terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

DEITEI-ME PENSANDO EM TI ..................................


DEITEI-ME PENSANDO EM TI

deitei-me pensando em ti
acordei sonhando contigo
oh ! como neste momento queria ter-te
numa cama baixa
nem chão nem baldaquino
nós dois num frémito
a visão toldada
a razão perdida
beijando os teus olhos
mordendo-te os lábios
oh ! essas tuas coxas roliças contra as minhas,
abraçando-me
uma flor que se abre
um perfume no ar
uma vertigem escorregadia
quente 
palpitante
uma pulsão bramindo
espero
deslizo cortêsmente
sem perder a calma 
dando a alma
devagar
devagarinho
no quentinho
beijo-te e abraço-te feito doido
agora quero ja o que atrasava
devagarinho não
agoraaaaaaaaaaaaa
de modo ternamente violento
repentino
oh !!!!
o espasmo tão temido
oh !!!
tão querido agora
e tu tão querida 
querida
amor 
não te mexas
não tires ainda 
deixa estar
eu não fumo 
já falamos
ooooo hhhhhhhhh !!!

minha queridaaaaaaaaaaa


domingo, 16 de fevereiro de 2014

... PAI


Nunca tive pai a quem chorar
Ainda assim, lembro-te quedo e mudo
E revejo-te, surdo a tudo e todos
Sonhando com o Kruger, e a Gorongosa
E como sempre, por opção tua, alheio ao mundo

Sonhaste mundos para alem do Bojador
Cafezais, horizontes, carabinas, elefantes
Espaços sem fim, liberdades, zagalotes
E depois, quebrou-se-te a hesitação, naquele dia *
Naquele dia em que tu, um clandestino, deste pinotes

Nunca falaste comigo, que me lembre
E inda assim recordo-te a postura recta 
O caminho que me traçavas numa uma estrada dura
E as balizas que, indiferente a todas e quaisquer urdiduras
Me forçavas a percorrer e respeitar à força como se fosse gente

Mas jamais coube no espaço convocado
Pois mais que vigiado eu esperava ser amado
Cerceado, logo algo em mim a compita  despertava 
Até que um dia, irado, desvairado, abri a porta do redil
E frustrado por acidente tornei, pródiga chama embargada

Retomei a mesma espiralada vida
Sempre urgente, acelerada, vívida
Em bonançoso turbilhão crestada
Sempre em busca do amor, ou de nada
Sempre sem uma estrela, sempre sem ti
  
C’os anos vi-te aceitar a ilusão e a descrença
Abraçaste, ciente de ti, relha e senil misantropia
Isolado, de tudo e de todos, descrente, perdido,
E encontrado, mas será justo dizer apaziguado ?
Intuíste em ti que nada havia a cumprir neste reino mal fadado

No fundo tolerámo-nos, conhecemo-nos
Conhecemos ? Nem sei se será lícito tal firmar
Passaste invisível p’la minha vida como eu p’la tua
Que pena, como quando procuramos incerto amor na rua
Porque foi, foi pena, negámo-nos o que nosso era por direito

Afirmámo-nos, assumimo-nos, p’la negativa
Um contra o outro nos assumimos e fortalecemos
Solidamente, c’os anos e pela negação fundámos o carácter
Chamámos-lhe personalidade, princípios, justeza, rectidão
Todavia, cruel verdade, é jamais auditar-se o que perdemos …



* 25 A

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

177 - REDUNDÂNCIAS ................................................


               

Há uns vinte anos atrás ou talvez mais, o Hilário e eu conversávamos encostados a uma janela de um quarto do hospital, pejado de visitas a uma tia minha e sogra dele.

Bendizia-me o sossego do país, do meio rural impoluto, da segurança, do clima e do ambiente, factores de que o Alentejo seria o expoente máximo e razão de sobra para que tivesse abandonado a capital e aqui vindo parar, aqui onde e em boa hora conhecera a Ernestina, minha prima.

Eu contrapunha que a imobilidade e o atraso não eram solução, que teríamos que optar por uma terceira opção que seria o crescimento responsável sem demagogias, sustentável, mas não o convenci e desde aí que o nosso relacionamento só piorou, como se eu fosse ou tivesse sido culpado da ameaça desenvolvimentista que pairava sobre o país e o Alentejo, ainda que o tempo viesse a contemplá-lo no seu desejo de imobilidade sacra e, infelizmente para todos, a dar-me razão.

A filha, uma jovem formosa e bem formada, embarcou ontem na Portela rumo a Londres, em cuja periferia um modelar centro hospitalar a espera. A ela e a mais uma dúzia que com ela fizeram o curso de enfermagem...

Quando as coisas não são para todos acabam por não ser para nenhuns, e o sossego do país e da região chegarão e sobrarão para os poucos que por aqui ficarem... Todavia ao longo dos últimos quarenta anos conheceu exponencial projecção ou aceleração a divulgação promoção e realização de eventos variados ligados a todo o tipo de temáticas.

Ele são os encontros, os workshops, os seminários, os congressos, as feirinhas e festivais, os manifestos e assembléias, as cooperações “em rede” ou simultâneamente em rede e online, as exposições, os lançamentos a as apresentações, as iniciativas de empreendedorismos, os empreendedores, a própria iniciativa e as celebrações, festivais, jornadas, mostras e encontros, protocolos e lançamentos, oficinas e balanços, open days inaugurações e evocações, ao ponto de um velho amigo meu com responsabilidades editoriais me ter confessado uma vez ser completamente impossível, por escassez de meios, cobrir tão prolifica situação, ao que eu respondi se a memória me não falha qualquer coisa como “impossível e inútil.”

Na realidade penso que passados mais de dez anos sobre o diálogo que citei e fazendo um balanço empírico das coisas, continuo a não lhes encontrar hoje, como já não lhes encontrava então, fundamento justificativo, a não ser que a teimosia e a cegueira, ou as duas aliadas, façam parte desses critérios por parte de quem os desenvolve (aos acontecimentos, aos eventos), não esqueçamos que algumas dessas iniciativas vão já na sua décima ou vigésima edição !

Fazer um balanço implicaria a criação de mecanismos que permitissem aferir com alguma eficácia, no mínimo, o resultado de tais eventos, dos quais o objectivo económico anda tantas vezes arredado quantas mais é invocado ou apregoado. Se o cariz é económico e a coisa simplesmente não rende, mais ninguém deveria apostar nela pelo que o prejuízo ficar-se-ia pela primeira edição. Mas não, não é isso que acontece.

Nem ao menos nos contentamos com a sua edição e o consequente fecho no caso de não terem tido o sucesso ou retorno esperado para o valor do investimento, ou nos ficamos singularmente p’lo desenvolvimento de somente algumas edições que contudo tenham deixado pouco ou nenhum motivo de regozijo para nova repetição, ao invés disso assistimos a uma aposta e repetição cega e continuada como se o custo e o resultado fossem indiferentes aos seus promotores, eu diria então que das duas uma…

- Ou se trata de teimosos masoquistas, ou de altruístas queimando o dinheiro em prol dos poucos que usufruam da coisa, ou…

- Trabalham para aquecer ou com fundos aparentemente inesgotáveis, isto é com o dinheiro dos outros, sem que contas algumas tenham que dar ou a quem…

Importaria avaliar o resultado do desempenho de cada iniciativa, pois assim sendo haveria um motivo, conhecido, transparente, claro e evidente, inquestionável, para a reiterada continuação nessas apostas, evitando que a sua inexplicável repetição despoletasse interrogações como esta, quiçá até mesmo eivadas de demagogia, pois se as ditas ou as mesmas iniciativas pretendem inserir-se ou inserir as regiões em que se inscrevem na senda do desenvolvimento, sempre “sustentado”, de primeira ordem e da melhor estirpe, confunde-me que o desemprego aumente e o PIB desça substancialmente tanto mais quanto maior a aposta no sentido contrário, no caso nessas ditosas iniciativas.

Será bruxaria ou algo me escapa ?

A memória das gentes é curta, é sabido, e uma mentira muitas vezes repetida e malhada toma contornos de veracidade, sabêmo-lo, mas os que sabem uma coisa e a outra não são os outros, são os mesmos e que o saibam e em simultâneo a torneiem ainda menos os desculpará.

São estas contradições que me preocupam, e a menos que algo me escape não encontro justificação racional para elas, apesar das muitas noites de insónia e meditação a que me entrego, porque se me preocupa deveras o estado a que o país chegou, logicamente preocupar-me-à ainda mais o estado comatoso e deprimente da região em que me insiro, este nosso Alentejo, mau grado o ar pobrete mas alegrete com que efusivamente, ano após ano, se repetem as iniciativas que acabei de citar e tudo isto enquanto caminhamos para o abismo.

Serei o único a ver a coisa tão negra ?

Esta caminhada cega p'ro cadafalso ? 

Confesso por vezes me rio da coisa, porventura já vendemos mais canários ? 

Ou mais vestidos de chita ? 

Ou comemos mais açordas ? 

Mais bolotas ? Ou sopinhas ? 

Ou revolucionámos a exportação de ervas aromáticas ?  

Claro que tudo isto não passa de meros e insignificantes exemplos que poderíamos repetir até à exaustão, e, mesmo que nos façam rir não são sinónimo de anedota, antes de fundadas interrogações e tristezas.

Mas é uma verdade inquestionável que todos que por aqui vivemos temos a responsabilidade de dar uma ajudinha na recuperação disto, pois se até já a demos para que fosse ao fundo… Ou pensam que estamos onde estamos ou que chegámos onde chegámos por culpa exclusiva dos outros ?

Será caso para dizer que quanto mais força fazemos mais andamos para trás ? O que estará mal ? Sermos inconsequentes e irresponsaveis naturalmente ....





domingo, 9 de fevereiro de 2014

176 - PAPA AGULHAS O TIO BUFARINHEIRO … *



Se deitado, ficava tempo sem fim olhando os caniços do tecto, lá fora o sol abrasando as telhas infiltrava-se soezmente por entre elas dando ao quarto e à minha sesta uma aura fantasmagórica. Somente as osgas trepando as paredes do rústico quarto me desassossegavam, ficava magicando, olhando a sua transparência luminosa até adormecer vencido pelo cansaço, envolvido na frescura em que essa semi obscuridade me embalava.

Entre as duas e as quatro ou cinco da tarde o verão era impossível e nas ruas crestadas do vilarejo nem uma mosca bulia no chão por empedrar, vermelho e barrento, onde o calor imprimia rotinas que se perpetuavam, eternas. A tia Aia ficara a única solteira das treze irmãs de minha mãe e, sem filhos, recebia à vez e a cada quinze dias daqueles longos verões os sobrinhos e sobrinhas que se dispusessem a partilhar-lhe a melancolia de metade da alma, porque a outra a havia juramentado e entregue a um bufarinheiro sem eira nem beira que arrastava a existência pelos lugarejos da margem direita da Guadiana.

Linhas, agulhas, colchetes, dedais e tesouras, botões, elásticos, nastros, pentes, travessas, cuecas, sutiãs, peúgas, peças de chita, bombazina e saragoça, ardósias, lápis de cor e cadernos, brinquedos de madeira e lata, bonés e chapéus de palha, louça de esmalte e em barro, fruta da época, e movia-se de terra em terra mercadejando, mil bugigangas. Tudo esse bufarinheiro feito meu tio, de alcunha o “papa agulhas” como era por aquelas bandas chamado, apregoava e vendia. Lembro-o bem. Alto, magro e espadaúdo, um bigodão farfalhudo, umas mãos enormes, sorriso ingénuo e sincero, olhos inocentes de menino, e uns joelhos altíssimos que balançavam como chata na corrente da ribeira e onde eu mal podia me escarranchava.

Sentia-o sair de casa ainda o sol nem despontava pois ouvia o chiar da carroça e as ferraduras da mula no cimento do quintal enquanto a aparelhava. Uma ou outra vez acenei-lhes à partida, os raios de sol tocando-me o rosto rompiam luzindo no horizonte e arrastavam os laivos da noite que se escoavam em cada matina agarrando a manhã. A tia Aia já se não deitava, cirandava por ali nas lides da casa, ligava a galena porque às seis em ponto havia que sintonizar as ondas castelhanas e viver o drama da vida de “Pedro Páramo” que a Rádio Nacional de Espanha difundia para lá da Guadiana e fazia furor cativando ouvintes dos dois lados da fronteira.

Quando me levantava já o café borbulhava na cafeteira de barro cujo cheiro se misturava com o dos madeiros respingando pelos nós dos toros, sacrificados ao lume de chão que os pingos das linguiças e morcelas penduradas na lareira avivavam. Lareira mesa galena, a tia Aia triangulava flutuando sem ruído pela casa que acordava muito antes do alvorecer dando tempo ao bufarinheiro de se pôr a milhas sem que o sol da manhã o escaldasse.

Um chapéu preto de abas largas emoldurava-lhe um rosto tisnado, a lentidão de movimentos e uma expressão calma acentuavam ainda mais essas particularidades tão suas e que eu admirava sobretudo quando, pelas sete da tarde me deixava pegar nas arreatas da mula e conduzi-la, a pé, ao bebedouro onde ela, qual camelo, se precavia até ao dia seguinte enquanto ele lhe assobiava a mesma e eterna ladainha que inda hoje lembro tão bem e cujas notas ele repetia incansavelmente terminando-a somente quando “Linda” erguesse o pescoço e sacudisse o rabo e as moscas. Na volta esperava-a um petisco de forragem favas e alfarrobas cuja mistura depressa eu aprendi a dosear. Era entre a Linda e os mimos do tio “papa agulhas” e da tia Aia que a minha vida decorria, eu, o “meu menino” como ela me chamava, lembro-a de olhos vivos sorrindo para mim e carregando na expressão como se no receio de que eu não entendesse ser o “seu menino”.

Dele jamais esquecerei a calma contagiosa e o sorriso meigo que nunca mais vi igual num adulto, nem as mãos calosas que pegavam em mim e de um balanço só me punham no dorso da Linda, ou sobre os seus joelhos vogando nas ondas dos mares encapelados por onde na brincadeira me fazia singrar quando não era cavalgando um garanhão andaluz e fazendo-me passar as passinhas do “Al garbe” comigo desfeito em sonoras gargalhadas.

Ambos tiveram cota parte importante nas recordações felizes que guardo da minha infância, até de quando regavam com amor de pais a terra vermelha em que me dispunha a brincar para que pudesse abrir estradinhas na volúvel poeira barrenta que grassa naquelas bandas e onde, à sombra dos altos muros de terra batida tantas tardes me entretive brincando. Foram desvelos que deixaram marca, acredito que muita da calma que anima o meu carácter e do amor que me enforma a personalidade lhes são devidos e a verdade é que jamais encontrei vida fora a tranquilidade desse lugar nem a bondade desinteressada com que por eles fui brindado. É certo que a infância, como a mocidade ou a Primavera, vão uma vez e não voltam mais e, só muitos anos mais tarde a companheira de uma vida me marcou como esses tios hoje ternamente lembrados.

Lembro especialmente uma tarde de catequese meses depois dessas férias em que, confrontado com os ensinamentos de Deus, me punha a imaginá-lo no céu, sentado no trono, rodeado pelo Filho e pelo Espírito Santo, e acreditem, ainda hoje estou convencido que a existir Deus terá um olhar inocente de menino o sorriso ingénuo e sincero e as mãos grandes e calosas como esse meu tio bufarinheiro, o meu tio “papa agulhas”.

Deus lhe tenha a alma em conta.

           

* O lugarejo a que aludo nesta história é a aldeia de Outeiro, a 15 km da cidade de Reguengos de Monsaraz e a 6 ou 7 da vila de Monsaraz. Pintura, Monsaraz por Marcelino Bravo - Évora. 



domingo, 19 de janeiro de 2014

175 - AH !!! AQUELE BEIJO !!!! ............................

Anna-Rocheta *

AH !!! AQUELE BEIJO !!!! 

Ah ! aquele beijo !!

aquele grande beijo !!!!!
com que me mortifico e te sonho
em que te mordo os lábios 
sugo a língua
uma mão apertando a bochecha da tua coxa
forçando-te a virilha que abrasa 
os dedos sumindo-se subtis nas rendas de filigrana
ao longe o rumor da tempestade
dedos que abrem pétalas
e na mesa o odor do néctar melado 
geléia liquefeita no apetite do manjar
um turbilhão apossando-se de mim
e nem sei como as tuas pernas nos meus ombros
bem me quer mal me quer bem me quer
fixo-te o verde dos prados, cor da esperança
o sorriso tinto de sangue
enquanto me aposso de ti
como um tornado 
agora !!!!
e então.......
estrelas cadentes........
liríadas ...
e num milagroso instante percorre-nos um raio !!
a turquez das tuas pernas brancas na minha cintura
prendendo-me
arrastando-me
quebrando-me
possuindo-me e ..........
oh !! tu !! nereida !!!!!!
os dentes rangendo
simmmmmmmmmmmmmmmm
simmmmmmmmm
simmmmm
depois da tempestade a bonança
puxo de um cigarro
conversa que perece de horas

finalmente 
o sono dos justos.

* Pintura vista em Monsaraz - Galeria igrj de Santiago – Exposição - Anna-Rocheta - Nós.