735 - NÃ T’ACHO,
NÃ T’ACHO, MAS ACABEI POR ACHAR …
Não
te acho, não te acho, mas acabei por achar e admirar-me de quão cabeça no ar
sou, ou palerma, ou pateta alegre, mas ia lá eu adivinhar ser ali a Casa Soure.
Foi
o Big Bang da casa Soure.
Tinha aberto terça-feira, hoje é sexta, por isso lhe desculpei algumas falhas, como não terem Super Bock a minha preferida e uma cerveja que adoro, e tão nacional, tão nossa como a Sagres, que têm mas detesto, é muito áspera. Ou a falta de cerveja à pressão, coisas que só o facto de terem aberto há três dias desculpa pois por outro lado têm uma garrafeira com um portfólio invejável, vi decerto mais de duzentas marcas de vinhos, e só vi nacionais e alentejanos. Idem para as cervejas, marcas de toda a Europa e do mundo inda que incompreensivelmente falhem com a Super Bock e nos lixem com os finalmentes, não havia poejo, o meu digestivo de eleição e tipicamente alentejano.
Esqueçamos as falhas, nasceram há três dias, não admira, tenho a certeza que nem eles sabem onde ficam todos os interruptores da luz, e por falar em luz faça-se luz, que o ambiente era lindo, nem reconheci o pátio onde tantas vezes passei, agora cheio de mesas e arranjado, de mesas cheias de gentes. A mesa que mandara reservar estava linda, com uma rosa numa jarra, num canto discreto, sítio sossegado, sombra e frescura, bons queijos do Cachopas, bom peixe, boa carne, não gostei da conta, mas para ser franco é coisa de que nunca gosto.
Eu, cada vez que lembro o Seabra sinto um aperto no coração porque:
- Ambrósio e se alargares o
cinto antes de rebentares ?
era a Fatinha a reinar
comigo, mal sabendo que somou no meu cérebro 2+2, o Seabra este e o Seabra um
outro que:
- Deixem-me aqui, deixem-me
morrer, não quero viver assim !
Já
lá vão quase cinquenta anos e ainda choro a morte do Soares, o jovem mais
timorato e corajoso que conheci. Lembrei-o hoje ao almoço e chorei, baixei a cabeça
para não ser visto mas vieram-me as lágrimas aos olhos, a felicidade tem um
preço, oh se tem, e hoje é dia de festa e felicidade, Deus cobrou-me o excesso
e recordou-me também o Grou e o Teigão, que teriam exactamente a minha idade se
não tivessem deixado a alma lá longe naquelas guerras de há quase cinquenta
anos.
Daqui a uns tempos voltaremos, e esperamos que o chão de granito e a calçada do pátio estejam já livres daquela sujidade própria das obras e complete o belíssimo restauro e restaurante que ali temos. Parabéns aos corajosos invetidores, e a todos os colaboradores, é de gente assim que Évora precisa, com cabeça tronco e membros, e bom gosto.