Raramente recuso um desafio em especial se o
mesmo constitui algo que me motive, agrade, e sobretudo seja por mim entendido
como um desafio diversificado, como o serão estas crónicas, diferentes semana
após semana, mas sempre viradas para os problemas do presente, sobretudo
aqueles que nos digam directamente respeito, quer enquanto cidadãs (ãos) do
mundo, quer acima de tudo como cidadãs (ãos) do Alentejo.
Há muito que o Director deste Jornal me
lançara o convite, mais um repto que um convite, a que considerasse à minha
disposição as páginas do seu prestigiado diário, assunto que mais que uma vez
veio à baila, isto é, sempre que nos encontrávamos. Mal sabia que as suas
palavras eram música para os meus ouvidos, ouro sobre azul, adorando como
adoro, falar convosco escrevendo.
Aqui estarei todas as sextas-feiras,
dando-vos conta das minhas impressões, mas acima de tudo expondo um olhar muito
próprio, um olhar de mulher, numa perspectiva muito pessoal mas que certamente
não deixará de se identificar com muitas (os) de vós.
Escrever é para mim uma forma de estar
convosco, sabemos quanto o tempo é precioso por escasso, e na impossibilidade
de com todos privar esta é uma, a única forma ainda que minorada de o fazer.
Não será contudo a distância ou a ausência que impedirão que chegue até vós o
meu testemunho, a intimidade dos meus pensamentos, que não receio repartir.
A cidadania tanto é um direito quanto um
dever de todas (os) nós. Escrever, dividir convosco temores e apreensões,
desejos e emoções, anseios e aspirações, será uma forma igualmente solidária de
exercermos, praticarmos e cumprirmos essa cidadania.
O mundo é demasiado complexo para que o
ignoremos, a cidadania e a democracia exigem a cada dia que passa a nossa
participação mais ou menos empenhada, daremos se necessário um só passo de cada
vez, mas faremos juntas (os) essa caminhada.
Para as (os) que já me conhecem tudo será
mais fácil, para as (os) novas (os) leitoras (es) direi que é para mim um
enorme prazer poder contar convosco, da mesma forma que poderão contar comigo,
aqui neste espaço semana após semana buscando motivos para que todas nós,
Diário do Sul incluído, possamos dizer que valeu a pena.
Interrogar-se-ão porventura com o
aparentemente absurdo título escolhido para estas crónicas, KOTA DE MULHER,
surgiu por obra e graça do espaço político que se pretendeu conceder à mulher,
como se não fosse por direito um espaço dela, a quem se alguma culpa podemos
apontar é ao facto de “perder” tanto da sua vida a criar os filhos, esses filhos
que numa atitude altruísta lhe pretendem dar agora o espaço, o tempo, a
oportunidade, a dízima do que lhe devem.
E porquê com “K” ? porque nunca consegui
esquecer a ironia, o sarcasmo, a sátira , implícita na frase “anarca” que no
pós 25 de Abril imperava em tantas paredes; “ a porka da politika”. Ora sucede
que eu não considero a política dessa forma, mas antes como uma causa nobre,
(eventual e pontualmente servida, ou usada por gente menos nobre), ainda que
não tenha evitado deixar escapar um irónico sorriso quando veio à tona o
assunto das cotas.
Resultado, toma lá com um K, carregado
evidentemente de toda a ironia, sarcasmo e sátira com que os “anarcas”
pretenderam recheá-lo. Pelo menos um mérito teve em mim o assunto das cotas,
levou-me a uma participação civica mais activa entre as quais se inscreve esta
coluna que semanalmente com gosto e alegria escreverei a pensar em vós.
Feita a apresentação, com amizade me
despeço de todas (os), com a garantia de que para a semana, todas as semanas,
todas as sextas-feiras, aqui estarei convosco.
* By Maria Luísa Baião,
escrito sexta-feira, 5 de Janeiro de 2001, 23:04h e a primeira
publicação no jornal DIÁRIO SUL dada à estampa nesse mesmo mês.