutar e mudar o nosso destino, na certeza de que um dia irei merecer o vosso
reconhecimento e merecer o amor que possam sentir por mim. Por isso não chores mais
Évora, a minha alma está contigo, e se te dediquei a vida inteira não te
deixarei agora que te encontras em perigo. Sim ficaremos juntos, ficarás comigo,
comigo que te amo e amei a vida inteira e nada mais quis que olhar e salvar a
tua branca beleza.
Não é o poder que me move, jamais o poder ambicionei apesar das muitas mentiras que deitaram e deitam sobre mim. O meu lugar é a teu lado, o meu lugar é ao lado deste povo amante da liberdade e a quem eu também sempre amei.
Évora branca, eu só desejo sentir bem de
perto o teu coração batendo por todos e por mim, com fervor, com amor, um amor
que nunca irei esquecer porque a minha alma está contigo, a vida inteira eu estive
contigo, a ti a dediquei e volto a dedicar nesta hora sombria em que nuvens te
cobrem e nos cegam, em que dogmas te apunhalam e marcaram com um estigma que é
hora de sacudir.
Um estigma que nos tem aprisionado, isolado, baixado a auto estima, nos tem feito sentir incapazes e culpados, num incompreensível sentimento colectivo de auto reprovação cujos efeitos negativos e forte influência nos têm trazido cegos e manietados há quase cinquenta anos. Fomos nós quem, inocente e ingénuamente deixámos que cegos nos vendassem os olhos.
Temos
que nos pensar, nos reinventar e dominar a habilidade necessária para dar um
novo significado às nossas vidas e à vida da cidade, vida que nos conduza de
novo à cidadania que nos foi roubada.
Diante
do exposto, há que fomentar de novo o convívio e a criação de vínculos entre as
pessoas, entre nós eborenses, agindo e pensando, usando de novas práticas no
campo da atenção social que produzam efeitos benéficos e palpáveis na vida das pessoas,
dos eborenses, ao invés desta separação doentia em que nos têm enclausurado
como ovelhas num redil.
Temos
que participar em mais eventos no nosso território, reconquistar para nós
novamente Évora, dar azo a eventos que nos unam, que extrapolem os muros reais e
as fronteiras mentais em que nos têm confinado. Temos que alargar horizontes, não podemos consentir que um pastor sem visão conduza o rebanho !
E
quem ainda duvidar do que digo, é só olhar p’ra dentro de mim, olhar-me nos
olhos, confrontar-me, interrogar-me, e ouvir-me. Terei então a certeza que me
seguirás nesta reconquista, me seguirás contra a ortodoxia dominante e
asfixiante que fez da cidade de César uma cidade submetida e submissa. Sublevemo-nos ! Contra a reacção a subversão !
Lutemos
!
Luta
a meu lado por uma Évora branca !
Brancos
contra vermelhos, como em 1918 !
Sejamos
os cossacos de hoje ! Coragem !
* Lutemos democráticamente claro, em eleições justas.