terça-feira, 2 de julho de 2024

815 - FOI SOMENTE UMA SIMPLES PERGUNTA ?

 


FOI SOMENTE UMA SIMPLES E MERA  PERGUNTA ? 


         Uma pergunta fácil tem por vezes uma resposta difícil e, já que comemoramos o 5º centenário do nascimento de Camões, aqui fica ela; “Qual a importância de Vasco da Gama e de “Os Lusíadas” no Processo de Globalização” ?

 A pergunta foi-me atirada há semanas por um painel de gente, motivada e interessada neste fenómeno que nos rouba empregos e dificulta a vida, numa sessão ricamente participada de uma Associação Cultural e Recreativa de uma vila dos arredores de Évora, imerecidamente ou antes do tempo próprio elevada a cidade (a politica tem destes fenómenos) e que busca, com estes encontros culturais, suprir o que a economia lhe recusará sempre, seja por falta de dimensão ou massa critica.


 Mas essa é outra questão que não desejo abordar aqui hoje, pois se repararem a minha preocupação do momento é portar-me bem, como se portam os homens cultos, e dar-vos de mim uma imagem que não conhecem, também ela verdadeira, tanto que nem vou botar aqui alarvices nem excessos desses a que me dou liberdade sempre que de coração nas mãos escrevo para o meu blogue.

 

Voltando ao discurso, diria que não foi uma pergunta fácil, muito exigiu que eu dissesse, muito ficou por dizer, como aliás ficará em todas as perguntas que a este título façamos, por muito bem organizado que tenhamos o discurso o saber e o pensamento.

 

Esta questão teve o desaforo de amigos chegados, alguns velhos alunos, hoje homens de ciência e, como eu, amantes da história e do saber, ainda que não tenhamos tido o apoio da “Comissão Para os Descobrimentos, nem da que está lembrando Camões”.

 

Mesmo essas comissões, acredito, teriam sido insuficientes para recordar tudo que aprendemos na escola sobre o tema e que hoje é, enquanto fenómeno global, uma preocupação essencial de países pobres, sobretudo como Portugal, que á décadas se tem vindo colocando a jeito e agora, não surpreendentemente se vê atirado para a periferia do centro de gravidade económico e europeu.

 

Em primeiro lugar, como terão sido os encontros de culturas e trocas de influências a esse nível durante os descobrimentos ?

 

Sabemos alguma coisa, delas nos falam “Os Lusíadas” de Camões, “A Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto, ou "Os Sermões" do Padre António Vieira e ainda um ou outro testemunho que foi ficando da nossa presença, um ou outro escrito de historiadores e sábios nossos de então, ainda que pouco acesso tenhamos ao que de importante em nós contou para os outros.

 

Não é despicienda esta posição, éramos os melhores na altura, demos mundos ao mundo. Como então e ainda hoje se diz, revolucionámos os saberes, levámos a dianteira na observação directa das cousas, directa e sistematicamente, exercida sobre a natureza e seus fenómenos, sobrepusemo-nos ao empirismo vigente, subvertemos lentes e escolásticos, fizemos ciência...

 


Mitos mantidos durante séculos viram a sua gratuidade e inutilidade despedaçada pela realidade concreta nascida durante as nossas viagens pelo globo e, naturalmente das nossas observações e experimentações. Fizemos verdades.

 

Matámos os monstros falados em textos eruditos e velhos de séculos, que deixaram de o ser, demos a conhecer novos povos, novas raças e cores, novos costumes, novos animais e plantas, novidades inimagináveis, explicado fica o eco " ter Portugal dado novos mundos ao mundo "...

 

Esses novos mundos, ou o novel conhecimento de outros povos, raças, nações e sistemas, foi o princípio de uma nova era de que Portugal foi a vanguarda, mas do qual é hoje, tristemente, a periferia.

 

Ainda hoje é incalculável o preciosismo que demos ao surto do espírito europeu moderno. Foi nosso o maior contributo para a revolução cultural da Idade Moderna, já que o valor da experiência se impôs ao saber livresco estabelecido até então. De tal modo que a frase mais badalada em toda a europa culta de então era; à portuguesa, que significa como os portugueses, provar como nós provámos, confirmar como nós confirmámos, in loco.

 

Quanto mais os nossos descobridores recorriam aos livros legados pelos antigos, mais os crassos erros de que enfermaram durante milénios eram por nós denunciados de forma evidente. Pela observação directa se chegou à verdade, a experiência tornou-se a matriz de todas as coisas; “Sabe-se mais agora num dia pelos portugueses que se sabia em cem anos pelos romanos”, o que destronou de um dia para o outro todo o saber das autoridades clássicas.

 

A cultura letrada, livresca, tornou-se prisioneira do cepticismo em toda a parte e em todas as latitudes era confrontada com as verdades que diariamente dávamos ao mundo. Ptolomeu, aquele que foi um dos maiores “geógrafos” da antiguidade clássica estava enganado, nós não somente redesenhámos as suas “cartas marítimas”, como evidenciámos e corrigimos outros erros seus, como o da inabitabilidade dos equadores, erro que permaneceu até que os portugueses o desmistificaram, e desmentiram. Foram portanto os portugueses quem revelou à Europa a forma geográfica e correcta do mundo.

 

Como nos víamos por essa época uns aos outros ? Nós europeus, desde a antiguidade, sempre víramos os africanos como caricaturas grotescas e monstruosas, fruto do pouco conhecimento que sobre eles tínhamos.

 

Durante a Idade Média o africano e o ameríndio eram assimilados à noite, ao mundo das trevas, às forças do mal, ao diabo, com origem num misto de animal e vegetal. Não esqueçamos que durante esse período da história o negro era a oposição do branco e o branco a pureza, o maravilhoso, a luz, o que levou a que não tivesse havido dificuldades em associar a cor negra dos africanos e ameríndios ao diabo, o senhor das trevas.

 

Mais tarde os mesmos africanos e ameríndios são vistos ou representados como servidores domésticos, fruto da sua sina na época da escravatura, mas sempre como selvagens. Veja-se a este propósito como estão caricaturados no lado direito do Claustro da Sé de Évora os personagens negros ali esculpidos.

 

E os africanos e ameríndios, e os outros, como nos viam eles a nós europeus ?

 

        Naturalmente como seus senhores, e ainda que a arte seja por natureza e regra subjectiva, obras há, gravadas ou esculpidas em bronze ou em dentes de marfim, dentes de elefante, em pau-preto, e outras cenas e gravuras ou relevos que nos dão essas imagens. Que imagens ?

  

Imagens em que o europeu é identificado pelas roupas, pelos narizes pontiagudos, lábios finos, cabelos longos e lisos, barbas aparadas. Mais tarde, em plena época colonizadora, essa imagem irá reflectir a sátira social e a crítica, englobando o lado grotesco do colono e ou do cipaio, funcionário negro ou mulato, (este ultimo filho da rica miscigenação que promovemos) ao serviço do branco.

 

E desta forma, prenhe de empatia e vinhos alentejanos, acabámos a nossa noite cultural, rica de conteúdos e ensinamentos, em que me portei como um senhor, vejam só, provavelmente nunca me imaginariam assim, tão franco e directo sou noutras crónicas espetadas neste blogue.

 

Na realidade não fora o excesso de acolhimento a estragar a festa e tudo teria corrido pelo melhor. A minha participação foi muito aplaudida, considerada e comentada, não fora isso e não teria apanhado a bebedeira que apanhei, de caixão à cova, acordei com um rosto angelical erguendo-me a cabeça a tempo de não me afogar no meu próprio vomitado, com a mão segurei-me ao seu corpete, que de imediato se rompeu deixando antever quatro seios alvos e mais redondos que a bola com que ontem jogou a selecção, e ainda não sei como, mas recuperei a tempo de um internamento a soro no hospital local, pois acabei de ver a primeira janela do dia sem ser em duplicado !

 

Estou pronto para outra mas, conferências, a partir de hoje só pagas, ficam já sabendo, bem caro me custou o último fato que caguei todo.


 Ficou sem conserto.




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segunda-feira, 29 de abril de 2024

814 - EL TRIPLE ESTUPIDEZ DE NOSOTROS ...

                     


           Évora definha, e quer o PCP quer o PS não estão isentos de culpas, nem tão pouco a oposição que há 50 anos se senta nesse cómodo lugar. Em Évora a rotina é o faz que faz, sem nada se fazer, se é estratégia do PCP ou do PS, para o caso tanto faz.

 

Nada há de mais ridículo que as suas corridas no sentido da modernidade, seja ela sob um signo particular ou sob quaisquer outros, já que o resultado é o mesmo. Esta cidade está cada vez menos interessante, menos acessível, menos prática para quem nela vive, mau grado as hordas de turistas que a tomam de assalto diariamente.

 

O olhar de Big Brother do PCP e do PS, que tudo e todos querem controlar emperra a cidade e não a deixa respirar fundo nem dilatar-se, apesar de todo o folclore em redor das suas supostas modernidade e actualidade a cidade regride a olhos vistos e em todos os aspectos.

 

Quais ? Que modernidade ou actualidade ? Quais, se o que nela tem algum valor ou vale a pena soma 50/60 anos e daí para trás mais 2.000 ? Que actualidade se a única mudança (não confundir com inovação) são as centenas de pilotins que enxameiam os passeios adiando o problema do estacionamento, para o qual ainda não houve tempo de encontrar solução, tal como não houve para outro problema candente, a habitação  …

 


Esta cidade está simplesmente tornando-se inabitável e contra indicada para o pequeno comércio. Como querem então segurar os habitantes no centro histórico ou simplesmente na cidade ? Os políticos e técnicos da urbe, quais burocratas, ou burrocratas, certamente crêem estar imbuídos de uma visão e legitimidade impares e com o foco no futuro. Como será tal possível se todo o passado, negro e triste é responsabilidade deles e não se vislumbram mudanças que criem oportunidades para tudo e para todos ?

 

Isso sim, seria progresso, progresso e bem-estar que os comunistas (mais que os socialistas) parecem temer como os gatos temem a água. Não estão portanto virados para o dito passado negro, que lhes pertence mas renegam, nem para o futuro, para o qual não estão intrínseca nem minimamente preparados ou sequer vocacionados.

 

Vivendo em conflito permanente com a comunidade pela qual é responsável (comunidade que se alheia dos seus misteres) e que gere há 50 anos, o PCP domina, é certo, mas não passa dum espinho e espírito insensível e inamovível cravado na charneira da mudança. Todavia los tiempos cambian, ignorando o arcaico PCP, agarrado a uma visão também ela arcaica da sociedade em cujos ideais já ninguém acredita e ruíram por todo o mundo. A sociedade sem classes, tal como a utopia dos amanhãs que cantam, demonstraram ser um embuste.

 

Qualquer sociedade necessita de valores, de dignidade, de honra, de crença, de nacionalismo, de patriotismo, de bairrismo, dum sistema económico viável e minimamente justo. A milenária China percebeu isso e apressou-se a abraçar o capitalismo, contudo manteve uma rígida hierarquia e autoridade, liberdade sem autoridade é libertinagem, nós sabemo-lo por experiência própria, a China sabe-o porque aprendeu com os erros alheios.

 


Esta cidade, forçosamente moldada pelo PCP e cuja pretensão social foi gerida á sua medida está a falir, não há habitação, não há oportunidades, não há empregos, não há jovens, não há futuro. Nunca haverá futuro se não houver visão, inda que chova dinheiro. Os quadros superiores do PCP, os que planeiam a cidade nunca leram Ibsen, Ayn Rand, nunca consultaram o seu Atlas Shrugged, por isso esta cidade será em breve um monumento póstumo ao PCP e ao PS que a governaram e a mataram com as suas doutrinas e as suas incompetência e concepção egomaníacas.

 

Richard Rogers e Norman Foster têm matado cidades pelo exagero, pela grandeza, pelo excesso de dimensão, o PCP e o PS têm matado Évora porque a abafaram com as suas pequenas visões, com as suas diminutas inteligências. Estas duas visões ao inocularem o seu veneno na cidade envenenaram-se a si mesmas, condenaram-se, e arrastam-nos a todos na sua desastrosa queda.

 

Durante 50 anos comunistas e socialistas perseguiram e apelidaram de fascistas, de reaccionários, de conservadores, de saudosistas e de inimigos todos os que se lhes opunham ou tinham uma visão diferente. O resultado aí está, a cidade mais pobre e atrasada deste atrasadíssimo país.

 

Sem habitação, sem emprego, sem estacionamento, sem juventude, sem negócios que encham as duas mãos, a cidade estiola, e estiola sobretudo por ter quase exclusivamente cegos e carneiros ou a governá-la ou a aplaudir, cegos e carneiros que sonham com o sol na eira e chuva no nabal. Para além desta carneirada mansa que a tudo diz que sim Évora não tem quem a defenda, não tem quem faça frente ao desastre duma gestão com 50 anos que nada mais alcançou ou conseguiu que uma enorme dívida. Évora merecia mais e melhor.

 


Desapareceram milhares.... Que lhes fizeram ? Onde o gastaram ? Quem fechou os olhos ? Quem se amanhou ? Quem se calou ?

 

Em 1984, a 30 de Maio, o então Príncipe Carlos, hoje rei Carlos III do Reino Unido, durante o discurso proferido na convenção do 150º aniversário do Real Instituto dos Arquitectos Britânicos defendeu a honra do seu convento, defendeu Londres com garra contra o que designou de mamarrachos e carbúnculos modernistas que estavam a desfigurar a cidade.

 

Não discuto o gosto do Príncipe nem de arquitectos, investidores ou construtores, Londres teve quem a defendesse, e Évora ? Nem um académicozinho ? Nem um arquitecto ? Nem um economistazito ? Um gestorzeco, um jornal, uma rádio ?


O problema é que o mesmo se passa por todo o país. Os portugueses querem melhor ensino, saúde, justiça, segurança, melhores pensões, transportes, vencimentos, 35 horas semanais, mais férias, 15º mês, pão, paz, habitação, energia barata, tudo querem e tudo exigem, só não se perguntam onde ou como ir buscar dinheiro p’ra tudo, dinheiro p'ra tanto.

 


Não podendo o governo ir buscar o dinheiro às empresas estatais que vendeu (e estão a dar milhões a quem as comprou por um pataco), e já agora é hora de dizer que já quase nada é nosso, ou pouco ainda será nosso, para alimentar tanta exigência (e tanto ladrão) o governo terá que ir aos nossos bolsos, terá que carregar nos impostos que nos cobra. Mas quem se importou com a venda desses activos, dessas empresas maioritariamente estratégicas ?

 

No que concerne ás empresas privadas, das maiores ás mais pequenas, estão a passar diariamente para mãos estrangeiras, adivinhem pra onde vão os seus lucros ? Mas só sabemos respingar contra o Pingo Doce, que sem infringir a lei paga os impostos na Holanda, porque a lei lho permite. E por que razão não cobra Portugal impostos tão baixos quanto os da Holanda ? Porque, ao contrário da Holanda, só já tem os bolsos dos portugueses onde ir buscar dinheiro, e acreditem, cada vez irá meter a mão mais fundo até catar o último tostão….

 

Se tudo isto não é cegueira e estupidez, o que é ? Por alguma razão a literacia financeira, que era urgente ensinar nas escolas, e que devia ter sido ensinada desde o 25 de Abril, por alguma razão dizia eu o seu ensino foi proibido. Se continuamos contentinhos da silva e nada contestamos mas tudo exigimos, estaremos perante um caso grave de estupidez e cegueira, ou não ?

 

Se cada vez produzimos menos e importamos mais, é um caso de burrice patológica, congénita e epidémica ou não é ?

 

Se continuarmos votando nos mesmos e esperando que façam diferente é parvoíce ou não é ? 






sexta-feira, 12 de abril de 2024

813 - MARIA CASTILHO, UM BALUARTE SÓLIDO

 




Ligou-me ontem á tarde a minha amiga Maria.

Sim a Maria, mas não uma Maria qualquer, a Maria Castilho, uma Maria que nunca foi com as outras, uma senhora, um potentado de energia, competência e sabedoria.

 

A minha amiga Maria era workaholic, poderia ter-se reformado há uma boa dúzia de anos mas não o fez, a fábrica química que erguera desde a 1ª pedra, ali para o Seixal, era a sua verdadeira paixão e, marcou o ponto até há cerca de um mês ou quase, para ser mais exacto até ao dia em que em casa deu uma queda, grave, e da qual nunca recuperou satisfatoriamente.

 

Desde que há cerca de três anos ou quatro levara a vacina que a sua sólida saúde se deteriorara a olhos vistos, o traumatismo da queda não veio ajudar, antes pelo contrário, tudo se complicou, todos os tratamentos apresentavam contrariedades, dificultando toda e qualquer recuperação. Nem os melhores médicos nem os melhores hospitais conseguiram acertar-lhe um relógio que há cerca de oitenta anos trabalhava certeiramente.

 

Muito culta e instruída, tanto quanto viajada, desde a morte de um filho, e posteriormente do marido, há uns anos largos, que se dedicara ao trabalho como forma de sublimação emocional, aspecto em que contudo nunca deu mostras de instabilidade ou fraqueza. Que fique claro, não era emocionalmente instável nem bipolar. Era um baluarte de bom senso e racionalidade.

 

Falávamos muito, nunca julguei até que me tivesse em tão boa conta, julgo agora acertadamente ter sido para ela um bom amigo e confidente, muito conversámos, sobre tudo, acerca de tudo, da política à metafisica, era uma conversadora encantadora e identificávamo-nos numa enorme ou em grande percentagem das opiniões a que chegávamos. Tiremos a carga sexual à coisa e bem podia falar-se dum caso de sapiosexualidade bilateral.

 

Ligou-me ontem à tarde, para se despedir de mim, naturalmente dá-se conta do mau período que atravessa, do provável fim ou rumo que as coisas tomarão e, mulher prevenida, sempre o foi, quererá ir-se com os assuntos para ela mais relevantes arrumados, daí que com enternecedor carinho me tenha surpreendido, e sensibilizado com o seu cuidado, com a sua doce e armabilíssima despedida.

 

Fiquei sem palavras, eu, que sou um homem talhado para as coisas mais difíceis da vida escondi de mim mesmo uma lágrima que a custo sustive, eu que sou avesso a despedidas e que há bem pouco sofri uma da qual ainda me não recompus, gaguejei, balbuciei algo a propósito de fé e esperança sem tão pouco acreditar no que dizia, há tempestades que só o tempo sossega e não qualquer bonança.

 

Como calcularão estou desolado, desolado e desfeito, há coisas, realidades, factos, que nos caem em cima de rompante e é o que sabemos …..  Ou, como diria  José Verismar*, há choques para os quais nunca estaremos preparados….

 


   O CHOQUE    *


A realidade

É um trem desgovernado

Em sentido contrário

Aos nossos sonhos.

 

O sonhador

É o caminhante desatento

Que será, sempre, colhido

Pela realidade.

 

O choque

Quase sempre

Mata o sonhador

 

Os sonhos

Sempre …

 

by José Verismar

 

                                     https://www.facebook.com/profile.php?id=61553026612447



 


















segunda-feira, 25 de março de 2024

812 - POR QUÉ CALLAS ??????? .... 3 D .... ???????

 


Por ela ter razão eu ri-me, quero dizer sorri, um sorriso amarelo primeiro e aberto depois, e azul, acabou, acabei por ficar azul como o dia que nascia.

 

Farta de mim, ela fora bem clara;

 

- Manda fazer uma à medida numa impressora 3D !!

 

Tinha razão claro, não que tal fosse possível, tinha-a precisamente por ser impossível.

Foi essa impossibilidade que me acordou, que me fez ver de forma inquestionável quanto estava sendo injusto, e inútil a minha demanda, a minha busca. Injusto por pretender comparar o que comparação não tinha, nem podia ter, inútil, já que não há no mundo duas coisas iguais.

 

A natureza, quando não outras forças, se encarrega, se encarregam, de a tudo conferir individualidade única, pessoal, exclusiva, personalidade, caracter próprio, inigualável, inimitável.

 

Passámos então às coisas sérias; quem era, o que fazia, e assim soube que era ela, não quem ela era mas o que era ela, uma vida vivida, não vívida mas vivida; alegrias, tristezas, tropeções, paixões, ilusões, desilusões, o normal, afinal qual de nós não se equilibrou já nesse arame ?

 

Deambulámos e caminhámos por aí durante algum tempo, bolsando esclarecimentos, mastigando silêncios, partilhando o caminho.

 

                   Disposição nuclear das moléculas do gelo seco, dióxido de carbono solidificado

Hoje olho para esses dias com um olhar triste, sento-me nas mesmas mesas em que nos sentámos e volto a pensar uma vez e outra no que não te ouvi e, o teu silêncio continua a martelar-me a memória como uma recordação nostálgica.

 

Tão bem a fiquei conhecendo que ainda hoje não sei quem seja, por outras palavras, não a conheço, ou conheço bastante mal, já que, como um jogador de Bisca ou de BlackJack, esconde o jogo, esconde a mão, esconde as cartas, nem deixa transparecer uma qualquer expressão de regozijo ou de lamento, não tem horas para se alegrar ou entristecer, e ficar exuberante nem pensar. É gelo, gelo seco, não molha nem se derrete.

 

Porque as muitas ou poucas conversas tidas versaram sobre nada, ou quase nada, que é o seu modo de falar sem nada dizer, para que sobre ela nada possamos saber ou aprender, ou apreender, visto que nisso faz gala todas as vezes em que não se cala.

Já eu pareço um bufarinheiro, ou caso preferirem um pregoeiro, pois tanto apregoou-o o que penso e digo, como afifo um pregão, ou um sermão, quando menos se espera e que desespera quem o oiça e o enfie pela cabeça como um barrete.

 

Modos e modas, cada um exprime-se como gosta e lhe parece melhor, fazendo versos, cantando, escrevendo, esculpindo, pintando, falando, declamando, quando não declarando o que lhe vá na alma, no espirito, no pensamento, no coração, como eu fazia quando ele me batia sem arritmias, por isso me vou calar, para o não desassossegar., não vá dar-me algum tangolomango

 

É que o desassossego é um estado de espirito que pode assustar, meter medo, e eu quero ir almoçar e, por agora, é só o que desejo…

 

Vou comer …. E depois …..

 

      

* TANGOLOMANGO 

* TANGOLOMANGO

Eram nove irmãs numa casa

Uma foi fazer biscoito
Deu tangolomango nela
E das nove ficaram oito

Eram oito irmãs numa casa
Uma foi amolar canivete
Deu tangolomango nela
E das oito ficaram sete

Eram sete irmãs numa casa
Uma foi falar inglês
Deu tangolomango nela
E das sete ficaram seis

Eram seis irmãs nunca casa
Uma foi caçar um pinto
Deu tangolomango nela
E das seis ficaram cinco

Eram cinco irmãs numa casa
Uma foi fazer teatro
Deu tangolomango nela
E das cinco ficaram quatro

Eram quatro irmãs numa casa
Uma foi falar francês
Deu tangolomango nela
E das quatro ficaram três

Eram três irmãs numa casa
Uma foi andar nas ruas
Deu tangolomango nela
E das três ficaram duas

Eram duas irmãs numa casa
Uma foi fazer coisa alguma
Deu tangolomango nela
E das duas ficou só uma

Era uma irmã numa casa
E ela foi fazer feijão
Deu tangolomango nela
E acabou-se a geração

Ah, coitada!

Fonte: Musixmatch

Canção de Beatriz Martini Bedran




terça-feira, 19 de março de 2024

811 - NUNO JÚDICE - in POEMÁRIO - R. I. P.



 POEMA  *

 

  

Parte: como se tivesses de ser esquecida,

deixando atrás uma imagem de sombra.

   

Não leves contigo as palavras que trocámos,

como cartas, num instante de despedida;

mas não te esqueças da luz da tarde que os teus olhos abrigaram.

 

Por vezes, lembrar-me-ei de ti.

 

É como se, ao voltar-me, ainda me esperasses,

sem um sorriso,

para me dizeres que o tempo tudo resolve.

 

Não te ouço;

e, ao aproximar-me dos teus braços,  

vejo-te desaparecer.

 

Mais tarde, penso, isto fará parte de um poema;

mas tu insistes.

 

O amor chama-nos, de dentro da vida;

obriga-nos a renunciar à imobilidade da alma,

a sacrificar o corpo a um desejo de memória.

 

* NUNO JÚDICE , in "Poemário" **

 

(29.04.1949-17.03.2024)                       R. I. P.


** https://textosdepoesia.wordpress.com/2013/12/09/poema-nuno-judice/