quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

297 - ESPÍRITOS PAUPÉRRIMOS ..............................


A agência espacial americana NASA sabe muito bem o que quer, sabe não somente o que quer como sabe para onde vai, terraformar Marte, colonizar Marte, e toda a gente conhece o desígnio e se mobiliza em seu torno. São milhares de empresas e milhões de empregos. Em Portugal ninguém sabe nada, há décadas que ninguém sabe nada de nada, sabemos apenas estarmos algemados pela irresponsabilidade e pela incompetência, sabemos que quanto mais grunho mais burro e oportunista mais longe irá na vida, sabemos que tivemos e temos ao leme um marinheiro que nunca viu uma carta de marear e que entre os tripulantes todos eles foram arregimentados à saída das tascas, tasquinhas, tasqueiros e chiqueiros, lugares de eleição para arrebanhar tripulações para esta nau.  

À parte os mais loucos e as piores tabernas, e as algemas que nos peiam como grilhetas, estamos condicionados pelo voluntarismo de tanta IPSS, animados pelo carisma das Jonets e embalados pelo iluminismo de milhares que festejam diária semanal ou mensalmente a solidariedade caseira, as dádivas, as sobras, as sopinhas dos pobres, as roupitas usaditas, as esmolinhas anunciadas. Muitos municípios, que deviam no meio do caos ser o ponto de referência, a âncora, entregaram-se de corpo e alma a distribuir cabazes de natal aos pobrezinhos, e estafam o dinheirinho em livrinhos e caderninhos para os mais necessitadinhos, que nunca se acabam nem acabarão mau grado tanta ajudinha, tanto voluntarismo, tanto iluminismo, tanto carismático guiando-lhes os passinhos de passarinhos, incapazes de se assumirem como os culpados do despovoamento, do desemprego, da miséria e da pobreza que espalham ou da dignidade que coarctam, sem ao menos uma ideia em que invistam e os tire do marasmo e resgate ao eterno ciclo de empobrecimento. Atender só os amigos e apaniguados foi no que deu, agora não hã pão para nenhuns. 

É uma dor de alma ver tanto miserabilismo de ideias e ideais, de espírito, de práticas, de visões. O máximo que tanta gente bem-intencionada conseguiu fazer por este país foi nada, nada de nada, está à vista o resultado da soma de tantas boas intenções, nada mais que grandes barrigas e maiores fortunas, no que parece estar encontrado e concentrado o desígnio do país, um desígnio há muito repudiado por outras nações mas que faz o pleno e o gáudio do Portugal dos pequeninos. Estamos entregues aos bichos. Decididamente Portugal está sucumbindo àquilo que se entendeu designar-se por “superiores interesses do país“. 

Quanto tempo irá durar ainda a cowboyada ninguém saberá, com todos fingindo que nada se passa e, a barlavento um cata-vento preparando-se para substituir o boca de favas, um marialva que cursou economia sem nunca ter lido Adam Smith e se entreteve lendo as pagelas da Virgem Maria. Quanto tempo ainda até que os trinta anos que nos separavam do “purgesso” se transformem em quarenta, cinquenta, sessenta, enfim numa muralha da China mas já sem ninguém cá dentro ? Ou, como em 1926, rezamos por um advento ? Ou rezamos para que alguém tenha uma epifania ? Não riam, pois o momento assim parece, a história repete-se, a história repete o momento, a democracia em cacos, arrastada p’las ruas, os democratas gordos e os burocratas sólidos nos seus postos e nas suas certezas tanto mais quanto mais incapazes de resgatarem da lama para que a atiraram esta democracia de papel. Duvidas ? Pergunta ao desgraçado que depois de três dias à espera morreu em S. José... Por cá a vida ainda não é um direito adquirido...


Uma democracia de papel onde a vacuidade impera, a incompetência governa, a irresponsabilidade subindo, escalando, pisando, mandando, quanto tempo mais até que alguém dê um murro na mesa e ponha fim aos debates estéreis de um parlamento vendido ? Para quando um novo esclarecido tomando conta disto, conduzindo isto, não para Marte nem Saturno ou Plutão mas na senda do bom senso, da rectidão, devolvendo este cantinho à beira mar plantado à originalidade, ao virtuosismo, à criação, à criatividade, à imaginação, para que, como em Maio de 68, nos surpreendamos com “la plage en dessous de la chaussée” (a praia por baixo da calçada). Irmãos, 68 – 2016, já acumulámos quase cinquenta anos de atraso, o mundo gira, o mundo é lá fora e nós, cá dentro, de lamento em lamento, confundimos o dia com a noite, a sombra com a luz, o avançar e o recuar, tanto que nem sabemos ou nos esquecemos de exigir um homem novo, um homem probo, um homem do povo e não um marciano ou um selenita como os que nos têm calhado em cada rifita.

É urgente que a gente aguente e, antes que todos ou tudo se vá pela Ryanair ou pela EasyJet, se descubra quem de entre os dementes tenha tomates para agarrar a trela do trenó desgovernado que nos atropela, cilindra e trucida, numa gesta infinda em que quem faz o mal faz a caramunha e se acha normal a desfaçatez que a história regista e acumula.

Como diz o poeta* em relação a tanta miséria,

Venha a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que em mim resta;
e eu fique rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas serras;
Venha a ânsia do peito para os braços !

e  a lucidez me guie neste mar de sargaços, neste país em pedaços, neste atoleiro de faceiros que transformou em bode expiatório* quem, em tempos o tirou do lameiro. Que esse ser maquiavélico*, esse ser infernal esse mal sem igual volte a conduzir-nos, a meter-nos nos eixos, a encarreirar-nos de novo na linha porque, meus amigos, é de todos sabido que sem um pé no pescoço jamais entenderemos o que faz bem ou faz mal, o que fazer ou pensar, o que dizer ou jurar. A inconstância em nós é como a incontinência num velho, e desse velho astuto*, sempre de má-fé, oportunista, pérfido, ardiloso e velhaco disseram cobras e lagartos, e muito mais que por pudor eu calo, nele desfizeram, sobre ele tripudiaram, sem jamais o conseguir igualar, sequer aparentar, ou no mínimo imitar.

Ele* foi bera, foi fera, foi ruim, pois sim, mas tendo sido tal, é demais afinal que não se consiga fazer ao menos igual, ou melhor que esse animal, é imperdoável, é vergonhoso que o invejoso diga do tinhoso não ter ele igual.

Por isso o que eu espero neste Natal e no próximo, é que algum animal de bota marcial e tacão pesado agarre nesta merda e nos ponha a pensar que caminho afinal temos andado a trilhar. Não merecemos mais.

 Isto assim não pode ser, é muita gente a roubar e mui poucos a pagar, é muita gente a mandar e bem poucos a obedecer, nunca como hoje se sentiu a falta de uma ordem corporativista, ou estalinista, escolhei vós, uma ordem nova que separe o trigo do joio e de uma vez por todas encoste alguns à parede para que os poucos que restam e inda não se piraram possam respirar em paz e aspirar a serem algo, ou alguém que não Zé Ninguém, sem vintém, como o miserabilismo vigente elege diária e intensamente, e que em vez dessa gentinha que no parlamento e à vez exibe estupidez e vaidade, codilhando-nos o porvir, se abra de vez o caminho a alguém sapiente, inteligente. 
Exija-se um ditador que por amor nos proteja de tanta democracia e de nós mesmos, que nos salve de tanto democrata de intenção vazia, de tanta besta quadrada que por aí circula enfeitada e desta vã liberdade por tanta gente apregoada que aos poucos nos vai matando de vera morte matada.

Só mesmo quem ande dormindo poderá não admitir que esta democracia ingrata aos poucos nos mata, pois mate-se ela num instante e, no seguinte, se aceite alguém bem pensante e com tomates para agir no tanto que está por fazer ao fim de quarenta anos, em que brincámos às criancinhas e regredimos umas coisinhas, nas nossas tão caras liberdadezinhas. 

Acabe-se de uma vez por todas com as Jonets e coiso e tal, com as sopinhas no Natal e a caridadezinha a pataco, eleja-se a dignidade, a humildade e o mérito e, se preciso for a tiro, não queiramos assim viver nem aceitemos o pretérito. Então, se assim não for direi que;

Virá a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que em mim resta;
e eu ficarei rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas serras:
E virá a ânsia do peito para os braços !

Eu lutarei…..
  
             BOM NATAL

*  António de Oliveira Salazar
** Manuel da Fonseca – Poema “Domingo”

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

296 - PINTINHA MIUDINHA * ....................................

  

Era uma pintinha muito miudinha muito pequenina junto ao dedinho pikinino, mindinho, do seu pezinho bonitinho, formosinho e engraçadinho que eu segurava nas mãos. Comovido ou enternecido ante tal visão, ou melhor, ante tal aparição, ao ver a pintinha pequenina, miudinha no dedinho engraçadinho não me contive, ergui os braços, uma mão deslizando pela barriguinha da perna, a outra segurando o pezinho formosinho, que levei à boca e onde, com carinho, depositei um beijinho. Não passou dum jinho pequerruchinho, um carinho, depositado inocentemente e devagarinho com ternura e doçura naquele lindo pezinho.


É noite de sexta ou sábado, é uma noite fatal, é noite de fim-de-semana, daquelas em que se bebe ou uma ou outra coisinha e depois…. coiso e tal etc. e tal e coiso… a gente por vezes nem sabe como acaba, ou se acabará em festival, outras nem imagina como tal começará, mas é fatal que comece, depois….

O tempo dirá…

Geralmente um abracinho apertadinho marca o começo e tal e coiso, e depois… se coladinhos, o comboio desata a apitar não parando mais… e nem três vezes, por vezes, chega ele a apitar…

Mas sabeis, não é bem no dedinho mindinho que ela tem o tal sinalzinho, pequenino, pequenino, miudinho, engraçadinho, é lá pertinho, mas já no dedinho ao lado, também ele bonitinho, formosinho, engraçadinho, pequenino, e claro, naquele mesmo pezinho.

É bom esclarecer estas coisas, porque ao principio enganava-me e pressuroso descalçava o sapatinho que não era, e depois, atencioso, subia-lhe aos beijinhos pela alva perna acima, ao joelhinho, à coxa rija, chegando à derivação, onde nem sinal nem proibição, para depois e só depois, de mansinho, recomeçar, descendo devagarinho p’la outra perninha abaixo enquanto ela, aos risinhos, libertava coceguinhas junto com as risadinhas e c’o pezinho descalço, descalçava o outro pezinho atirando o sapatinho lá p’ra longe, coitadinho, talvez p’ra que eu não parasse e descesse ternurento até esse pezinho certo e sinalinho redentor, onde finalmente e já exausto depositava com fervor o ultimo beijinho de um cento.

Sim sim era mesmo assim, quer fizesse chuva ou vento, ou o sol a barlavento, eram aos centos, aos milhares os beijinhos ternurentos que o sinalzinho pedia mal o sapatinho saltasse e de cada vez que eu o via. Era o princípio de tudo, era o meio e o fim do mundo e era até o Xanax de quando ali chegava iracundo, irado c’o reino animal ou então a pisar mal.

- Pisar mal !!! Ahahahahahah !

Riu-se ela a rodos quando entre dois grandes fogos lhe expliquei significar; assentar o pé no chão numas botitas ajustadas mas sem as unhas aparadas, experimentem e logo verão, caminhar manco, aleijado, como se vós mesmos ao andar tivésseis um grão no sapato.

E foi ela, atenta e bondosa quem aparou as unhacas e me devolveu o garbo. Voltei a andar direito, com natural naturalidade, como se das costas sofridas me retirassem um fardo e, ao invés de um gavião, tornei a ser o Baião, mimoso, doce, simpático, carinhoso e tal e qual me conheceis pelo menos há meio século. Um estojo de unhas faz milagres e dá jeito, oh se dá ! Aproveitem o Natal e comprai um meus alarves.

Depois foi uma beleza, jamais se sentiu minha presa ou me julgou caçador, jamais malha levantada ou um meia rasgada e, para ser mais minucioso, jamais teve alguma vez as canelas arranhadas.  


O sinalzinho pequenino junto ao dedinho mindinho do pezinho bonitinho, formosinho e engraçadinho era o mote, fosse motivo ou desculpa para qualquer cena maluca que nos deixasse coladinhos. Éramos uns desgraçadinhos, sempre sempre aflitinhos, sempre sempre agarradinhos, sempre ora ponha aqui o seu pezinho, sempre o tapete sobre a poça não fosse ela distraída, molhar o lindo sapatinho. Sim é verdade inda recordo, sim é verdade, inda hoje o é, fosse desculpa ou motivo o sinalzinho era o mote para sentarmos na garupa e abalar a galope montados num cavalinho.

Fosse Rocinante ou Bucéfalo, fosse Silver ou Diablo a verdade verdadinha era que uma vez montados, eram nuvens eram sóis, eram estrelas e cometas, eram bebés e chupetas, e à terra só tornava-mos quando muito devagar, mesmo mui devagarinho, com muito muito jeitinho, não fosse eu por distracção, ou desmazelo, pisar-lhe um dia o dedinho, pequenino, mindinho, bonitinho, formosinho e engraçadinho, descendo a cama ensonado, exausto ou aparvalhado após tanta correria em que os cavalos cansados nos traziam de mansinho de volta à terra do nunca, onde entre suspiros e ais fumávamos uns cigarrinhos muito bem enroladinhos com dois dedais de conversa. De conversa vice-versa, ou versa-vice, se acontecia partir com festas e arraiais a que só dávamos fim antes que a cama se partisse.

Foram tempos de ventura, inda são tempos de fartura, e aquele mesmo sinalzinho pequenino junto ao dedinho mindinho do pezinho bonitinho, formosinho e engraçadinho, continua, com carinho, desafiando de fininho a repetir os miminhos que derretidos, coladinhos, trocávamos escondidinhos nos dias de sol quentinho ou de vero friozinho p’ra aquecer o ambiente e tornar a cama quente que é Natal minha gente !!!!

* Nota importante: porque o raio da pintinha e do pézinho bonitinho tem levantado alguma celeuma, se não polémica, e dúvidas, e perguntas, informo todos os leitores, e leitoras que embora a foto não corresponda, o sinalzinho referido pertence ao pézinho da minha Luisinha, minha querida e dedicada esposa. Fica feito o registo.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

295 - DUPLOS X 2, À TERCEIRA FOI DE VEZ ...

                                               Devaneios - José da Fonseca


Fikai vossas excelências sabendo que à terceira foi de vez, é kisto da vida não é dia sim dia não, nem a exposição ! Realmente quando menos esperamos espera-nos uma surpresa e isso é meio caminho andado para esfakearmos a rotina que, no fundo é precisamente o que buscamos matar sempre que decidimos ver uma kualquer exposição.

                                                            Rabiscos

A koisa começara mal, pk nas duas anteriores vezes que ali me dirigira dera com o nariz na porta a horas perfeitamente normais para estar desentupido e eu, enfim, sentava-me na esplanada do ArtCafé pontapeando as ideias negativas com o mesmo vigor que pontapearia a fauna ecléctica e absurda que a habita e me olhava de soslaio o vinco das calças, o nó da gravata, o risco e o aprumo do penteado e, quando o ânimo me passava atirava umas moedas para a mesa, sorria a todos com uma enorme vontade de lhes oferecer rol-on do que gosto, pois como toda a gente sabe só esse é ké bom, e desandava, ter deixado o carro mal estacionado estava a apoquentar-me. 


                                                             Amanhã

Hoje não, hoje tive sorte porque o sol brilhava, eu levava a mota, ocupara abusiva e ostensivamente o largo passeio, e ainda que tivesse voltado a dar com o nariz de novo na porta tirei-me de kuidados e interroguei a fauna, cabeludos e trançudos, mas debalde, ninguém sabia de nada, entrei no ArtCafé idem, José da Fonseca ? Sandra Bravo ? Quem são esses manos ? Nã, aqui não nasceu ninguém kom esses nomes, o senhor experimente falar ali com o Zé do Pipo que, pondo-se em pé ao ouvir o seu nome, prontamente colokou tudo em pratos limpos;

- Eu não fui ! Não fui nem sei kem tenha sido ! Nem sei de nada ! O senhor keira perguntar ali à menina do INATEL, nakela porta ali mais acima fazendo favor.

                                                       Lua de Paper

E com este cabrão do Zé do Pipo, ke nem sei se estaria bêbedo se pedrado era já o terceiro que em menos de quinze minutos me indispunha com akela merda do “senhor”, eu ouvindo-os como kem me segrega, me exclui, me mete a milhas, e sentindo-me discriminado abalei dali a sete pés que o ambiente no pátio do Palácio do Barrocal está pior do ke se estivesse entregue aos pretos, razão tinha eu pois desde que adquirira no ArtCafé uns boiões de doce de tomate feito pela Ana Sofia Dordio e com mais pó em cima que compota dentro, desistira de frequentar a zona e proximidades, keu não sou homem para kriar prekonceitos se bem que já tenha alguns há bué de tempo e que acarinho desde pequenino, mormente kontra larilas, padres, advogados, médicos, militares e polítikos, de tal modo que ainda hoje julgando-me Josef Stalin listo umas centenas de nomes e mando Nikolai Yezhov fuzilá-los a todos, para na manhã seguinte acordar decepcionado e não passar tudo de um sonho.

                                          Nóis

Mas vamos ao kinteressa, a menina do INATEL, linda e simpatiquíssima, ou simpatiquíssima e linda, escolham vocês a ordem dos factores ainda que não seja arbitrária, dizia eu ka menina levantou o cu da cadeira após atender-me sorrindo e kuase me derretendo, arrankando directa ao ArtCafé, lugar onde fika guardada a chave da exposição mas onde rasta nenhum sabe o que se passa à sua volta ou dá akordo de si.

               Expo DUPLOS  X 2 José / Sandra INATEL 2015

A boneka, simpatiquíssima e linda, estendeu-me a passadeira vermelha, abriu a porta e, milagre ! Entrei directamente num drama como kem sobe a um palco ! Viro casualmente um folheto da exposição e dou kum recado pungente e confissão que me dilacerou o coração;

- José fiz o que pude ! Trouxe o que consegui, sinto-me mal, com febre, farei tudo o ke puder, tu depois acabas !

                                                        Lisa Sorgini

Se aquilo não é amor, amor à arte e à camisola o que é então ? Tanto mais que sabemos ter a Sandra sido internada com uma valente anemia, diagnóstico: viva menos - viva mais devagar - alimente-se correctamente - coma do ke tiver vitaminas e sais minerais. Eh eh eh eh ! Isto é mesmo diagnóstico de fome de viver e de kerer fazer tudo ao mesmo tempo... Bom vai ter ke arranjar um padre ! E refazer se !

                                                       Barry Kite

Por vezes a vida suga-nos, e nem nos deixa espaço para pensarmos e cuidar-mos de nós mesmos. Foi o sucedido, ou terá sido o sucedido. Foi um baque que me deu no coração e parti para o périplo ao material exposto sangrando dos sentimentos que tb os tenho, embora o Zé uma vez me tivesse mandado para as Caldas da Rainha ainda hoje desconheço pk. Deve ter sido mal informado ou mal aconselhado a meu respeito, provavelmente terá emprenhado pelos ouvidos, mas é bom rapaz, só pode, para a Sandra o tratar assim, quase a morrer e olhando as composições que nos oferece à vista só pode ser um bom tipo, um bom rapaz, ingénuo mas sentimental, com muito por aprender e a quem os horizontes estreitos desta terra nunca permitirão levantar voo ou sonhar mais alto que o Palácio do Barrocal ou a Igreja de S. Vicente, talvez um oitavo de página no jornal da terra e umas imagens partilhadas no Facebook entre amigos para desfastio.

                                                       Cavalo Solto

E é pena, é pena porque as composições expostas, tão eclécticas quanto a fauna no pátio, algumas pinturas que julgo já ter visto anteriormente, possivelmente noutra exposição, na net ou na divulgação desta mesma mostra, (a mente atraiçoa-nos a toda a hora), e sobretudo espectaculares colagens, e essas são hoje uma arte cujo expoente mais conhecido talvez seja Andy Warhol, ainda que nã seja exemplo do melhor que se fez e faz pelo mundo, nem caso único, mas em Évora quem sabe isso, ou quem conhece esse tal de Andy ? Uma centena e meia de pessoas se tanto, talvez umas duas a três centenas, talvez 372, José da Fonseca, o nosso Picasso das colagens, e Sandra Bravo a nossa Georges Braque ou a nossa Tarsila do Amaral, não são o bizarro Alfred Steiner, nem a absurda Lisa Sorgini, mas o par merecia mais público, mais exposição, a arte em certas geografias só tem becos e não auto-estradas, eles descobrirão por si mesmos.

                                                       Eu e Ela

Mas afinal que coisa é aquela com que se entretêm e os faz compinchas, colegas ?  Pinturas e colagens malucas ? Que é isso ? E é coisa para levar a sério ? Aqui meto um pouco o bedelho e acho que eles deviam formar o seu próprio público, formar no sentido de educar, ensinar, começando por explicar-lhe o ké esta koisa das Artes Com Papel e as suas Subcategorias, começando com o exemplo lindo e simples do Origami, como kem lhes faz um desenho ou ele público tivesse quatro anos, para depois, com infinita paciência explicar como funcionam e o alcance deste tipo de artes visuais, incluindo a pintura, a escultura, a fotografia, a gravura e outros materiais, objectos ou bocados deles, apetrechos que permitem a criação de obras, principalmente de aspectos, de figuras, e que reflectem a natureza, a vida, o mundo, o reconstituem ou expressam, o espelham, ke dão significado a esse mundo que nos cerca, e que devido a essa capacidade expressiva de moldar até o inimaginável, ou plasticidade, tb podem designar-se ou designam-se mesmo artes plásticas. E atirar-lhes com vários micro point p’ra cima, de Barry Kite, Kiki Machado, Júlia Miranda, Marie Mackay, Marcelo Monreal, “Merz” Kurt Schwitters e Adriano Catenzaro, podiam não aprender muito mas ke fikariam impressionados com tanta cultura ai isso fikavam !

                                                        Andy Warhol

Há que valorizar as técnicas de colagem, ke foram utilizados pela primeira vez quando da época da invenção do papel na China, cerca de 200 aC. A utilização da colagem no entanto manteve-se muito limitada até ao século X, quando no Japão calígrafos (escribas), começaram a aplicar papel com textos colando-o sobre superfícies, divulgando assim a suas poesias por exemplo, curiosamente já eu há quarenta e tal anos atrás colava corações nas cartinhas que enviava às namoradinhas. A técnica de colagem apareceu na Europa medieval ia ela a meio, a meio a época das trevas e do catolicismo, em que a cegueira conduziu à colagem de folha de ouro em painéis e assim começou a ser aplicado em catedrais góticas em torno dos ricos séculos XV e XVI, dando origem à talha dourada, mas chegou-se ao cúmulo de aplicar gemas e outros metais preciosos sobre as imagens religiosas, os ícones, e também sobre brasões de armas, Deus nos perdoe, akilo foi a riqueza e a vaidade de cada um levada ao extremo numa Europa onde a populaça morria de fome. Tempos de escuridão… A propósito quem anda apagando a luz ?

                                                            Amanhã

É explicar-lhes, à maralha, kesta koisa da Colagem é nada mais nada menos que a evolução das Iluminuras, essas letras pintadas à mão, gigantes e coloridas, que vemos nos pergaminhos, o que por sua vez originou as maiúsculas enormes com que hoje em dia jornais e revistas iniciam os seus textos ou reportagens. A colagem deu génese à composição feita a partir do uso de matérias de diversas texturas, ou não, intercaladas, sobrepostas ou colocadas lado a lado para gerarem a criação de um novo motivo ou imagem, é explicar-lhes que a koisa, a técnica já foi em tempos idos utilizada por Picasso e Georges Braque, entre outros, a malta adora que lhe falem de Picasso pk é dos poucos ke toda a gente conhece e assim sentem-se bem com eles mesmos e igualmente cultos, e com outra disponibilidade ke é komo kem diz disposição para aceitarem aprender kualker koisinha. O público português tem ke saber levar-se, é uma carga de fezes para lhe meter kualker coisa na cachimónia, não sabem nada de nada mas julgam que sabem tudo e negam-se a aprender, mais, têm até raiva a quem sabe por isso expliquem-lhes com maternal ternura, e igual candura, que é uma técnica não muito antiga, mas muito criativa, performativa, a maralha adora a expressão performativa, que aliás pode ser bem divertida, e que tem por procedimento juntar numa mesma imagem outras imagens de origens diferentes segundo a imaginação e criatividade de cada um. Com doçura acrescentai que a colagem já era conhecida antes do Século XX, mas era considerada uma brincadeira de crianças, e como sabemos quando se fala de crianças todos se babam e ninguém contesta népia, pelo que devem aproveitar a embalagem para citar o “cubismo”, e kesse foi ou terá sido o primeiro movimento artístico a utilizar a colagem.

                                                           Mamarela

Os cubistas colavam pedaços de jornal ou impressos nas suas pinturas, procedimento técnico ke tem uma história muito antiga mas cuja incorporação na arte do século XX, com o cubismo, representou um ponto de partida libertando o artista do jugo da superfície ao permitir no espaço do quadro elementos retirados da realidade, pedaços de jornal e papéis de todo tipo, tecido, madeira, objectos e outros, fazendo com que a arte passasse a ser concebida como construção sobre um suporte, o que dificulta o estabelecimento de fronteiras rígidas entre pintura e ou a escultura por exemplo. O cubismo de colagens tb chamado sintético foi fase curta do cubismo que não deixou de ser importante, tanto que foi explorada, e socorreu-se de elementos atrás citados, elementos introduzidos para estimular a visão, desfazendo o hermetismo do cubismo, apelidado de analítico. O cubismo de colagens não visava explorar somente a expressão ou a decoração, mas sim a realização da própria peça enquanto obra, obra de arte. E chegados aqui atirem-lhes com Juan Gris, o artista/pintor mais relevante desta fase e que precedeu o cubismo sintético, que já aflorei.

                                                               Diva

Resumindo, vale a pena visitar a dupla exposição Sandra / José, mesmo ke tenhamos ke incomodar as meninas do INATEL ou pedir a chave ao balcão do ArtCafé, vale a pena perdermo-nos no surrealismo das suas imagens poéticas e meditar no seu significado, o ke eu fiz atribuindo-lhes nomes ou títulos uma vez que não há legendas, a Sandra coitadinha tinha-se ido abaixo e o José terá que acompanhar a exposição e ganhar o pão de cada dia restando-lhe pouco tempo, tem ke sobreviver como kualker de nós, difícil em Évora, sem um mercado de arte, que eles aliás ainda não têm condições de condicionar ou dele poder beneficiar.

                                                       Ela & Ela

        A estética surrealista apoia-se tb na concepção de imagens poéticas como muitas das que vemos ali, e segundo a qual a imagem nasce não da comparação, mas da aproximação através do absurdo, da ironia, do caricato ou do contraste ou de kualquer outra forma entre duas realidades afastadas e captando pelos sentidos o mundo criado pela inspiração/poesia do autor ou autora cujo surrealismo descontextualiza, quando não esvazia e subverte um significado para atingir novos significados e tomar a liberdade que leva a questionar o establishment, logo à ruptura discursiva. Mas esse desafio vai custar-lhes, ser artista é ser disruptivo, subversivo, ser incómodo, e contra o quê ou quem vão eles subverter-se ? Quem deverão incomodar ? Irão ser contracultura quando nesta terra a cultura só subsiste precisamente se mantida com injecções de partidarite, amiguismo, compadrio ou subsídios ? Má hora para se ser do contra, ou ser artista, ou má terra para tal desiderato… Portugal é um ingrato para os seus melhores filhos quanto mais para enteados… 

                                                       Beaux rêves

Mas aprendi muito kom akela exposição, e aproximando-se o Natal construi eu mesmo com estes olhos ke a terra há-de comer e estas mãos que dizia o meu paizinho konde eu as punha Deus tirava a virtude, construi dizia eu, para o meu novo amigo José da Fonseca, um brinde* colagem com recurso ao barro, às tintas acrílicas, a um naperon bordado e a uma fieira de malaguetas ke roubei lá na tasca onde a malta petisca, um brinde natalício que aki lhe deixo mesmo no final da página como prova da minha consideração amizade e desejo de sorte futura :D
     
                                                    Virgem e& Diabinho




* Brinde ao meu novo amigo José da Fonseca, realizado com a técnica da "colagem" em ke ele é mestre e como prova da minha consideração amizade e desejo de sorte futura :D

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

294 - EFEBOFOBIA OU EFEBOMANIA ? .................


A recente luta para a chefia de um partido “do arco governativo” deu-me nojo. Não por ser aquele, mas por se atirar com areia aos olhos de simpatizantes e militantes com a mesma displicência com que há quarenta anos nos mentem. Não escolhi o sítio onde nasci, como não escolhi os filhos da puta que têm fodido este cantinho à beira-mar e nos põem que nem carneiros a discutir o fumo dos cigarros, o cêntimo que os combustíveis vão subir ou descer, os milhões que o Mourinho vai ganhar ou o BCP perder, que coligação melhor derrotará a outra e o caralho que os foda, pois já não tenho pachorra p'ra mais, sobretudo quando uma candidata vem afirmar na Tv. que a verdade devia ser dita aos portugueses e um secretário de estado, cândido, a contraria afirmando não se lhes poder falar verdade.

Desculpar-me-ão o vernáculo, estou desabafando para mim mesmo, farto até à raiz dos cabelos de ser tratado como mentecapto e enrabado até mais não, para não dizer desde criança mas pelo menos desde o 25 de Abril, compreender-me-ão. Somos todos adultos, só aqui vem quem quer, e cabe-me a mim arcar c’a má educação que beatas puritanas e moralistas não deixarão de me assacar. Que se fodam essas também, em especial essas. Porque tem que se mentir aos portugueses ? Como se alguém fosse capaz de governar esta merda, pois me pergunto frequentemente se haverá alguém com capacidades para tal, com perfil, com idoneidade, etc. e tal.

Nada disso interessa, nada do que interessa verdadeiramente interessa, nunca interessou, necessário é ganhar, para que o pessoal do partido possa aboletar-se à grande e à francesa durante uns anitos. Gosto de saber quando me estão a ir ao cu, e apreciaria nesse momento e sobremaneira um pouco de vaselina ou lubrificante íntimo já que assim como assim o fazem há quarenta anos e a frio ou de arrepio.

Quero de volta o Salazar porra ! Chamem-me lá o que quiserem, a verdade verdadinha é que quero o salazarismo de volta pois estou farto desta democracia de pechisbeque ou de merda cujo prato nos põem à frente. A ser assim quero o Salazar e estes democratas que se fodam, que vão levar no cu, que a única coisa que lhes teria agradecido é que nunca me tivessem aparecido à frente nem coisa próxima. Quem bem se tramou foi o Paulo Pedroso, e outros, Carlos Cruz incluído, fizeram umas leis à moda mas ninguém explicou ao pagode que dispor das criancinhas como eles terão feito, (faltou provar cabalmente a marosca em tribunal, como sabem), mas ia eu dizendo, que dispor das criancinhas sempre foi um privilégio dos poderosos, e já na antiguidade clássica mestres como Platão e Sócrates ou Aristóteles se amancebavam com os alunos mais frescos e inteligentes, que tomavam à sua guarda e com quem repartiam a alcova, a enxerga, o leito ou a cama, para orgulho e deleite das próprias criancinhas e seus pais, não esqueçam que nessa época recuada a mulher não contava, pelo que quando pensarem no reboliço de tempos idos recordem apenas carne tenra de varão, a capacidade das suas partes pudendas (expressão tardia inventada por um qualquer moralista) encherem uma mão, a boca ou o cu, para deleite do mestre e de acordo com os seus mais íntimos e sagrados desejos e direitos, mas igualmente a glória do efebo escolhido para este quadro de honra. As meninas só mais tarde terão tido os seus dias de glória, não lembro já de cabeça se nos bordéis da Roma antiga, jamais olvidem terem os romanos dado continuidade à civilização grega e ao classicismo, pois também lhe herdaram para além das virtudes os vícios que, como ao resto, desenvolveram à sua maneira.

Portanto essa depravação que é hoje ir à tasca do Naia comer ou papar uns “pipis”, (nem todos gostamos de caracóis), é expressão antiga como podem constatar e comprovar nos compêndios de história para eruditos que isto não é coisa que se ensine ás criancinhas. Claro que durante as centenas de anos que durou a Idade Média todo o porco chauvinista comeu à tripa forra meninas ou meninos, era até direito que assistia aos poderosos, nem ninguém se escandalizava como hoje, era enterrá-lo e já está, nem preocupações com preliminares nem essas merdas de atingir o ponto G ou saber se o parceiro pois sim tá bem, e se estava ou não acompanhando ou gostando da coisa. Era despejá-los e o resto que se fodesse. Quem já viu o nome da Rosa não deve ter esquecido o jovem frade enterrando com gosto o cacete naquela faminta de formas roliças no meio de toda a imundície, francamente digam-me lá quem naqueles momentos é que se importa com a imundície, o asseio ó o caraças ?

Terá sido nessa precisa ocasião que foi inventada a frase "Deus disse que quem ganhasse que se risse, e quem perdesse que se fodesse"…. E não metam Deus nesta merda que Ele sempre foi liberal e fechou os olhos, e quando não fechou fizeram-lhe como Henrique VIII que, não vendo anulados pelo Papa os seus casamentos anteriores, pura e simplesmente matava uma rainha, para logo desposar outra gaja, dela fazer rainha e de seguida a matar também, expediente hoje designado como violência doméstica mas que teve nesse sabujo os seus primórdios ou alvores históricos, atitude de homem com eles no sítio, (eu diria fora do sítio mas quem sou eu para contestar reis…) atitude que jamais foi esquecida.   

Mas nem pensem ter sido só esse sátrapa a babar-se de gulodice por carninha tenra, rosadinha e fresca que nem berbigão da Ilha Formosa e com sabor a sal q.b. pois é sabido todos os pássaros comerem trigo e só o pardal pagar as favas. Vejam bem a nossa história pátria, analisem com cuidado e devoção as idades com que os nossos reis desposaram as suas respectivas rainhas e concluirão facilmente que os malacuecos abafavam a carne do lombo e ainda eram glorificados nos altares. Em boa justiça seja tido D. Sebastião, dos poucos que parece ter escapado a esta orgia e queda pela fresca e tenra carne de donzela, ainda que más línguas insinuem ter tido El-Rei mais queda para rapazinhos, mas más línguas como sabemos sempre houve, prova disso é D. Pedro, homem exemplar e respeitador que soube esperar até D. Inês de Castro ter força nas coxas e mais apetite que uma criança, embora saibamos que essa história não acabou bem pois só as mulheres que não interessam a ninguém não têm alarve que as olhe sequioso e guloso…

As miúdas pelavam-se por ser rainhas e dar o corpo ao manifesto, alombavam com o coirão alegremente, as mais sortudas seriam aquelas a quem hoje chamamos “um bom pedaço”, e a arraia miúda ou populaça não passava, como hoje aliás, de uma cambada de sabujos imitadores, pelo que a vida social nessas épocas era um despautério regido por inqualificável falta de princípios e de educação, mais que tudo profanados por quem devia dar o exemplo mas não passava de vilão promovendo com fervor a imundície dos costumes. A arraia agradecia e também comia da mesma gamela, o que agora nem pensar, digamos que hoje será a inveja que nos põe contra e a falar como falamos já que nem a sopa molhamos quanto mais comer à mesa do orçamento…

Portanto quando me vêm falar em libertação sexual e merdas do género, rio-me da ignorância e da idiotice, liberdade sexual foi precisamente o que se acabou há mais ou menos três séculos, por mão da igreja, que já não dava conta do recado e em cada canto e a cada hora o pessoal se abarbatava no bem-bom, sem peias de qualquer espécie, do cardeal ao sapateiro, da donzela à lavadeira, pelo que apareceu um contrato que dá pelo nome de casamento e fodeu a cabeça a muita gente, a umas porque o querem a todo o custo e a outras (cabeças) porque não o suportam, felizmente que isto parece encaminhar-se bem no sentido dessa liberdade perdida e, não me chamem nomes mas por favor compreendam essa gente a que chamam pedófilos, não passam de atrasados que não deviam ter nascido, são gente de outras épocas, de outros tempos, com outros costumes e vícios, e que deviam ter nascido isso sim há pelo menos 500 a 2500 anos, no minimo.

Ainda não há 50 anos os latifundiários alentejanos dispunham do “direito de pernada”, nem mais nem menos o direito de dormir a primeira noite com a noiva dos seus servos, vejam o testemunho do Dr. Galopim de Carvalho em “O Preço da Borrega”, não recordo a editora, mas isto amigas e amigos é história a sério, e não mais uma das muitas estórias que vos conto habitualmente ou de vez em quando

Saúde.   




terça-feira, 8 de dezembro de 2015

293 - DUAS PEQUENINAS FLORZINHAS * .............

      
Eram duas florzinhas pequeninas, bonitinhas, acabadinhas de florir, que vi da minha janela e me fizeram sorrir. Daquela janela grande de onde, de longe em longe, me debruço meditando no fardo pesado desta vida.

E bem azulinhas eram, pequeninas florzinhas uma à outra se abraçando e juntinhas se amparando ante a enormidade do mundo. No fundo, mostrando um estoicismo digno de tão bela coragem, levada pela aragem até à minha janela de onde perplexa lhes vi as raízes d'um carácter dando coerência à leveza, à beleza e à esperança de tão frágeis criaturas frente a um mundo infecto e duro, azul como ao planeta chamamos e a natureza assim pinta.

Espartanas no seu viver, guardando a água das chuvas p’ra quando o sol as castiga, vivem, havendo até quem afirme, elas sentirem e chorarem se com desdém as tratarem ou lhes faltarem com música.

Aquelas duas azulinhas e pequeninas florzinhas que tanta coragem me incutem, são o exemplo divino de que a esperança vale a pena e, o céu mesmo se com nuvens, será sempre sempre azulado. São duas coisinhas lindas que me prendem à janela té nos dias perturbados, são o perfeito modelo de paciência e resiliência, e que neste mundo enlouquecido inda existe coerência. 

Elas são quem esperamos sejam, elas são quem devem ser, a beleza azul da paz e o verde limpo da esperança. De braço dado, rridentes, em sinal de confiança, c’o porte erecto e altivo que a honra sempre concede a quem por ela mata ou fere nos carreiros da dignidade por tantos hoje olvidada e, de que estas duas florzinhas serão a prova provada de que é possível ser-se honrada, ser coerente e ser estimada, inda que a maldade no mundo traga muita gente algemada.

Jamais numa vida inteira vira eu desta maneira a probidade pintada, como se esta janela uma moldura de paisagem inocente, daquelas que com carinho penduramos na salinha bem por cima da lareira. Dignitate chamei à primeira e Honorem à segunda das minhas duas pequenitas, crente ser ao vê-las catitas que a minha fé se renova e a alma encho de veritas, apesar deste mundo cão onde tu também habitas estar dia a dia, hora a hora, pronto a toldar-nos a razão e contra nós encarniçado.

A vida quer-se singela, honrada, preenchida e bela como neste caso inocentinho que acabei de apresentar-vos, a César o que é de César, a Deus o que seja de Deus, porque a vida, criaturas, necessita muito menos do que aquilo que pensais, o mais é materialismo, é consumismo doentio, é loucura, é desvario de quem sem encontrar o rumo de fio a pavio corre o mundo.

E quando as vejo abraçadas, sorrio p'ràs minhas lindas e engraçadas florzinhas, as minhas fiéis vizinhas, agradecendo-lhes consternada por me lembrarem com piada, com leveza, com beleza, de quão pouco precisamos p´ra não sermos alma penada p’lo mundo deambulando. 

Precisamos de bem pouco me lembram elas sorrindo, dois palmos de boa terra, um pouco de sol e água, um sorriso e um abraço, um olhar cúmplice afastando o mau olhado, uma cabeça no regaço, nos cabelos dedos em pente, sussurros, segredos, desvelos, uma mão quente no espinhaço e palmadinhas no rabo. Tudo o resto é acessório, que não falte o essencial, um ombro amigo, um colinho, o tal abraço apertadinho, e um beijinho afinal !

Como o vento sorrateiro, que jogando c'o rodopiar abana tudo que não cai, tem-te, firma-te, pois tal qual o pé delgado das minhas lindas florzinhas, é bom ter um bom parceiro, uma confiança certeira que possa amparar-nos do vento durante uma vida inteira. 

E, de braço dado ou abraçados, mesmo se p’lo vento acossados abanamos sem cair, como aquele par azulado frente à janela postado, que não me canso de ver e me incute tal coragem que até nas noites mais escuras se calha não adormecer, enfio o robe florido e arrastando os chinelos, me vou chegando à janela p’ra recarregar baterias e não deixar que arrelias me enevoem o viver.

Integridade é também isso, termos no que acreditar e alguém em quem confiar contra ventos e marés, e aqueles dois pés de Hibisco são a minha âncora sólida neste mundo mentiroso prenhe de falsidades sórdidas onde contudo a vida bela teima em fazer por ela, como Fénix renascida e um hino alegre à vida.

Uma verdade é certeira, por muito que o tentem sábios tolos, loucos lúcidos, magos ilusionistas, xamãs orientalistas, feiticeiros politiqueiros e outra gente milagreira, será no fundo a beleza quem sobreviverá neste mundo onde depois, como sempre, reinará a natureza. 



* Publicado a 8 de Dezembro 2015 por Maria Luísa Baião em: