POEMA *
Parte: como se tivesses de ser esquecida,
deixando atrás uma imagem de sombra.
Não leves contigo as palavras que trocámos,
como cartas, num instante de despedida;
mas não te esqueças da luz da tarde que os teus olhos abrigaram.
Por vezes, lembrar-me-ei de ti.
É como se, ao voltar-me, ainda me esperasses,
sem um sorriso,
para me dizeres que o tempo tudo resolve.
Não te ouço;
e, ao aproximar-me dos teus braços,
vejo-te desaparecer.
Mais tarde, penso, isto fará parte de um poema;
mas tu insistes.
O amor chama-nos, de dentro da vida;
obriga-nos a renunciar à imobilidade da alma,
a sacrificar o corpo a um desejo de memória.
* NUNO JÚDICE , in "Poemário" **
(29.04.1949-17.03.2024) R. I. P.
** https://textosdepoesia.wordpress.com/2013/12/09/poema-nuno-judice/