domingo, 15 de maio de 2011

47 - RODOPIOS E SACANICES ... ( 1ª de 3 crónicas)



A partida era às sete.
Não eram habituais atrasos.
Alguém lembrou que na véspera ouvira umas conversas esquisitas enquanto emborcava umas canecas, culpando a mãe, mas… quem liga a quem nessas ocasiões?
Eram quase oito horas, partimos, eles que dessem depois mais gás à máquina e talvez nos apanhassem no caminho, era norma, não normal acontecer, mas norma.
Até porque ou nos púnhamos a abrir ou nem um metro de praia onde estender a toalha quando chegássemos, sabido não haver maricas nenhum de Lisboa que não parecesse buscar o sol de Sesimbra.
Abalámos chateados, atrasados, recuperando o tempo acelerando a fundo e ultrapassando uns pela esquerda e outros pela direita, foi um espectáculo, um verdadeiro festival, não fazíamos uma destas desde a viagem a Faro!
O dia foi bem passado, mau grado eles não atenderem os telemóveis nem terem ligado ou aparecido.
No regresso, já sem pressas, fome ou sede, coisas que atiráramos fora em Vendas Novas, a capital das bifanas e da parvoíce diz sempre o Afonso, rumámos aos arredores e à quinta onde viviam, nada.
O jipe e a moto do Hélder estavam debaixo do telheiro habitual, do Mercedes da Verónica nem sinal.
Tudo fechado, certo que eram vinte horas, mas nem uma luz, um sinal, nem do alarme, o Farrusco e o Tirano esfomeados e sedentos, ali havia gato, 
– e cão –, rematou o Afonso.
Rumámos a casa da mãe, que distava quilómetro e pouco, na mesma propriedade.
A Verónica tinha sido hospedeira da TAP, toda “não me toques” até casar com o Hélder, órfão de pai seis meses depois de casar e no dia em que a mulher apareceu ao sogro com uma carrada de piercings mais umas tatuagens, uma delas, uma borboleta dois dedos acima do rabo e que, diz quem sabe, foi a culpada do enfarte do velho.
Chegámos, D. Apolónia veio a terreiro sem precisar sequer que a chamassem, que a culpa era nossa, que nunca tivéramos juízo e ao filho só fizera mal ter-nos conhecido e acompanhar-nos e práqui e práli.
Bem quis esclarecer o caos, parei a moto, desci, avancei e;
– Já aí quieto meu maricas de galarito!
Tu és o pior de todos!
Nem mais um passo!
Quanto mais velhos menos juízo têm!
Ainda tentei balbuciar qualquer coisa mas D. Apolónia, embora com menos uns anitos que eu sempre me tratara por tu, com indisfarçável indiferença e menos respeito ainda, coisa que nunca compreendi mas sempre aceitei, era mulher rude, campónia, mãe do meu amigo, nunca pensei casar com ela, pelo que tanto se me dava como se me deu, naquele dia deu.
D. Apolónia mas…
- Já te disse meu maricas!
Põe-te fora daqui e já!
Paneleiros!
São todos uns paneleirões, paneleiros e putéfias, meu rico filho com quem se meteu!
Por tua causa e de outros como tu, meu merdas, é que…
Não adiantou, não conseguimos arrancar nada de nada a D. Apolónia, mas, a julgar pela coisa algo se tinha passado, e grave.
Certo que tinha partido de Évora protegido pelo meu fato de cabedal azul, o escuro, mais fresco, mas àquela hora estava de bermudas, uma camisola de manga cavada até à cintura comprada com o propósito de deixar mostrar os músculos e a beleza deste corpinho, o cabelo de um azul-marinho lindo, enfim, tudo adereços que em vez de acalmarem mais espevitaram a ferocidade de D. Apolónia, uma daquelas pessoas cheias de narda e de propriedades mas carente de massa cinzenta, para quem a frase “todos diferentes, todos iguais” seria mais uma coisa provinda desse novo jogo do “soduku” que um qualquer pensamento profundo, uma vez que era mulher mais propensa a coisas práticas.
Debandámos.
Já pela meia-noite a Gina viu o Mercedes da Verónica com o focinho enfiado na garagem do Pilha-galinhas, mais concretamente o Maurício, estranha coisa, pois o Hélder e o Maurício eram inimigos figadais há anos, telefonou à maralha, a maior parte de nós na feira de Reguengos, e lá acorremos pelo que quando batemos à porta éramos já um grupo coeso de amigos na farra, grupo a que só faltavam o Maurício, a Verónica e o Hélder.
Foda ou canelada?
Foda…
A Verónica tinha uns olhos de quem chorava há um mês, por ela ficámos sabendo metade da história, pelo Maurício outra parte, faltaria o Hélder, cujo paradeiro todos desconheciam e cujo depoimento esclareceria e comprovaria os pormenores em falta, os dados adquiridos, e o facto de, na passada semana a Verónica e o Hélder se terem engalfinhado.
Ela dera-lhe um pontapé, ele, ferido no seu orgulho de macho latino ripostara com um “cabra de merda, a minha mãe é que tinha razão” e atirara-lhe um murro ao focinho que a deitara por terra e pusera a sangrar.
Ela apenas se lembra de ele a ter posto na rua, arrancado as chaves de casa, gritado galdéria de merda não me voltes a aparecer diante que te fodo o juízo todo, e ter abalado, a pé, chorando, para casa da mãe.
Segundo a Verónica confidenciou à Filipa, a exaltação adviera da estreia, umas noites atrás, duma fantasia de enfermeira, coisa que sabia agradar ao Hélder, que já se queixava das máscaras, das capas e dos chicotes e algemas, coisas de que andaria a ficar mesmo farto.
Despeitada e metida na rua a Verónica rumara ao único homem que há muito lhe prometera e prometia o coração, o Maurício, não por acaso conhecido pelo cognome de Pilha-galinhas…. em cuja casa se instalou de mesa e pucarinho, que é como quem diz de armas e bagagens, mostrando ao Hélder não precisar dele para nada.
Só que as coisas nunca são assim tão fáceis.
Enquanto a Verónica e a Filipa entre lágrimas e juras, planos de vingança e contenção, se esclareciam, o Maurício abria a matraca ao ouvido do Leandro para se lamentar que toda a vida tinha tentado saltar prá cueca daquela gaja, sem qualquer resultado, chegara a ponto de lhe prometer e jurar amor eterno, e nada, e casamento, e nada, a não é que agora a tinha ali, ainda por cima para ficar!
E logo agora que nada lhe convinha, que já tinha férias combinadas, pagas e repartidas com a Fátinha em Porto Covo, e aparece-lhe esta gaja em casa, sem avisar, sem dizer água vai água vem, a meter-se-lhe na cama, fogo, não via que mal tivesse feito a Deus para merecer aquilo, e agora?
E agora quem é que lhe tirava a gaja debaixo porra?
Tou mesmo a ver que mais dia menos dia o Hélder vai chorar no meu ombro depois de umas cervejolas, vituperar a mãe e a moral de merda da velha, mais a própria estupidez por lhe ter dado ouvidos, chorar pela Verónica e cagar-me calças e blusa de baba e ranho e eu, farto desta merda, faço votos para que a coisa se resolva depressa, afim de não estragar as férias ao Maurício e à Fátinha, o leve a repensar a coisa e aproveitar as fantasias em que a Verónica é mestra, e ela que encha a barriga e quebre violentamente a rotina aproveitando para fazer com o Maurício o que pelos vistos não deve ou não pode fazer com o maridinho que, por sua vez não faria mal em se desfazer da velha, pois já é crescidinho e fica-lhe mal furtar-se à Verónica quando toda a gente sabe as porcarias de que é capaz quando se apanha sozinho em Gerês, Faro ou em qualquer outro sitio.
Mas como não há mal que não venha por bem, a Mariazinha, que há dez anos corteja o Hélder, esfrega as mãos de contente e oferece tartes à D. Apolónia.
Ela lá saberá porquê.
E eu, bem… eu o melhor, pelos vistos seria começar a ter juízo ou montar um consultório sentimental…..

quarta-feira, 11 de maio de 2011

46 - ELES AMAM-ME ! eheheh !!!!!

Moi preparadinho p'ra ver Braga por um canudo :) 

Sou vivido o suficiente para ter desfrutado não somente da vida mas por exemplo do Algarve antes do Allgarve, isto é no tempo em que se viam carradas e carradas de amendoeiras em flor, tavernas, restaurantes e esplanadas onde me sobrava dinheiro para pagar as extravagancias e as contas, havia alguém para nos atender e se comia bem, mas mesmo bem, se podia estacionar em qualquer dos muitos lugares à disposição, e a vista, ai a vista! Abrangia quilómetros de latitude olhando para o mar e de longitude mirando a terra !

Talvez por isso adore as flores de amendoeira, que agora compro nas lojas do chinês para enfeitar recordações empoeiradas sobre um qualquer móvel da sala.

Certo que não havia auto-estradas, mas o tempo corria tão devagar que ninguém tinha pressa de chegar fosse onde fosse, muito menos ao Algarve, que nessa época proporcionava lições de inglês a toda a gente, foi lá que o aprendi, como foi lá que, nas noites sem frio e sem fim, em redor de grandes fogueiras na praia, conheci o mesmo Jorge Palma que agora não me conhece. Tudo isto num tempo em que os algarvios eram tão pouco cosmopolitas, estúpidos e íntegros quanto o pode ser uma criada de servir e ainda comiam com o prato na gaveta da mesa da cozinha, que de imediato fechavam se alguém chegava, lamentando-se de termos chegado tarde pois tinham acabado de almoçar naquele mesmíssimo instante. Depois ficaram inteligentes repentinamente, desataram a construir prédios por tudo que era sitio, até nos passeios, a falar somente inglês, a somar nas contas dos restaurantes desde os números das facturas, ás datas, até ás saladas de alface, debitadas como de frutas, se tornaram arrogantes e passaram a esquecer-se de atender quem não seja franciú, bife ou boche.

Foi aí que dei o fora, era amor a mais e, como eu muitos fizeram o mesmo, até os algarbéus se terem convencido que as saudades matavam e terem criado uma campanha muito gira que correu o país de lés a lés, intitulada “ Vá Para Fora Cá Dentro”, mas era tarde, outras paixões me animaram, como animaram muitos outros, e assim descobri que havia mais mundo, mais bonito e sobretudo mais barato. Conheci outros lugares e outras gentes por toda a Europa e norte de África, só tendo voltado ao Allgarve esporádica e exclusivamente quando algum familiar me morria e, mesmo assim procurei sempre ir apenas ao funério e não ao velório, para não ter que dormir por lá nem deixar um “tusta” que seja num qualquer restaurante de má memória.

Perdão, mais ou menos religiosamente ainda ia à grande Concentração Motard de Faro, mas tão só porque depois de chegarmos e das primeiras bebidas já nenhum de nós sabia em que parte do mundo se encontrava, de tal modo que uma noite, depois de umas bejekas e de uma sessão espectacular de um concurso da “Miss T-Shirt Molhada”, pensámos estar em Las Vegas e demos por nós buscando o barco para Portugal, que apanhámos em Portimão e nos deixou, babados e vomitados salvo erro em Tanger, sem passaportes nem nada, tendo sido uma desgraça tal que nem vos conto. Idem para uma campanha televisiva para visitar os Açores, “Pronto para o melhor tempo da sua vida” e que se me deparou diante um dia enquanto jantava uma sopinha de beldroegas apanhadas à bórliu, não fosse dar-se o caso de estar avisado e vacinado quanto baste para não ir em cantigas, (estive lá uma vez e bastou), no tempo em que nem nos convidavam e como tal tudo corria bem, e a mim melhor correu quando alguns ilhéus ilustres me souberam amigo de um arquitecto aqui de Évora que tivera grande peso e preponderância na reconstrução de Angra do Heroísmo após o terramoto que quase a deitou abaixo.

Por isso e mais nada que isso me trataram como o teriam tratado a ele caso tivesse aparecido por lá naqueles dias, pelo que só tive que comer e calar, nem me esqueci de lhes agradecer, a eles, as mesuras proporcionadas, nem de agradecer e entregar ao dito arquitecto os saudosos cumprimentos que me encarregaram de lhe trazer uma vez regressado dessas férias inesquecíveis. Não sei porquê, como poderão ver criei um preconceitosito contra as campanhas, e já não me levam ás boas nem sequer a uma simples prova de vinhos.

Tudo nesta vida se paga, e prefiro pagar o que me pedem a alinhar em promoções de intenção duvidosa.

Talvez por isso, acabei o jantar rindo a bandeiras despregadas com a campanha de uma conceituada marca de automóveis que vai lançar no nosso país os carros eléctricos, e aqui vos deixo já o meu vaticínio de que, quando isso acontecer, poderão ter por mais que certo o aumento da tarifa de electricidade, pois se o comermos em chibo não o comeremos em bode e, se não pagas o vergonhoso roubo que constitui o preço da gasolina, descansa que pagarás com língua a dobrar a electricidade, que é como quem diz o dinheiro que o maravilhoso carro te ajudará a poupar nas tuas viagenzitas parvas, sempre aos mesmos sítios e a que eu, vulgarmente chamo as voltinhas dos parvos.

Quando alguém te declarar o seu amor, já sabes, põe-te a pau, decerto te querem comer as papas na cabeça !


Capice ?  

Moi preparadinho p'ra arrancar p'ra Faro :) 

quinta-feira, 5 de maio de 2011

45 - ...................... PUTAS NA CAMA ........................



Já lá vai o tempo em que os estados civis se resumiam a três, e, se vida e cronologia não interferissem, eram comummente e salvo raríssimas excepções vividos pela seguinte ordem; solteiro, casado e viúvo. Idem para o género feminino.


 O problema é que a sociedade entrou em ebulição tão acelerada quanto o progresso no estudo da fissão e fusão do átomo e se reflectiu na evolução do estado da matéria que, da clássica categorização em terra, fogo, água e ar, passando agora pela designação elementar de sólido, líquido e gasoso passou a apresentar mais um patamar, plasma, matéria negra ou outra qualquer coisa do domínio do imaterial.


 Estou a falar bem ou não senhora engenheira ? Não estou a safar-me mal atendendo à minha ignorância na matéria pois não ?

 

Isto a propósito de mais um estado que o dito civil passou igualmente a apresentar, divorciado, não falando nos intermédios mais ou menos densos ou de duvidosa densidade de, numa relação, aberta normalmente, separado, unido de facto, algo confuso ou vivendo maritalmente.

 

Lembram-se de vos ter falado nos cinco maridos da prima Michele ? Ou será que ainda não falei ? Se não falei juro fazê-lo em breve ta bem ? (vide texto 66 ).

 

Bem, voltando à minha prima Michele que com um, ela foi casada, de outro está divorciada, portanto separada, com um terceiro viveu uma relação de facto, desisti de saber se aberta  se fechada e que tipo de relação existe agora, ainda que tenha adivinhado que se aproxima de concretização mais uma vivência marital, (mais uma experiência ?) desta vez com um marinheiro entradote e reformado que, a julgar pelas cores que começou a apresentar, consumado que está apenas um mês dessa relação, dará à Michele o conhecimento do, ignoro se ambicionado mas pelo menos até agora não experimentado estado de viúva.

 

Aposto que redundará numa viúva-alegre e por pouco tempo, conheço-a bem melhor que ela a mim.

 

O problema, nem meu nem dela, mas de muita gente actualmente, é não se adaptarem, conviverem mal com os nuevos e hodiernos estados que, fermentados e fomentados pela crise tanta gente englobam já, refiro-me à separação e ao divórcio.

 

Não vou falar-vos do ponto de vista feminino, bem sei quanto gostariam mas coíbo-me de tal enquanto houver mulheres a preencher aqui perfis e a saber disso muito mais que eu, medida sensata não acham ? (prova de que nem sou tão parvo quanto me julgam).

 

Do ponto de vista dos homens, e bastantes amigos tenho divorciados ou separados, é outra coisa, e para já vos garanto que tudo que vou afirmar é inventado e jamais lhes ouvi o que quer que seja, mesmo quando chorando ao meu ombro, baba escorrendo pelos cantos da boca, olhos vidrados e mais amarelos que um eléctrico da carris, debitam vinganças, arrependimentos, saudades, amores, perdões, e tudo e todos culpam da situação, menos a eles próprios que, quanto a mim e a julgar pela fasquia do que tenho ouvido, de tudo serão os únicos culpados.

 

Nunca soube se depois de etilizados me confundem com uma mulher da vida, ou o bar com um lupanar, visto em nada se parecer com qualquer confessionário já por mim visto, nem eu tenha cara de padre ou por hábito desnudar os ombros.

 

Mas a questão de hoje resolve-se com poucas explicações, e deriva, toda ela, do facto de a mulher “dever” ter capacidade de encarnar três estados, não civis, não físicos, antes psicológicos, filosóficos, quânticos, tântricos, teatrais ou metafísicos, capacidade que a faltar-lhes as coloca debaixo de um mau-olhado, e péssimos karma ou chacra se à altura de tão compreensível quão inusitado desempenho se não mostrarem.

 

Pois bem, o mal ou a coisa, é que me apercebi que, de modo largamente maioritário, os meus amigos aspiram a uma mulher tripla, coisa que, pelo menos no que me toca, não conheço, não há, nunca vi, embora tenha ouvido falar bastante, como dos unicórnios, do ciclope, do abominável homem das neves ou das sereias...

 

Pois fiquem V. Exª.s sabendo que, para manter um matrimónio, segundo opiniões de gente respeitadíssima, tão respeitada quanto a de um digníssimo coronel reformado que tive como vizinho, sempre apalpando as criadas que por isso não lhe paravam lá em casa até que uma mais afoita o levou ao altar, vivendo agora da reforma generosa que o Ministério da Defesa não recusa a nenhuma viúva de qualquer dos seus graduados, medalhados ou não. Para sobreviver há que sofrer como ela sofreu, palavras dela mesma.

 

Ia eu dizendo que a mulher tripla que tanta gente pretende, deverá ser exemplarmente casta e ofuscantemente linda aos olhares dos amigos, para orgulho do maridinho, dona de casa exímia, incansável e aplicada, cursada em lavoures (não confundir com louvores), e na cama, que deverá ter largura qb, possuir a experiência de uma grandessíssima puta, pois não havendo causa sem efeito, (ou o contrário ?) proporcionará ao queridinho um superior êxtase de sensualidade e prazer.

 

Ora digam lá vocês se este paleio de merda terá algum fundo de verdade, batidas que serão em aturar asnos destes, pois é precisamente por vossa culpa e devido às vossas incapacidades e incompetências que todas as sextas feiras os aturo eu, bêbedos que nem cachos, e calhando uma destas noites, chamando-me à pedra por este escrito e esmurrando-me o focinho. É um risco que corro só por querer demonstrar-lhes por A mais B que estão melhor assim, separados ou divorciados, e nem culpas devem carregar nas suas consciências atormentadas, tormentos de que tanto me custa vê-los perecer.

 

As que estão casadoiras que se preparem pois por vezes para sobreviver há que sofrer como a outra sofreu. Depois não digam que ninguém as avisou.

 

Nuno !

 

Saem mais seis imperiais!

 

Em copo de vidro fininho não esqueça ! 



(post scriptum; sendo este um dos textos mais lidos de todos segundo as estatisticas do blogue, que tem um contador, porque será que só uma vez foi comentado?)



quarta-feira, 4 de maio de 2011

44 - " KERES FALAR " ? ...............



Acordei da sesta com o zumbir do motor do PC.

Bem, aquilo nem foi sesta nem foi nada, deixei-me dormir recostada no sofá e assim estive queda enquanto o PC, em suspensão, mergulhava a salinha na penumbra e eu, cochilando, em suspensão entrara também. Nem posso dizer ao certo se foi o zumbido do motorzinho do PC, se o som do alarme do chat que em simultâneo abriu o monitor. Abri os olhos e lá estava uma janelazinha aberta sobre a minha página onde alguém, não sabia quem, me perguntava se “keria falar”.

Achei aquilo curioso e, curiosa fui ver quem era a figura, a persona, que tão gentilmente me indagava se eu queria falar. Enquanto procurava ainda me ri, iria encontrar um psiquiatra ? Um psicólogo ?

Eu acordada do sofá / divã para uma consulta virtual ?

“Keres falar” ? A frase, assim sem mais nem menos, sem um contexto, sem um cumprimento, um boa tarde, um olá, pareceu-me despida de humanismo, o que mais acirrou em mim a vontade de ver quem, do outro lado, tão friamente indagava, atirando-me a frase como quem, na pesca, atira o isco à água, a ver o que dá …

Desilusão ! Pura desilusão !

Uma página sem qualquer fotografia ou imagem. O nome próprio limitado a ele mesmo, José, mas qual José ? Que José, quem é o José ?

Ah ! Mas o nickname, que giro ! “Vendedor de Sonhos” !

Teria adivinhado que eu dormia ?

Terá querido vender-me um dos seus sonhos ?Estava ali para os vender ou, enganando-se a ele mesmo, para os comprar ?

Achei piada a tudo akilo, ao nome escolhido, de “vendedor de sonhos”, que me lembrou logo um livro lido que tinha que ver com um vendedor de passados, e passados tão perfeitos que prometiam como garantido um futuro diferente e radioso. Já não achei graça ao facto de o meu adorador de sonhos, se esconder no anonimato, ter-me-á ele julgado uma mulher sem sonhos ?

E no que se terá baseado para me julgar assim ?

Simplesmente pesca ?

Deitou a linha esperando agarrar peixe ?

Mal sabe ele que sou mulher que sonha, e não paro enquanto não torno realidade o sonhado, mas decididamente não seria nunca com abencerragens como aquela que eu sonharia, para ser franca nem um sonho barato e com descontos lhe compraria.

O homem pareceu-me tão estúpido !

Aquela abordagem pareceu-me de tal modo estúpida, que pura e simplesmente dei um toque na tecla certa, e apaguei o meu vendedor de sonhos, com uma vontade e força tal, que o devo ter atirado para a Bósnia, pois daí eram oriundas, as últimas das suas amizades, belezas Bósnias e Romenas, que a juntar ás que já acumulava somavam mais de duas mil !

Como se gerem duas mil amigas ?

Esqueci-o, esqueci-o mas fiquei meditando no homem, nos homens quero dizer, cada vez mais parvos, cada vez mais estúpidos, cada vez mais insolentes, não terão melhoras ? Que pensarão esses parvos de nós mulheres ?

Que perante o tal “keres falar”, nos ajoelhamos agradecidas como perante o cura num confessionário ?

Nem a esses me confesso !Na verdade o panorama é mesmo triste, não falo pelas mulheres, género em que me incluo, e que também terá as suas ovelhas negras, não sei, mas os homens, cujo comportamento mais que ver, me é dado observar, andam pelas ruas da amargura, uma autêntica lástima !

Já não há cavalheiros, nem etiqueta, nem romantismo ou sensualidade, mas sobra-lhes falta de formação, de educação, de moral de respeito, enfim uma tragédia !

Quando é que vocês homens aprendem a cortejar uma mulher ?

Com um “keres falar” ?

Escondendo-vos atrás de páginas que mais que vos esconder nos mostram a vossa pequenez ? A vossa cobardia ? A vossa irresponsabilidade ? 
Falta de frontalidade ?

Para vocês meus amigos, que tanto se esforçam por vos esconderdes sabei que são gato escondido com o rabo de fora, há uma coisa que toda essa cautela não esconde, a vossa desmesurada estupidez.

Lamento-vos, e lamento-vos porque sim, gosto de falar, gosto muito de falar mesmo, mas gosto de uma boa conversa, inteligente, com conteúdo, princípio, meio e fim, pelo que, meus queridos, não me levam á pesca, não mordo iscos, não caio em engodos parvos lançados por gente ainda mais parva ...

Passem bem meus queridos.

Bjssssssssss. <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3  :)



sábado, 30 de abril de 2011

43 - TRISTEZA... (ou o meu 25 de Abril*) ....................

               

Contra meu hábito, mal dormira nessa noite. Pesadelos e sombras pressagiavam já o que eu não entenderia nos dias, semanas, meses e anos seguintes. Por isso recordo ter acordado muito cedo nesse dia fantástico, não tanto devido às insónias sonhadas mas antes devido ao alarde que desde madrugada se fizera sentir na quintarola.

Como por artes mágicas tudo naquela manhã se conjugara para que jamais a esquecesse, se bem que na minha modesta idade não me fosse permitido entender os prodígios a que assistia e impossíveis de, em minha mente, serem de imediato transformados em augúrios felizes de dias vindouros. Nessa manhã de sol a quinta parecia ter ficado entregue à bicharada e eu, sozinho, reinando ignorado no meio dela. Galos haviam abandonado o galinheiro escavando com unhas poderosas os locais mais inconcebíveis da quinta, modelarmente arrumada e engalanada por canteiros de diversas espécies, onde o sol avivara a clorofila e rebentos de variadissímas flores matizavam de cores diversas o espaço a perder de vista. Poedeiras pedreses viravam, sobranceiras, as costas ao cativeiro e depunham os ovos nos lugares mais dispares e que vez nenhuma tinham pisado, mostrando, arrogantes, soberbas poses que a vida inteira lhes tinham sido interditas.

Que me lembre, nem caseiro nem quaisquer outros dos homens apareceram nesse dia e, aflitas, as vacas mugiam impacientes, amojos cheios que nem balões de festa majestosa, sem viv'alma que lhes acudisse. Cães corriam de lado para lado enlouquecidos pela festa e era absurdo não entender os seus latidos como advertência e agoiro de milagres futuros que teriam, certamente, eles e eu, a felicidade de vivermos. Tal era a minha alegria e a de todos quantos na quinta não estavam que nem dei pelo sol transpor o zénite e, absorto, aguardava, vendo passar filas e filas de gentes entusiasmadas, empunhando cartazes e gritando palavras de ordem que hoje entendo como traídas no tempo, pois desse dia apenas a minha tia Inácia, ainda viva, conserva o mesmo sorriso, um sorriso de esperança que na hora afivelou, dia em que pela primeira vez a vi bater com a mão no peito e lhe soube de um filho que alguém levara para as longínquas terras do Gungunhana, onde jazeu, nome estranho que me assustou e cujo pavor só ultrapassei meses mais tarde.

Também por esses dias me foi dado a conhecer o primo Hilário, recém chegado dessas terras remotas e que pisou pela primeira vez esta metrópole que jamais conhecera ou vira, razão pela qual nem considerou a importância de tão banal pisadela. Pelo fim de tarde a festa era já um arraial colossal, embora eu não lhe entendesse a causa, habituado que estava às comemorações do Natal, Carnaval, Páscoa e Senhor dos Passos, em que multidões se arrastavam pela vila, apesar dessas vagas nem por sombras terem, nem nos seus melhores dias, chegado aos calcanhares do mar de gente que seguia agora eufórico, desfilando alvoroçado a meus olhos.

Então, como hoje, todos falavam mas ninguém ouvia, cresci portanto no meio de gentes meio surdas que prolongaram no tempo, embalando-me e iludindo-me, histórias de felicidade inventada, prometida e futura, que ainda hoje estou à espera de ver e viver e, desse dia mágico, ficou-me uma esperança teimosa e um optimismo militante que, uma vida inteira vivida, finalmente lograram acomodar no sótão das ilusões em que guardei os pesadelos premonitórios, os sonhos prodigiosos e todas as recordações deslumbrantes dos presságios que nesse dia vivi.

É domingo, nuvens toldam o dia, e o futuro anunciado é de um inverno glaciar onde nem as aves se atreverão aos voos rasantes e às piruetas de outrora, e eu, triste, acordo e lamento que o meu sonho não tenha continuado...