terça-feira, 26 de abril de 2016

340 - MEA CULPA MEA CULPA MEA CULPA .........


A barragem de Alqueva foi inaugurada em 2004, e a legislação que regulamentaria o perímetro da barragem deveria ser conhecida e estar publicada no dia da inauguração. O bom senso e a demonstração de competência assim o aconselharia, ou ordenaria. Contudo e após anos e anos de peripécias, tal como se pode constatar pela notícia que o Diário do Sul de hoje, 26 de Abril de 2016 publica, continuamos como em vésperas dessa inauguração, que teve lugar vai já para doze anos.

Metido por essa circunstância numa encruzilhada, o meu partido tornou-se um alvo de anedotas veladas, não tanto por ter construído a barragem, mas por se gabar desse feito ante os alentejanos de modo impante e sempre que a oportunidade lho permite, sem que se veja um reflexo notório no desenvolvimento por ela induzido e que dela era esperado. Pois o meu partido volta agora a impar novamente de orgulho, agora que a comunicação social o apresenta não simplesmente como o defensor do progresso, que nunca deixou de ser, mas como a vanguarda da luta actual e envolvendo a barragem, exigindo ao ministro respectivo, agora outra vez, agora de novo, o que não foi capaz de concretizar ou resolver em doze anos.

Eu não acredito em coincidências, e nestas coisas de tacticismos partidários nem tão pouco creio em casualidades, pelo que ao ver a notícia de hoje do Diário do Sul rejubilei, eu tinha há dias atrás feito uma análise bastante crítica da situação* e, com orgulho meu, embora não acredite, parece que alguém me terá lido. Acresce que o meu camarada deputado que hoje arvorou e conduz o estandarte dessa luta é o mesmo que durante estes doze anos liderou o município que mais se identifica com a barragem e que debalde se esforçou por levar a água ao seu moinho, saiba ele que conta com o meu apoio e espero sinceramente que desta vez seja capaz de levar essa velha tarefa a bom porto, a cabo.

Senão vejamos; “ A história que vos vou contar, verdadeira, embora lhe desconheça os pormenores, ilustra bem a anedota que somos ou que mentes ilustradas fizeram do Alentejo. Era uma vez uma barragem que deu origem ao maior lago artificial da Europa, coisa grande, grandiosa, e a que era necessário regulamentar o perímetro evitando-se a construção clandestina ou o aproveitamento selvagem das margens. Alguém criou um rascunho de regulamentação que antes de ser vertido em lei foi colocado sob apreciação de todos os autarcas ribeirinhos. Deram o seu parecer e opinião tendo a lei avançado para publicação. Poucos anos mais tarde os mesmos autarcas desataram a criticar vivamente a mesma lei que tinham escrutinado, desta vez com a acusação de que o regulamentado era demasiado restritivo, nada permitindo fazer na orla da barragem, tendo a lei sido de novo mudada, não sem antes obter de novo o seu escrutínio e aprovação. Resultado, qualquer dia para fruirmos da barragem teremos que ir à margem espanhola, por cá continua a não se permitir que alguém faça o que quer que seja, ficámos com uma marina e um restaurante sobranceiro a esta e agora, agora, para dinamizar a coisa, e sendo a esperança a última a morrer, deparei há dias num jornal da terra com o maior investimento alguma vez efectuado nas margens de Alqueva, o maior e certamente o único, na página principal desse diário e com desenvolvimento nas interiores, anunciava-se ter sido sinalizado “o início de um percurso pedestre” ligando as aldeias ribeirinhas, tendo sido inaugurado o momento com pompa e circunstância. Embora não passe de um projecto, segundo percebi, ligará todos os concelhos dos 14 municípios ribeirinhos, existindo para o BTT idêntica intenção. Haja pois esperança, o Turismo do Alentejo estava solenemente representado dando ar de seriedade à coisa, estamos salvos, vão chegar via aeroporto de Beja resmas de caminheiros ou caminhantes, e paletes de ciclistas ou ciclo-alpinistas do BTT amantes. “ *

Ora está explicado porque o que o Diário do Sul hoje nos apresenta como uma luta e uma exigência novas, não passa afinal da assumpção e demonstração de um enorme fiasco, enorme fracasso, enorme incapacidade e em último grau da capacidade manifesta das competências envolvidas. Chama-se a isto, a esta opereta mediática de hoje, tentar dar a volta às coisas ou atirar com poeira aos nossos olhos, esta matéria é velha, é um contencioso que se arrasta e é exemplo taxativo das vicissitudes que amarram o desenvolvimento do Alentejo. Todavia, desta vez e a julgar pela importância do personagem envolvido, e da focagem colocada no objectivo, creio firmemente que a coisa se resolverá, se conseguirá. Não é o meu camarada deputado um homem que toda a vida averbou sucessos ?

Diz-nos o Diário do Sul, os sublinhados são de minha autoria; “ O deputado interpelou o ministro João Matos Fernandes durante uma audição parlamentar, recordando que a última revisão do plano que gere o ordenamento do maior lago artificial da Europa tem dez anos, condicionando alguns investimentos já que qualquer projecto com vocação turística tem que ter um mínimo de cem hectares com plano de pormenor e plano de urbanização. “Foi um retrocesso, o único investimento de qualidade é a Amieira Marina com 20 hectares, que não seria hoje possível”, sublinhou o parlamentar do PS, sublinhando que a albufeira tem um plano de ordenamento que “limita o desenvolvimento da região”, enquanto alertou para o “enorme potencial da barragem do grande lago”. Norberto Patinho destacou ainda estar em causa o crescimento económico, defendendo que deverão ser criadas condições para inverter a actual situação, recorrendo “ a um correcto ordenamento do território, em que se garanta a preservação e valorização ambiental e do património, mas que permita um correcto aproveitamento do potencial turístico do plano de água e da sua envolvente”. “Sendo evidente o enorme potencial da Barragem e do extenso plano de água, sendo o crescimento económico determinante para o futuro do país, existindo por parte do actual governo uma atenção especial para com o interior, é fundamental que se criem condições para se concretizarem objectivos iniciais que não se concretizaram na dimensão das expectativas criadas”, sublinhou ainda o deputado. Patinho sugeriu a criação de “um instrumento que potencie a “dinamização e diversificação da base económica, uma nova cultura empresarial, a promoção do emprego através da dinamização da actividade turística… ”. E mais blá blá blá… 

E eu pergunto, estavam a guardar a barragem para algum investidor amigo aproveitar a situação ou para Marcianos verdinhos aqui aterrarem ? Cem hectares ? A título meramente informativo digo-vos que o novo Hotel Vila Galé em Évora com piscina exterior relvados e tudo nem chega aos 5 hectares…Outra pergunta que mui justamente coloco é quem é que nessa altura presidia e tem presidido aos concelhos da zona ribeirinha ? Doze anos depois as palavras são as mesmas, dinamização, potencial, potencialidades, mas folgo em saber que finalmente agora alguém assume o clamoroso fracasso, aliás coisa comum em todo o Alentejo, do investimento turístico em Alqueva, pois nessa altura e durante esses anos nem a Região de Turismo, tão lesta a inaugurar veredas para caminhantes e pistas para bicicletas denunciou ou sequer para ele alertou; “é fundamental que se criem condições para se concretizarem objectivos iniciais que não se concretizaram na dimensão das expectativas criadas” , pois não, temos pena mas realmente não se concretizaram, eu diria mais, em dimensão nenhuma, nem uma pequenininha, só a demagogia atingiu a dimensão da planície…

O meu partido tem é que, para gerir a informação, arranjar gente mais capaz, sob pena de cair num descalabro, na risota, na anedota. Espero não seja com estas habilidades que pretenda conquistar a maioria das câmaras alentejanas, como afirmou o camarada deputado e presidente da federação e no qual eu creio, é um homem habituado à luta, um bom gestor de expectativas, um homem experiente, um homem de sucesso, nem por um momento duvidei que desta vez e com ele os concelhos tresmalhados serão todos conquistados, do mais remoto ao mais próximo.

Ora uma reconquista desta envergadura comparada com o convencimento de um ministro para a causa de Alqueva, ministro que até é do mesmo partido, parece-me uma brincadeira de crianças. O meu camarada deputado goza felizmente de fama, respeito e reconhecimento de sobra para que finalmente o Alentejo, com ele, inflicta o rumo e acelere na senda do desenvolvimento e do progresso que tardam, não fez ele de Portel um concelho exemplar através do seu cunho pessoal e experiência de vida ?

Alguém dúvida ? 




segunda-feira, 25 de abril de 2016

339 - PIM PAM PUM 25 ABRIL *


Eu não festejo o 25 de Abril

Não sou maniqueísta, nem benfiquista, nem salazarista
simplesmente não me conformo só com as tuas duas opções
ambas serôdias, e às quais pretendes que responda sim ou sopas.

Dir-te-ei ter a lógica mais soluções, mais razões, mais equações,
mais matemática, mais geometria, números primos, algarismos,
algoritmos, e magia

Não sou pelo 25, nem pelo 24 mas
já que teimas pergunto-te:

- Quem fechou as portas que Abril abriu ?

Como consegues não lembrar, ignorar ,
ou não ser solidário com aqueles que Abril esqueceu ?

Quinhentos mil p’ra rua
Quinhentos mil embarcados na lua
Quinhentos mil c’a cabeça debaixo duma pua
Quinhentos mil no fio fino de um fino arame de filigrana

É muito motivo, muita razão, muita gente, não achas ?

Otelo não voltaria a fazê-lo, afirmou ele mesmo
E a ser assim, nem eu a querê-lo ! e podes crer em mim

As portas que o 25 de Abril abriu ?

pergunta aos Salgados e a outros havaianos
ou aos Fabianos e outros panamianos

E depois é em cima de mim que te cais ?

Tu ? que estás bem instalado e esqueces, e ignoras, 
Tu que finges não ver o mundo lá fora ? 
Tu que arvoras a consciência de um Dantas,
Tu que sempre que abres a bocarra és um Dantas
Tu que festejas o 25 de Abril e me apontas o dedo, 
a mim, que não cedo.

Tu que ao apontar-me um dedo não vês, 
não reparas, não crês, 
que apontados a ti ficaram três.

Tu, um burguesinho que só pensa em si, 
em ti e no teu inseparável Galaxy

A mania que esta gente tem,

ou somos pelo 24, ou pelo 25, afirmas tu, pomposo,

mas não sabes que há mais números ? mais opções ?
mais alternativas ? mais escolhas ?

Atiro eu à tua sobranceria 

Que culpa tenho que te tenham dado a pior escolha e ela nada te dê ?
nada nos dê ? 
nada dê ?

… a não ser a Salgados e outros diabos assim ?

e mandas as culpas para mim ? 
é em cima de mim que te cais ?
és maniqueísta, és parvo ou quê ?

Tu que p’los outros sempre fizeste nada,
é aqui que quando te ouço meu maniqueísta, 
me “cresce a raiva do peito para os braços” e,
se pudesse, ai se eu pudesse,

PIM PAM PUM !

Vai-te catar pá !


* http://mentcapto.blogspot.pt/2011/04/43-tristeza-ou-o-meu-25-de-abril.html


sexta-feira, 22 de abril de 2016

338 - MARCELO E O ALENTEJO ESQUECIDO .......


O nosso homem está no Alentejo, quero dizer o PR de todos nós, e é bem-vindo, não temos muita gente à sua espera porque somos poucos, aliás somos cada vez menos, um terço do país para um vigésimo da população, mas temos muito espaço onde ele poderá alegremente cabriolar e gastar as energias que parecem atingi-lo como a sarna.

Disse o senhor presidente, em quem não votei mas teria votado numa segunda volta, pois nem lá fui, aliás a uma mesa eleitoral nem vou há bué da time, mas como ia dizendo, disse ele não sei já onde que o Alentejo tem sido esquecido, por mim ter-lhe-ia respondido olhe que não senhor presidente, olhe que não, somos precisamente cada vez menos porque quando um alentejano se deita a cismar a sério faz as malas e abala, parte, vai-se embora, precisamente por se lembrar bem onde e com quem está metido, ou entalado.

Contava-se na minha infância, passada em S. Miguel de Machede, que se semeassem carapaus de cabeça para baixo se colheriam sardinhas de cabeça para cima, o Alentejo vive um pouco nessa esperança, nesse desígnio, vive-o há tempo demais, vive-o há quarenta anos. O problema nem são as suas gentes, que aliás cada vez são menos e cada vez são menos “gente”, gentes que têm sido menorizadas, tratadas abaixo de cão por tudo que é barão. Só no Alentejo acontecem fenómenos anormais, como aconteceu na terra do Endovélico, uma terra onde quase ninguém sabe ler mas alguém se lembrou de construir uma biblioteca como a de Alexandria, onde muito mais de meio milhão de euros foram gastos e as obras estão a meio, paradas, deteriorando-se, nem para manter o edificado há dinheiro. Não faço ideia quem teria sido o imaginativo expert, mas merecia decerto uma medalha, uma medalha de merda claro.

Não estando enfeitiçado por um qualquer determinismo, o Alentejo não deve ao acaso ser a região mais pobre da Europa e do país, porque também está fadado, isto é possui condições impares para fazerem dele uma região mais dinâmica e mais rica, o seu mal têm sido as suas elites, ignorantes que nem uma tabua rasa, o Alentejo só pode portanto queixar-se de si mesmo, pois tem ficado à espera que os de fora façam o que ele próprio não faz, e quando alguém aparece a querer fazer deitam-no abaixo, lembrem-se ser esta a terra onde já se experimentou cavar deitado, ou esqueceram isso ? O Alentejo acabou com os latifundiários, mas não acabou com a fome, desta vez fome de oportunidades, fome de realização, fome de emprego, fome de solidariedade, fome de igualdade, de fraternidade. E deve tudo isto à ignorância larvar de elites, autarcas e dirigentes, é preciso não ter medo de o dizer, e se tiverem dúvidas olhem para ele, ele Alentejo, está aqui a sua obra, a obra deles, no Alentejo a desfaçatez tem a dimensão da planície.

A história que vos vou contar, verdadeira, embora lhe desconheça os pormenores, ilustra bem a anedota que somos ou que mentes ilustradas fizeram do Alentejo. Era uma vez uma barragem que deu origem ao maior lago artificial da Europa, coisa grande, grandiosa, e a que era necessário regulamentar o perímetro evitando-se a construção clandestina ou o aproveitamento selvagem das margens. Alguém criou um rascunho de regulamentação que antes de ser vertido em lei foi colocado sob apreciação de todos os autarcas ribeirinhos. Deram o seu parecer e opinião tendo a lei avançado para publicação.

Poucos anos mais tarde os mesmos autarcas desataram a criticar vivamente a mesma lei que tinham escrutinado, desta vez com a acusação de que o regulamentado era demasiado restritivo, nada permitindo fazer na orla da barragem, tendo a lei sido de novo mudada, não sem antes obter de novo o seu escrutínio e aprovação. Resultado, qualquer dia para fruirmos da barragem teremos que ir à margem espanhola, por cá continua a não se permitir que alguém faça o que quer que seja, ficámos com uma marina e um restaurante sobranceiro a esta e agora, agora, para dinamizar a coisa, e sendo a esperança a última a morrer, deparei há dias num jornal da terra com o maior investimento alguma vez efectuado nas margens de Alqueva, o maior e certamente o único, na página principal desse diário e com desenvolvimento nas interiores, anunciava-se ter sido sinalizado “o início de um percurso pedestre” ligando as aldeias ribeirinhas, tendo sido inaugurado o momento com pompa e circunstância. Embora não passe de um projecto, segundo percebi, ligará todos os concelhos dos 14 municípios ribeirinhos, existindo para o BTT idêntica intenção. Haja pois esperança, o Turismo do Alentejo estava solenemente representado dando ar de seriedade à coisa, estamos salvos, vão chegar via aeroporto de Beja resmas de caminheiros ou caminhantes, e paletes de ciclistas ou ciclo-alpinistas do BTT amantes. Se o ridículo matasse e a parvoíce em vez de fazer rir desse dinheiro, a esta hora estaríamos todos mortos de riso ou no mínimo ricos…

E entretanto o que foi ou é feito desses excelsos autarcas ? Eu digo-vos, foram promovidos apesar de nunca terem sabido governar um concelho, qualquer dia arriscamo-nos a ter um deles como Primeiro-ministro… Há mais histórias destas do baú donde esta veio, mas não quero maçar-vos. Não me ocorre onde foi que li, ou ouvi, ser Évora ou o Alentejo a zona do país com a maior densidade de associações culturais e associações de desenvolvimento, aliás basta ir ao Google, são à volta de vinte páginas das primeiras e outras tantas das segundas, o que ilustra bem a contradição que se vive no Alentejo onde, com tanta gente empurrando para cima e para a frente, se torna inexplicável este retrocesso de décadas direitinho ao fundo e caminhando para trás. Por isso afirmo que o Alentejo, como o país, só pode queixar-se de si mesmo e das suas vanguardas. A atribulação mor do Alentejo é o amor, é tão amado que o afobam, há dias nasceu mais uma paixão, a AMAlentejo, mais uma a juntar a tantas outras…

O problema das nossas gentes não é diferente do problema das gentes do resto do país, uma ignorância pomposa campeando à solta pelas vastas planícies, sem um desígnio, sem uma estratégia, sem um plano anual, bianual, quinquenal ou qualquer outro e, quando há ou existe, esconde-se, para esconder com ele o clamor do seu falhanço. Nem a jóia da coroa está isenta de nódoa, a Barragem de Alqueva, acerca da qual o Tribunal de Contas (TC), afirmou taxativamente que no contrato de subconcessão entre a EDIA e a EDP para a exploração hidroeléctrica das barragens de Alqueva e Pedrogão “o interesse público não foi devidamente salvaguardado”, (sic). Quanto a mim o TC foi peremptório em condenar a inépcia ou a forma abusiva como as negociações foram travadas, tendo daí resultado que a exploração da queda de água foi parcialmente “dada” à EDP. 

Nem é cível nem criminal o TC, nem cita nomes, não cita personas, cita empresas e administrações, cita culpas, mas deveria ter personalizado o problema, para que as populações soubessem como dirigir a sua desaprovação à forma imoral e pouco ética como o assunto foi conduzido, para que as populações ao menos pudessem ser criticas, ainda que à moda da revolução cultural chinesa de 1966… É inacreditável que todos se calem, se calhar merecemos o esquecimento a que o senhor PR aludiu e a que somos votados. Há uns meses a Universidade Católica em parceria com a Zaask deu à luz um estudo negríssimo para o Alentejo, porém não me consta que alguém se tivesse incomodado com isso, ficou tudo como dantes, quartel general em Abrantes.

Uma cega autofagia politica grassa como uma praga há muitos anos no Alentejo e enquanto esse surto epidémico não for erradicado como o foi a peste negra na Idade Média o Alentejo definhará, morto ou quase morto já ele está, uma região linda, a mais linda do mundo, como a classificou há dias um jornal inglês, é contudo e incompreensivelmente, com tão extensas planícies em que tudo está a descoberto, um lugar submetido a profundas e pródigas divisões, onde inexplicavelmente não se constroem pontes, antes se cavam e mantêm velhas irredutibilidades. É caso para dizer que, tal qual o mal de Portugal são os portugueses, o mal do Alentejo serão os alentejanos….   

Sua excelência abalará feliz, Deus permitiu-lhe visitar o Alentejo no auge da sua beleza, a Primavera, temo, e os alentejanos compreenderão o meu temor, que a exemplo de outras situações e mantendo o hábito e a tradição, terminadas as visitas e as loas tudo fique na mesma, como a lesma…

quinta-feira, 21 de abril de 2016

337 - O QUE É UMA BERLIET TRAMAGAL ? .........


O que era uma berliete, perguntou o Júlia, rapaz bem-humorado e espigadote, voluntarioso, vinte e nove anos acabados de fazer e já com mais estágios que um sargento lateiro teria conseguido durante as guerras coloniais. Tudo por também se querer rir da piada largada na tertúlia amesendada em redor da mesa do café e que ele não entendera.

- Uma traseira linda como a frente de uma Berliet !

dissera o Armindo referindo-se à Maria Júlia, a nova funcionária da pizzaria da rua, nova quer dizer, já iria nos trinta e tal ou quarenta, contudo não perdera a beleza, acumulara até, segundo algumas opiniões, uma traseira ou um traseiro considerável, o que a não desfearia de todo, outros rebatiam essa opinião, afinando pelo diapasão contrário, terceiros alegavam ainda que nova não seria decerto, pois nem nova era a pizzaria, teria já perto de um ano, e ela viera com a abertura da casa. 

Enfim, gerou-se uma daquelas confusões em que acabaram por ser trazidas à colação a Micas do Quiosque Primavera, a Célia da Padaria Pão Da Terra, a Serafina das análises, a Cândida da farmácia, por isso nem me admirou que, a páginas tantas o nosso bom Júlia tivesse abandonado a sua postura de incredulidade e desabafado como desabafou;

- Mas afinal o que é uma berliete ?

uma vez que a idade e a inerente inexperiência de vida não o autorizavam a saber o que seria tal coisa, uma Chaimite enfim, qualquer um sabe, mas uma Berliet chia mais fino não será ? E o bom do Júlia nem trinta aninhos terá portanto…   

Deste modo a malta agora queima muitos cartuchos, quer dizer queima o tempo, com futilidades, com vacuidades, porque a não ser que algo verdadeiramente novo force a coisa todos na tertúlia fogem de discutir politica, como se a politica tivesse lepra, a verdade é que há algum tempo se vinha sentindo a aversão a isso, um receio ou recusa mais pressentida que sentida, mais subtil e difusa que nos velhos tempos, falo dos tempos anteriores ao bambúrrio do 25 de Abril, pelo menos é o que o Neutel também garante, e ele dessas coisas sabe, fora chofer da pide, estivera preso em Alcoentre e só se safara porque no dia em que os deixaram fugir a todos ele se recusou a dar às de Vila Diogo, bateu o pé que era um mero chofer e, segundo ele afirma, foi o próprio Otelo quem lhe deu uma palmada nas costas, lhe perdoou tudo e o mandou embora em paz. Que anos mais tarde o Hermes do Notícias de Évora lhe tenha partido uma cadeira de café em cima é episódio que já nem lembra ao diabo, sobretudo depois do Hermes ter sido enterrado, e já lá vão uns bons anos… Vermelho mas bom tipo o Hermes. 

Portanto o que se nota no ar, ou no pessoal, não é um receio de ser escutado pelo bufo, ou por um delator, antes um receio do colega, do camarada, do amigo, do companheiro, da concelhia, da distrital, da federação, do partido, criando um ambiente doentio e envenenando amizades e relações, difundindo suspeitas, levantando constrangimentos, enterrando a espontaneidade, sufocando a liberdade, levando a que à mínima coisa todos se fechem como um bicho de contas, uma lagarta num casulo, um doente em casa, um psicótico dentro de si mesmo, tal qual um melancólico se encerra na sua poética melancolia. 

É esta a herança do 25 de Abril, efeméride que estamos a dias de comemorar 42 anos e onde já ninguém grita liberdade, pão, paz, habitação, tudo coisas hoje a conta gotas, primeiro para a família, depois para padrinhos e afilhados, seguidamente os boys do partido, no fim os enteados e os bastardos e só depois a malta do povinho, uma catrefa de desgraçados filhos desta puta de democracia e por quem se distribui a última gota. É esta a herança de 500 mil desempregados, 500 mil emigrados, 500 mil mal empregados, 500 mil arruinados... Enfim, tudo gente sem escrúpulos dirão alguns, mas que vai gritar de novo este ano 25 de Abril nunca mais... E gritarão NUNCA com maiúsculas...

Tudo isto me cria na boca um certo amargo no preciso momento em que na Tv o PM promete não haver mais aumentos de impostos, quando os aumentou todos até aqui e até ao limite do admissível, mais parecendo ser a única coisa que sabe fazer, ele e os outros, os que estiveram antes e os que estarão depois, taxar, taxar, taxar, este hoje com esta, e ainda ontem o da economia, e o gasóleo, e Espanha e Badajoz e bla bla bla. Senhor ministro tenha mas é vergonha e demita-se ! Um ministro que só sabe taxar e dividir os portugueses em gente de primeira e gentinha de segunda não está a puxar pela economia ! Está a discriminar ! Está a trair-nos as expectativas ! E é isto a que estamos condenados, pode ser que seja somente até um dia em que, com a ajuda de Deus, alguém lhes enfie um balázio nos cornos e grite de novo liberdade pão paz habitação ! Sei que é um sonho mas sonhar ainda não paga impostos, por enquanto né ?

Foi por isto que nem devia ter ficado admirado quando o bom do Júlia, após receber a explicação sobre o que era e para que servia uma Berliet se ter saído com esta;

- Era metê-los todos numa Berliet, levá-los para a Carregueira*, abrir uma vala e despejar os carregadores !

Fiquei banzado ! Quem lhe teria ensinado o que é a Carregueira ? Esta malta nova afinal não é tão fósforo amorfo como eu pensava, existe por baixo daquela resignação aparente um último laivo de esperança, um último grito de revolta, talvez não esteja tudo perdido, talvez não.

- Claro que não está tudo perdido ó parvalhão !

- Olha-me esta Mitsubishi Canter ó meu artolas, há lá camioneta mais linda que esta ! Aquilo nem poluição faz, nem grainhas tem !

Era o alarve do Esteves reinando comigo, com a bronca levantada pela Mitsubishi no Japão e com a criação das uvas sem grainhas em Ferreira do Alentejo, mas tinha razão, passando na nossa frente com uma caixa de morangos a Lourdes da frutaria era uma camioneta linda, um rodado admirável, os pára-choques no sitio, dois airbags de primeira, até eu que sou ateu juraria tirar mais depressa a carta de pesados que renovaria o cartão do cidadão por causa da parvoíce do Bloco de Esquerda. A nossa vida política é cheia de alarvidades parvoíces e ironia, só os idiotas do BE são capazes de em 5 minutos deitar por terra o trabalho de seis meses... ou de seis anos ... Alguém lhes devia explicar o que é o bom senso, pois a mim nem precisam explicar-me que o Esteves tem os gostos estragados, cá para mim a Lourdes tem o cu descaído, quer dizer tem as pernas curtas e o tronco comprido, já outras são ao contrário, parece terem o cu debaixo dos braços, as pernas longas a perder de vista (adoro olhá-las numa perspectiva ascendente) e o tronco curtíssimo.

Enfim, gostos não se discutem, até porque veio logo o Mário com as preferências dele pelo chantilly, a que o Arnelas contrapõe a mousse de chocolate. Deixei-os a falar sozinhos, sou mais do género pragmático, um prático, um moranguinho bastar-me-ia, não sou homem para me perder em divagações. 



terça-feira, 19 de abril de 2016

336 - ANTECIPAÇÃO, O FACTOR CRUCIAL *.........


O homem, e espero que enviem também alguma mulher a fim de garantir a igualdade de géneros, prepara-se para conquistar Marte, e os cientistas, astrofísicos e astrónomos têm tudo previsto, estudado e pensado, antecipado, no sentido de que o improviso os não venha a solicitar. Estudo, previsão, cautelas e caldos de galinha parecem ser, segundo um programa por mim visto no Canal Odisseia a receita da NASA, aliás já experimentada, testada e comprovada anteriormente com sucessos assinaláveis. Lá estava a órbita da Terra e a de Marte, e no ano no dia na hora no minuto e no segundo em que as duas mais se aproximarem, o tal alinhamento astrológico de que os astros e o zodíaco por vezes nos falam, zabumba na caneca ! Será lançada uma nave há muito programada ao segundo e ao pormenor.

Antecipar situações e resolvê-las antes que se lhes deparem é o pão de cada dia daquela gente, mas, bem vistas as coisas, antecipação tem sido o que tem permitido aos homens e às mulheres chegarem onde chegaram, e às nações, e empresas, e poderíamos adiantar que a tudo que, de uma forma ou de outra implique conquista, superação ou sucesso, do jogo de futebol ao xadrez, das damas às cartas de poker. Claro que há sempre um ou outro pormenor e um ou outro detalhe inesperado, há quem diga que o diabo se esconde precisamente nos detalhes, mas um detalhe é isso mesmo, um detalhe, um pequeno pormenor fácil de contornar mas igualmente capaz de emperrar uma engrenagem, porém uma excepção, não a regra.

De Tróia e Esparta à Roma de César, a Napoleão, Trafalgar, Wausterlitz, Wellington, Waterloo, Solferino, à Guerra Russa Patriótica de 1812 que deixou Napoleão vencido às portas de uma Moscovo deserta e incendiada, à batalha de Balaclava, tristemente lembrada como exemplo da falta de coordenação, ou de estudo, ver a “Carga da Brigada Ligeira”, imortalizada no poema homónimo de Tennyson, à guerra da independência e à guerra da Secessão dos EUA, Verdun, Galípoli, Ardenas, invasão da Normandia no dia D, Estalinegrado, Midway, Guadalcanal, até onde quer que se esperou pela sorte ou pelo destino, os estrategas e os tacticistas debruçaram-se sempre antecipada e cautelosamente sobre as situações procurando antecipar tudo, calcular tudo, dos movimentos do inimigo à sua força e composição.

Em Portugal, a última vez que que alguém procurou antecipar e acudir ou remediar de modo minimamente atempado, minimamente programado, pensado, premeditado e ponderado resultou num grito de guerra que inda hoje ecoa nos ouvidos de muita gente;

- Para Angola rapidamente e em força !

e foi proferido em 13 de Abril de 1961 aos microfones da Radiotelevisão Portuguesa porque o bandido que foi Salazar não entendia, ou não concebia, vir um dia mais tarde a entregar aos seus pares o testemunho dum país dotado de menos património do que ele recebera. O resto são peanuts. Aquele bandido não quis (morreu sem o ter dado), não quis abrir mão do nosso património, aliás a sua falta de carácter e de respeito para com o próximo levou-o a amealhar durante quase quarenta anos, tendo-nos deixado os cofres cheios, muito dinheiro, muito ouro, mas um país carente de infra-estruturas, e que agora temos vindo a construir à pressa, pagando-as caríssimas, sendo um encargo para toda a nação e uma bênção ou um maná para alguns. Bem, nem tudo foi mau, escolas por exemplo construiu umas quinze mil em perto de quatro décadas, das quais Nuno Crato só em três anos fechou metade, trabalhando bem e depressa como Nuno Crato o fez haverá bem poucos. Enfim, peanuts.

Assim como assim o Nuno só antecipou, afinal já quase nada é nosso, nem o pilim que o bandido cá deixou. Qualquer dia somos todos emigrantes sem sair da nossa própria terra, nada será nosso a não ser as chicotadas que nos caírem no lombo. Isto está entregue à bicharada, a caucasianos, chinocas e pretos, o bandido deve estar a rebolar-se de raiva na cova, tão nacionalista e patriota ele era. Portanto confirma-se uma vez mais, antecipar ou não, eis a questão, o factor crucial.

“Orgulhosamente sós”, foi outro grito lançado por esse bandido que foi Salazar, proferido como um grito de orgulho, o grito de uma nação que não sucumbia ao revoltoso mar que o mundo era nessa altura. Hoje, por tudo e por nada benzemo-nos e “antes só que mal acompanhado”, mas a verdade é que dei por mim pensando no dia em que a UE anunciou a extensão da linha do TGV até Badajoz, que chegada ali parou, dei por mim pensando que estamos ficando de novo sós, já não orgulhosamente sós, nem por o desejarmos, mas porque não interessamos a ninguém, nem como gentes nem como economia e todos nos cagam em cima, a começar pela UE que depois de durante anos nos ter enterrado ingloriamente em dinheiro se deve ter fartado de nos aturar.

Está mais que visto que, quer queiramos quer não, estamos voltando à versão pobre do “orgulhosamente sós”, nem sei se iremos desenvolver-nos com base no mercado interno, que isto nem é interno nem é mercado, não é nada, nem dinheiro temos para mandar cantar um cego, e andamos a discutir décimas de crescimento ou décimas no desemprego, tudo merdices ridículas que deveriam envergonhar quem as discute, o problema é que não antecipámos, nunca antecipamos e agora todas as merdas nos caem em cima. Antecipar, eis a questão, o factor crucial.

Porque não acautelámos, porque não antecipámos as dificuldades nunca lhes fizemos frente, nunca as driblámos e hoje, paradoxalmente a nossa esperança radica no crescimento da miséria, da pobreza e da fome, que tornarão vantajoso deslocalizar para aqui as empresas da Europa em vez de para a longínqua China ou para a turbulenta Europa de leste. A fome é assim a nossa última réstia de esperança, e também muito boa conselheira, dizem, é de tal ordem o labirinto de situações e de contradições em que Portugal se enleou (em que as nossas elites o enlearam), que ninguém vê saída nenhuma, a não ser que apareça outro bandido bem amado. O último conseguimos mantê-lo connosco quase quarenta anos.

O bandido do Salazar amealhou durante perto de quarenta anos, mas estes democratas gastaram, esbanjaram, dissiparam outros quarenta, e de tal modo e com tanto empenho que vamos ficar agarrados aos tomates até 2060, ou seja outros quarenta. O mal nem está no Pedro nem no Costa, dois parvalhões muito diferentinhos, o mal vem de há quarenta anos, o mal são 500 mil desempregados, 500 mil emigrados, 500 mil mal empregados e mais 500 mil arruinados... O mal vem da libertinagem e da desvalorização de valores nos últimos quarenta anos, desvalorização da ética, da moral, da responsabilidade, da competência, da honestidade, da lealdade, da fidelidade, da solidariedade, da liberdade, a tudo isso demos sumiço, contrapondo a quarenta anos do bandido Salazar e de moderação e poupança.

Jerónimo de Sousa, disse ontem no Algarve e erguendo bem a voz; "Nós precisamos produzir mais, de produzir mais riqueza e distribui-la melhor" levando-me a concordar plenamente com ele. Arrastou-me consigo, coisa que há muito não conseguia, proclamou ele que precisamos produzir mais, ora nem mais, tão simples como somar 2 + 2, porque ele sabe haver perigo, está vendo o exemplo do Brasil, desta vez o golpe não virá pela mão de um Pinochet, desta vez a coisa será mais elaborada, já está sendo, será a mãozinha invisível dos mercados disfarçada de normas democráticas da UE, ou com qualquer outra roupagem, talvez um suave figurino McCartista, e descambando aí para onde fugirão os perseguidos e exilados ? A Leste tudo arde, a Coreia do Norte é fria e tem uma língua difícil de aprender, a Venezuela anda em bolandas, resta Cuba, onde todos querem tudo menos ver os portugueses a roubar-lhes os parcos empregos. Se isto cai nem haverá um lugar onde passar ou viver a clandestinidade.

Mas, contudo, todavia, porém, a esperança é sempre a última a morrer, olho para o jornal da terra e deparo com o maior investimento alguma vez efectuado nas margens de Alqueva, o maior e certamente o único, na página principal e com desenvolvimento nas interiores anuncia-se ter sido sinalizado o início de um percurso pedestre ligando as aldeias ribeirinhas, tendo sido inaugurado o momento com pompa e circunstância. Embora não passe de um projecto, segundo percebi, ligará todos os concelhos dos 14 municípios ribeirinhos, existindo igual projecto para o BTT.
Haja pois esperança, o Turismo do Alentejo também estava solenemente representado dando ar de seriedade à coisa, estamos salvos, vão chegar via aeroporto de Beja resmas de caminheiros ou caminhantes, e paletes de ciclistas ou ciclo-alpinistas amantes do BTT. Se o ridículo matasse e a parvoíce em vez de fazer rir desse dinheiro, a esta hora estaríamos todos mortos de riso ou no mínimo ricos…            
* NOTA; E porque alguém me perguntou há momentos ingénua e inocentemente ; “Antecipar o quê ? Que é que há para antecipar ? Não compreendo “. Eu responderei: Antecipar é reformar, conceber e aplicar reformas, atempadamente, constantemente, porque o mundo gira depressa e nunca meias-reformas ou reformas esfarrapadas…