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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

290 - ISRAEL 6 X PALESTINA 2 …….............………

Judeus rezando junto ao muro das lamentações

Ora bom dia caros afilhados, boa quarta-feira, aqui faz um sol lindo mas este paleio é só p’ra vos fazer invejinha eheheheheheheheheheh !!!!!

Retomando a vaca fria onde a deixáramos, ké como quem diz voltando aos judeus, esses bandidos dos israelitas, carrascos dos palestinianos, há quem diga c’agora se deve dizer palestinos…. Cada cabeça sua sentença, há gente que cada vez que vai à casa de banho caga uma sentença…. Olha o Blair que há 3 x 15 dias se veio arrepender da merda que fizeram no Iraque, e já na passada semana o Obama fizera o mesmo, desculpando as diarreias de Bush filho…. Doze anos depois, 12 anos depois e milhares de mortos depois…. Milhares de refugiados depois… E ninguém os enforca, nem a ONU nem o TPI (tribunal penal internacional)…

Mas p’ra que vcs saibam o pk das coisas adianto-vos que antes do fim do Império Otomano (vulgo Turquia), o Reino Unido e a França traçaram com régua e esquadro as fronteiras na região no médio oriente e segundo os seus interesses económicos, completamente alheias ao destino das populações e das etnias locais. Aventuras do tempo de Laurence da Arábia,* espião britânico no mundo otomano (leiam “Os Sete Pilares da Sabedoria”, poupem tempo e não busquem pois não há resumos à venda) e essas consequências fazem-se sentir sobretudo hoje. Mas enfim, era uma vez um gato maltez e … e um coronel britânico e um cônsul-geral francês foram os responsáveis pela dramática situação actual, com o Iraque no centro, o mesmo Iraque onde o Padrinho passou umas férias de turismo de guerra… (Padrinho com letra grande, pois o Padrinho sou Eu).

Mark Sykes e François Georges-Picot, um topógrafo (não tipógrafo) e outro agrimensor, desenvolveram em 1916 um documento secreto que acabou levando o seu nome. No Acordo Sykes-Picot, assim ficou conhecido o documento, “eles”, os fascistas / capitalistas da época, regulamentaram a partilha dos territórios do "antigo" Império Otomano, sem que a população local tivesse conhecimento ou tão pouco metesse prego ou estopa no assunto, apesar do assunto serem elas mesmas, essas populações.

O picante da coisa, feita em cima de joelhos, de joelhos de cócoras e deitados, é que naquela altura o Império Otomano ainda existia, nem esperaram pelo seu enterro. Os últimos líderes políticos e espirituais do império foram os sultões Mehmet 5° (1909-1918) e Mehmet 6° (1918-1922). Politicamente, o califado otomano terminou em Novembro de 1922, com a fundação da República da Turquia por Kemal Atatürk. O califado espiritual dos otomanos perdurou contudo e por esquecimento até Março de 1924, quando, por iniciativa desse mesmo Atatürk, uma lei do Parlamento turco o aboliu. As duas principais potências militares da época, Reino Unido e França, tinham grande interesse na região entre o Mar Mediterrâneo e o Golfo Pérsico por isso havia que legalmente não deixar pontas soltas que mais tarde trouxessem enleios, enredos (pk pensam vcs que em 17-06-1918 os guardas vermelhos acabaram com todos os Romanov a tiro e os atiraram para dentro de um poço?) Em Londres, já no início do século XX os responsáveis haviam reconhecido a importância que poderia ter o acesso às fontes de extracção de petróleo, sempre o petróleo, ou melhor, a partir dali o petróleo que já se adivinhava ir ser mais valioso que diamantes… além disso a região localizava-se precisamente no caminho da principal colónia do império britânico, a Índia.

Paris, por sua vez, possuía uma longa história de relações comerciais com os grandes portos da costa do Mediterrâneo, como Beirute, Sídon e Tiro, as quais queria assegurar por meio do Acordo Sykes-Picot. Para as grandes potências, o destino dos habitantes dessas regiões não importava, que viviam como príncipes dos Saaras e das Mil e Uma Noites e que passaram a viver numa salganhada derivada do estabelecimento de fronteiras a régua e esquadro, vai, ou vão lá ver o mapa e confirmem as rectas traçadas em cima da areia dos desertos….

Quanto aos judeus, dão um travo peculiar à coisa, mas há até quem diga que foi uma pena Hitler não ter acabado com os judeus todos e quem diga precisamente o contrário, eu digo uma coisa nos dias pares e o contrário nos impares… para não contrariar nem uns nem outros e agradar a gregos e a troianos… A verdade atestada pela bíblia, especialmente pelo antigo testamento, o livro mais sensual erótico e violento que conheço, é que os judeus já por ali se arrastavam há mais de 5 mil anos…. Mas… bem…. Os palestinianos palestinos tb… e quando em 14 de Maio de 1948, Israel proclamou sua independência já há anos, séculos ou milénios que travava conflitos com os vizinhos pela posse dessas terras, seu berço histórico…. Seu e dos palestinos….. Menos de 24 horas depois desse golpe cozinhado pela conquista da independência os exércitos regulares do Egipto, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque invadiram o país, (conhecedores da manhosa manobra de fuga dos ingleses afim de garantir a vitória da independência aos judeus…) forçando Israel a defender a soberania que acabara de reconquistar, a defender a “sua pátria ancestral” , no que desde sempre e até hoje foi ajudado… Os judeus são os primos ricos na região, quanto aos pobres e miseráveis dos palestinos ninguém passa chapa…

Ora os palestinos só tinham fundas e fisgas, como praticamente acontece hoje, que poderiam ter feito ?? Ficaram um enclave dentro do rico estado israelita para onde tinham confluído os judeus de todo o mundo fugindo à II GG, eles os judeus e as suas fortunas… judeus com uma rede de conhecimentos de familiares e de amigos espalhada por todo o mundo, enquanto os palestinianos só podiam contar com a solidariedade árabe que como temos visto deixa muito a desejar, além de que os palestinos como já disse eram a parte pobre da equação e ninguém gosta dos pobres, cheiram mal dos pés, têm mau hálito, não tratam dos dentes, cheiram mal dos sovacos, e nem usam um reles Rol-On… imaginem meus afilhados a SAAB a governar-se com os pobres…. Já tinha falido…. A sorte dela são os ricos, a dela e do mundo, pobre só serve p’ra carne p’ra canhão…………

Mas agora que vos dei o contexto histórico vou dar-vos uma data de pensamentos avulso para cogitarem e formarem a vossa própria opinião que eu não quero influenciar-vos, são ainda umas crianças e a Rosinha poderia mais tarde vir pedir-me satisfações…ui ui …

1 - Os árabes são uns coitadinhos ignorantes, menos os ricaços com carros forrados a folha de ouro com petróleo no quintal e um harém no sultanato…

2 - Os árabes são um povo pragmático que detesta a burocracia (ihihihihihihih) , não acreditam na democracia e cortam mãos e cabeças a título exemplar e por dá cá aquela palha pk o respeitinho é muito muito bonitinho…

3 -  Como nós tivemos a nossa época áurea, à volta do ano 1500, eles tb tiveram a sua, sua deles, e muito antes ainda de nós, e muito a civilização ocidental lhes deve, mas por causa do muito chá e do muito bom haxixe já se esqueceram de tudo isso e agora são só burkas e camelos…

4 - Esventrados na sua ontológica essência, por causa das divisões cegas que os ocidentais praticaram à força nos seus reinos, humilhados e ofendidos, criaram frustrações, traumas e taras sendo agora uns revoltados e ainda por cima ruins como cães…

5 - Não querem trabalhar, e com um deserto tão grande nem arranjam onde, são uns madraços, e nas suas Madrassas pregam o ódio ao ocidental que acusam de tudo fazer para lhes roubar o ouro negro, e todos querem é um bom emprego no aeroporto do Dubai…

6 - A verdade é que os ocidentais toda a vida lhes têm lixado os países, as economias, a esperança e o futuro. E eles, famintos, em vez de comerem a areia do deserto, e há tanta, ainda se viram contra nós numa atitude de ingratidão impossível de compreendermos ou aceitarmos…

7 - Não há entre eles, há séculos, um único prémio Nobel, o último terá sido no ano 2.500 a.C. e já ninguém se recorda, há meses na Turquia um grupo ganhou o Nobel da Paz, mas o nosso turismo é que tem ganho com as revoltas deles, deles e da primavera árabe, o nosso turismo e os nossos hoteleiros… para a maralha não houve ganhos, continua a lavar pratos e a limpar a merda nos hotéis por 500 euros ao mês, ou menos…. Devíamos emigrar todos ou fazer uma intifada contra eles… eles os hoteleiros…

8 - Alguns árabes são ricos, podres de ricos, mas é só com eles, nem sabem que fazer ao dinheiro, uns constroem auto estradas com princípio e fim no mesmo local depois de terem dado uma volta em círculo pelo deserto, outros financiam a “al queda”, outros o Arafat que já lá está, outros compram loiras para desfastio…. Outros armam o Hamas ou o Hezbollah para se vingarem dos israelitas que lhes roubam as terras (e roubam) e destroem as cidades….

9 - Os israelitas são os escorpiões da região e toda a gente sabe que esse bicho é um animal terrível, sofreram muito às mãos dos alemães coitados, mas mais hão-de sofrer os desgraçados dos palestinos, os israelitas são muito compreensivos e jamais esquecerão o olho por olho dente por dente…

10 - Desde os tempos bíblicos os judeus são uma sociedade militarizada, ainda hoje os presidentes e primeiros-ministros na generalidade antes de o serem todos foram militares, generais, comandantes etc…

11 - Os judeus são inteligentes à brava e já ganharam muitos prémios Nobel, e contam com apoios em dólares e apoios de costas quentes nos EUA ricos…. Por isso fabricam, inventam, produzem ou compram muito e bom material de guerra, e tb contam com muitos apoios em numerário… enfim, fazem pela vidinha e trabalham, e isso em certos meios é considerado uma ofensa, a nós por exemplo corre-nos sangue árabe nas veias e não judeu, tudo por culpa do Marquês de Pombal…

12 - Os judeus não sabem o que seja dar a outra face (desde os trinta dinheiros só conhecem as faces das moedas) nem sabem o que seja a proporcionalidade, e ripostam a fisgas com bombas atómicas e batalhões de tanques blindados… e  com misseis teleguiados…

13 - Durante a guerra do Vietname os comunistas do norte queixaram-se na ONU de que os EUA não respeitavam a proporcionalidade, e os USA foram obrigados a emendar o seu mais recente e moderno caça, o Phantom F4, e a adaptarem nele metralhadoras e canhões, o caça só tinha mísseis e rockets, e radares, que lhe permitiam reconhecer e abater o inimigo a 50 km de distância, os comunas nem sabiam quando nem do que morriam, o que era tremendamente injusto…. A ONU obrigou a combates à vista, só podiam abater-se mutuamente à vista um dos outros, como durante a II GG, essa lei da proporcionalidade tornou mais justas e menos desiguais as “justas” (justas neste caso= a lutas). Foi por não ter percebido isto, ou ter estado distraído nas aulas de formação de “condicionalismos ao uso e porte de arma” que o cabo Hugo Ernandez se fodeu e agora tosse… atirou contra um homem desarmado e atirou contra uma criança…. O resto são circunstancialismos do contexto, ou são opiniões de malta ignorante….  Um blindado contra uma fisga… ou, à falta de melhor, um judeu com uma bomba atómica na intifada contra quem lhe atira pedras…..

14 - Parece haver uma conspiração judaica no mundo, há quem atire todas as culpa aos judeus, eles só fazem como nós, pela vidinha, acho que os árabes têm inveja de tudo que lhes devemos, deve ser isso, inveja do petróleo deles que faz andar as nossas motas e carros, inveja dos empregos que temos como militares, nos exércitos, nas forças aéreas e nas marítimas, para nos resguardarmos deles, idem para as policias, civis e marítimas, judiciárias e secretas, o que eles têm é inveja dos bons empregos que temos nas fábricas do armamento que lhes cai em cima, no fundo tudo eles nos dão e como retribuímos tanta amabilidade ?? Deixamos-lhes o Saara todo só pra eles !!! Podem empanturrar-se de areia fininha ! Areia de primeira !! Queriam brioches !!!??? Ingratos é o que  são…

15 - Mal entendidos que geram frustrações, aquela malta já nem ginásios têm, nem prédios, nem cidades, está tudo arrasado, e quem nada tem a perder tudo tem a ganhar…. Lugares no paraíso ou no céu…. 72 Virgens…. Não lhe deixamos nada a que se agarrarem agarram-se ao imaterial, ao materialismo dialéctico, à metafisica, nós damos a outra face mas eles querem tudo, a nossa religião tem regras, e mandamentos, ama o próximo, e se formos mulher amaremos mesmo, amaremos as próximas se formos homens, para nós é democracia, e repartição, para eles é perdição, dissolução de costumes, eles dão muito valor aos costumes pk já nem isso vão tendo kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

16 - Razão têm os chineses, uma mulher tem que dar para dois homens ou mais, temos que saber gerir os recursos, os outros e os humanos, há que evitar frustrações, traumas, rentabilizar o capital humano, é a vida….  Que mais dizer ??? Que apesar de tudo ainda há gente boa felizmente, o Padrinho por exemplo  :D

17 - Mas já agora perguntemo-nos também porque não fogem os refugiados para os outros países árabes…. Porque não são assim tão solidários os outros países árabes…. Ou porque ao fim de algum tempo a maioria dos imigrantes ou refugiados que Portugal tem recebido o abandonam na procura de outras paragens…. Será pela mesma razão pela qual os tugas abalam daqui ?? E nem isto ainda está de rastos como outras cidades e outros países que vemos na Tv se não imaginem…..

Bem meus afilhados, espero que isto seja suficiente, e espero que se aguentem aí pela Suécia muito tempo, pois os nossos democratas apesar de quatro décadas de paz e abundância na Europa o melhor que conseguiram foi mandar-nos para o fundo de um valente buraco... Não acredito que os próximos quarenta anos sejam de paz, nem de paz nem de abundância, mas sim de individualismo, fecho da Europa sobre si mesma, terrorismo, deriva securitária, autoritarismo, fascismo, etc. por isso o melhor será irem ficando por aí... Pressinto que desta vez não haverá cenários em que este ou quaisquer outros governos consigam doravante fazer-nos crescer… Aguentem-se enquanto puderem que Salazar já morreu há muitos anos e por muito que nos custe não voltará segunda vez para endireitar esta merda...











                                      Recreio numa Madrassa palestiniana

                          
                                          Combatente judia defendendo um colonato

            
                                                   Judia saindo do Mar Morto

terça-feira, 7 de junho de 2011

POUR TOI, MARIE KOVACS *....................................

                      

 Marie Kovacs é francesa, 68 anos, professora aposentada, casada há muito com um português que, segundo ela, acolhera no seu seio na década de sessenta e quando nem sabia, em Paris, onde cair morto.

Deixou filhos em França e veio com o seu Aníbal viver a reforma em Portugal, cuja gastronomia aprecia e onde o sol, a julgar pelo que diz na sua carta, a maravilha.

Todavia compreendo as razões de queixa que me apresenta, um casual mês “de vacances au Portugal “ não era o mesmo que os três anos que já leva entre nós. Um mês não chega para apreciar este torrão à beira-mar plantado, três anos é tempo suficiente para lhe descobrir as mazelas.

Da sua carta roubo uma frase, uma única, só, que não expressando totalmente o que lhe vai na alma, avivou em mim recordações daquelas que nos fazem deixar cair uma lágrima.  “ Et le Théâtre mon Dieu ! le théâtre “ !

Esta simples frase, nem por sombras a mais expressiva da sua “lettre”, (fala e lê bem o português, mas não o escreve), deu o mote a esta crónica e pretende expressar a Marie a minha compreensão pela situação que está vivendo entre nós, a minha solidariedade e simultaneamente um louvor à sua terra.

Corriam os finais dos anos oitenta, eu e meu marido passeávamo-nos em Paris, no “Bois de Bologne”, quando, na sua orla, do lado em que o mesmo confina com uma moderna zona residencial, se não erro “La Defense”, descortinámos invulgar movimento em redor de uma “Église”.

Do lado do bosque, caravanas, parecendo pelo seu exotismo, pelo tipicismo dos carros de muares, pela exorbitância das cores e das músicas um acampamento de saltimbancos.

Na contra-mão do mesmo “boulevard”, à porta da igreja, de um lado enorme cartaz pintado, do outro uma bilheteira em madeira, tipo barraca e qualquer deles rivalizando nos desenhos e cores com o alegre carnaval das caravanas. Bem anunciado; “Le Théâtre des Moliéres”, com espectáculo a decorrer na igreja (?), e cujo início se processara, segundo o horário afixado, há um quarto de hora.

Na bilheteira ninguém (viríamos a pagar somente no fim o que cada um quis), curiosos entrámos, a lotação estava a meio, imperava o silêncio, todos pareciam recatados, mais parecendo em oração que esperando uma peça que não recordo bem o nome mas aludia a qualquer coisa como “Le Monde réel c’est ici”. Única nota discordante, o trajar de alguns dos espectadores, expectantes, fugia em certos casos à normalidade vigente, ou por algum absurdo, ou por excentricidade. Não percebi mas calei, fui esperando, a igreja enchendo, contrastando a solenidade dos presentes com o inusitado movimento, som e cor que lá fora bradava aos céus.

Quando o cerimonial começou reparei que se tratava de um espectáculo inusual. O coro, de uma heterogeneidade de idades, vestes, sexos e raças que só tinha paralelo com o eclectismo que assinalei na assistência presente, começou com o que me pareceu “ A Marselhesa”, não tendo ficado a saber de onde e como foram aparecendo, aos poucos, nas suas mãos, os mais díspares instrumentos musicais.

Levantei-me, desviei-me um pouco para a coxia, na tentativa de observar em melhor ângulo determinado pormenor.

Um chefe de família e sua prole, (espectadores atrasados, pensei), ao encontrar-me no meio da coxia estendeu-me a mão e deu-me dois francos !, era o que faltava ! então não fui confundida com o sacristão, ou o arrumador ?

Debalde tentei devolver-lhe as moedas, sorria para mim, um sorriso do tamanho do mundo, de quem achou imensa graça (não sei a quê), recusou a devolução e fez-me sinal, indicador nos lábios, que me calasse, o que fiz.

Quando pretendi reocupar o meu lugar, sentei-me inadvertidamente no colo de um cavalheiro que sub-repticiamente ocupara o espaço por mim deixado vago ! Sem barulho, senti contudo pelo seu sorriso que ria a bandeiras despregadas, amuei e fiquei de pé, não daria àquele palhaço o prazer da minha atrapalhação.

Palhaço sim, pois como vestia mais parecia um palhaço !

No entretanto o coro avançara, tocou / cantou  Charles Aznavour, Jacques Brell, Maurice Chevalier, Edith Piaf, outras, muitas e alegres canções típicas francesas, abandonou a sua postura, e apercebi-me então que entre o coro e a assistência havia troca de lugares, e de papéis !

Dei-me conta mais tarde que talvez um quarto da assistência fazia parte da trupe, entre eles o tal chefe de família e o citado palhaço !

Assistência e personagens haviam-se aos poucos fundido. Como cá, se fez lá aquela fila indiana que dançamos ao som de “ O comboio apita, apitou três vezes...”. O espectáculo transbordou para fora da igreja, percorreu as rua limítrofes, viveu, conviveu e ligou-se aos passantes, passeantes, habitantes e operários encontrados. A todos arrebatou e arrebanhou.

Um senhor sentado à beira do bosque gritou comigo (eu ia na marcha), levantou-se irado, ameaçou-me com uma cana, que lhe tirei das mãos.

Noutra galáxia eu,  gritei-lhe; s'asseoir !, sentou-se, - Em pé !, levantou-se !

Abalei a correr, cantando alegre, para não perder a marcha, e surpreendida com a minha ousadia. Alguém me tirou a cana, deram-me uma bandeira bem grande que de imediato me lembrou um espectáculo / bailado chinês de “ Bandeiras Vermelhas”, que vira em 75 em Moscavide no auge do PREC. A bandeira virou gaita de foles !

E eu que não sabia tocar, toquei, eu que não sabia bailar, bailei ! eu que não sabia cantar, cantei !

Quando tudo terminou e reencontrei o meu marido, perdido como eu no seio de tamanha multidão, chorei ! Peguei-lhe nas mãos, chorando, e gritei-lhe; 

- Berto ! Isto é teatro !

Apaixonei-me logo ali pelo teatro, de lágrimas nos olhos, emocionada, teria abraçado uma carreira se mo tivessem pedido. Metade daquela gente misturara-se secretamente entre todos nós para nos divertir, para nos dar momentos inesquecíveis, vívidos.

Não fui ao teatro, fiz teatro !

Teatro que não sei classificar, se de revista, musical ou de outro cariz. O cartaz tinha razão; “ La realité c'est ici”, a realidade esteve ali !

Talvez compreendam agora porque mui raro vou ao teatro, custa-me  desvirtuar a ideia linda que tenho do teatro.

O teatro é a vida, eu fiz teatro, eu sou vida.

Como a compreendo Marie.

* In Diário do Sul, Kota De Mulher, – Évora,  por Maria Luísa Figueiredo Nunes Palma Baião, publicado em fins de 2005 princípios de 2006