Tenho
observado o CHEGA desde que apareceu. Surgiu rápido e crescendo depressa, creio não
me enganar se lhe prognosticar uma votação considerável no próximo acto
eleitoral.
Portanto
o CHEGA chegou, encontrou o seu lugar entre uma abstenção composta maioritariamente
por desiludidos com os partidos do sistema, os tais partidos instalados,
acomodados e incapazes de mudar, um nicho de eleitores considerável, perto dos cinquenta
por cento do eleitorado. Mas será o CHEGA capaz de crescer, de os convencer e
manter a todos ?
Surripiando
votos quer aos desiludidos, quer aos partidos instalados, quer aos
abstencionistas convictos e descrentes, o CHEGA cresceu depressa e mais
depressa ainda subiu nas sondagens mas, há sempre um mas, quantos mais desses
eleitores virá com o tempo a conquistar, a convencer, a fidelizar ou a perder ?
É
certo que cresceu depressa, mas as pressas por vezes dão em vagar, o CHEGA por mor
dessa pressa com que se guindou à celebridade cresceu desorganizadamente, atabalhoadamente,
pisando muitas vezes os princípios que diz defender e não cuidando de acautelar
a democracia interna, democracia que portas fora diz querer vender-nos. Tenho observado
cuidadosa e acauteladamente o seu percurso, o caminho trilhado e, neste momento
diria que o meu prognóstico apontaria para o arame, para a balança ou seja
quanto a mim o CHEGA é neste momento mera atracção circense balanceando perigosamente
no arame e alvo de potentes holofotes.
Manipulando
causas fortes e fracturantes de grande efeito mediático, mobiliza as suas hostes
mas não toca fundo nos reais problemas do país, ou se toca fá-lo pela rama, nem
sempre apresentando as melhores soluções, como no caso da TAP acerca da qual afirmo
há muitos anos que dada, oferecida, seria cara para quem ficasse com ela e, se
assim já era há anos, o tempo confirmou o dito. O recém-chegado CHEGA não pode
limitar-se a perseguir, secundarizando e secundarizando-se, a agenda
conjuntural do governo, dos mídia, da esquerda ou da direita e atiçar-lhes os cães
danados, o CHEGA tem que propor medidas estruturais de vanguarda e solução para
os problemas que compõem o desastre da nação.
Nem
o CHEGA pode ser o partido de um homem só, André Ventura e o CHEGA são inseparáveis
e indispensáveis mas não chega, o CHEGA não pode ser um partido de breve
crescimento e breve existência, como aconteceu com o PRD de Hermínio Martinho,
o CHEGA tem que chegar longe porque lhe cabe uma missão quase impossível, pelo
menos jamais possível de ser levada a cabo pelos partidos do sistema que à
saciedade nos demonstraram não estar interessados em fazê-lo mas somente neles
mesmos apostarem ou por eles mesmo fazerem.
Agora
corre o CHEGA atrás da inútil causa da esquerda, da agenda da esquerda e do
racismo, tendo convocado para dia 27 uma manifestação a decorrer debaixo desse tema.
É uma causa perdida, não há racismo em Portugal, nunca houve, isso é coisa dos States
e da África do Sul, nós temos focos de violência rácica pontuais, choques
localizados, não existe entre nós uma doutrina ou prática racista generalizada
e, queixas apresentadas por pretos são-no igualmente por brancos, são problemas
do país, radicam no caminho para a miséria que trilhamos, pretos e brancos, e
não em quaisquer animosidades de cor contra cor ou de raça contra raça.
Quanto
a uma estratégia de crescimento sustentado do CHEGA diria que tarda em chegar, os
sound bites lançados até agora têm mobilizado o seu eleitorado básico e
instintivo, de revoltados a desiludidos, têm sobretudo apelado à classe baixa, a
que mais sofre com os males da desgovernação que há décadas tomou conta do
governo da nação. Não vejo o CHEGA preocupado com os problemas estruturais do
país e que possam mobilizar a classe média e alta, sabido não podermos
sobreviver sem elas, sabido quão elas têm sido também cilindradas pela estupidez
que tomou assento no parlamento, nos ministérios, direcções gerais e tutti
quanti nos desgoverna.
O
percurso apressado do CHEGA não está a construir alicerces ou a prometê-los,
está a acicatar as tropas de combate, carne para canhão que lhe garantirá uma
vitória ou duas, dois ou três anos de sucesso, mas nunca lhe conferirá solidez
para se manter confortável nas sondagens e no poder, criando mesmo um risco
acrescido de, entre classe média, média alta e alta, cavar ainda mais fundo a generalizada
descrença nelas existente.
A
fasquia terá que ser colocada mais alta ou o CHEGA não passará da colheita do breve
benefício do populismo que não de todo erradamente tem vindo a ser acusado. Sobretudo
não pode continuar sendo o partido de um homem só, terá que convencer, não
aliciar mas convencer intelectuais, artistas, académicos, cientistas, investigadores, professores, enfermeiros, carpinteiros, serralheiros, empresários, quadros médios e
superiores, e não pode acudir automaticamente a todas as causas pontuais mas dedicar-se
sim a problemas globais, estruturais, dando de si uma imagem sólida, eficiente,
capaz, responsável, íntegra, e gerar confiança, no futuro, nos portugueses, em
Portugal. Nem tão pouco deve acudir ou lamentar a falta de autoridade mas
exercê-la, sem medo, quem tem medo compra um cão, e exercê-la é fazê-la
cumprir, nem que para isso tenha que distribuir bastonadas à direita e à esquerda,
seja sobre pretos ou sobre brancos.
Abracei
o CHEGA mas, em demasiadas situações não me sinto identificado com as suas
posições nem com algumas atitudes de militantes seus, de topo e de base, deixando-me
por vezes mesmo desconfortável, diria que envergonhado pois quanto a mim o ser
humano há muito abandonou as cavernas e, se o adjectivo sapiens que caracteriza hoje o homo
significa alguma coisa, é tempo do CHEGA demonstrar a todos que essa sapiência é
também uma sua particularidade, quando não será mero epifenómeno e daqui a meia
dúzia de anos esquecido para ser meramente lembrado a título de anedota.
Por
favor, chega, não me envergonhem, dêem-me causas nobres pelas quais combater, causas
pelas quais valha a pena bater-me, batermo-nos, causas que devamos defender,
basta de pão e circo, chega de jogos de coliseu.