quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

809 - TOLHERIAS, TULHERIAS, COLHERIAS ...



A ideia era que eu descolasse, me livrasse do que me apoquentaria ou tolheria a felicidade, tolheria, Tulherias, tellement contente d'être allée plusieurs fois au jardin des Tuileries, como se eu não fosse feliz ou pudesse ser, ou sê-lo mais esquecendo o passado, fundindo-me com o presente, abraçando o futuro, antevendo nesse futuro um anjo de braços abertos, esperando-me, aguardando-me, acolhendo-me, recebendo-me.

 


Era uma ideia tentadora, mas sendo eu um anjo feliz, una persona feliz, uma boa pessoa, uma pessoa excepcional, que vantagem tiraria daquela doutrina, daquela praxis, sabido ser que a memória se não apaga, apenas se acrescenta, se soma, e que + por + dá mais, - por – dá mais, + por – dá menos, - por + dá menos, tal qual me ensinou o mano há mais de cinquenta anos numa cábula que ainda anda por aí numa gaveta qualquer pois nunca tive coragem de atirar fora aquela preciosidade. 

 

Tentar apagar a memória seria como dilacerar a minha personalidade, o meu caracter, honestidade, transparência, sanidade mental, e todas essas merdas que acumulamos p’la vida fora e fazem de nós quem somos e como somos. 


Porque estas coisas se cultivam, cada um de nós constrói-se a si mesmo ou deixa que outros coloquem os tijolos, eu fiz-me a mim mesmo escolhi um molde exemplar, molde hoje em dia desvalorizado, hoje os aldrabões ultrapassam-me e ganham-me aos pontos, contudo eu prezo a pessoa que sou e diria sem sentido pejorativo e parafraseando Charlie Chaplin, "amo-me a mim mesmo" por isso mesmo caras amigas, sim, amigas, podem tratar-me por Bertinho pois o que me encanita é somente a desfaçatez já que em mim até o pior inimigo pode confiar, só tenho uma palavra e ainda estou no pleno gozo das minhas faculdades, e da sanidade mental que todavia tanta gente já perdeu, sanidade mental, precisamente ou talvez a área onde porém me considero mais forte ainda, pois não descarrilo, nem haverei nos tempos mais próximos de trazer amargos de boca a ninguém, posso até dizer e garantir que nessa área estarei mais bem preparado que a grande maioria, já que desde os dezanove ou vinte anos fui "treinado para ter as costas largas" neste caso a mente larga...

 

Capacidade mental elevada, "treino" que foi infelizmente sujeito à prova máxima e resistiu, não me deixei submeter nem submetido a sevícias mentais e psicológicas, nem às físicas, muito menos a essas. Neste aspecto diria ter saúde para dar e vender, não carrego nada que não deva e orgulho-me da verticalidade que me caracteriza, inda que esteja na moda o contorcionismo e a mudança de opinião de acordo com os interesses do momento...

 

Eu fui e sou construtor de mim mesmo, a self made man, e portador de uma personalidade que há 40 ou 50 anos valeria milhares como garantia ao balcão de qualquer banco ....

  

Honestidade, transparência, sanidade mental e todas essas merdas, quem assim falou não foi Zaratustra, foi ela, sim uma ela que não vai à bola comigo mas de quem eu gosto, foi ela quem viu, viu as minhas lealdades e transparências tão factuais e verdadeiras quão elas são e podem ser observadas à vista desarmada, sem lupa, tão à mão que ninguém precisará de um bisturi para as dissecar, ou de as colocar a secar sobre o relvado do Jardim das Tulherias, sim, ali expostas pois até eu gostaria de as ver, tão caras me são, tanto tenho penado para as manter, foram sedimentadas a pulso, tal como os alicerces da casa do Bacelo, que enchi à mão com a Luisinha.

 

Sim, com a Luisinha, há tanto tempo, era uma máquina ela, não perdia nem tinha tempo a perder com merdas, era do tipo arregaçar as mangas e vamos a isto, por isso agora este vazio e nada para encher, nem alicerces, nada nem ninguém que arregace as mangas, que me faça lembrar a Regisconta,

 

O homem da Regisconta, aquela máquina !

 

Vagueio pelo Jardim do Palácio de Cristal como há anos vagueei pelas Tulherias, mas agora sem rumo, pontapeando as pedras, e vem-me à memória o amigo Orlando Cristo de Carvalho, de Viana, que mandou duas ou três camionetas descarregar os restos de mármore com que enchemos os alicerces, à borla, porque eu merecia, porque era leal e transparente, já nessa época ele o sabia, Deus lhe torne leve os sete palmos de terra que tem por cima,

R. I. P. amigo Orlando.

 


Pois é, olhem, vou confessar-vos, parece que ainda a estou a ver á saída do cinema, parece-me sentida, arrependida pelo filme que fomos ver, naturalmente não tem culpa disso nem tal interessa, porque o que interessa foi o dia que passámos, foi o tempo que passámos juntos, foi o princípio de tudo, foi a confiança que se gerou entre nós e que se transmitiu, que se ganhou e que se alicerçou, e a confiança é a pedra base, o alicerce inicial de qualquer amizade.

 



Foi isto que então pensei sim, contudo lembro ter rematado o meu pensamento jurando de mim para mim que no próximo filme que fossemos ver, e se por acaso ele não prestasse, me sentaria e sentiria mais próximo dela, e me sentiria com confiança para, no escuro do "balcão" lhe pegar na mão para a consolar e não me ficaria pelos rebuçados, pegar-lhe-ia na mão com ternura e levaria no bolso, escondido, um saquinho de rebuçados que lhe depositaria em mão com carinho.

 

R. I. P. Luisinha.