terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

23 - UMA QUESTÃO DE NEURÓNIOS......................


Costumo afirmar, na brincadeira, e somente junto do meu círculo de amizades íntimas, que sou um santo. E nem me admira que não abram a boca de espanto, conhecem-me… Dir-vos-ei o que lhes disse a eles tantas vezes já, que somente não uso a auréola, não porque a não tenha, mas por ser incómoda, por demasiado pesada e me ficar ligeiramente apertada, o que ao fim do dia se torna extremamente doloroso, mas sobretudo por ser demasiado exuberante e dar imenso nas vistas, razão pela qual a guardo na bagageira do carro para não enferrujar, mas estar sempre à mão.

Ninguém desconhece quantas vezes ser a brincar que as verdades se dizem, por isso os amigos são para mim tão condescendentes quanto o melindre da questão o exige. Até eu já me convenci do facto, em tantas ocasiões uma mera suposição é afirmada que se converte numa verdade aceite, sobretudo quando sou eu mesmo quem melhor me conhece as virtudes e os defeitos, e cujo saldo reputo de singularmente positivo e me incita a superar-me a cada dia que passa.

Por vezes, muito remotamente, uma ou outra alma lá reconhece pública ou pessoalmente que sim, que se não sou santo andarei lá muito perto. Agradeço, intuo a responsabilidade inerente, que assumo ou assimilo, e continuo a minha saga procurando não desiludir quem quer que seja e mostrar-me digno da confiança em mim depositada. Vem isto a propósito de uma estranha ajuda solicitada por amiga minha, nem jovem nem mulher madura, a Beatriz, pedido a que anui não tanto por me considerar à altura do repto, mas por ter já há muito constatado não primarem as pessoas, na generalidade e actualmente, por predicados que bons anos atrás faziam parte da formação ou do saber de qualquer um.

Queixa-se ela não conseguir atrair sobre si as atenções de um macho e jovem adulto por quem se apaixonou, mau grado os esforços que tem desenvolvido nesse sentido, só faltando mesmo declarar-se-lhe, coisa que ela não quer fazer por entender dever ser o macho a detectar os sinais e a tomar então a iniciativa. Não vou aqui discutir feminismos nem machismos, igualdades de direitos ou de géneros, apenas evidenciar um pensamento e os inerentes comportamentos, atendendo a que estão em causa os caracteres e personalidades dos envolvidos, a Beatriz e o Bernardo, nomes fictícios mas que para o efeito servem perfeitamente.

Há muito me dera conta que, pelo lado masculino existe um deficit de cavalheirismo, de etiqueta, de romantismo, para não dizer mesmo até educação e formação, coisa que mal nenhum faria a que homem fosse e por certo deixaria as damas felicíssimas. Não, isso não acontece, e ao invés, infelizmente, chegam-me quotidianamente queixas de falhas de educação raiando a alarvice, o que, convenhamos, nada dignifica os machos das nossas urbes. É certo que eles também protestam quanto à falta de feminilidade actual do sexo oposto, ao deficit de sensualidade, ao abuso pelas mulheres de terminologias pouco dignas do seu estatuto, enfim, penso que também os compreenderão. Verdade que falo de generalidades, excepções sempre haverá ou tudo estaria negro mas, o que me chega aos ouvidos, mais não é que fruto do analfabetismo funcional e da iliteracia que tanto teimam vingar entre nós e onde, para nosso azar, encontraram terreno fértil. 

           Amiga com quem por acaso uma vez abordei a questão falou-me em neurónios, que, ou não funcionam, simplesmente não existirão ou terão as conexões tão falhadas quanto um fusível queimado. Talvez ela tenha razão, eu é que não entendo nada de entomologia, de electricidade ou electrónica, e de neurologia ainda menos.

Mas que a Beatriz tenha que quase se deitar aos pés do marmanjo por quem se perdeu de amores, ou que ele não vislumbre nela os mínimos sinais de uma paixão, são indicadores preocupantes do modo como o nosso mundo se encontra. Que a Beatriz não possua as inatas e velhas artes de sedução e tenha que se socorrer de mim, celibatário confesso e ignorante nas coisas do amor devido ao tão grande desfasamento prático de que padeço, se bem que me honrem, mostram-me sobremaneira o estado de desespero em que se encontra e o desânimo que sobre ela se abateu.

Aqui declaro por minha honra estar disposto a tentar um milagre, mas a Beatriz e o Bernardo, terão que, em ocasiões alternadas, vir passar comigo as noites de uma dúzia de sextas-feiras e aceitar as despesas por conta. Onde me encontrar saberá ela, há muito frequento regularmente o mesmo bar e associação entre as 22 de sexta e as 2 da manhã de sábado, no mínimo.

Estou pensando seriamente imprimir umas pagelas com a minha imagem, endereço electrónico e nº de telemóvel, que acham da ideia?

                      


domingo, 20 de fevereiro de 2011

22 - MENINA PRECISA-SE...



Como tudo está mudado ! Nunca pensei que volvesse pastelaria ! E tantos anos aqui passados, jamais o tempo me apagará as recordações dessa época. Quase diria terem sido os melhores anos da minha vida. Ali era a minha secretária, acolá a do senhor Justo, coitado, que será feito dele? Olha! Nem de propósito ! A bolsa que trago hoje foi oferta dele ! E que boa tem sido !

Coitado, não aguentou esta crise, e era tão bom homem, sempre carinhoso comigo, se precisava de alguma coisa ou não, e, verdade seja dita, mais nenhum homem reparou, como ele reparava sempre, mas sempre, no baton que trazia, se trazia ou não, e se não trazia porquê ? Que se passava ?

Sempre solícito, se eu estava doente ? Se era desgosto ? Se eram aqueles dias ? Que amor de homem, nada lhe escapava, se eu mudava ou deixava de usar um anel, a mais pequena alteração no rouge, nada lhe escapava, era incrível !

E a megera com quem era casado ? Era e é coitado, nem vale a pena dizer que nunca o mereceu, nem merece, e os olhos que me mandava cada vez que vinha ao escritório, até me arrepiavam ! Que mulher horrível ! Má, ciumenta, desconfiada, nunca vi como aquilo ! O senhor Justo era precisamente o contrário ! Atencioso, carinhoso, merecia melhor, tirando o bafo no meu pescoço, que devido ao tabaco eu detestava, até ao fim nunca tive a apontar-lhe a mais pequena coisa, antes pelo contrário.

“PRECISA-SE MENINA”… precisada ando eu, menina é que ora está bem, há quantos anos isso foi ?

Parece que a minha sorte anda ligada à do senhor Justo, desde que ele adoeceu e fechou o gabinete que não consigo arranjar trabalho, mas servir ? Fosse o senhor Justo o homem que foi se ele alguma vez me deixaria andar a servir ! Era o deixavas !

Recordo tão bem ! Ali era a minha secretária, acolá a do senhor Justo, sempre virados um para o outro, e foram anos, sempre tão meu amigo, confesso que hoje estou arrependida de o ter ofendido, eram outros tempos, se não era uma menina era pouco mais, não devia ter ainda trinta anos, e recusar-lhe o apartamento e o carro que me quis oferecer… hoje acredito que a minha recusa o tenha ofendido, hoje acredito que ele não estava a brincar, que me amava mesmo, jamais o tempo apagará as recordações dessa época, foram os melhores anos da minha vida.

Como o teria feito feliz !

E nem teria sido preciso muito, bastava ter sido diferente da megera com quem é casado, coitado, nem vale a pena dizer que nunca o mereceu, nem merece, nem alguma vez merecerá. Fomos tão felizes, podíamos ter sido tão felizes, amei-o de verdade, tão bom homem, sempre carinhoso comigo, sempre solícito, nada lhe escapava, tão atencioso, tão carinhoso, e eu, feita parva, ainda o ofendi com a minha arrogância, não me perdoo.

Tão felizes fomos aqui !

E já nem há homens como ele, isso não há, não há e há muito tempo ! Ainda lembro aquela vez, era Inverno, já passava das seis, ele estava a vestir-me a gabardina, de repente faltou a luz, e lá fora já noite, e tão escura, os estores descidos, e derrubámos os papéis todos da secretária ! Só no dia seguinte os apanhámos, foi tão bom, foi desde esse dia que vi quanto ele me amava, devia ter deixado o quarto, hoje tinha o apartamento, talvez não estivesse tão mal, tão só, ele sempre quis o melhor para mim, eu é que fui parva.

Olha no que deu a minha mania da independência.

Amei-o, não posso garantir mas acho que a meu modo o amei. Ter-lhe-ia dedicado a vida, mas como, se ele era casado ? Tenho a certeza que a nossa separação, mais que a crise e a falência o prostraram no estado em que está, como teríamos sido felizes ! Foram os melhores anos da minha vida, acabar ao lado daquela megera, que pena, dizer que nunca o mereceu é pouco, nem alguma vez merecerá.

Fomos tão felizes, podíamos ter sido tão felizes. 



sábado, 19 de fevereiro de 2011

21 - PALESTRANDO COM INTENSIDEZ...................



Caríssimos amigos, desejo em primo testemunho expressar quanto me é grato encontrar-me esta noite entre vós, e o prazer que me é concedido pelo facto de no vosso seio ter sido acolhido.

É evidente que a minha presença aqui tem que ver exclusivamente convosco, sois vós o motivo dela, é para vós que me dirijo, humildemente, em atitude de gratidão, de reconhecimento pelo que hoje sou, pelo homem em que me tornei, pelo ser humano em que me haveis transformado, pela felicidade que me haveis trazido.

Recordo, quando ainda pequeno, o deslumbramento que em mim haveis provocado, primeiro com as imagens, posteriormente com a lúdica abstracção da criação delas, partindo de linhas simples que aprendera a decifrar.

É grande como podeis constatar o conforto que sempre, ou desde cedo me haveis prodigalizado, as aventuras proporcionadas, os desafios em que me haveis estimulado a participar, as metas que a cada dia haveis colocado à minha frente para atingir, o saudável e pausado crescimento dessa forma obtido, a maturidade calma e segura cuja culpa a todos vós atribuo e agradeço.

De vós me alimentei a vida inteira, em vós encontrei a fonte da eterna juventude e o pote recheado de ouro da sabedoria. Foi através do arco-íris nele enraizado que, saciado de vós, ousei imitar-vos, pois já me não bastava nutrir-me do que sois, uma vez a necessidade satisfeita exigia que me transformasse, que fosse mais um entre vós, que sempre me haveis rodeado do melhor que sinceridade, amor e amizade podem facultar e, em cujo seio me acolhi, cresci e debutei ainda bem jovem.

Parte de mim está hoje aqui convosco, a outra parte sou.

Muito de mim cresceu à vossa imagem e semelhança, o resto de mim tornou-se naturalmente ou metamorfoseou-se sacramente no que sois, no que somos.

É portanto chegada a hora de reconhecer quão grato me sinto e sou, porque entre vós, porque como vós, partilhando uma avidez, uma ânsia de, a vosso exemplo, outros contaminar ou influenciar, como comigo haveis diligenciado, e único modo de vos compensar ou perante vós quitar tamanha divida e gratidão.

Modesto, tento imitar-vos, singelo, ouso timidamente entre vós estar e permanecer. E nem me conheço mais grata ou maior ambição que esta de me elevar pelo valor e mérito que convosco aprendi a cultivar, a par da humildade e da simplicidade que somente o saber ensina e a luz aponta. 

Convosco em mim as trevas viraram fulgor, as incógnitas soluções, as variáveis certezas, as dúvidas fundamentos, as consequências causas, a insegurança probidade, a hesitação um rumo. Inimaginável se tornaria sem este meu testemunho quanto vos devo e quanto de benéfico em mim resultou de vós.

Jamais renegarei ou esquecerei tudo quanto a vós devo, da meninice ao homem em que me tornei ou me haveis tornado.

E, num tempo em que as amizades leais escasseiam, nunca vós haveis regateado o altíssimo valor que em minha feição sempre experimentei e do qual me servi, numa dádiva que sempre pressenti desinteressada mas cujo merecimento nunca deixarei de reconhecer ou serei capaz de amortizar por muitos anos que viva.

Hoje sinto-me orgulhoso, entre os meus, e, ao sentir-me rodeado por vós, um conforto inexprimível me envolve, e, como que num abraço, vos confesso o reconhecimento de que a minha vida tem sentido, tem causa e consequência, tem motivo validade e razão, porque hoje tenho por adquirida a certeza de ter que ser perante mim e para mim que esta satisfação, esta avaliação de como sou e quem sou tem forma, conteúdo, substância e importância.

Obrigado.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

20 - ESQUECEU-ME...

Esqueceu-me.
Admitindo algum racionalismo na sua atitude, esqueceu-me, pura e simplesmente esqueceu-me.
Ou me esqueceu ou me ignora.
E nem no intervalo desse maldito jogo!
Poderia simplesmente ter-me enviado um “sms”, rápido, apenas um”bj”, eu saberia que estava pensando em mim, que não me esquecera, que não me ignorava.
Mas não.
Nada.
Já consultei a Net mais de 100 vezes nos últimos 60 minutos, e nada.
E teria sido tão fácil, tão simples.
Um só "amarelinho" que fosse, qualquer outro bonequinho ou símbolo simples, acciona-se com um simples teklar, e não, nada, eu teria sabido, ele nem imagina quanta coisa um simples bonequinho pode dizer, ou saberá?
Claro que sabe! Quem não sabe?
Ignora-me.
Pura e simplesmente ignora-me.
E eu para aqui inquieta. Do telemóvel para o PC, do PC para o telemóvel, e nada, e se não me esqueceu o que significa o seu Silêncio?
Sei como adora o futebol, mas o intervalo já passou e nada, e um "sms" ou bonequinho não custam nada a enviar, porque não o faz?
Bem sei que não há entre nós qualquer compromisso, na verdade nem estou certa de ele ter percebido quanto o adoro, com certeza percebeu, que homem não percebe essas coisas?
O carinho com que o mimoseio nas minhas mensagens, as respostas prontas e a disponibilidade que lhe concedo, será que ele não percebe isso?
Admito que me precipitei um pouco ao dar-lhe o meu número de telemóvel, mas para quê interrogar-me, se ele nunca me ligou, nunca uma única chamada, nunca um simples "sms".
A parva devo ser eu, que me empenhei nesta amizade, nela coloquei todo o meu ânimo, a minha esperança, e nem isso ele perceberá?
Esta constância, a assiduidade com que visito a sua página, os corações que lhe mando, é impossível não ter percebido o quanto gosto dele.
Então porque nada me diz?
Nem um "sms", nem um bonequinho, um sorriso, eu ficaria tão feliz!
Será que não sabe isso? Ou simplesmente não me percebeu?
Ou não quis perceber-me? Corresponder-me? Comprometer-se?
Só pode ser isso, foge a um compromisso, ou foge ou tem medo, teme os compromissos, teme-me, e não imagina nem sonha quanto lhe quero, quanto o sonho, quanto o desejo.
Bastar-lhe ia dizer uma palavra, uma palavra só, e a minha alma seria dele, minha alma e eu, toda eu, e não consigo ficar parada, salto do PC para o telemóvel, do telemóvel para o PC, e ele nada, nem um beijo, um bonequinho, nada, esqueceu-me, esqueceu-me ou ignora-me.
Não suporto, ai de mim, hoje não suporto isto!
E o jogo já acabou. Que andará fazendo? Onde? Com quem? Que nem me liga, que nem me liga, nem ao menos um "amarelinho" aquele estúpido!
Podia ter-me se o quisesse, adoro-o, amo-o loucamente!
Mas não, nada diz, nada faz, esqueceu-me, ignora-me, não o suporto!
Já não posso nem vê-lo! O arrogante! O convencido! Já vais ver!
Onde está a tecla DEL?
Tok, já está! fora!
Ai de mim que alívio, foste um sonho mau que tive, coisa que passou por mim, já eras, pois isso, era uma vez, já foi…
Deixa-me acalmar, deixa-me sentar, olha!
Quem será este? Que giro!
Deixa-me ver, que original! “BLUE DREAM”, que engraçado! Que espirituoso!
Quem será?
Vamos ver!
Tok! Já está!
Que lindo!!!!!
Que querido!!!!!!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

19 - DOMINGO..............................................................


Sim, aquele dia começou radiante, como se nas margens de um rio a beleza das cores, a frescura e fragrância dos dias felizes igualasse a cadencia deste coração cansado e enorme, a memória de outras cadencias, de outros dias felizes, deste mesmo ou doutros rios, as mesmas cores, não esfumadas mas intensas, fulgurantes, quase repetição dum inexorável e incansável ritual de celebração da vida, qual hino à existência, sublimação da vida que há em mim e me redime do pior que haja no meu intimo.

Começou, como sempre começa, como um sonho, em que estou na luz, diviso vagamente um vulto fugidio a que sinto o perfume e a quem, na harmonia de um gesto delicado tento segurar a serena e pressentida presença de que, primeiro apenas o sombreado, mas depois o perfil de um desejo com forma de sonho, cores claras, o mundo repentinamente todo luz, eu, sombra saindo da escuridão, o corpo tolhido, antecipando delírios e paixões, o olhar nascendo de novo destes mesmos sentidos, os mesmos rodopios e devaneios, o mesmo degelo da alma, o corpo bamboleando-se-me, a volúpia das palavras primeiro, o aroma das flores depois e,

quando nem em mim cria, já não sonho, deliro, que repentinamente te abraço, repentinamente te beijo, saboreio nos teus lábios champanhe, agora o delírio e a volúpia sim, mas dos sentidos, lascivos, ébrios, sedentos de boémia, e é noite, mergulho na sombra do astro, e já nem sei se arlequim se querubim, e o teu corpo que parece mexer-se, e nem sei se estes cabelos são meus se teus, afago-me, afago-te a pele morena, a silhueta, depois as tuas curvas e o pecado que tramo, e este sonho em escalada contínua, estas sombras que me cobrem, promessas figuradas que tingem meus olhos, e, perante mim, qual milagre, vagamente tomando forma uma mulher que amo, que começa de imediato a tornar-se carência, imagem debruada a luz mergulhando no esplendor da minha alma.

Parece que em ti tropecei, mas não, não mais a melancolia, a solidão, agora sei não querer habituar-me à tua ausência, tudo que sou também és, tudo que és também sou, agora sei, o mundo somos tu e eu, e mais ninguém, palpitas em mim, nem consigo dormir pois este sonho me leva a perder-me de mim, me persegue como silício vivo e eu, incapaz de fugir a meu fado, de alma sobressaltada e fogo alimentando os sentidos, com este lume em meu peito, imagino-te,

imagino carícias ingénuas, o coração batendo como batia, e eu fremente de desejo, já sem destino nem rota, fugindo ao presente, ansiando o futuro, os sentidos girando, e a abóbada celeste num carrossel, girando, girando, e eu que morreria se não te contasse este anseio, corações mais não são que cinzas e paixões, e vejo claramente na penumbra dos dias com luz, flâmulas e pendões multicores, um mar de rosas, e esta alegria imensa de todo o meu bem querer-te porque por agora a ponte que nos une é esta ausência, e

invento desejos, embriago-me com bacantes, acumulando coragem para conquistar o teu corpo, cobrir-te de abraços, de beijos, saciar estes olhos, vaga-lumes tilintando numa festa, nascida deste sonho, desta inquietude dando largas à loucura que me grita ter o nada que acabar-se, e, meu sangue, latino, pulsando nas veias dizendo-me não haver regras nem limites, só a verdade de mim, homem sincero, e pergunto-me, quando posso gritar tudo isto ?

Onde posso sorrir sem parecer louco ?
Onde gritar a verdade e rir de tudo e de todos ?
Onde e quando só nós ?

Pois agora sei, o mundo somos tu e eu, e mais ninguém !