terça-feira, 18 de novembro de 2014

209 - OLHO POR OLHO DENTE POR DENTE …




Quando te olhei no fundo dos olhos não julguei ver o que vi. Fizera-o com o carinho e a saudade guardadas em mim desde a juventude, mais concretamente desde que a tua bata branca me deslumbrara, impecavelmente limpa e passada, donde saíam umas mãos esguias de dedos compridos e finos, de unhas tratadas, cuidadas, e de um púrpura que muito me embevecia.

Púrpura Rebel da MAC disseste tu depois, num dia mais calmo, em que arrumavas demorada e criteriosamente na respectiva caixa os olhos de vidro do mostruário e me explicavas a ordem do catálogo, para que posteriormente pudesse fazê-lo obedecendo à classificação que maternalmente completavas, como se naquela caixa um filho teu que doravante me confiarias.

Olhando-te, mais que ouvindo-te, eu dava as primeiras passadas como aprendiz de feiticeiro naquele laboratório de óptica cujas imagens me impressionavam e enfeitiçavam de tal modo que, enquanto te ouvia tentava adivinhar qual o exemplar do catálogo com que os teus olhos se pareciam, e por isso te mirava incansavelmente pelo canto do olho, dissecando-te a vista com o meu olhar de aprendiz, córnea, cristalino, íris, pupila, dilatando-se e contraindo-se como o diafragma da máquina do senhor José Alves, o “bolacha amaricana”, e cujas habilidades eu admirava, desde a imagem invertida à sua ressurreição final na tina do sulfito de sódio, a cuja magia eu dava mais valor agora por saber que também na retina a mesma imagem invertida, e igualmente a pupila e o cristalino, como o obturador e a lente desse maravilhoso mecanismo em cujos segredos eu me iniciava, munido da mesma curiosidade que animava os magos ante o alambique ou os alquimistas transmutando em ouro a pedra filosofal no cadinho da sabedoria.

Admirava-te pois com paixão, não apaixonado mas com paixão, procurando ver para além do teu olhar, buscando compreender para além do toque mágico das tuas mãos ternas manobrando o Oftalmoscópio e dando vida a um globo ocular inerte, preenchendo o vazio aquoso do seu humor, ou engalfinhadas num Refractor Oftalmológico ajustando dioptrias, lamentando a Coróide e doseando o Colírio, maquinalmente explicando aos pacientes e a mim, iniciado, os mistérios das cores e dos Cones, ou a sensibilidade dos Bastonetes e a transformação da luz e eu, chegado aí, imaginava o clarão que terá cegado os pastorinhos olhando a tal azinheira, os Cones inflados de cores milagrosas entre as quais, sobre uma nuvem, pairava a Senhora cuja fé os cegara, incapazes de compreender a histologia dos olhos, os mesmos olhos que nos garantem os julgamentos que, ignaros, nos iludem e nos enganam, mais que nos surpreendem, pelos quais juramos sempre mas que, para sermos coerentes, deveríamos igualmente estar dispostos a arrancar ao primeiro falso testemunho que nos obrigássemos jurar.

Não juro, mas admito ter levado algum tempo a perceber o teu humor, sempre alternando se pacientes presentes ou não, e que demorei a entender porque me confundias com  as tuas alusões ao Humor Vítreo, deixando-me constantemente pendurado das minhas interrogações e do teu olhar, o mesmo olhar que ainda vejo nos teus olhos castanho esverdeados de esperança, cujo fundo intento penetrar agora como há quarenta anos, enquanto debruçado para ti te beijo a testa com a mesma ternura que sempre te dediquei, hoje já não admirado com a tua magia mas antes com a ignorância que então me animava, a mim, aprendiz de laboratório e de feiticeiro, pasmado ante ti, Merlin de mim, cuja ciência objecto e métodos me encantavam de tal modo que ignorava o passar das horas e almoçava correndo p’ra voltar para ti, cujo olhar me encantava e cujas mãos induziam milagres, qual “toque de Deus”, transmutando-te a meus olhos e pensamento na Senhora da azinheira, deslumbrando e enganando com a tua verdade os males terrenos, devolvendo a vista aos cegos como quem devolve a esperança a dignidade e a vida, quase que debaixo das colunas de um templo ordenando:

- Levanta-te, deixa o teu leito, e vai para a tua casa. (S. Mateus.)

Uma única vez duvidei do que disseras por não ter acreditado teres visto no fundo dos olhos de alguém uma mácula, como se te fosse possível ver a alma, e por momentos perdi a fé em ti, julgando-te excedendo as competências conhecidas, duvidas que alinharam rugas na minha testa e te apressaste a desvanecer deixando-me ver, no Oftalmoscópio, o fundo do olho de um paciente, e lá estava, a oval amarelada da Mácula, dissipando a minha dúvida e garantindo a tua redenção, enquanto eu, maravilhado, ajuizava do tanto que não sabia e te guindava a um altar mais alto, perdão, digo patamar, confundes-me com a tua sabedoria de santa milagreira num altar que construi para ti, que me espantas desde a visão num jardim, rodeada de crianças de bibe, pasmando todos com a tua roda, o teu Disco de Newton, girando estonteante, e ficando tanto mais branco quanto mais depressa o giravas, ainda lembro tudo isso, o sol e o teu olhar meigo, a voz calma e timbrada avisando para os perigos que os nossos olhos corriam, e os cuidados a ter com eles, em especial evitar que nos enganem, sim eles, os nossos olhos, e que reparássemos no milagre do disco de Newton, parado, mostrando as lindas cores do arco íris, as mesmas que num outro milagre fazias sair fulgurantes de um prisma na tua mão, pelo que jamais te esqueci ou deixei de considerar e se agora teu aprendiz de feiticeiro devo-o a não mais ter abandonado a procura da verdade que me garantiste existir e desafiaste a descobrir.

Nunca foste para mim uma pedra no sapato, nem um espinho na carne, antes um argueiro no olho, forçando-me a ver e a ver claro até onde a mínima luz jamais estimularia um Bastonete, impeliste-me não só até ver a luz mas sobretudo que a procurasse com todos os Cones que a minha alma encerra e a paixão acicata.

Foste sempre um farol, um rumo, um caminho e um exemplo, e inda hoje procuro ver nos teus olhos, no fundo deles, com saudade e com carinho, a mesma meiguice e ternura que me marcaram o ritmo, a mesma acalmia que acomodou em mim a turbulência da juventude, a mesma confiança que me alimentou a esperança pelo tempo fora.

Sei que se te acabaram os milagres, e o teu olhar não alcançar mais que aquilo que o teu pensamento e as tuas lembranças autorizam, ainda uso a mesma água-de-colónia que me ofereceste naquele Natal em que comecei a barbear-me. Não será um beijinho na testa a fazer que me recordes, nem a mão no teu ombro agora tão frágil reconfortando-te, diz-me se precisares de alguma coisa, fraldas, um andarilho, sei que estás confusa mas acredito que ao ouvires-me me recordarás e àquele Lusitano X Juventude em que juntos gritámos e alimentámos uma tarde de discussão, por isso me despeço hoje como então:

- Amiga, isto de jogar é como viver, olho por olho…

- Dente por dente ! Respondeste tu minha cacaruça. *

 Saúde minha cacaruça, aguenta-te, e longa vida, adoro-te. 

* Cacaruço, ou cacaruça, calão atribuído aos adeptos do Juventude Sport Clube, Évora










quinta-feira, 13 de novembro de 2014

208 - ATIROU UM PAU AO GATO ...


Embrulhados no meu melhor sorriso dei-lhe uns bons dias calorosos, rematados por picardia :

- Olha o Margarido ! Vai trabalhar malandro, passas os dias no café.

e, claro, levei logo com uma resposta pronta que me coíbo de mencionar aqui. Todavia tomei lugar na mesa dele, este não é como o Martinho que à mínima piadola perde a compostura e ofende tudo e todos, a esse não lhe podem tocar no grelinho que não se atire logo ao ar, diz a malta dele, e é verdade.

Mal me sentei retrucou:

- Trabalhar para quê e para quem, dizes-me ?

Conhecemo-nos há anos, talvez desde gaiatos, na verdade nunca o vi trabalhar, ou era da oposição ou estava contra, e assim vivia, ou mesmo assim vivia, ou sobrevivia, e nisto, enfastiado, atirou um pau a um gato.

Aos poucos a mesa foi-se compondo e os últimos a chegar arrebanharam as cadeiras disponíveis afim de enfeitar a roda, a assembleia como diz o Amadeu. Mas o mote das conversas do dia estava dado, e o Margarido, que devia ter ficado remoendo na coisa, de vez em quando trazia-a à baila, ou seja de novo à tona da agenda. 

O tema tempo foi abordado por alto dado que o sol se confirmava, o que seria bom para o consumo e para a retoma, depois debruçámo-nos sobre a visita do PR a Borba e Vila Viçosa e reinámos com os políticos a quem recomendou fizessem os trabalhos de casa, coisa que ele mesmo aliás nunca estudara nem fizera, quando, exaltado, o Branco saltou em sua defesa alegando que ao PR, quando fora PM, lhe tinham feito a vida negra portanto teria agora direito a uma vingançazita, à boa moda portuguesa, e azucrinando a moleirinha às “forças de bloqueio”.

O Branco representa na roda o Portugal profundo, imbuído de uma filosofia empírica de arrepiar os cabelos, e a conversa só tomaria outro rumo quando o Teles chegou, coberto do pó das obras em casa e resmungando contra as mudanças nas chefias, e que se mal estávamos pior ficámos, que os diplomas nem sempre contavam, que o factor humano era muito importante, que nesse item, cruzes canhoto que a tipa que lá meteram agora é trinta vezes pior que a retirada, que mais parecia um zombie, que não via mais que um palmo à frente do nariz, mas que esta agora nem isso.

Metade do pessoal não descortinaria o desabafo do Teles não fora a alusão à zombie remeter-nos para a viúva do Euletério, foi então que a mesa se animou em excesso e as conversas se atropelaram em cambalhotas umas por sobre as outras.

Parece que o Euletério se fora desta para melhor sem pagar as dividas que por cá deixara, e muitas, sendo que, do apurado entre meias conversas e meias frases muita gente ali não se importaria caso fosse a viúva a pagá-las, preferencialmente em géneros, suposição que a maioria da roda partilhava e até aplaudia, pelo que o tema só terminaria, e bruscamente, quando chegou, toda sorridente, a mulher do Caetano, a quem ninguém ousava fazer frente, nem ele, tendo sido quanto bastou para que os cães parassem antes de por completo terem esfrangalhado a coitada da viúva.

Sim concordo, a precisar de apoio, sim concordo, a precisar de um ombro amigo, sim concordo era um desperdício deixada viúva tão cedo, sim concordo não mais que cinquenta quilos, sim concordo também gosto de violões, sim concordo não mais de cinquenta anos, sim concordo os amigos são para as ocasiões e não, não concordo ! Nem posso concordar ! Como é que raio tu, Margarido, que nunca fizeste nada na vida tens um crédito desse tamanho sobre o falecido Euletério ? Esperas que concorde contigo ? Acreditas que caia nessa ?

Nisto a Tv chamou a atenção para uma Gabriela ou Floribela ou Legionella, e todas as cabeças se viraram deixando em paz a viúva e a digníssima do Caetano, de quem se dizia todo aquele ar feliz não lho dever a ele, mas agora calo-me eu porque as conversas são como as cerejas e atrás de uma vai outra e nem toda a gente tem telhados de vidro ou esqueletos no armário.

E bem fiz eu em calar-me, porque acabou de entrar o tenente Emanuel, bota de cano alto, cabelo rapado à escovinha, boné da fardamenta entalado debaixo do braço o pingalim permanentemente açoitando a barriga da perna e olhando todos de cima, como habitualmente. 

                     Nem um só se desviou para lhe dar lugar, nunca ninguém o fez, ninguém o topa, contudo arrastou para o círculo uma qualquer cadeira e, antes que se sentasse todos se calaram, na presença dele sempre nos calámos. As conversas mudaram de temática automaticamente e assuntos de mulheres nem pensar, tudo porque a dita cuja do Emanuel é a única pessoa que ele não olha de cima, dizem as más-línguas ser ela sim quem por cima gosta de ficar e olhar-nos nos olhos. Serão afirmações de gente sem escrúpulos, sem vergonha, gente de má-língua e capaz de tudo.

E estávamos nisto quando todas as cabeças em redor da mesa se viraram como um cata vento ante a aproximação da viúva, cuja presença não deixava ninguém indiferente, o nosso tenente cofiou o bigode, alisou com a palma da mão os cabelos que não tinha, ajeitou o nó da gravata, desfez uma ruga de enxovalho nas calças e pressuroso ergueu-se airosamente oferecendo-lhe a cadeira e o lugar, ela declinou, não sem dar mostras de se sentir embevecida, a sabida…

- D. Guida queira perdoar-me a ausência no féretro mas sabe, o verão, operações stop dia sim dia sim, foi-me completamente impossível.

- Oh ! Não tem importância senhor tenente, de qualquer modo ele teria detestado ver qualquer um no seu funeral.

Com um sorriso matreiro deixou-o de monco caído, cadeira pendurada da mão, hesitante entre colocar uma cara séria ou rir-se da espirituosa resposta dela, e quando voltou a si toda a gente na mesa se tinha levantado debandando na mira do almoço, pelo que o nosso engatatão, que em casa diziam as más línguas, tinha falta de apetite ou passava fome, nem teve habilidade para responder ao Margarido que de boca aberta:

- Mas afinal trabalhar para quê e para quem, dizem-me ? Alguém me diz ?


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

207 - KERERÁS TU KOMPARAR-TE ? .................



Podemos comparar o que comparação não tem ?

Pode, ou é licito, pacífico ou conveniente arriscar uma comparação ?

Em que condições a devemos fazer ou evitar ?
  
Estas e outras semelhantes interrogações me coloco a mim mesmo sempre que uma amiga minha lança, atira, ou provoca comparações.
  
Vou mais longe e digo mesmo arrisca comparar-se.

Tenho-me apercebido que em cada estádio (em cada momento), tenderem muitas mulheres a imaginar-se iguais mas mais genuínas que todas. Tendem, aspiram, julgam-se, intentam, pretendem, e poucos serão os casos em que tal desiderato as não aqueça ou arrefeça.

A essa pretensão responderei com algum saber empírico que me concedem as mais de cinco décadas de vida que já levo.
  
Primeiro que tudo dir-vos-ei que neste precioso item não há coisas comparáveis, pelo que estais a perder a partida no momento em que a comparação é gizada. Cada ser humano é uma panóplia bem recheada de atributos, e os que são relevantes num caso podem não o ser no outro, pelo que a pretensão de encontrar ou ultrapassar semelhanças em realidades diferentes é manifestamente impossível.
  
Em segundo lugar, e volto a frisar estar falando por mim, tenho por preguiça mental ou por inata facilidade a tendência para a categorização, o “arrumar” cada pessoa numa categoria simplificada mas de fácil discernimento ou consulta no “catálogo”.
  
É deste modo que no meu portefólio junto a Felícia faladora, a Armanda mamalhuda, a Rosa recalcitrante, a Alicia boazona, a Teresa beata, a Marília complicadinha, a Gertrudes aflita ou a Lurdes loira…
  
Em princípio todas me merecem igual consideração, e desde já ressalvo todas gozarem, partilharem ou beneficiarem das qualidades e defeitos umas das outras, ainda que em diferentes graus, embora nenhuma seja tão complicada como a Lurdes, que aliás tem umas mamas tão boas como as da Armanda, que por sua vez é tão boazona quanto a Alicia.
  
Onde eu quero chegar é ao facto de, se a amiga A pretende comparar-se com a B eu puxo do cardápio e julgo de imediato a partir daí, é óbvio que raramente se podem comparar, logo, ao tentar estabelecer qualquer comparação a tentativa falha, e ao falhar resulta em perda para quem alimentou a pretensão. Note-se que o contrário é igualmente válido, A=B e B=A, a ordem dos factores é arbitrária, mas o resultado é igual.
  
Naturalmente não privilegio A, B, C ou D pelo tamanho das mamas, mas conta. Evidentemente privilegio o diálogo com alguém menos complicado, mais simpático ou agradável, certamente aprecio a loquacidade dum espírito espirituoso (desculpai-me a redundância), e em concreto afasto-me de ambientes azedos, enfermiços ou socialmente complicados, perturbados, enleados ou embaraçados.
  
Aprecio falar de musica com X mas detesto fazê-lo se ela puxar o tema da arte, considero platina os diálogos sobre romantismo de K mas vitupero-lhe o perfil psicológico, dou muito apreço à ternura meiga de W mas não lhe aparo a rigidez estética, acho muita piada aos horizontes largos de M mas não lhe suporto a estreiteza exagerada dos parâmetros éticos, convivo pacífica e agradavelmente com N mas estou a milhas das suas balizas morais.
  
Em cada amigo ou amiga elegemos, eu faço-o, um rol mínimo de particularidades que definem quem ele é, ou ela é, e como será o nosso relacionamento, a nossa amizade, os nossos diálogos, os temas abordados, e cada um, ou cada uma é, nesse item, único (a), pelo que pretender comparações é arriscar a invasão pelo espaço de um qualquer outro(a), espaço em que esse outro (a) se afirma há bastante tempo e domina como ninguém.
  
É tentar imiscuir-se na pele de outrem, sendo muito difícil que o fato lhe assente à medida, ou seja, é muito difícil igualar ou superar a comparação pretendida. Perde-se. Como já disse são coisas diferentes, e o que é diferente só à martelada se tornará igual.
  
Mas adianto-vos o que penso de cada vez que alguém propositada ou inadvertidamente me suscita comparações.
  
Segurança. Ocorre-me ao pensamento o factor segurança.
  
Não conheço maior testemunho da falta de segurança em si mesmo (a), sendo que considero tal a prova da existência de um amor-próprio muito baixo. Baixíssimo.
   
Pelo contrário, jamais vi uma pessoa segura de si suscitar uma comparação. Quem é seguro de si vive satisfeito consigo mesmo, (a) tem um ego alimentado, não necessita nem quer ser como mais ninguém. Sabe que é único (a) e assume essa autenticidade.
  
Não a mascara nem dilui, reforça-a. Assume-a. Vive-a.

Só quem não está seguro de si que ser “outro” (a), ou ser como o outro (a), imitar ou igualar o outro (a), no fundo perder todas as características que o (a) fazem genuíno (a), único (a), para ser mais um como quaisquer outros (as). Não vejo vantagem a não ser para passar anónimo (a), despercebido (a).
  
Forçosamente (forço-me a isso) quando confrontado com situações dessas, exigindo-me ou sugerindo-me comparações, afivelo logo a simpática máscara da empatia, todavia não vos deixeis enganar, sob ela uma dolorosa condescendência me anima, e não raras vezes a infelicidade desse pretensiosismo entristece-me. (o vosso pretensiosismo).
  
  Vejam por mim, casado há trinta anos com a mesma mulher, (o tempo entretanto passou, fiz a 9 de Agosto de 2018, o mês passado 43 anos de casado) uma mulher incomparável, que não é linda como uma Miss Venezuela mas ainda acho linda como no primeiro dia, que nunca tentou comparar-se a ninguém nem tem comparação com quem quer que seja, não é um prémio Nobel mas é sábia quanto baste, não é faladora mas agradável dialogante, nem soberba nem obstinada, nem devota, atormentada ou confusa, é erudita, fluente nos mais diversos assuntos, cozinha muito melhor que eu, nem é baixa nem alta antes pelo contrário, tinha boas mamas e não ficou pior depois de perder uma e de a Dr.ª Maria Afonso (https://www.facebook.com/maria.afonso.37?fref=ts) lhe ter dado duas que aliás teve a gentileza de me deixar escolher (escolhi meio tamanho e arrebitadas), é uma companhia esplêndida e uma óptima companheira, mas, sobretudo, sempre gostou e gosta cada vez mais de ser ela, de ser quem é e ser como é.
   
Meditai meninas… Esta sim, é única, é genuína, e é uma lutadora …



SAUDADE É COMO TRAÇA NUM ROUPEIRO ...


Pela primeira vez sentia que os seus ciúmes eram justificados. Não que lhe tivesse dado razões para isso. Eram as circunstâncias que os explicavam. Diria mesmo que os impunham, e nelas até eu, critico por excelência dessa excreção sentimental que os ciúmes são, com toda a probabilidade os teria tido.

- Hoje acordei com ciúmes do meu barrigudinho.

Atirou-me, prendendo-me a atenção com o problema que neste último mês me afligia, dois dedos de barriga e alguma dificuldade em abotoar um ou outro par de calças.

Com a mesma ternura com que me cutucava mostrava-me os chocolates no frigorífico, de novo guarnecido, sabendo como eu lhes sucumbia depois de almoço, do lanche, e sempre que a carência de nicotina me assaltava. Eu deixara de fumar mas passara a comer o dobro, e nem sempre o mais recomendável.

Mas o cerne da questão não são os chocolates, o caju, as cervejas, os acepipes ou os excessos, são os ciúmes, que pela primeira vez lhe aceitei com benevolência e não com o indolente desinteresse com que o faria se a a situação mo exigisse.

Foi assim que naquele dia, antes durante e depois do pequeno almoço fui instruído acerca de e como evitar, num futuro que se mostra próximo, mulheres oportunistas, familiares amigos do alheio, ou os cuidados a ter com a nossa inefável burocracia e a ganância das agências funerárias, uma panóplia de recomendações que aceitei consternado, incapaz de reagir com razoabilidade, mas que aceitei humildemente sem retrucar.

Li com atenção e curiosidade, quando me foi dado, um testamento vital de três ou quatro páginas, amareladas, e preenchi a meia dúzia de linhas que me cabiam como Procurador de Cuidados de Saúde.

Enquanto tal não deveria ser exigida a minha presença no notário questionei-me e observei, de qualquer modo se necessário lá iria, retorqui.

Meticulosamente, como sempre fizera com tudo, arrumava a vida afim de não deixar assuntos pendentes. A desorganização exasperava-a, a incapacidade do país afligia-a, a superficialidade das pessoas consternava-a.

As primeiras torradas a saltar eram sempre minhas, que as preferia bem quentes, as segundas já vinham acompanhadas de recomendações, a necessidade de registo no serviço de refeitórios da função pública, o cuidado a ter com a roupa no arame para que não fosse retirada cedo demais e ganhasse cheiro, ou o interesse na inscrição atempada nas redes de cuidados continuados e paliativos do hospital e da misericórdia.

Nalguns casos exigiu-me que tomasse notas, sabe como sou leviano a guardar determinadas coisas na cabeça e , ah ! O hipermercado Continente tem agora um novel balcão de take-away simples, barato e atractivo, muito apelativo, a não esquecer.

Torna-se cada vez mais imperativo tomar as atitudes correctas, anotar o nome das pessoas certas, cuidar que tudo esteja bem encaminhado na hora H e providenciar internamento antes de se tornar imperioso que a dependência exija mais que aquilo que, mesmo apaixonadamente, queiramos e possamos dar. Ambos sabemos, e estamos cônscios, serem os últimos tempos, dias, semanas ou meses quem nos porá à prova extraordinariamente. Fazer as malas, arrumar a vida, abalar, reclama o melhor de nós, quer sejamos o passageiro ou um simples bagageiro.

Amanhã é dia de inscrição na rede de refeitórios públicos, não conseguimos fazê-lo online, como habitualmente em Portugal tudo está eficazmente simplificado para nos complicar a vida. Os serviços abrem às quartas das 9 às 13 horas, lá iremos, à Pousada dos SSAP ali na rua do Raimundo, decerto onde funcionavam os escritórios da OSMOP.

Assim ela ir-se-á em paz, disse-me, certa de que não emagrecerei como um cão e fruirei de refeições quentes, bem confeccionadas e a preço acessível, saberá que sobreviverei menos permeável a artimanhas de persuasão, e aí estão os ciúmes a funcionar, acautelando o futuro, resguardando fidelidades, para que possa ir em paz, quando se for…

Tudo é pensado e ponderado ao pormenor, há muito que detesta o improviso e como tal acautela cenários possíveis, busca soluções e faz-me recomendações. Entre outras incumbências uma que muito me impressionou e comoveu, uma relação, quase uma lista de amigas suas, ou nossas, junto de quem seria lícito procurar apoio moral se dele precisasse, ou de quem seria pacífico esperá-lo.

Comovido abreviei o pequeno-almoço, aleguei algo entalado nos dentes e retirei-me para a casa de banho. Espremi a bisnaga da pasta raivosamente e senti os olhos marejados de lágrimas. 

Naturalmente preocupas-me. E preocupo-me bastante, por isso nunca te falo de mim, nunca te conto de mim, de mim e dos meus receios, temo que os meus medos sejam para ti mais uma cruz.

Não quero ficar sozinho, sabes que nos podemos encontrar sozinhos no meio de um mar de gente. Não que as pessoas fujam de mim como se tivesse um cancro, mas porque não há ninguém que ocupe o teu lugar.

Sempre foste única, e poli, e super, plus, maxi, best, better, e grande a comunhão que apurámos. Lembras-te como a brincar te digo que nem posso pensar alto sem que me apanhes ?

Não há quem ocupe o teu espaço, quem seja capaz, quem esteja habilitada. Foram muitos anos, conheço-te ao milímetro, estranharei quaisquer mudanças por mais ínfimas que sejam, não tenho nem há outra amizade igual à tua. Ninguém me contradiz como tu.

Ninguém, nunca, me amou como tu, com a tua entrega, a tua dedicação, a tua paciência, devoção, os teus gestos, posições, os gostos de que eu gosto.

Não irei contar-te de mim, nem tão pouco falar-te de mim, muito menos queixar-me, sei quão detestas lamúrias, não fazem parte do teu feitio, nem do meu, como tu interrogo-me, quem, quem irá depois cuidar de mim ?

Irei perder a barriguinha como tantas vezes e a brincar provocadoramente me atiras ?

E quem irá cheirar-me atrás da orelha, ou endireitar-me a gola da camisa na hora de sair ?
Desdobrar-me a gola do casaco ou do blusão quando inadvertidamente enroladas ?
Ou sacudir de mim os pelos da gatinha ?
Sim, quem ?
Se não tu quem que não tu, afinal quem há mais de trinta anos ao ouvires de meus pais:

- Luisinha você conseguiu fazer do Berto um homem !

levando a coisa muito a sério assumiste com empenho esse papel a que me encostei, a que me abandonei,

- Berto olha os cotovelos, tem modos
- Berto não rias mostrando a comida que tens na boca apruma-te
- Berto fecha a boca não te babes olha que estão a olhar-te
- Berto não fales alto nem te desfaças a rir olha as pessoas

maternal e ternamente recusando perceber que, se contigo, um almoço de amigos deixa de ser um almoço para passar a uma festa, uma festa onde transgrido os limites da mamã e despreocupadamente me excedo, precisamente por isso, por estares lá.

Naturalmente preocupas-me. E preocupo-me bastante, por isso nunca te falo de mim, nunca te conto de mim, nem de mim nem dos meus receios.

Perturbado apressei o pequeno almoço, desculpei-me com uma qualquer coisa entalada nos dentes e sumi-me na casa de banho. Expeli enraivecido a pasta da bisnaga forçando-me a esconder de ti estes olhos, gotejando lágrimas.


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

206 - DESPESA BOA DESPESA MÁ ... FAZER DESPESA SIM, FAZER DESPESA NÃO ...


Vai um reboliço na AR com a discussão do OE para 2015. Só me admira que quer as premissas quer as projecções não sejam mais negras, mais fatalistas. Este governo tem sido hábil, e lábil, em adoçar a pílula e fingir que faz, não fazendo.

Mas que devia ele fazer que tanto receio tem em fazê-lo ?

Despesa. Cortar na despesa, nos gastos da república.

Toda a gente clama haver necessidade de cortar na despesa, nas gorduras, e certamente haverá muito por onde cortar, mas onde ? Quem ?
E é aqui que a porca torce o rabo.

Cortar despesa implica em grande parte dos casos despedir pessoal, à bruta ou com indemnizações, (geralmente a coberto de um qualquer programa de nome pomposo e virtuoso) qualquer das opções conduz a mais despesas, em rescisões, subsídios, etc. etc. etc. para além de arrastar à colecta de menos receita, menos contribuições para a SS, menos impostos, IRS, IVA etc. etc. etc. Quem não recebe não gasta, e quem não gasta não paga impostos, nem directos nem indirectos, ou passa a pagar muitos menos, enquanto por outro lado pode vir a ser beneficiário de isenções ou subsídios diversos.

Por aqui se vê que reformar implicará desgraçar ainda mais o país, o que o partido no governo não quer, e reformar a parte que não obrigue a despedimentos exige inteligência, precisamente o que este governo não tem. E seja dito em abono da verdade que reformas exigidas pela realidade há anos, ninguém as promoveu.

E então ? Não há soluções ? Não há reformas ? Verdade verdadinha é que este governo não tem desenvolvido nenhumas, ao contrário do que apregoa. Tem-se limitado a medidas pontuais e esporádicas, mais das vezes com pior resultado que o pretendido.

Há soluções. Mas tb há que ter em conta padecermos de muitos outros males, e que quem quer que pegue nisto terá que conjugar economia, moral e ética, e um mix de educação, motivação e saúde que nos ajude a sair do buraco. Rezar a Nossa Senhora pode convir mas não é condição sine qua non.

Tão simples assim ?
Não.
Complicadíssimo até.

Porque o país está moribundo. Carente de reformas há mais de trinta anos. Descapitalizado. Vendemos os anéis mas as dividas continuam, e é inegável a necessidade de diluir a divida no tempo. Dívidas assumidas no fim da monarquia princípio da 1ª república, foram final e totalmente pagas somente e já neste milénio, há não mais que meia dúzia de anos, sem que aparentemente nada tenhamos aprendido com isso.

Há que forçar o crescimento. Só o crescimento do PIB, da economia, nos pode salvar e tirar do buraco. Para isso é urgente começar a premiar o mérito e a assumpção de responsabilidade, apoiar as empresas, e em especial as PME que garantem emprego a 98% da nossa população, apoiar os empresários com medidas fiscais e financeiras, indexar os salários, o seu crescimento e a redistribuição de riqueza aos ganhos de produtividade e ao crescimento do PIB, tudo clarinho e preto no branco num contrato social envolvendo e assinado entre as partes, para que todos ganhem e todos saibam quanto têm a ganhar se o país evoluir. Mobilizando-os…

Há que dignificar o trabalho e a inovação, tal desiderato passa por permitir que sejam melhor remunerados os ganhos do trabalho que os ganhos financeiros, o que não acontece actualmente, em que o rendimento obtido pelas aplicações de capital estão claramente acima das obtidas com trabalho mental ou suado, o que é um mau sinal. Temos que premiar o empreendedorismo, penalizar a inércia e a inacção, oferecer aos empresários condições que lhes permitam capitalizar-se, ou recapitalizar-se, afim de que actuem antes que os chineses comprem isto tudo e encham o país de chinocas trabalhando 18 horas por dia por meia dúzia de patacas, yuans ou renmimbis.

Haverá que taxar fortemente o financiamento ao crédito e consumo de bens supérfluos e de luxo, incutir razoabilidade moralidade e educação neste povo, promover uma profunda reforma politica e social, (social, de mentalidade civil, cívica) definir regular e reformar o sector empresarial estatal e a respectiva gestão, estabelecer objectivos e metas responsabilizando as pessoas e exigindo o seu cumprimento não se permitindo jamais que a culpa morra solteira, estabelecer criteriosamente as áreas de actuação do sector público empresarial estatal e do sector privado, afim de evitar promiscuidades e tentações pecaminosas.

Haverá tantas soluções possíveis como cabeças pensantes, mas teremos que estabelecer um despique saudável entre distritos, incluindo nele responsabilidades sociais assumidamente um dever de todos, particulares e empresas. É inaceitável que não cuidemos dos velhos, ou que deixemos abalar os mais novos, ou que chantageemos jovens mães para que não engravidem, tem que ser estabelecido um contrato social abrangente, onde todos se sintam incluídos.

Exigir-se-á moralidade a todos para que sejam desbloqueados milhentos processos parados, boicotados ou travados em ministérios e municípios, por burocratas e técnicos incompetentes excedendo ou exorbitando funções, querendo impor uma visão e agenda pessoal aos contribuintes e munícipes sem que para tal tenham sido eleitos, o que terá que ser feito quer desburocratizando quer “simplexando” procedimentos e castigando reincidentes.

Poderiam ser estabelecidos rácios para orçamentos camarários e para os quadros de pessoal do funcionalismo publico, enfim, moralizar-se o viver neste país, por agora todo ele enleado em enganos em que metade de nós sobrevive de esquemas precários ou parasitando o aparelho de estado e em que a outra metade simplesmente não aceita pagar os excessos inúteis. As gorduras…

É dos livros, temos que crescer, ou crescemos todos ou morremos todos, estamos ligados umbilicalmente. Como estamos só nos resta sobrecarregar cada vez mais de impostos os poucos que ainda trabalham ou desenvolvem uma área de negócio, e no dia em que forem só dois ? É notório que só o crescimento permite obter valor e riqueza para fazer face ás despesas que temos, e que temos que controlar e valorizar. A título de exemplo, o Ensino Público ou o SNS não podem ser buracos onde simplesmente se despeja dinheiro, é dinheiro nosso, de todos, que custa a arranjar e faz suar, o seu consumo tem que ser moderado, fiscalizado, mas sobretudo rentabilizado. São valores inestimáveis e sagrados.

É forçoso remunerar bem as poupanças, e permitir que as aplicações de capital obtenham mais valias não especulativas, incentivando estes mecanismos através de isenções ao reinvestimento de capital e penalizando proporcionalmente a distribuição de dividendos.

Todos temos que ser mobilizados, que fazer parte da solução, e todos temos o direito (cumpridos que estejam os deveres) de esperar ser justamente beneficiados quer pelo esforço quer pela mudança. Qualquer português que se negue a este esforço repartido não merecerá a consideração dos demais. Um burocrata ou um técnico que boicotem um processo estão a contribuir para a eliminação do seu emprego e dos demais. Se o processo não andar não criará riqueza nem emprego, não se pagarão impostos, os tais impostos que no fim do mês lhe pagarão o ordenado ou vencimento, e que, quando todos pagarmos, calhará pagar menor parte a cada um, enquanto por outro lado deixaremos de exaurir subsídios, de desemprego e outros que tais, permitindo o seu uso em áreas mais reprodutivas.

E por falar em reprodutivos, lembremos o termo “divida virtuosa” porque tb existe tal, divida virtuosa é aquela que permite multiplicar por 2 ou 3 ou 4 ou 5 ou 10 cada unidade aplicada, o que decididamente não tem preocupado os nossos decisores nos últimos 40 anos, é hora de acabar com as PPP e lançar as O.C.F. simplesmente “Obras de Compromisso com o Futuro” …

Parece ser já pacífico para os portugueses que os diversos governos e a generalidade dos deputados, desde o 25 de Abril, se preocuparam excessivamente com os respectivos partidos, ou as respectivas pessoas, deixando para as calendas gregas o governo da nação e o bem estar e futuro dos portugueses. Agora que os credores o exigem apercebemo-nos terem sido demasiado bem pagos para a pouca produtividade alcançada, tudo está por fazer, e em “N” aspectos nada se avançou de então para cá. Não temos uma fiscalidade atractiva para o investimento, temos uma justiça digna da idade da pedra, o ensino teima em não proporcionar as condições de formação e especialidades ideais, e fico-me por aqui. Isto parece o oeste selvagem, é o salve-se quem puder, sendo que padrinhos e cunhas se substituíram ao justo fruir da igualdade que a AR deveria ter acautelado para todos.

Em Portugal o Poder Local parece sofrer na generalidade do mesmo mal, partidarismo, clientelismo, e um rácio de funcionários muito superior ao que seria natural e ideal, disso nos deu conta há poucos dias a divulgação de uma completa e meticulosa infografia. (link para consulta no final do texto).

De uma média ideal de funcionários por cada mil habitantes exorbita-se para números carentes de toda a lógica. (Évora 21,1 por 1.000 habitantes, aconselho a que veja o gráfico cujo link se encontra no fim do texto).

E nem são mais eficientes nem menos custosas para os munícipes estas equipes de gestão da coisa pública, demasiadas mantêm um grau de despesismo elevado, muitas estão endividadas, e raras se distinguiram na criação de condições para o desenvolvimento de uma actividade económica salutar e geradora de emprego. Ao invés e enganadoramente tornaram-se o principal empregador da sua área. Com o inerente peso burocrático e financeiro. Um município não gera riqueza ainda que para ela contribua criando condições para que tal ocorra... (quando cria), e sendo em simultâneo um foco de despesa, há que gerir muito bem os respectivos orçamentos para que não se tornem um peso excessivo. Estrangulador. Todas as intervencionadas foram obrigadas a aumentar, para o escalão máximo, taxas e derramas, o que decididamente não é da simpatia do investimento ou da criação de emprego. Nem dos munícipes.

Do exposto resulta que os municípios podem ter uma importância transcendental na captação de investimento, na criação de condições para que o desenvolvimento económico aconteça, e para que o desemprego se mantenha baixo. Podem, mas o que os números nos indicam é que o não conseguem. Porquê deixo à consideração de cada leitor pois cada um certamente conhecerá o seu concelho melhor que eu. Contudo arrisco avançar que nem todas as responsabilidades caberão ao presidente ou aos vereadores, a existência de boas equipas técnicas é fundamental. Sem elas o resultado obtido é igual ao obtido por um bom primeiro-ministro rodeado de ministros incapazes.

Parece ser já demasiado evidente para todos nós que estamos no mesmo barco e que só sairemos daqui produzindo, produzindo muito, produzindo bem e depressa, não há outro modo de se obter criação de riqueza e de emprego para todos. Claro que a par disso muita coisa mudará, mas o essencial assenta na organização colaboração e produção. Cada um que faça o melhor no seu posto. A bem ou a mal, alegres ou contrariados só nos resta produzir urgentemente, de modo que os ganhos supram os custos, de modo que não haja necessidade de despedimentos nem de encerramento de serviços empresas ou fábricas.


É tudo por hoje. Obrigado pela seca.

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