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TURISMO EM ÉVORA “
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TEXTOS POLÍTICOS 2 #
Herdámos
uma cidade impar, herdámos em monumentalidade uma riqueza inigualável, há muito
amortizada, e cujos custos de manutenção, os únicos que temos com esse
património, representam uma ínfima parte do rendimento que poderão
proporcionar-nos.
Cuidar
da cidade património mundial, mais que um dever é uma obrigação lógica, não
temos minas de oiro nem poços de petróleo, mas temos sol e uma arquitectura
monumental que nem temos sabido explorar devida ou convenientemente.
Dar
nova vida a essa monumentalidade é fulcral, obter através dela novo fulgor,
vigor e mais rendas para a nossa cidade, para todos nós. A preocupação e a
atenção a pequenos pormenores aparentemente insignificantes como o
estacionamento são fundamentais.
Não
encontrar espaço para estacionar leva o turista, o visitante a abandonar a
ideia de ficar ou recomendar a cidade. Logo não ficando não compra, ignora-a,
virar-lhe as costas.
Não
inconscientemente mas com plena consciência deste facto estamos a matar a
cidade, e com ela o Turismo, o Comércio Tradicional e tudo quanto em redor
deles volteia. Neste sentido urge agora não perder a oportunidade de
“transformar” a antiga estação da Rodoviária Nacional num silo para
estacionamento, o que seria conseguido sem lhe estragar a fachada e aproveitando
o esse enorme espaço intramuros em benefício concreto de cidade, do turismo e
do comércio.
É
agora a hora de fazer essa opção, nem se devem acerca desse espaço fazer
quaisquer opções antes das eleições e da escolha de um novo executivo pelos
cidadãos.
É já
mais que tempo para se tirarem conclusões, passaram anos sobre o fenómeno, a
cidade morre, a cidade afunda-se social e economicamente sem que lhe acudam. Se
queremos uma cidade com vida, amiga do turista, uma cidade viva e inclusiva
onde os cidadãos e os visitantes se sintam bem acolhidos e melhor recebidos, se
queremos manter vivo o comércio tradicional e apostar no turismo não podemos
expulsar o turista, antes cativá-lo, fazer com que se sinta aqui bem, bem
acolhido.
Pequenas
atenções revigorarão o turismo eborense, muito centrado na hotelaria e
restauração, quando há imensas possibilidades e potencialidades esperando a sua
oportunidade.
O
desenvolvimento do turismo poderá efectivamente, e não potencialmente, não
gosto de trabalhar sobre ideias vagas mas sim sobre coisas concretas, iria
contribuir para a criação de imensos postos de trabalho e para o aparecimento e
desenvolvimento de muitas empresas das mais diversas especialidades que, ainda
que a ele ligadas indirectamente se encontram dele dependentes, quer a
montante, quer a jusante, e que sem ele nem surgirão nem vingarão.
Évora,
a cidade que se quer bater com outras cidades como cidade da cultura é todavia
uma cidade hostil, uma cidade que exclui, que segrega, que empurra para fora,
que não nos quer no seu seio. É uma cidade simultaneamente agreste e agressiva,
pontilhada de pilotis, proibições, condicionamentos, quando pelo contrário
deveria ser uma cidade inclusiva, que nos desse atenção e onde nos sentíssemos
abraçados, acolhidos, amados.
Por
exemplo, os bloqueios ao estacionamento no Largo da Misericórdia e no passeio
fronteiro a um determinado Hotel são verdadeiros instrumentos de tortura
medievais. Admito que cumpram a sua função, mas é precisamente essa função que
está errada, o resto mais não é que o seu reflexo material, bárbaro.
Um
turista chega e, deslumbrado com a cor das acácias no Largo da Misericórdia ou
com a lindíssima alva matinal alentejana ao chegar ao hotel, em qualquer dos
casos distrai-se, a roda embica num desses instrumentos medievalescos, o pneu
rasga ou rebenta, aí estão umas férias estragadas e uma cidade que jamais lhe
sairá da memória pelas piores razões… Rico turismo…
Ou
turismo p’ra ricos desafortunados…
Pintura
de Fátima Magalhães, "Monte Alentejano" acrilico sobre tela, 30x30