PUDESSE EU PENDURAR UM NO PEITILHO ...
Apetecia-me um queijinho,
de leite e iogurte ouvi-a dizer.
E a mim um brochezinho,
havia-os na feira,
lindos,
em arame fino fininho,
cavalinhos, golfinhos,
elefantes, macaquinhos.
Pudesse pendurar um no peitilho,
alfinetá-lo no quico ou no boné,
fazer dele um porta-chaves,
era de delirar só de neles pensar.
Eram giros os broches lá isso eram,
feitos c’um alicate pequenino,
e mão destra, manápula,
torcendo e retorcendo o fio,
filigrana de arame e sedução.
Também podia tratar-se duma imitação,
de esmeralda, feita à mão,
ou ostra, de preferência com pérola,
perlada, trincada entre os dentes.
Ela numa cama baixa, de avental,
no ar brochezinhos lindos,
esvoaçando,
em arame fino fininho,
cavalinhos, golfinhos,
elefantes, macaquinhos,
gatinhos e unicórnios.
Tudo pulando e saltando no seu colo,
entre rolos de araminho e
um alicate pequeno, pequenino,
as ideias esvoaçando,
a inspiração brotando,
e nas mãos delas cada broche arte,
handcraft, fait à la main, handgefertigt,
maravilha.
Eu olhando-a e sonhando,
perdido nos meus pensamentos,
handcraft, fait à la main, handgefertigt,
ela molhando os lábios,
torcendo a boca, babando-se,
mordendo a língua,
comprimindo o alicate,
manipulando-o, manuseando-o,
e repentinamente um clik !
Ponto final,
o araminho cortado,
o broche acabado,
ela desdobrando as pernas,
exausta,
esticando-se na cama baixa,
estirando-se,
admirando a sua obra,
a sua criação,
desta vez um lindo pavão.
Por isso eu vira cores,
sentimentos,
sensações,
nuvens,
trovões,
o arco-íris,
e no final um relâmpago.
Íris, Osíris,
a terra e o céu um só,
a vida irrompendo
sob a forma d’um pavão,
das suas mãos, da sua arte,
destarte, dessarte,
não é para todas…