segunda-feira, 7 de outubro de 2013

166 - CASE STUDY .......................................................


Ainda não é desta que me levam amigo Baião !

Tão emotiva recepção foi-me depois traduzida pela Graça com ternura, já que eu não entendera nem metade do que ele dissera. Ela habituara-se a adivinhar os monossílabos guturais por ele soletrados, nesse dia acompanhados de efusivas expressões de contentamento pela minha visita e gestos de desespero por não se fazer entender.

A história de hoje é um testemunho de factos com perto de trinta anos e começou à mesa do clube de caça e pesca numa noite em que o Figueiredo, p’ra esquecer que fora despedido se encharcara até à goela com vinhos da região. Lembro-me bem desse dia em que ele trouxe queijos e linguiças, merenda dispensada a título de pagamento pela patroa que encerrara intempestivamente a empresa em que ele trabalhava. Nunca apreciáramos tanto os produtos tradicionais e regionais, só o Figueiredo não achava piada à coisa, naturalmente que não e agora que irei fazer da minha vida lamuriava ele, e eu, farto de o ouvir, atirei-lhe:

- A vida continua pá, faz o que melhor sabes, arranja uma carrinha e vai vender os queijos e as morcelas por tua conta, afinal quem come e paga continua lá à tua espera, aproveita e caga nos patrões, faz-te patrão de ti mesmo e não sejas palerma.

Toda a gentinha se riu sem o mínimo de respeito pelo seu desgosto mal o mandei vender morcelas, o termo era por nós usado pejorativamente quando queríamos gozar com ele, ainda que ninguém faltasse à mesa quando o petisco metia morcelas.

O AVC prostrara-o, estava acamado, não andava, era alimentado, babava-se, nem falava, enfim, um peso morto mas consciente disso pois não se encontrava em coma. Habituado a uma vida activa e útil ia-se agora abaixo à menor dificuldade, o humor fora também atingido, pelo que choramingava por tudo e por nada, a "boa vai ela" atirara com ele ao chão…

A sua vida dava um filme. Daquela noitada dos petiscos e morcelas deve ter sido o único a lembrar-se bem do que dissemos, “ carrinha, comprar e vender “, intuiu a coisa e se bem o pensou melhor o fez, parece que logo pela manhã terá ido ter com a viúva do antigo empregador propondo-lhe a compra da carrinha que ele mesmo conduzira e agora para ali parada com as outras, jurou-lhe a compra exclusiva dos queijos, pediu-lhe um fornecimento de adiantamento para ajudar no arranque e recebeu muito mais do que pedira. Não, não a trouxe p'ra casa nem casou com a viúva, aliás pessoa que em nova se limitara a criar e formar os filhos e no momento se via mais como reformada e viúva triste que como avalista do Figueiredo.

- E agora o que faço eu com o resto da tralha filho ? Tu não queres antes ficar com tudo ? Tomar conta de tudo isto ? Eu entregava-te isto por conta, nem sei que hei-de fazer da minha vida, o meu Horácio foi-se assim tão de repente…

O Figueiredo quis.

Num repente viu-se dono do negócio, tomou à sua responsabilidade os antigos colegas, manteve todos e o negócio a funcionar e, dizem as boas línguas que muito antes do prazo quitou à viúva e antiga patroa todas as promessas que assumira.

Preso à cama, dependente de tudo e de todos até para mijar, o Figueiredo lamentou os excessos que o seu feitio decidido lhe tinha trazido, a mente, lúcida e capaz, revoltou-o contra si mesmo primeiro, e depois contra tudo e contra todos.

- Eu, que tanto fiz pelos outros e agora sem ninguém poder fazer nada por mim Baião, foda-ssssssssssss.

E a Graça traduzia-me o emaranhado que ele babava, menos o foda-se claro que ela era uma mulher séria, e nem precisava, eu conhecia bem o som sibilino com que o Figueiredo rematava sempre o palavrão, o seu inconfundível dassssssssssss que aliás, perante a mulher eu fingira que nem entendera. Dono de dúzia e meia de carrinhas, de uma queijaria e uma vacaria o Figueiredo passou a preocupar-se com pastagens, pastores, o preço do leite, a situação dos restaurantes casas de pasto e hotéis desde aqui passando por Setúbal e parando somente em Lisboa Sintra Cascais e zona dos saloios e arredores, e, a berros umas vezes e palmadinhas nas costas outras, passou a dirigir toda aquela gentinha, a produção e o crédito, a distribuição e a cobrança, a prospecção e a auditoria a novos e a velhos clientes, de Raposo de apelido passou em três tempos a matreiro e recusando sempre meter-se nas mãos dos hipers.

Graça fora parar-lhe às mãos um pouco assim, deambulava lá pela aldeia ao Deus dará, hoje com um amanhã com outro, meia dúzia de filhos de quatro ou cinco pais diferentes, quando não estava na Segurança Social reclamando abonos de família estava na Cáritas ou na Misericórdia fazendo pela vidinha, ainda não tinham inventado o RSI, lembro-me que a coisa foi muito repentina, a mãe do Figueiredo morreu com uma trombose, (nunca lhe conheci pai) depois de algum tempo voltou a andar de sorriso na cara e de camisas bem passadas, onde a memória me falha é se foi pastelaria ou padaria (mais tarde passaram a poder vender bolos e bebidas e não somente pão) que ele montou para a Graça, o que não esqueci foi que fizeram juras e ficaram de casar quando ele tivesse tempo e por um azar da vida nunca mais teve, agora é fisioterapia exames e tratamentos de manhã à noite, a doença ocupa-o a cem por cento e a Graça arrasta-o para toda a parte numa dedicação comovente.

O pequeno empresário que lhe fornecia as morcelas faliu um dia e ele adquiriu-lhe o negócio no outro, o padeiro que o abastecia os milhares de pães que colocava em Lisboa no seguinte e ficou-lhe igualmente com o negócio, o Figueiredo foi ficando cada vez mais apertado de soluções mas também confiante, bonacheirão e sortudo,

- Não há azar rapaziada continuem a trabalhar que eu tomo conta de tudo, preocupações são comigo, o bom povo produz.

Era um mãos largas, passou a fumar charutos, trocou o Mercedes por um BMW verde porque a Graça achava ser a cor da esperança, com o passar dos anos tornou-se benemérito altruísta e benfeitor das festas da aldeia, do lar dos velhos, da paróquia, do grupo coral, financiou o teatro da junta de freguesia, sem que nada fizesse por isso a vida sorria-lhe tornando-o cada vez mais rico, berrava cada vez mais com os outros, exigia e dava, as palmadas no lombo deixavam desmanchado quem as levava, nunca fez um estudo de mercado, uma sondagem, uma planificação mas tornou-se um “case study”, qualquer dia é feito doutor “Honoris Causa” pela universidade, na aldeia todos se lhe dirigiam por um favor, um empréstimo, um emprego, uma bênção, ficou padrinho de metade da povoação, quanto mais prodigalizava mais os negócios lhe rendiam, colocou sinos na igreja e um relógio na torre de menagem, até que há coisa de um ano atrás começou a ser perseguido, a andarem-lhe no encalço sem jamais conseguirem acusá-lo de fuga ao fisco mas tendo-o chateado e

- E para que sou obrigado a carrinhas com ar condicionado se os queijos e as morcelas e o pão o dispensam ? Que raio não vou ganhando para o gasóleo quanto mais para as portagens, cona da mãe que ninguém me paga a horas mas p’ra vocês tem que ser tudo na data !

- Caralho, nem filhos tenho mas sou mais que pai da segurança social ! Fodam-se ! Chega ! Vão p’rá cona da tia trabalhem vocês !

E fechou de um dia para o outro todos os negócios, tudo que se movia e se mexia na aldeia e arredores.

- Agora agarrem-me pela pele dos tomates seus cabrões ou pensavam que eu trabalhava para vocês ? Agora aguentem esta malta, paguem-lhes subsídios e arranjem-lhes emprego se forem capazes !!  O que eu me rirei no dia em que tiverem que fechar as repartições e forem todos para o galheto !!

Nem chegou a mandar relvar o campo de futebol da aldeia, nem a pagar os novos equipamentos, o torneio de malha perdeu um benemérito, a orquestra da sociedade harmonia viu serem-lhe confiscados os instrumentos por falta de quem pagasse as prestações, os bombeiros ficaram com a planta do novo quartel nas mãos, as vacas sem ninguém que as ordenhasse foram vendidas por junto a um talhante de Beja, a Graça fechou a Pastelaria / Café / Restaurante Senhora da Graça para se dedicar ao marido doente, e se o vagar, os charutos, os amigos as amigas e os petiscos não tivessem acabado com ele o fisco ter-se-ia encarregado disso, é por tal razão que nem me admiro quando a Graça manda as mãos à cabeça e grita

- Quem acode a este país !!!!!! ???

A universidade deu mais um Honoris Causa, desta vez ao escultor João Cutileiro, o Obama acha que as famílias portuguesas são excepcionais, o Rui Costa é campeão do mundo mas nem sabe onde fica Portugal, um país onde uns vão bem outros vão mal …………..


THE END 

sábado, 5 de outubro de 2013

165 - ERA EM SINES, FOI ……....…….....

                   
            O que eu ri anos depois quando finalmente percebi a coisa. Intrigara-me deveras o domínio violento e forçado sobre elas e a sua cúmplice aceitação, sim, porque elas não os repeliam, puxava-nos para si, tanto mais quanto maior o descontrole que parecia possui-los, mas, os sorrisos manhosos da rapaziada sossegaram-me, eu seguia a manada, a rapaziada, os mais velhos.  
              
Enorme aparato amarelo-torrado ocupava a marginal. Um tripé encimado por sofisticado equipamento, vários carregadores e um senhor engenheiro, todos de capacete branco, travaram-me o percurso. A viagem era para sul e ali, ao local agora alvo de tanta atenção e burburinho, chegara eu sob pacata placidez a merecidas ferias no mar.

Já lá vão muitos anos bem sei, mas tal só torna mais belas as lembranças que guardei.

Escalámos o penhasco pelo lado norte, e, não tendo sido uma descoberta, ou o desbravar de um trilho, foi contudo a conquista, esforçada sublinhe-se, do rasto marcado por muitos antes de nós naquela íngreme encosta que teria, na idade em que a escalei, cem ou duzentos metros de altura, ou mais, embora hoje conceda que talvez menos, mas quem pode contraditar-me se dela fizeram tábua rasa ?

Chegado ao cimo, chegados ao cimo, pareceu-nos aquilo uma feira, carros, carrinhas, carroças e carretas amarelas por todo o lado, uma camioneta Mercedes amarela, daquelas que se faziam antes d’eu nascer, e num dos lados, em bela caligrafia inglesa e a desafiar todos os actuais padrões, “Instituto Nacional de Agrimensura”, pronto, pensei, vão dividir a falésia em talhões para venda a retalho como fizeram com a courela que o paizinho comprou nos Afonsos, mas quem quer vir morar aqui, no alto de uma falésia ventosa, desassossegada pelas gaivotas, n’um ermo sobre o mar batido p’lo vento e p’lo sal da maresia ?

Vários caminhos e veredas se cruzavam no cimo ou língua de terra que a falésia lançava sobre o mar, ervas ervinhas caniços e canaviais completavam a paisagem e atapetavam aquele descampado, sítio de passagens e varanda sobre o mar.

Chegados lá, chegado lá acima a primeira surpresa surgiu com as inglesas ou suecas lutando, esbracejando sorrindo e suando debaixo dos Adónis musculados de pele curtida pelo sol. Eu não percebia nem entendia a coisa, os meus amigos riam-se, riam-se com risinhos tímidos que escondiam nas mãos ou virando a cara, eu apalpava os bolsos no receio de perder os bonecos de plástico das colecções de Hanna Barbera e da Disney que saíam como prémio nos pauzinhos dos gelados e não entendia a cúmplice aceitação de quem repelia e puxava a si aqueles homens jovens, que as dominavam sem as dominar, abraçando-as sem as abraçar, tão absortos que nem davam por nós, ali a seus pés, mirando-os, numa curiosidade e fervor que só a ignorância explicaria.

Os meus olhos dardejavam um triângulo cujas tangentes tocavam a rapaziada, os casais das inglesas ou suecas, cujo vértice eu vincava quando um dos capacetes brancos, agrimensor, ou engenheiro, nos gritou:

- Ó rapaziada ! Fora daqui ! Desandando lá para longe vá !  Andando ! Andaço já !

Desandámos, até porque a equipa de amarelo puxava de instrumentos e fitas métricas que estendia de tripé a tripé em triângulos que eu há muito mais de trinta anos atrás também não entendia.

Mas, há menos tempo, no fim dos anos oitenta talvez, o aparato que ocupava a marginal tolhendo-me a viagem era outro, da mesma cor mas outro, mais para um amarelo vivo que torrado, gritando “Instituto Nacional de Geologia e Minas”, mais tripés, em cima de cada um deles um “Teodolito” e eu pensando quem irão eles bombardear e onde, pois já vira na carreira de tiro a afinação dos morteiros e dos canhões de artilharia com recurso àquele instrumento.

Todos eles de capacetes brancos, mas não atiravam granadas ou obuses, atiravam bocas, e um deles, gritando:

- Tantos metros
- Xis ângulos
- Recua
- Avança
- Só aqui por alto 322 mil toneladas a deslocar !

E os nomes nas tarjetas ao peito, como os militares, engenheiro Lacerda, Nicolau Moreira – topógrafo, ainda hoje lembro os seus nomes.

O primeiro mandando bocas e os segundos afadigando-se com os tripés numa dança de ângulos que anotavam em caderninhos igualmente amarelos, a geometria gradualmente tomando novas formas, como as lapas nas rochas da costa.

No alto da falésia que eu há tantos anos escalara outros engenheiros, outros topógrafos, de amarelo, que apesar de longe eu bem os via lá em cima, trocando por Walkie Talkies notas, bocas, ângulos, metros, avanços e recuos, com os quais agora me barravam o progresso da viagem para sul e guardavam em pequenos gravadores que dedilhavam nas mãos premindo botões, avanço, record, pausa, recuo, já não numa escrita, ou dança, antes numa oralidade trigonométrica que abarcava, deixando adivinhar, navios nos largos espaços que os triângulos abriam entre as mãos dos engenheiros, ansiosos de arregaçar as mangas e enfiá-las mar adentro.

Muitos anos depois era já eu que puxava, não repelia, eivado de um auto domínio cujas balizas controlava ou me esforçava por controlar mas sobretudo entendia, e, com um sorriso astuto, meditando me olhei enquanto subia às muralhas do castelo fixando das ameias a visão no ponto onde se pegavam céu e mar.

Baixei a mira e alcancei a praia que fora, não já a mesma mas outra, e, arrojando até onde a vista mo permitia não logrei ver a gigantesca encosta, mas vi em seu lugar os petroleiros pastando no mar calmo a que a falésia deu lugar, vi alteradas recordações e geometrias, recuei no tempo e muitas tendas de um enorme acampamento no interior do castelo, o toldo mesas e bancos corridos onde nos juntávamos às refeições, a bandeira da mocidade portuguesa, os deveres do bom Lusito, o posto da guarda no canto oposto, as torneiras dos lava pratos e os chuveiros improvisados, o Clemente e o Lourinho e outros, brincando com pedrinhas redondas trazidas de outra praia e que mais pareciam medronhos, rugosas como eles, como os ouriços que apanhávamos entre as rochas da praia do norte na maré vazia, espreitando as turistas no campo de nudismo, estrelas do mar, algas que se enrolavam aos pés, o cine-esplanada Paraíso lado a lado com o jardim aberto, pevides, gelados, pauzinhos com prémio, bonecos em plástico.

O camião fumegando todo o caminho, os mais enjoados vomitando sob o toldo e dos taipais para fora, o entardecer já sem sol, as mães esperando no Largo da Misericórdia e saudades de casa, que, ao fim de um mês já eram muitas…












terça-feira, 24 de setembro de 2013

164 - DE UM PONTO DE VISTA NÃO EXPECTAVEL …


Ela chegou sorridente e gargalhando com as chalaças das amigas, e, ou não me viu ou calculou mal a distancia e atirou-me com o ombro acima , foi com ele que me tirou do caminho, não com a mão, de pele macia e unhas tratadas que pousou em mim, talvez com a intenção de me desviar do seu rumo, mas não, a pancada em seco desferida pelo ombro provocou-me tal estremeção que por momentos me ofuscou o pensamento e as ideias se me baralharam
eu sentira o suave toque daquela mão quando ela em mim a pousou, confesso que sentir a sua pele macia cuja presença as unhas tratadas e de um vermelho vivo e forte mais acentuavam me impressionou, contudo o forte estremeção de pronto me dissipou devaneios e, antes que as ideias se me aconchegassem de novo no lugar, senti um pé intrometer-se barrando-me o movimento, uma perna encostando a mim, uma força forte sustendo-me o ímpeto
acalmei, e, uma vez aplacada a surpresa que o embate em mim provocara, admito já que para além da pancada, a visão de um ombro desnudado me conduziu a ideias libidinosas e cenários luxuriantes que não raro me atormentam, mas tornei a mim
todo o ego aprecia uma massagem, o meu não é polido convenientemente há demasiado tempo, mas não é ou não será o toque de uma mão agora, outra depois, que... casualmente, toques casuais sim, casuais e que nem ultrapassam momentos ocasionais, nada premeditados e muito menos gizados, quase os apelaria de fortuitos, porque breves, e na sua maioria involuntarios e depressa olvidados
concedo que os aprecio, mas nem os confundo sequer, um breve momento não deixa de ser um momento breve, e jamais encerrará os desígnios e os mistérios de uma acção concertada, intencional, pensada, desprovida do vazio do disparo de um reflexo condicionado, ou seja, prenhe de intenções e até, porque não, de segundas intenções, mas claro, porque de boas estará o inferno cheio, e, se pensarem bem, compreenderão que o aveludado do toque do pousar de uma mão, não deixará de causar impressão, certamente que sim, e maior ou menor, em mim causa, despoleta, o termo exacto talvez seja este, despoleta,
despoleta todo um turbilhão de pensamentos, dos mais aceitáveis aos mais pecaminosos e que vão da observação, os olhos também contam e comem, que vão da observação de um anel de idílico noivado, ou por vezes com pouco uso até, denunciando um casamento fresco, ou muito sofrido, como o será a vista de uma aliança duplamente trabalhada, celebrando bodas de ouro de cinquenta anos, ou inté de vinte e cinco que fosse, de prata, resultante da observação dizia eu de uma mão prenhe de anéis ou deles despida, de umas unhas curtas ou compridas, das que se cravam nas costas, das que rasgam, discretas ou acentuadamente pintadas, ou não, e, como quando se toma a mão há logo quem agarre o braço,  porque não pegar no resto...
é obvio que o toque de uma mão pode despoletar até uma guerra, sei lá, sei é que até por menos as terá havido, quer dizer não saberei ao certo, mas imagino, penso, lá dizia o poeta, “ o pior é pensar”, e por pensar no poeta e no seu Poema de Domingo* é aos domingos que costuma pousar em mim delicada mão de costureirinha
é diferente o toque dela, é diferente por a mesma mão que agarra, pega, segura, um lencinho que a avó lhe bordou, contou-me ela quando numas escadas se dá, aos domingos, porque é também aos domingos que experimento as mãos e o toque maternal de quem, passeando os filhinhos, me não deixa de agarrar, puxar, empurrar, numa necessidade urgente de não sei o quê, toques aflitos bem o sinto
mãos em mim mas os olhos nas crianças, e se bem que com vigor e firmeza me agarrem, segurem, nunca é um toque inteiro, completo, porque quem me agarra não está ali, tem a mente nas crianças, no perigo, no ambiente circundante, nos predadores, nos seus amores, nessas crianças, cujo toque também sinto, e que de mim se suspendem, a mim exigem, impelem, elas sim, com vida, e cada uma convida a cooperar
quer de manhã cedo quer ao fim de um longo dia, depois, bem…
depois vem a patroa que também me insta, me seduz, me segura com a mão num toque inconfundível que reconheço mal a sua mão em mim pousa, que me puxa a si com cuidado, como que com extrema ternura, e me encosta a perna primeiro e o joelho depois, me puxa sôfrega, que sabe ser eu pertença dela, que força a penetração, que é brusca, bruta, rude, violenta mesmo, sempre foi assim com ela, e, se à noite, esboça um sorriso de satisfação e roda a chave, de imediato…
pendura na ventosa da porta um letreiro “fechado”, empurra-me de novo uma vez e outra, como o Zé Henrique doentiamente costuma fazer, e só então, depois de certa e convencida de que estou fechada e bem fechada retira a chave e se afasta dançando e balançando sobre os seus sapatos vermelhos de salto de vinte centímetros
descanso por agora pois que amanhã cedo estará aqui abrindo-me de novo, será outro dia, igual, rotineiro, repetitivo, como o amor, os amores, os humores …
não passo de um puxador e uma porta que se julgam no direito de expressar pontos de vista não expectáveis para ti que me lês J :P  …
que achaste ? …

http://mentcapto.blogspot.pt/2013/02/137-poema-de-domingo.html


terça-feira, 17 de setembro de 2013

163 - VOLEURS DE COL BLANC .........


Curioso, apressei-me a desvendar o mistério,* retirei o cartão do meu telemóvel, inseri o cartão da saqueta, cliquei o meu PIN, não deu, cliquei um PIN inscrito a lápis na frente da saqueta e deu ON

E agora ? Tinha que haver ali um número qualquer, onde ? Comecei pela letra A, aliás a única com algo guardado na memória, Armando Noronha, Dr, assim mesmo, foi longe o Bicho pensei, e marquei

Atendeu-me uma voz simpática, de timbre jovem e sotaque muito muito levemente brasileiro

- Ligue-me ao Dr Bicho, Noronha Bicho por favor

- Alô ! Boa tarde ! Sou a Magda !  A esposa, ele não está, foi buscar meninos no colégio, vou tomar nota de número de seu celular e ele depois liga p’ra você tá ? Como é mesmo seu nome ? Tá ! Tudo certinho ! Anotei ! Beijinho ! Ele vai ligar p’ra você logo que chegar tá bem ?  Chao !

Merda, pensei. Maior agora o mistério

Passei o resto do dia trocando os cartões SIM mas do Bicho nem sinal, ainda tentei ligar o número dele através do meu telemóvel mas ou nem atendiam ou desligavam logo como se a chamada caísse

Finalmente, ao terceiro dia de tentativas houve um sinal, uma chamada caíra enquanto eu estava com o meu cartão inserido, liguei de volta e lá estava ele, a voz pausada, calma, parecendo mais predisposto a responder que a indagar, mais tarde percebi porquê, no momento apenas balbuciei um olá Bicho, sou o prof Baião, bons ouvidos te ouçam (logo eu que até ouço mal) fiquei curioso e...

E mais nada, atalhou-me sim sei, disse, gostava de vê-lo, de lhe agradecer, mas a vida tolhe-me, ando há anos para o contactar, o prof nunca vem a Lisboa ?  Eu gosto pouco de ir aí, o prof sabe, não deixei aí família, e se tivesse talvez fosse pior, isso aí não me deixou boas recordações, pago para não encontrar de frente certa gente …

Mas que me deves que mereça um agradecimento assim Bicho ? Fiz o meu papel, nem menos nem mais que a minha obrigação

Na altura saberá prof, guarde este número e contacte-me somente por ele, não atenderei outros números, se, e quando vier a Lisboa contacte-me com antecedência, se tiver problemas com o transito mandarei buscá-lo onde estiver, agora desculpe-me, tenho que desligar, chamam-me da urgência. Adeus, abraço

Adeus Bicho, és médico ? Adeus, um abraço

Já não me ouviu, será que é médico ? O mistério adensava-se cada vez mais

Dentro de um mês a minha Luisinha teria que deslocar-se a uma clínica na Reboleira afim de se submeter a uma cintigrafia, esse exame demora normalmente entre cinco a seis horas, aproveitaria para desvanecer o mistério do Dr Noronha Bicho

Assim fiz, e aproximada a data concertei com ele, vivia em Cascais, na Qtª da Marinha, deu-me as indicações necessárias, pediu-me solene e encarecidamente que destruísse e deitasse no lixo o cartão SIM utilizado, depois me facultaria um outro e, eu vesti a pele do Dr Watson ou a de Sherlok Holmes, já nem sei, e esperei que o momento chegasse

E chegou

Ainda que a cena se tenha passado há bem mais de uma boa meia dúzia de anos, tenho tudo bem presente no meu espírito, e a estupefacção ainda me não passou

Premi o botão à entrada da quinta e uma voz pediu-me que me colocasse bem em frente ao olho da câmara assinalada a vermelho por cima da campainha

- De acordo com a lei bla bla bla, será identificado visualmente e a sua imagem guardada durante cento e vinte dias, caso não dê o seu acordo apresentamos-lhe as nossas desculpas e solicitamos se afaste, obrigado

Coloquei-me em frente daquele olho de Big Brother, ouvi um clique de máquina fotográfica, e passado um minuto ou dois os portões abriram-se silenciosa e automaticamente

Entrei, percorri o lugar com o olhar, 550 a 650 à esquerda, segui as setas e facilmente dei com a vivenda dele, árvores, lugares de estacionamento, dois pisos, piscina, não vivia nada mal o Bicho, viver mal é ser prof pensei

Eu estava alerta, mirando e remirando tudo, não era medo, era curiosidade, à porta um Mercedes descapotável, cinza metalizado, ao lado um BMW escuro, pisando a relva um Jeep modesto e de modelo antiquado que nem saiu cá, e, bingo ! Nele uma chapa de matrícula com menos de seis meses, afinal eu não esquecera o que ensinara, os meus olhos e sentidos continuavam apurados

Vou poupar-vos a pormenores, porque isto não é o guião de uma novela, mas o Bicho não vivia luxuosamente, vivia principescamente

E não, respondeu-me que não era médico, calhou tê-lo apanhado com um dos meninos na urgência, fora operado a um bracito que partira, estava tudo a correr bem ! E sorriu ! 

Todas as suas competências eram informais, não tinha nenhum diploma, mas seguira o meu conselho e, afirmou, possuía bom olho e bom ouvido, era bom com as mãos, aprendia facilmente, e nas muitas prisões que percorrera angariara conhecimentos operacionais e aprendera truques básicos que nem nas “Novas Oportunidades” se adquiriam

Todos os seus conhecimentos eram informais, todavia tinham-lhe permitido adquirir as competências necessárias e exigidas, hoje cobrava e geria, partilhando informalmente esses saberes, e disporia, segundo a minha percepção, de uma vasta equipa que sem contemplações controlava de forma exigente, e sublinhou bem mais exigente que eu teria sido para com ele, seria mesmo perito em gestão de pessoal e empresarial deduzi eu… pois …

Serviu dois copos, perguntou se com gelo ou sem gelo, abotoou trinta vezes em meia hora os botões de punho em ouro, pareceu-me um indivíduo acossado ou sempre alerta, mas também seguro de si e prudente, talvez em demasia

Vi a Magda e os meninos quase de relance, vi riqueza, muita riqueza, abastança, luxo, meia dúzia de telemóveis de varias cores e baratuxos que nunca deixaram de tocar e ele nunca atendeu enquanto esteve comigo, vi um homem culto, bem falante, de linguagem correctíssima e rica, bons dentes, sorriso simpático, gravata de seda como só tive no dia em que casei, câmaras de segurança e alarmes por toda a casa, uma acolhedora e bem provida biblioteca, na mesa um pequeno projector de cinema e outro de slides, ainda lhe disse entre desculpas e gracejando se não andaria fugido, que não, que era cumpridor e cauteloso, prevenia, não remediava, e eu que por momentos o chegara a pensar médico ou diplomata… pois… mas em negócios sujos não o imaginava, sabia-o visceralmente contra a droga por exemplo, como o sabia um defensor profundo da não violência

Serviu os whiskies e agradeceu-me tudo quanto por ele fizera, e eu, com cinquenta anos ainda corei, elogiou-me como o melhor prof que tivera, lembrei a mãe, professora, e lhe morrera quando criança, de copo na mão alongou-se em argumentos que nem comentei, os professores estariam em Portugal beneficiando de consideração que nem mereciam, conhecera imensos, na generalidade convencidos mas ignorantes, sobretudo extremamente incultos, até que, reparando no meu retraido embaraço e enfado, bateu as palmas e hora de almoço !

Sentámo-nos num dos melhores restaurantes de Cascais “A Pastorinha “, que pensei fosse dele tal a solicitude com que nos acudiram desde a entrada, enquanto à mesa de garçons a gourmets a clientes passantes todos se lhe dirigiam com inusitada deferência, perguntei se era patrão daquela gente e tive como resposta um lacónico dirijo cerca de cinquenta homens por quem poria as mãos no lume, mas não estes, aqui são só amigos, alguns mais atenciosos que outros, uns devem-me grandes favores outros nem tanto, lembrei-me de Pedro Caldeira que penso era dali, à despedida bateu de novo e levemente as palmas e um chefe de mesa solícito trouxe um enorme embrulho ricamente decorado com fitas douradas e lacinhos vermelhos

Prof isto não paga a minha gratidão mas é uma lembrança desinteressada, colocou-me o braço sobre os ombros e conduziu-me à porta, despedimo-nos, um garçon colocou a prenda na mala do meu carro, acenei, ele acenou, não se esqueça do almoço entre nós cada vez que vier a Lisboa, abraço, abraço, arranquei, parei mil e quinhentos metros adiante curioso por saber com o que fora prendado

Duas enormes garrafas de whisky Chivas Regal 12 anos cujo preço na minha terra nem sabem, meia dúzia de copos em cristal debruados com filete de ouro, no Natal passado deixei cair um deles e estilhaçou-se em mil pedaços, aproveitou-se o filete dourado, vendi-o na ourivesaria por sair muito caro transforma-lo num fio ou em anéis que nem uso, graças a ele passei as ultimas férias em Palma de Maiorca e ainda trouxe dinheiro ...

Entrevi, ou adivinhei a sua vida. Não foi difícil, neste país, esforço e trabalho não garantem nadinha, por curiosidade e como distracção tenho tentado leituras sobre aventuras, furtos, como aprender a contornar a electrónica, tentei mesmo adquirir vídeos ou CD’s sobre golpes, assaltos, népia…

Tentem vocês e se conseguirem digam-me. A vidinha está ficando impossível de ser vivida

Apanhem-no se forem capazes
  

* Nota: esta crónica vem na sequência e dá terminação à história começada no texto nº 162, “ PETITS VOLEURS “ 




segunda-feira, 16 de setembro de 2013

162 - PETITS VOLEURS ........................


A carrinha celular parou frente ao café, um garboso e desempoeirado jovem saltou para o chão, endireitou-se, deu um toque na melena e avançou resoluto direito a mim

Paragem para a bica, pensei, afinal aqui costumam parar os paramédicos do VMER,  os polícias de giro, o guarda-nocturno

Só então o reconheci, tinha sido meu aluno nos idos da mudança de século, e dos bons. Sorri, ele retribuiu-me o sorriso, avançou a manápula, aquilo não era uma mão era mesmo uma manápula, e atirou:

- Era mesmo de si que andava à procura prof, já fizera por aqui caminho duas ou três vezes nessa esperança mas não tinha calhado, e como ando sempre à pressa

E para o que calhou retorqui-lhe eu entre espantado por vê-lo enfiado naquela farda, e surpreendido por ser procurado tão cedo e naquele local por um guarda prisional

- O prof lembra-se de um aluno chamado Noronha ?

Embatuquei, mas prontamente lhe redargui

- Filho, (sem do nome dele me lembrar) eu tive milhares de alunos filho, (e o filho dito mui enternecidamente afim de esconder a minha atrapalhação)

- Pois disseram-me que ele tinha sido aluno seu há uns bons anos, quando o prof ia à cadeia dar aulas

- Ah ! Bati com a mão na testa e recordei o Noronha, de apelido Bicho, ou alcunha, e isto há uns bons vinte anos atrás, ou bem mais

- Pois é prof, deve ser esse, porque eu só o conheço pelo nome que me indicaram, precisamente este,  Noronha

Visitou a cadeia velha no passado fim de semana para saber de si, não fui eu quem o atendeu, foi o sargento Peres, foi ele quem me incumbiu de o procurar pois na segunda feira entre os comentários do futebol, do fim de semana e de mulheres, veio à baila esse Noronha, e como eu disse saber onde o prof batia, fui nomeado para lhe fazer chegar às mãos esta pequena saqueta, foi-nos entregue por esse tal Noronha, ou Bicho, com o pedido expresso de lhe ser dito que lhe ligasse quando melhor lhe aprouvesse

E o meu grau de surpresa aumentou, e para onde devo ligar-lhe Damião ? (é que entretanto me acudira à memória o nome desse desempoeirado rapagão)

- Para aí mesmo prof, na saqueta está um cartão SIM de telemóvel pré pago e o prof deve ligar para aí, foi o recado que me encomendaram, fica dado, estou apertado de tempo pois já devia estar a carregar um preso para levar ao tribunal, fique bem, gostei de o ver, esse tal Noronha parece que lamentou não o ter visto

Aceitei a saqueta, um pequeno envelopezito com o logótipo laranja da operadora, achei tudo aquilo mais estranho que misterioso e guardei no bolso o citado

Recordei o Bicho, ou Noronha, não muito pequeno, espadaúdo, adorava andar em mangas de camisa, brancas, colarinho aberto, mesmo no inverno, mostrando os bíceps bem modelados

Ele e mais trinta e poucos cumpriam penas por pequenos delitos, na generalidade furtos, e todos eles, quase sem excepção, reincidentes

Não lidava com gente branda, diria até serem mais brutos que inteligentes, eu cumpria um período de voluntariado em substituição do padre Geraldes, (que por sua vez tinha sido meu prof) recentemente aposentado, tratava-se de um curso de formação de adultos pois a maior parte deles tinham somente a antiga quarta classe, ou nem isso

Era gente bruta a quem a sociedade nunca daria a mais pequena oportunidade, já nesses tempos se vivia uma crise com contornos idênticos à de hoje, não se ganhava para comer, e era-me difícil entender que a criminalidade e a violência se mantivessem controladas dentro de valores aceitáveis, como diziam as estatísticas oficiais

Verdade que também sou laxista nos limites desses valores, mas há por aí desde conservadores e revolucionários muitíssimo mais exigentes ou intolerantes que eu

O sentimento que me ficou após as primeiras horas com este heterogéneo grupelho foi a de que eu estaria ali para os distrair, e pareciam apostados em fazer-me crer que mais não conseguiria que isso

Também sou macaco, e, mal me apercebi, delineei estratégia e táctica apropriadas

- Pois é meus amigos, pelo que me apercebo vocês não estão aqui por roubarem, estão aqui por serem parvos, talvez parvos seja um eufemismo e deva dizer mesmo é brutos

Atirei a bocarra e calei-me, calaram-se quase de imediato, não esperavam o ataque nem esperariam tanta franqueza

Por breves segundos entreolharam-se, temi que um mais afoito recuperasse da surpresa e reagisse, e se reagisse mal poderia arrastar todos os outros e eu, no mínimo ser sovado, até que o alarido soasse aos guardas e estes acorressem em meu socorro, não antes de decorridos dez a quinze minutos, tempo mais que suficiente para eu levar uma surra memorável, e nem seria o primeiro caso ali 

Mas não, aquietaram-se bufando nas carteiras. A minha estratégia e risco tinham resultado. Com cautela avancei

Fiz-lhes sentir quanta a necessidade de formação e cultura, e, até para roubar, naqueles dias, (e nos dias de hoje ainda mais), ladrão ignorante jamais se safaria e arriscaria estar constantemente a bater com os costados onde estavam os deles. Não era futuro

Prestaram atenção, nesse dia e nos seguintes, nuns mais que noutros, mas prestaram

Falei-lhes da necessidade de saber ler, e ver, olhar, observar, na necessidade e vantagem de domínio do conhecimento, exemplifiquei, naquele dia com a electrónica, metade deles estavam ali por furto a residências ou viaturas e apanhados pelo troar dos alarmes, nem um alarme souberam desarmar

Ou seja, estavam ali por ignorância pura. Há que aprender, saber, falar bem, dominar o vocabulário, a técnica, adquirir formação, ler livros, ler Sherlock Holmes, Agatha Christie, Arsène Lupin,  Hayao Miyazaki, Maurice Leblanc, Alexandre Marius Jacob, Proudhon,  mas também sobre Marx, Engels, John Locke, David Hume, Tocqueville, Adam Smith, David Ricardo, Milton Friedman, Hayek, liberalismo, libertarismo, anarcocapitalismo mercados, concorrência, Estado, propriedade... Tudo coisas que lhes expliquei

Contei-lhes do bando de Ronald Biggs, da sua vida e aventurosa aventura, contei-lhes da preparação e do assalto ao comboio correio em Londres, corria 1963, levei-lhes, e passámos na sala de aula uma cassete com o filme dessa façanha, ensinei-lhes métodos de pesquisa e aprendizagem, métodos de observação, e desde aquele Outubro em que temi pela minha segurança até que em Julho nos despedimos, criámos amizade e laços de cumplicidade

 A alguns deles encontro por vezes, por aqui, pela cidade, a outros já nem recordo e nunca mais vi, o Noronha Bicho jamais me acudira ao espírito, até hoje ...


Nota : continuará num próximo texto, intitulado " VOLEURS  DE COL BLANC "