quinta-feira, 5 de julho de 2018

515 - AEROPORTO DE BEJA, ESSE EQUÍVOCO ...


 Foto recolhida de página do Diário Rural.

Faziam-lhes o ninho como quem lhes fazia a cama mas elas não se deitavam. Orgulhosas e desdenhosas passavam ao largo, ou ao alto, deixando intactos os lençóis que lhes haviam estendido com tanto amor, paciência e carinho. Nunca neles se deitaram.

A instituição e sociedade que dá pelo nome de National Geographic já passou por duas ou três vezes este mês, no seu canal por cabo, uma história, reportagem verídica filmada no continente australiano, ou seja na Oceânia. Grosso modo mostra-nos como eram os céus dessa parte do planeta antes da segunda guerra mundial e como passaram a ser durante e depois dela. Mostra esses céus, não vistos por nós mas pelos aborígenes, pelos indígenas australianos, gente que nunca na vida vira uma carrada de coisas que nós damos por comezinhas, no caso coisas no céu, aviões nos céus.   

A dita reportagem, bem documentada, mostrou-nos ou demonstrou-nos como facilmente se geram os equívocos, em especial se alicerçados na ignorância, e no fundo mostra como todo o esforço dos nativos se resumia a fazer com que aquelas aves enormes poisassem na cama por eles preparada para o efeito, no ninho, uma vasta língua de floresta totalmente desbravada, excepcionalmente limpa de árvores e vegetação, uma torre de controlo erguida e construída com troncos das árvores derribadas, enfim, uma pista e um aeroporto que na sua visão, deles nativos, indígenas, aborígenes, pouco haveria de divergir daquele que hoje sabemos existir no Dubai, o moderno hub do médio oriente, nunca tendo eles compreendido porque não poisaram ali as tão cobiçadas quão admiradas e gigantescas avioas, as quais ostensivamente lhes sobrevoavam os céus e, a julgar pelo seu tamanho, imaginem só o ovos que poriam…

Assim estão os de Beja, olhando esperançadamente os céus na mira de conseguirem que alguma avioa mais afoita, mais curiosa ou mais distraída lhes pouse no chamariz, digo na cama, digo no seu moderno aeroporto. O aeroporto de Beja, esse enorme equívoco, não tenho dúvidas ter servido bem os alemães. O nosso céu, que ao contrário do deles não se encontrava saturado, permitiu-lhes treinar livremente pilotos de aeronaves super rápidas sem o mínimo de risco de colisões no ar. As mudanças geopolíticas ditaram o fim da base de Beja, a queda do muro de Berlin e o colapso da ex URSS impuseram um outro equívoco, o fim da história e com o fim da história viria o fim da base alemã de Beja.

O actual problema desse aeroporto nem terá sido o seu custo, 33 milhões, o aproveitamento das infra-estruturas já construídas foi lógico, o país tem desperdiçado de modo bem pior muito mais dinheiros, quando não são sorvidos pela voragem da corrupção, da irresponsabilidade e da incompetência. O mal de Beja é o mesmo mal que assola o resto do país e tem a idade desta disfuncional democracia, pois logo a seguir ao 25 de Abril deviam ter-se traçado os eixos prioritários que definiriam a sustentação estrutural do país, o seu esqueleto digamos, ou exo-esqueleto, mas tal não se fez, e nunca mais foi feito.

Não o foi no aspecto concernente a aeroportos e portos, nem nos aspectos rodoviário, ferroviário, ou marítimo, nem no sistema de ensino ainda aos trambolhões, tal qual o sistema de saúde e segurança social se encontram actualmente. Não tivesse o SNS sido erguido nessa altura e não o seria de certeza. Outros aspectos desta estrutura foram igualmente esquecidos, ou torpedeados, como aconteceu com a agricultura e as pescas. A economia e a indústria nunca mereceram qualquer atenção especial, e quanto à banca, seguros e energia pensou-se nelas sim mas apenas para apurar por quanto as alienar.

Tudo foi deixado nas mãos do destino, nas mãos do acaso, o que se fez muito ficou a dever-se ao improviso, o país não tem ainda hoje quaisquer desígnios, não tem rumo há quarenta anos.

Tiveram os bejenses uma oportunidade de oiro que desperdiçaram por vaidade, por orgulho, por ignorância, por desconhecimento, o negócio da sucata de aviões. Lembro-me que na altura pesquisei o negócio, comentei-o acompanhado de fotos numa das páginas do aeroporto de Beja na net, portanto o meu testemunho ainda por aí estará algures. De modo vago recordo-me que as pesquisas efectuadas me tinham levado a concluir que, só na califórnia o desmantelamento e a reciclagem de aeronaves atingia um volume de negócios equivalente ou superior em dez vezes o PIB do nosso país, portanto nada de desprezar, tivesse Beja agarrado essa oportunidade e hoje poderia ser a cidade e a região com o mais alto contributo para o PIB de entre todas as regiões de Portugal.

Vaidade, orgulho, falta de visão e de cosmopolitismo, teimosia e cegueira deitaram ao desprezo um negócio que poderia ter sido uma galinha dos ovos de oiro, porque quanto ao resto, nem Beja tem dimensão nem pontos de interesse capazes de sustentar um fluxo positivo de turistas, ou de viajantes, a quem faltam como disse as restantes infra-estruturas que lhes possibilitassem sair dali depressa, sem incómodos nem atrasos. Digo isto por não acreditar que quer o castelo de Beja quer a biblioteca José Saramago sejam suficientemente apelativos e capazes de segurar alguém mais que umas horinhas. Forçar os operadores ou a ANA a engolir o dito cujo será pior que meter a gaiatagem a beber de novo o celebérrimo óleo de fígado de bacalhau e imposições desse teor serão sempre decretos contra natura cuja aberração a primeira oportunidade demonstrará.

Sem o desenvolvimento, crescimento e enriquecimento do país e dos portugueses o Aeroporto de Beja nunca passará dum emplastro, um grande emplastro sem dúvida, mas um emplastro.

Foto recolhida de página do Diário Rural.


segunda-feira, 2 de julho de 2018

ENTROPIA, ESTUPIDEZ, RUÍNAS, RESILIÊNCIA

              

A QUESTÃO DA COOPERATIVA NOVO SOL CRL, UM PROJECTO BOICOTADO, TORPEDEADO, MINADO, BLOQUEADO…


1)
Na vida de todos nós haverá sempre algo ou alguma coisa que nos marque sobremaneira ou nos preencha, na minha foi um projecto de grande envergadura no qual estive envolvido com mais uma dúzia e meia de amigos, tantos quantos os que inicialmente deram origem a esse ambicioso projecto. Comemora-se por estes dias o 20º aniversário da nossa primeira reunião, teve lugar no monte do Sobral poucos dias ou escassas semanas após as primeiras ideias terem sido informalmente alinhavadas à mesa do café. A segunda em volta da mesa de um restaurante na Graça do Divor e uma terceira no monte do Bernardino. Dentro de meses comemorar-se-á a constituição jurídica desse projecto de todos nós que levou o nome de Novo Sol e cuja escritura seria realizada ainda nesse ano de 1999.



Grosso modo descrevê-lo-ei como um moderno e ambicioso projecto de lar para a terceira idade a instalar em Évora numa herdade com dezasseis hectares, nada pequena portanto, e capaz de acolher quatrocentos e quarenta idosos, possibilitando mais de trezentos empregos directos. O seu custo esteve orçamentado em vinte milhões de euros e o início das obras aprazado para os primeiros dias de 2010. Completamente licenciado o projecto não chegou porém a arrancar. Vejamos as razões, já que nele estive completa e responsavelmente envolvido e ainda hoje a mim muita gente se dirige pedindo explicações e satisfações, é a minha cara e a minha honra que estão em questão, sendo hora de fazer um balanço para memória futura e não sacudo, nunca sacudi responsabilidades. Quem não sente não é filho de boa gente, assim me sinto. As afirmações aqui proferidas responsabilizam-me a mim, são fruto do meu pensar, do meu cogito, não emanam, não reflectem nem envolvem a posição da instituição a que presidia e presido, para isso tem a instituição os seus corpos sociais.  

Devo desde já avisar-vos ser este um texto e um tema a que não sou estranho, não somente por ser eu a debitá-lo como devido ao meu empenhado envolvimento no projecto em questão. É um texto sentido, não o pretendo vingativo pois tal não faz parte do meu caracter, mas ficarei feliz se explicar a muita gente as sombras que sobre ele pairam e sobretudo o torpedo que contra ele foi disparado. Hoje acredito que o boicote tenha sido dirigido aos promotores do projecto mais que ao projecto em si. À frente da Novo Sol estava minha esposa, Maria Luísa Baião e sócia nº 1, e como sócio nº 2 eu, Humberto Baião, ambos com uma intervenção cívica em semanário e jornal da terra, intervenção cívica que os partidos não se cansam de promover à boca cheia mas que por todos os meios procuram calar se tal lhes não for a jeito. Nem Salazar teria feito melhor. Acresce que minha esposa detinha à época intervenção política marcante e actuante, mais um motivo para a torpedear. Convém ainda ter em conta que se desenvolvia a nível nacional, e desenvolve, uma luta aguerrida opondo uma velha, fossilizada e arcaica gerontocracia versus uma emergente aristocracia de novos-ricos e oportunistas desta peculiar democracia. Tudo terá contribuído em maior ou menor grau p’ra explicar o sucedido. 


2)
A “questão” Novo Sol, um projecto boicotado, minado, bloqueado ou torpedeado em 2009 leva dez anos, dez anos em que tudo me foi dito e de tudo ouvi, desde o diz que disse ao disse mas não disse. Tive contudo tempo e oportunidade para ouvir, escutar, pensar, deduzir, induzir, aprender e apreciar os personagens envolvidos e as diversas versões acerca desta triste e vergonhosa história. Vou tentar ser objectivo e isento, para além do que de mim escutarem poderão confirmar ou infirmar as minhas afirmações junto dos envolvidos, não há situação, nem ninguém que não esteja correctamente citado e identificado. A verdade acima de tudo, essa verdade que tantos tentaram esconder e ainda escondem, essa realidade torpedeada.

Iniciado em 1999, o projecto Novo Sol, um projecto com uma dimensão de futuro e talvez por isso excessiva para as mentes paroquiais da região onde pretendeu instalar-se, percorreu o Calvário, só habitual nestas situações e neste país, percorreu toda a Via - Sacra durante uns longos dez anos. Em finais de 2009 veria finalmente terminado o seu completo licenciamento e, solicitada à edilidade isenção do custo de licença de obras segundo o regulamento, foi a pretensão aceite com uma redução de 50% do valor desse custo.    



Portanto, e continuando na senda do rigor digamos ter-nos parecido, e bem, pois há provas, há exemplos tristes, que o projecto tenha sido desde o seu início combatido por tudo e todos, tanto por ele em si como já foi dito, ou pelos seus promotores. Seja porém feito jus ao tempo decorrido, dez anos, findos os quais se lançaram foguetes pois o enorme e ambicioso projecto, que haveria de mudar Évora e o Alentejo estava concluído, licenciado, pronto a entrar em obras.

Estava ? Estava mesmo ?

Não, não estava porque o projecto tinha sido torpedeado, boicotado, bloqueado, armadilhado, talvez não pelo projecto em si mas repito, como modo de atingir através dele os seus proponentes. Talvez não pelo projecto em si, mas só talvez. É triste chegarmos a esta realidade mas é a verdade. Voltaremos a esta verdade para a autenticar, porque durante o seu percurso, o seu Calvário, com quem o projecto mais esbarrou foi com personagens a quem precisamente faltava autenticidade e coerência não tendo coragem para dar o passo em frente no momento necessário ou cobarde e alegadamente escondendo a mão com que deitaram areia na engrenagem.

Nesta história não há inocentes, a não ser os 440 associados do projecto os quais com o boicote foram prejudicados em meio milhão de euros, o custo do projecto até essa data segundo a contabilidade acusa. Coisa pouca, coisa insignificante, peanuts se comparada com os interesses escondidos de quem meteu o pauzinho e escondeu a mão. De referir que embora a culpa tenha morrido solteira, ou seja por enquanto solteira, lá virá o dia em que tudo se esclarecerá, haverá naturalmente culpados no cartório.



Em primeiro lugar o senhor Presidente da edilidade, Dr. José Ernesto de Oliveira, que nunca se interessou especialmente por este grandioso projecto, suponho talvez por o espírito do projecto Novo Sol não se inserir ou enquadrar nos ideais e princípios de outros promotores ou projectos, como meramente a título de exemplo citarei a “Cerca Três” que tantos dissabores ou aborrecimentos lhe causou. Nunca o senhor presidente se dignou acompanhar de perto este projecto, o qual nunca lhe trouxe aborrecimentos e acerca do qual nada, ou seja nada para o favorecer lhe foi pedido. O projecto foi-se desenvolvendo de acordo com a burocracia própria do funcionalismo e do organismo público onde decorria. Para este projecto nunca foram solicitados “favores, cunhas” ou “jeitos” a ninguém.

Era um projecto simples, nada parecido com as confusas vias, rotundas e urbanizações ainda hoje questionáveis e incompreensíveis à vista em vários pontos da urbe. Pessoalmente penso que a cidade terá possivelmente perdido um bom médico, tendo acabado servida por um péssimo presidente de câmara, foi a sensação que me ficou após assistir à sua vergonhosa fuga às culpas neste caso ou a enfrentar quem lhe solicitava responsabilidades, mais à frente o explicitarei. Demonstrou-me ser um homem impreparado para o lugar, desaconselhado para a função e que a história esquecerá ou remeterá para insignificante nota de rodapé. 


3)
A esta distância e analisando os factos tenho que admitir para mim ter-se tratado de um caso de perfil ambicioso, perfil que, e tal como soa ou se diz no burgo se terá incompatibilizado com o PCP, tendo-se atirado para os braços do PS por uma questão de ambição pessoal. Figuras públicas gostem ou não estão sempre sujeitas, com razão e sem ela a escrutínios deste teor. Dizia-se portanto não lhe ter o PCP aberto o caminho a que se acharia com direito, a presidência da edilidade, cousa ou razão pela qual o PS, sempre hábil a aproveitar, a jogar com as pessoas a seu favor, um campeão do oportunismo, o acolheu, o promoveu, o candidatou, o vendeu e nós comprámos. Por três vezes o comprámos, gato por lebre, hoje sei-o, na altura não o adivinhava sequer.

Naturalmente muitas destas afirmações, correntes na cidade e do conhecimento de toda a gente, ou quase, serão conjecturas, especulações e até boatos, mas quando não se age com transparência, com clareza, as dúvidas inevitavelmente surgem. Penso que as três legislaturas do PS na câmara de Évora e às mãos do Dr. José Ernesto terão como corolário o afastamento do partido socialista do sonho de voltar a comandar a edilidade por trinta ou quarenta anos, a menos que aconteça um milagre. Gato escaldado de água fria tem medo … Um Presidente é em última análise e grau culpado por tudo quanto se passe na sua câmara, sabia-o, sabia o que se passava, simplesmente como homem passivo, medroso e receoso que era não actuou. José Ernesto não teve capacidade ou teve medo de se impor. Suposta e alegadamente parecia actuar somente quando em jogo interesses próximos.

O segundo grande culpado pode ser encontrado na pessoa do vereador do urbanismo o senhor Eng.º Melgão. Homem que hoje reporto de caracter dúctil e dúbio, perfil fraco, de todo desaconselhável para o lugar por demasiado indeciso e hesitante, e sobre quem penso que, não tivesse sido a sua naturalidade estar ligada a S. Sebastião da Giesteira, a terra dos crânios diz-se, e nunca teria surgido na vida pública, dado tratar-se de elemento mais empurrado pelos amigos que dado à luta pelo bem-estar da autarquia e dos eborenses. Tive oportunidades suficientes para me aperceber que o senhor Eng.º Melgão nem se sabia impor, nem afirmar, nem tão pouco sabia o que queria. A sua moleza, indecisão e cedência frente à Arqtª Alexandra Leandro, então chefe de serviço de obras, e numa fase em que o projecto já se encontrava aprovado pelo INH e merecedor do crédito bonificado do mesmo instituto público, prova quanto era incapaz, inábil e inapto para o lugar de vereador que ocupava, quando precisamente se deveria ter oposto a uma senhora abalada pela morte do marido, qual zombie encharcada em comprimidos e incapaz de decidir com lucidez, impondo o sim quando ela ditou o não, já que ambas as decisões eram legitimamente válidas. Sendo assim e na ausência de alguém suficientemente lúcido, responsável, competente e capaz de uma análise coerente, expedita, defensora dos interesses do promotor e da cidade o projecto foi travado injustamente numa fase em que poderia ter sido ganho metade do tempo necessário para o inaugurar, mas não houve coragem para dar um murro na mesa e colocar delicadamente a senhora no lugar.

A sua atitude e argumentação depois de transmitido à Novo Sol o bloqueio do projecto, o seu gaguejar, a sua incapacidade de explicar e ainda menos de justificar o erro, de o assumir, a própria incapacidade negocial acerca do modo de se ultrapassar o boicote e o diferendo com ele surgido, nunca me deixaram margem a dúvidas quanto às incapacidades de quaisquer natureza abonando negativamente o profissionalismo ou melhor, o perfil politico do Eng.º. Melgão. Todavia numa cidade de 60 mil habitantes foi o melhor que o PS conseguiu encontrar...

4)


Este tema do boicote ao projecto Novo Sol é um tema onde abundam desde o início episódios caricatos, desde o facto do projecto ter dado entrada nos serviços da edilidade em 2000 para somente voltar a ver a luz do dia nos fins de 2001, por pressão do então Presidente da CCDRA e vereador do PSD, Dr. Carmelo Aires, a quem na altura agradecemos, e que forçou a saída duma gaveta onde convenientemente ficara arquivado.

Meses, ou um ano ou dois depois foi a vez de, às mãos duma célebre arquitecta que mantinha havia trinta ou quarenta anos, desconheço se ainda mantém, uma avença com a CME de nome Margarida Sousa Lobo, e quem inexplicavelmente formulou sobre o projecto trinta ou quarenta dúvidas, trinta ou quarenta questões às quais ela mesma respondeu ! Mais inexplicavelmente ainda, respondeu a todas as questões e negativamente sem dizer água vem ou água vai. Este caricato assunto encontra-se arquivado entre a papelada do processo Novo Sol na CME, nº 15825 onde consta o parecer final que lhe foi dado, lixo, arquive-se.



Não poderia essa senhora arquitecta, Margarida Sousa Lobo ter chamado a si alguém da Novo Sol ? Ou enviado postal, sms, carta, mail, telefonema, ter pegado num telemóvel e contactado os promotores da obra, ou o arquitecto do projecto e indagar sobre essas trinta ou quarenta dúvidas ? É que todas tinham resposta cabal e capaz, explicação lógica e justificação legal e normalizada, todas elas ! 

Felizmente o então vereador do urbanismo, o senhor Arqt.º Miguel Lima, a quem devemos essencialmente o arranjo exterior das muralhas e das Portas do Raimundo, teve o bom senso de remeter essa senhora para o seu merecido lugar, o universo da irrelevância, tendo o projecto continuado como programado a sua Via - Sacra até bater numa nova parede, num novo absurdo, uma nova aberração, na Arqtª da CCDRA Margarida Cancela de Abreu que, mal teve o projecto em mãos tratou de o indeferir por completo, aliás atitude de todo fora das suas competências. (Outra Margarida…)
  


Valeu-nos a então Presidente da CCRDA, uma senhora com S grande, vinda de Alter do Chão, cabelos brancos e cujo nome não me recordo que, ao aperceber-se do abuso de competência da dita Margarida Cancela de Abreu a obrigou a nova apreciação/reunião/ parecer, a deferir tudo, em especial e unicamente a parte que lhe competiria, ambiente e águas residuais, o que acabou por fazer depois de, como disse, pressionada nesse sentido, no sentido da legalidade. Neste capítulo muito devo ao meu amigo Eng.º Cordovil, não fosse ele ter-me chamado a atenção para o sucedido e nem teria tido conhecimento do percalço.

Mais um obstáculo ultrapassado, projecto de novo na estrada da Via - Sacra, na via do Calvário. No entretanto a Novo Sol solicitou por carta cópias dos dois pareceres dados ao seu projecto junto da CCDRA, ao que essa entidade de modo rápido deu resposta positiva. Nos arquivos da CCDRA e da Novo Sol constam respectivamente originais e cópias do absurdo exposto e da sua feliz resolução. Ora acontece ser precisamente esta senhora Arqtª Margarida Cancela de Abreu uma das promotoras do movimento AMAlentejo, Comunidade Regional do Alentejo, como desejará ela que se confie na sua neutralidade ou isenção e inerentemente da associação que promove ?

Mas atribulações sempre houve muitas, numa outra vez e pela mão do Arqt.º Humberto Branco, que não sei se a meteu se a tirou… foi à última hora, ou minuto e com um alerta bem gritado aos seus ouvidos que o projecto foi de novo colocado correctamente no mapa da Zona Agrícola Exclusiva, de onde tinha injustamente sido retirado, e onde mãozinha subtil e escondida o tinha recolocado no sentido de o inviabilizar. Foi retirado da ZAE à tangente e antes do referido mapa ter sido oficialmente homologado. Mais uma, por enquanto como as restantes, mais uma tentativa felizmente falhada de colocação de areia na engrenagem.

5)


Incidentes de percurso diria, que projecto os não tem ? Não sei, o que sei ao certo ou certa é a bronca ter-se dado quando em finais de 2009 o Eng.º Melgão, natural de S. Sebastião da Giesteira, terra dos crânios e vereador do urbanismo do presidente José Ernesto, nos ter comunicado, palavras dele:

- Não sabemos ainda bem porquê mas houve um erro com o vosso projecto e não poderão entrar em obra. (um projecto já totalmente licenciado).

Eram vinte milhões de euros em obra ! Obra que no dia seguinte seria adjudicada após meses de negociações à empresa de Construções e Engenharia Guedol, de Lisboa, com obras em Évora, não sem que antes e em plena Assembleia Geral da Novo Sol (há testemunhos e actas) o incoerente professor, até ali tido por mim como homem honesto e de esquerda, José Manuel Varge, tivesse tosca e maliciosamente tentado manipular a AG contra a Guedol e a favor da CUOP de Évora… De pronto foi desmascarado e chamado à atenção, não eram modos de fazer as coisas, nunca por nós seriam feitas assim. Já tínhamos aliás dialogado e negociado longa e honestamente com a CUOP sem que se tivesse chegado a acordo. Tentámo-lo nós e tentou-o a CUOP, não se chegou a acordo e nenhuma das partes tentou aliciar a outra. Houve honra de ambos os lados, honra que o senhor José Manuel Varge estava despudoradamente colocando em causa, conspurcando e disposto a democraticamente pisar em favor da sua tendência. A própria CUOP acabou condenando essas intenções cujos fins pareciam justificar os toscos meios de que o senhor José Manuel Varge lançou mão ao invés da defesa e aclamação dos correctos e transparentes procedimentos que haviam sido adoptados. 


6)
Mas em frente que atrás vem gente … A páginas tantas câmara municipal optou por dar por não dados todos os licenciamentos que concedera ao longo daqueles dez anos em que percorrêramos a Via - Sacra o Calvário. O senhor presidente José Ernesto, que sempre ignorara ou descurara um projecto desta dimensão, gratuitamente desligou-se do problema, incapaz de se impor e exigir a legalidade, honestidade e limpidez, a senhora vereadora Cláudia Sousa Pereira tratou de, através de declaração sua ajudar todos os vereadores implicados a converter em nãos todos os sins dados durante os dez anos anteriores numa verdadeira fuga à responsabilidade, ao invés de a assumirem e exigirem clareza, há actas da reunião da CME onde tal se encontra plasmado, neste caso consultar a acta da reunião da Câmara Municipal de Évora nº 24 de 22.09.2010, página 14, ponto 3.1.23.-Processo nº 1.8552 (Cx17), e acessível pela internet.

Foi essa uma reunião em que por razões entendíveis e compreensíveis os vereadores Manuel Melgão e Eduardo Luciano se declararam impedidos de discutir e votar. O senhor vereador Melgão por não ter tido tomates para impor obstáculos à tremenda injustiça que se estava gizando, o vereador Luciano por ter sido cabeça de lista à CME, por não ser o vereador do urbanismo em exercício e natural e sabiamente na expectativa de vir um dia a ser de novo candidato e eventualmente presidente da edilidade não lhe caber meter-se ou comprar guerras que não lhe pertenciam. Como diria o povo seria comprar uma guerra desnecessária por cinco tostões. Mas a senhora vereadora Jesuína Pedreira fez questão, e está plasmado na acta, de que os votantes do assunto em causa, relembro, retirar os licenciamentos concedidos durante dez anos, fosse de novo ali abordado naquele momento de forma consciente. Não foi, votou-se contra a malvada Novo Sol que de modo oportunista acarreara licenciamentos durante dez anos à revelia de todos aqueles inocentes. O ponto principal dessa reunião é o alheamento por parte de todos do que estava em jogo e sendo votado, ninguém parece ter-se importado, e da extrema direita à extrema esquerda, nem os sempre atentos e activos defensores da Pró-Toiro, do lince da Malcata, ou os defensores do ouro da Boa-Fé, ninguém se incomodou um milímetro com o projecto Novo Sol ou com a sua dimensão e inerente dimensão da injustiça que no momento votavam, nem nesse momento nem depois, um caso único de insensibilidade quase total dos membros duma assembleia municipal. Eu chamo-lhe ignorância, irresponsabilidade e incompetência. Eu não queria que me sorrissem ou dessem palmadinhas nas costas, só queria justiça, competência, transparência.



Nunca nenhum dos vereadores do PS se interessou pela verdade, pelo assunto ou pelo promotor, e toda a gente desde o presidente da edilidade ao presidente da Assembleia Municipal, Dr. Capoulas Santos se recusaram a receber a Novo Sol, como se quer os promotores quer o projecto tivessem sido contaminados por lepra. Idem para o deputado por Évora Dr. Carlos Zorrinho, e idem para o PS em peso que demonstrou claramente não ser um partido mas um grupo de interesses, demonstrando-nos à saciedade e à sociedade que não lhe interessa o futuro de Évora para nada, somente os seus interesses contam. Uma vergonha autêntica que deveria ter feito corar o mais rosadinho de todos eles.

Em boa verdade ninguém se interessou, nem a Segurança Social, que com simpatia aprovara ou licenciara durante dez anos o projecto, um projecto que lhe dizia respeito por se tratar de um projecto social destinado à terceira idade, de um projecto que criaria 300 postos de trabalho directos, e aqui entra em campo também o IEFP, simpática entidade com quem tivemos um protocolo baseado no âmbito do ProdesCoop e cujo interesse principal ou único girou sempre à volta do contencioso, cujo prazo de pagamento amavelmente nos dilatou, mas que, tal como a Seg. Social não mexeu uma palha em abono ou defesa do projecto. Tal atitude não estava legalmente no âmbito institucional desses dois institutos, todo o edifício legislativo em Portugal está construído para criar todos os obstáculos, para tudo complicar e nada deixar fazer. Ah ! E libertando de responsabilidades tudo e todos.

7)


Naturalmente antes do PDM de 2008 o tal que o PS “acabou” ou elaborou pois foi o resultado dos cortes e emendas que fez ao PDM oriundo da CDU e que o PS herdara ao ganhar as eleições de 2001, antes de ter sido enviado para aprovação/homologação, e logo no primeiro dos trintas dias de consulta pública prévia a que a lei obriga, a Novo Sol esteve presente no gabinete da edilidade respectivo e situado nas instalações do PITE, sendo gentilmente recebida pela senhora Engª Olga Grilo, a qual, uma vez expostas atendeu as nossas apreensões, dado que entre os mapas e a realidade do processo 15825 Secção D, Herdade da Oliveirinha, Graça do Divor, Évora, a bota não batia com a perdigota. A dita senhora confirmou existirem mesmo discrepâncias, prometeu dar correcção ao erro confirmado, registou a situação e despedimo-nos amavelmente.

Uma semana depois recebeu a Novo Sol uma missiva da CME (em arquivo) agradecendo a participação/contributo da Novo Sol para que o PDM pudesse avançar sem erros nem problemas. No último dos trinta dias dessa consulta pública fui de novo eu quem se deslocou de novo a esses serviços a fim de confirmar com a senhora Engª Olga Grilo se o assunto estaria tratado, o que a dita senhora nos assegurou, que sim, que estaria tudo resolvido, corrigido, obrigado e ide em paz.

Afinal nada estava resolvido, ou fora-o mas voltara a ser minado, torpedeado, como veio a saber-se nos finais de 2009 nada tinha sido resolvido, corrigido, emendado ou acertado. Só por horas não foi assinado o contrato de adjudicação da obra à Guedol, sorte ? Acaso ? Intervenção divina ? Não abemos, o que ficámos sabendo foi ter sido iniciada uma guerra com a CME que, nesse item demonstrou não ter consideração por nada nem por ninguém.



Meio milhão de euros perderam os participantes do projecto Novo Sol, quatrocentas e quarenta pessoas perderam poupanças investidas e um futuro assegurado na velhice. Perderam as empresas de Évora vinte milhões em obras pois que mesmo sem alvará para tal dimensão a Novo Sol cuidara com a Guedol que as mesmas fossem subcontratadas, perdeu a cidade trezentos empregos directos, perdeu o turismo, perdeu a economia do concelho, perdeu o Alentejo e perdeu a cidade de Évora. Curiosamente também perdi eu, perdi a confiança no PS e perdi os amigos que nele tinha, como se a culpa fosse minha. Não há equipa como a do PS para apoiar o partido, fazem-no até com os olhos fechados, ou por outra razão bem mais perigosa, de olhos fechados.

8)
Bem tentou a Novo Sol que a CME realizasse um inquérito, mas para tal nunca houve demonstração de vontade por parte da edilidade socialista. O máximo conseguido foi uma auditoria levada a cabo pelos Serviços de Apoio Jurídico e de Notariado da CME, de 18.06.2010, com o nº 7178.2010 a qual embora reconheça tácitamente o que toda a gente sabia, a culpa do “desastre” sucedido caberia totalmente à CME, que simplesmente não acompanhara devidamente um projecto de tal envergadura e complexidade. Parte contudo na sua análise de uma premissa errada, a de que o projecto não se inseria no PDM de 1993, quando cabia à CME e sua equipa alertar o promotor para as adaptações do mesmo aos vínculos do PDM de 2008, o que a Novo Sol e o seu arquitecto sempre cumpriu !  Em momento algum a auditoria municipal questiona o verdadeiro problema, quem; quando e por quê o projecto foi “apesar de tudo” colocado fora do PDM 2008 onde sempre estivera e onde sempre fora desenvolvido ! Esta auditoria teria quando muito servido em tribunal para provar a inocência e a razão da Novo Sol, mas a justiça é demorada, a instituição não quis passar vinte anos em litígios nem fazer a fortuna de dois ou três advogados. A instituição com este rombo simplesmente não tinha fundo de maneio para manter um processo durante anos em tribunal, e não era seu desejo exigir uma vultuosa ou choruda indemnização à CME, o seu desejo era e é simplesmente construir o lar, dar corpo ao projecto, mas…

Mas em que departamento, quem ou o quê, quando, onde fora o projecto torpedeado ? Por enquanto só Deus sabe, por enquanto a culpa continua solteira, como é hábito em Portugal, inda que tenha passado pelas mãos de gente bem conhecida, algumas bem conhecidas demais. Quem ? Por que motivo ? Com que interesse torpedeou o projecto ? Às ordens de quem ? Ou foi um caso isolado de alguém mais papista que o próprio Papa ? Um dia se saberá a verdade total, será no dia em que se zangarem as comadres, como soa o povo dizer. O que já há algum tempo embora a medo começou a acontecer.



Em 2010 ou 2011 procurei e confrontei a senhora Engª Olga Grilo, quem por duas vezes me garantira ser ou estar tudo resolvido, corrigido. Embatucou, acho que corou como uma colegial quando me viu. É boa pessoa, assim me pareceu, mas ingénua, passaram-lhe a perna e não teve coragem de se assumir, preferiu alegar desconhecimento do sucedido. Como é possível após duas visitas de alerta que o projecto se tenha mantido dentro de uma tramóia que pariria o erro premeditado ?

9)
Foi com este espírito que tentei por outro lado levar este vergonhoso assunto ao conhecimento da população, e contactei telefonicamente o meu amigo José Faustino, da Rádio Diana, e pessoalmente o amigo Carlos Júlio da TSF o qual fazia uma perninha no semanário Registo. A ambos dei conta das ocorrências e perante ambos me disponibilizei a mostrar todas as provas do afirmado por mim, tal como aconselhá-los a comprovarem-nas junto dos visados ou envolvidos na questão. Pois estes dois paladinos da democracia da transparência e da liberdade de expressão simplesmente se alhearam do problema e viraram costas. Não foram contudo casos isolados estes, no Estado Novo havia censura, com esta democracia passámos à auto-censura, Salazar teria rejubilado. Ao “Pezinhos” vejo-o por aqui pela cidade, raramente mas vejo, ao Carlos Júlio deixei de ver e confesso a minha vergonha quando tomei conhecimento através das muitas queixas e lamentos que ele profusamente espalhou na net de que tinha sido despedido da TSF, vergonha porque rejubilei, e juro que me acudiu ao espírito o escrito do brasileiro Eduardo Alves da Costa que escreveu qualquer coisa parecida com isto:

“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Mas já não havia mais ninguém para quem eu pudesse reclamar.” 

Existe uma outra versão ou adaptação mui similar de Bertolt Brecht.

10)
Naturalmente não enveredámos pelo processo em tribunal, e entretanto o litigio com a CME esbatia-se, esta aceitara emendar o erro do PDM, erro de sua autoria, e aproximavam-se as eleições autárquicas de 2013, o PS cedia pois não desejaria este incendiário assunto nas bocas do mundo. No meio de todo o imbróglio em que o projecto se transformou encontramos contudo algumas curiosidades, preciosidades, peculiaridades, mais caricatas umas, menos outras, diríamos que alguns tesourinhos deprimentes no percurso do projecto e que ainda hoje me atormentam. Alguns destes casos já foram atrás relatados, outros são tão insignificantes que nem irei perder tempo com eles, outros ainda envolverão situações não cabal ou completamente esclarecidas e terminadas não havendo interesse em repescá-los. Também os há que só meditando acerca deles…

Por exemplo, onde foi o Dr. José Ernesto buscar o assessor e filósofo, de quem eu tinha a melhor impressão, que fora um dos meus bons professores na UE, o Dr. Monarca Pinheiro ? Como apareceu a ligação ? Não sei, e nunca soube nem saberei, sei apenas que toda a conduta de Dr. Monarca Pinheiro me pareceu ser a de pessoa para quem os fins justificavam os meios e sempre disponível para ultrapassar e pisar a democracia e a ética.

Eu para aqui lembrando os bastidores, lembrando os cenários, mirando os cordelinhos, desiludido, cada vez mais desiludido, e entretanto um Monarca pisando o risco, espezinhando a ética, um filósofo imaginem, um poeta, recordo-o uma vez de malão, de malinha na mão, recheada de dinheiro, de dinheiro de mão, e recordei as moscas, os moscões, os moscardos, sempre na sombra mas sempre pairando ou poisando sobre todos, vá lá, deixas um cheque e levas contado, igual valor, não perdes nada e ajudas o partido, quem não é por nós é contra nós, e ajudei, eu, o Francisco P e mais umas largas dezenas ou centenas de outros.

Estará arquivada a minha dádiva ao partido, a minha culpa, no banco, um cheque assinado com a minha transgressão, nem sei por quê mas assinei, sim lavei dinheiro, ajudei o partido a erguer-se enquanto o país se afundava, mas não, não chegou, apesar disso o partido tem dívidas, milhões, ali é tudo aos milhões, é a nossa grandeza, de pequenez chegaram cinquenta anos, agora é tudo à grande, à grande e à francesa, e quem sair que feche a porta, o último que apague a luz, e eu arrependido.

Arrependido e desiludido, e as moscas outras mas a merda a mesma, o cenário, os bastidores, os cordelinhos, os senhores doutores, os louvores, os amores, as consciências, a falta delas, a ética, a desética, que será feito desse Monarca que tão pouco tempo reinou ? Terá levado um rombo a sua ética ? Ou será que também ele concluiu, como a distinta Teresa Guilherme, que a ética nunca deu de comer a ninguém ? Será por isso que agora todos trazem a boca cheia dela ? Dela e de boas intenções mas o cálice de cicuta, emborcá-lo, isso não, isso foi coisa de Sócrates…O filósofo e não o 44…

Foi somente mais um que, quando precisei dele virou as costas. Desapareceu, até hoje. Mais um dos tais que muda de passeio ao lobrigar-me, como se me temesse, como o professor José Manuel Varge, ou será que lhes faço vir à memória o pior de si mesmos ? Tão amigo este Monarca Pinheiro era do falecido Dr. José Flamínio Rosa, da Fundação Alentejo Terra Mãe, e cujo prematuro desaparecimento nunca nos permitiu com clareza avaliar daquela amizade. Um caso no qual nunca entendi quem era assessor de quem, nem quem era a marioneta nem quem o manipulador, sempre foi o que me pareceu, um teatro de fantoches, mas nunca houve possibilidades de tal passar de mera impressão. Um dia me tirarei de cuidados e perguntarei à D. Maria do Carmo Herrera que conversa era aquela a que constantemente aludia, que pressões, que ameaças, em volta da Quinta do Camões. Que programa teriam aqueles dois para o futuro ? Certamente risonho, certamente radiante, certamente escrupuloso, certamente condicente com os estatutos da dita fundação. Nunca pisei nada nem ninguém mas quanto aos outros, quem sabe ? Não meto as mãos no lume por ninguém.

11)
Desde finais de 2013, ano em que o PDM de 2008 foi finalmente revisto e corrigido das imperfeições que o boicote nele provocara, a Instituição Novo Sol tem tentado recolocar de pé novamente o citado projecto. Para tal tem contado sobretudo com a simpatia e abertura do Dr. Eduardo Luciano, vereador do Urbanismo na edilidade. Devo aqui ressalvar que embora o projecto tivesse contado desde o sei início com a oposição do PCP na CME, desde que os vereadores Eduardo Luciano, Joaquim Soares e Jesuína Pedreira foram eleitos passou o dito projecto a contar também com o aval deles.



Como é por demais sabido o erro, a “bronca” no PDM/ 2008 estalou nos finais de 2009, o país rebentou também por essa altura às mãos de quem se sabe, o estabelecimento prisional de Évora acomodou um ilustre inocente, e muita gente que hoje passa a léguas do dito inocente fez fila para deixar o beija-mão, deixar o testemunho da sua solidariedade, mas creiam-me, solidariedade, coesão, decência, vergonha, honestidade, coerência, rectidão, são coisas que nunca verão em fila à porta duma prisão.


Para o torpedeamento que vos expus existem no mínimo meia dúzia de explicações, lógicas, plausíveis, possíveis, todas elas possuidoras de elevado grau de certeza e que expliquem a atitude, o boicote, e quem a ou o desenvolveu e por quê. Existe ainda muito por explicar e a explicar. Este texto vai longo, um próximo, aliás já alinhavado espera uma tripla revisão, tal qual este mereceu, de um gramático, de um retórico e de um causídico. Todo o cuidado é pouco quando se joga com gente de certo calibre. Mantenho portanto as questões em aberto, quem ganhou com este boicote e o quê ?  Um dia se saberá, mais cedo ou mais tarde, depende de quando se zangarem as comadres, cujas zangas começaram já a transbordar para os meus ouvidos, o primeiro foi o saudoso Benjamim, que já não se encontra entre nós não sendo justo invoca-lo. Mas há outros, há mais, muitos mais…


12)
Uma coisa deduzi desta experiência, não será por acaso que o país, e em especial o Alentejo se encontram na cauda da europa. Agradeça-se a esta gente... Enquanto um concelho, uma província ou o país se guiar por simpatias/antipatias, por amiguismos, partidarismos, oportunismos, interesses pessoais, egoísmos, clubite e anacronismos que tais não passaremos da cepa torta, no máximo talvez consigamos chegar a um ponto idêntico àquele de que Salazar partiu, sendo caso para perguntar que lógica é esta que estamos a seguir ? …

Termino invocando de memória as palavras do nobel John Forbes Nash Jr proferidas em 1994 na cerimónia de entrega do dito prémio, que no filme “Uma Mente Brilhante” tanto me impressionaram, mas que vêm a propósito, “o que é a lógica, o que é a razão” ?

Decididamente há quem não saiba usar nem uma nem outra…

Gente pequenina.

         
“Há gente que destrói tudo à sua volta e depois se espanta por só ver ruínas" José Alberto Gomes Machado, Prof. Univ. Évora, 20/08/2018


sexta-feira, 29 de junho de 2018

514 - O TRIUNPHO DA VONTADE, segunda parte ...


Ora não deixando de ser verdade que o sonho comanda a vida, é porém acordados que damos conta dela, que procuramos cumprir a nossa vontade, que agimos segundo o nosso entendimento das coisas e as circunstâncias que nos cercam, fazendo uso do tal livre arbítrio de que vos falara. Acima de tudo há que manter a coerência, sermos honestos connosco próprios, não desatando por exemplo a berrar contra o imperialismo capitalista para depois nos irmos empanturrar de coca-cola. Esta é só uma achega, exemplos poderia dar-vos aos molhos. Primeiro que tudo há que fazer um esforço mínimo para entender o mundo que nos cerca, a nível global, regional e local, big is good, but small is beautiful, and little is pretty frases mui usadas na minha juventude e oriundas dum velho e milenar provérbio chinês de minha autoria.

Vamos dar lógica a esta arenga e começar pelo nosso país, onde se produz pouco e cada vez menos, onde os níveis de produção baixam porque os meios não nos seduzem, os meios de produção não são apelativos e os tugas debandam, emigram para onde a sua mão-de-obra seja melhor remunerada, apreciada e valorizada deixando o país cada vez mais pobre por variadas razões, menos produtores e consumidores, menos potenciais casais, logo menos meninos, menos filhos que alimentem a mão-de-obra barata, porém fazendo contribuições para a segurança social, SS, afim de assegurar as pensões dos nossos velhos que cada vez são mais, e nem as portas da eutanásia lhes abriram, cousa que além de os ter poupado a diversos sofrimentos teria aliviado também os cofres da SS.

É todo um castelo de cartas a desmoronar-se por não se ter olhado com seriedade para a demografia há trinta ou quarenta anos atrás, e continuamos a não ver nela o essencial. Tentamos remediar, importar migrantes, o que não é a mesma coisa pois mal se apercebam que a vida neste jardim à beira-mar plantado não interessa a ninguém, nem ao menino Jesus, disparam em direcção a outras paragens mais compensadoras. Andámos e andamos engordando deputados e governantes há décadas para afundarem esta nação na razão directa da proeminência das suas barrigas e, se a ignorância era um factor a ter em conta no tempo da outra senhora, não é menos verdade que essa mesma ignorância, agora apelidada de riqueza e diversidade curricular e instilada na nossa juventude por professores por sua vez e na generalidade (há excepções) tão ignorantes quanto ela, faz desta a juventude mais bem preparada dizem, contudo tão estúpida e ignorante quão as anteriores, parecem dizer-nos as estatísticas.

Mas voltemos à vaca fria, digo eu que isto são pormenores, peanuts, e se é verdade que esta juventude não está para lavar pratos por tuta e meia, está todavia disposta a lavá-los na Suíça ou na Alemanha, pois lá o tuta-e-meia é muito mais substancial e além disso não está ninguém conhecido a vê-los e que os possa envergonhar do mister. Alguns lavando-os com belos diplomas que este povinho suou para lhes proporcionar, o que só prova que se não são eles os parvos, eles jovens, decididamente somos nós ao pagar os cursos de que outros irão tirar beneficio.

Esta coisa dos meios de produção não serem nossos arrasta-nos para a pobreza, a miséria, quem os tem só pensa em si e ainda que pague impostos, que não na Holanda já agora, o grosso dos lucros não irá financiar as nossas escolas, nem os nossos hospitais, nem estradas, nem pontes nem terminais, p’lo que tudo nos cairá em cima, e quando digo tudo, digo todos os impostos e mais alguns pois há que alimentar estradas, portos e aeroportos, há que os pagar, que pagar tudo, inclusive as prebendas de quem nos desgoverna mas consecutivamente elegemos até que nos metam num buraco onde pereceremos. Como fugir disto, deste ciclo infernal ? Emigrando, ou emigrando ou lutando, fazendo valer o triunfo da vontade, sendo coerentes, em primeiro lugar com nós mesmos.

A vontade é algo que se manuseia, ou somos nós a fazê-los ou o farão outros por nós, Hitler sabia-o, precisava de carne para canhão, daí que entre muitas outras medidas e métodos para enganar o seu povo e fazer valer a sua vontade condecorasse com a Cruz Púrpura as mães que parissem muitos filhos, e elas honradas e envaidecidas tinham-nos que nem porcas parideiras. Ao prometer dez mil euros por cada filho Rui Rio insere-se na lógica hitleriana que conduz ao triunfo da vontade, mas esquece que nem ele está na Alemanha nem nós estamos em 1933, pelo que a sua ridícula, mas tão lógica quão impossível ideia irá pelo cano. Temos no mínimo que conceder-lhe o mérito por ter pensado no problema e tentado uma solução, parece que as mães portuguesas não são tão parvas como julguei e ante uma economia que as exclui fecham as pernas e tenha filhos quem quiser que elas não, ora aí está uma posição inteligente, coerente e de louvar.

Fazer filhos destinados a carne para canhão ou a alimentar contingentes que garantam grosso modo uma mão-de-obra barata, então façam-nos os excelsos e inteligentes e gordos políticos que tivemos e temos. Puta que os pariu. Ler Marx é preciso, sobretudo se não formos marxistas, é preciso ver como manobram os exploradores, capitalistas ou não, e como devemos furtar-nos a essas manobras. Reparem que nem os Dez Mandamentos traduzem o pensamento de Spartacus e muito menos se reflectem na totalidade do direito romano embora uns e outros destes factores sejam mais ou menos contemporâneos. O imperador Constantino pacificou o império ao instituir o cristianismo como religião oficial (não exclusiva) mas não tocou no direito romano e se os mandamentos - Honrarás pai e mãe (e os outros legítimos superiores), - Não matarás (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo), - Não furtarás (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo) - Não cobiçarás as coisas alheias, surgem na lei romana tal se deve unicamente ao facto de já lá estarem. Não houve transposição do Decálogo (a tábua de Moisés) para o direito romano, houve sim manutenção do que protegesse e mantivesse os privilégios das classes possidentes romanas, o cristianismo viria a impor-se mais tarde, após a queda do império romano, mas para ser franco, foi mais papista que o Papa e, ao invés de conquistar e assimilar, como os romanos tinham feito, conquistou e destruiu para reconstruir impondo a sua vontade, a sua visão, a palavra de Deus, tendo sido até hoje o maior destruidor de civilizações e da liberdade de pensamento, condicionando de melhor ou pior maneira a filosofia, o materialismo, o modo de ver, viver, no fundo o modo de pensar de meio mundo de há quase vinte séculos para cá.

A génese dos nossos descobrimentos levou com ela a bandeira do cristianismo, a palavra dos Jesuítas e da Inquisição, a censura e o castigo, a morte na fogueira que tudo sacralizava em especial a palavra do Senhor. A nossa História Trágico-Marítima não está isenta dos horrores que Pizarro e Cortez praticaram no Novo Mundo, essa parte da nossa história está escondida, não se incita à sua leitura, ao seu conhecimento, não se editam nem reeditam as obras sobre ela. Neste aspecto vale-nos Fausto Bordalo Dias cujos álbuns no dão conta das chacinas e peripécias vividas, acompanhadas de boa música, Fausto, mais que um cantautor e compositor é historiador, quase o único historiador actual da nossa História Trágico-Marítima, trágica devido a ponderosa razão podem acreditar.

Ora como podem ver tudo tem a sua hora, a sua oportunidade, a sua circunstância. A sociedade de hoje quebrou normas sociais com séculos e ninguém irá ganhar com isso, onde se vive mais uma instabilidade real e latente, na instituição casamento, que terá quinhentos anos e se impôs para ordenar os desvarios, vive-se na actualidade uma brutal instabilidade, cousa altamente desaconselhada. A vida, a sociedade, os novos hábitos sociais conduziram ao aniquilamento do casamento, também a sociedade tem horror ao vazio e perante o vazio a que o casamento foi remetido, tornado uma fonte de problemas, a sociedade reagiu, e bem, dispensando-o e com a sua queda um dos pilares principais desta civilização, é ela que soçobra, entra em decadência, acabará um dia, provavelmente às mãos duma outra civilização cuja riqueza a nossa civilizada civilização em tempos recuados destruiu, o islão, hoje tão bárbaro quanto o era o cristianismo ao tempo das primeiras cruzadas. Deus nos ajude.  

Não recordo a Editora, mas procurem na net ou nos livreiros, a “História Do Casamento”, livro interessante, a história do casamento desde os seus primórdios pré-históricos, em que as mulheres se encarregavam de manter o fogo perene que afugentava as feras e grelhavam os nacos de carne arrancados às carcaças de diversos animais, enquanto em simultâneo, como mães faziam pelos seus rebentos e pelos do clã, num maternalismo cooperativo e comum. E ainda arrebanhavam lenha e se ocupavam de outros pormenores. Era o tempo, ou foi o tempo das sociedades matriarcais, enquanto o homem caçava, agricultava, construía, desde instrumentos para a caça e pesca às rudimentares habitações e utensílios. O sexo era livre por esses tempos, a promiscuidade era uma questão de sobrevivência, os ciúmes ainda não tinham sido inventados nem causavam a catrefa de mal entendidos e desaguisados a que hoje estamos habituados. Todos eram filhos de todos, pais de todos, mães de todos, e, a crer na história viveriam relativamente felizes. Mas o aumento da população e do número de filhos de todos acarretou dúvidas e questões novas, às quais havia que dar resposta, pelo que mais ou menos em meados ou finais da Idade Média, a Igreja, a única instituição com força, para não dizer a única de pé após as trevas originadas pela queda do Império Romano, e a única disseminada por todo o mundo ocidental, então a única parte do mundo que contava para alguma coisa pois o resto era selvajaria.

A Igreja ia eu dizendo, pôs ordem na feliz rebaldaria vigente e daí até os padres e respectivas paróquias terem começado a efectuar um registo de quem era filho de quem e quem casado com quem foi um ar que lhes deu, e do púlpito, a pregação começou a ser outra, ameaçando com a ira de Deus quem não cumprisse, obrigando o rebanho a manter-se ordeiro no novo redil então construído, criado ou inventado. Foi assim mesmo, sem salamaleques nem paninhos quentes. Entre a plebe foi o acto do casamento institucionalizado pela igreja (acreditem, isto é história, não são tretas) pois já ninguém sabia de quem eram tantos filhos, tantos pais e tantas mães, tendo ao longo de séculos sido as populações instrumentalizadas, mentalizadas para esse estado civil superior, o dito casório, e do qual já quase ninguém hoje lembra ou conhece as origens.

Aceitemos que o casamento enquanto tal era já anteriormente vivido ou praticado, mas somente entre as classes superiores, as ditas classes possidentes, realezas e senhores feudais, coroas e dinastias, por causa das heranças, fortunas, terras, e mesmo assim só o primogénito se safava com a herança, as mulheres seriam felizes se tivessem a sorte de casar bem, com linhagem, e era-lhes imprescindível levarem um bom dote ou não valiam nadinha, os filhos segundos iam para cardeais ou bispos ou membros da corte, com tenças e lugares importantes, bem pagos, com terras dadas pelo rei, os condados, e daí foi um passo até aos duques, barões e merdas do género (foge cão que te fazem barão, para onde se me fazem conde...) Olhem hoje são só boys…

Em boa verdade nunca o Zé-Povinho tinha sido tão feliz ! Até que o lixaram com o casamento, com a mulher única e a responsabilidade conjugal, com as ameaças de não ir para o paraíso, com a excomunhão e o tanas, enquanto os pregadores, de Monges a Cardeais e até Papas, se abotoavam com os melhores pedaços de mulherio que podiam, desde freiras a beatas !

E até com as criancinhas quando calhava….

Tudo isto enquanto os mais exigentes mais intolerantes e moralistas mantinham amantes e rameiras, alcoviteiras e barregãs ! Permanentemente animados e entusiasmados, nem todos eram casados ou amigados e o casamento como hoje o conhecemos nem sequer tinha nascido por esses dias…

Os séculos provaram contudo que ainda que caro esse embate que as cruzadas permitiram ou forçaram, esse encontro ainda que violento de duas civilizações, a europeia e a do islão, deu frutos. A longo tempo e a longo prazo constataram os europeus quão atrasados cultural e civilizacionalmente estavam em relação aos vencidos que pela força tinham subjugado. Tal qual acontecera com os Romanos em relação aos Gregos, viria a acontecer agora, os Europeus tomaram-se de brios e não quiseram cultural e cientificamente ficar atrás da civilização islâmica, que venceram mas com a qual muito aprenderam.

Pois meus amigos chegámos finalmente ao fim, ao entroncamento, à estação ou ao apeadeiro da nossa conversa e por agora é tempo de terminar. Até à próxima e cuidem-se.



Eu mesmo, 13 de Maio de 2004, auditório do Diário do Sul.