“ OS
SINDICATOS “
# UMA
IDEIA DE CIDADE #
Texto
9 de 12, escrito em 29 de Junho de 2000 e publicado no Diário do Sul em 20 de Setembro
de 2000,
ATENÇÃO
ESTE TEXTO TEM VINTE ANOS !
É
comum em Portugal o recurso a diminutivos para caracterizarmos tudo o que nos
calha à mão. É a bicazita, o cigarrito, o pastelinho, o almocinho, a queridinha
etc. etc. Quem se vê à brocha é o estrangeiro que pensar já dominar a nossa
língua.
Mas
o diminutivozinho tem evidentemente uma função denotativa, não a conotativa que
lhe anda normalmente associada e, no presente caso, correndo talvez o risco de
atropelar a gramática, o sentido que lhe dou é o condicional, pois saibam que pequenez
e timidez são condicionalismozinhos que surgem em Portugal, e em Évora,
associados ao sindicalismozito.
Perguntar-se-ão
os leitores que têm os sindicatos a ver com o desenvolvimento da cidade, ao que
eu responderei, MUITO.
Não
são eles os representantes das classes trabalhadoras nas suas múltiplas actividades
ou profissões ? Não são eles quem dialoga, discute e estabelece com os representantes
das classes empresariais os acordos que maioritariamente têm como preocupação
fundamental os salários ?
Pois
bem, e além desta quase única vertente, os salários, já houve alguma vez notícias
de que tivessem analisado os motivos pelos quais o subdesenvolvimento crónico
não arreda pé da região ?
Se
tal aconteceu admito a minha ignorância e culpa mas disso não tive conhecimento,
e sou bastante atento ás mais pequenas notícias da comunicação social. Se aconteceu, isto é se analisaram esses
motivos que concluíram ? Que medidas tomaram para os contrariar ?
Para
mal dos nossos pecados é vergonhoso que o movimento sindical acorde negociar, e
aprove tabelas salariais cujos valores a maioria das empresas acaba por superar,
pagando salários muito acima dos acordados. Por quê ? Porque se nivela por
baixo… Os sindicatos não hesitam em prejudicar a grande maioria dos trabalhadores
aceitando tabelas salariais baixas, só porque meia dúzia de pequenas empresas
não tem condições para pagar salários mais elevados.
Se
não têm condições encerrem, não fazem falta, além de constituírem concorrência
desleal para as outras empresas aos ser-lhes permitido dessa forma beneficiar
de custos mais favoráveis na produção. Essas
empresas não são sinónimo de desenvolvimento, antes pelo contrário, e a
realidade é que mais cedo ou mais tarde acabam mesmo por sucumbir, prova que
não devem ser artificialmente mantidas.
Mas
o pior nem é isto, no estrangeiro, em especial na Europa, com quem os nossos
sindicatos muito têm a aprender, o sindicalismo é forte e ele mesmo detentor de
empresas, de bancos, de seguradoras, de fábricas, ou de posições e
participações em empresas cujos dividendos aproveitam, enquanto em simultâneo concorrem
para o desenvolvimento e para a manutenção e criação de postos de trabalho.
Casos
tem havido em que têm sido os sindicatos a tomar posições em empresas
condenadas a morrer e que posteriormente fazem delas petiscos muito apetecidos.
Calculem-se os benefícios dessa forma de actuação, não preciso certamente enumerá-los
aqui.
E
por cá ? Contestam-se as dificuldades ou o encerramento de qualquer unidade,
fabril ou não, através de atitudes inconsequentes, sem procurar saber dos
motivos que constrangeram os seus responsáveis a essa posição, tantas vezes (nem
sempre) fruto de factores endógenos a essas unidades, a alterações de hábitos
de consumo, à concorrência de outras marcas mais dinâmicas, à perda ou extinção
de clientes etc. etc.
O
nosso sindicalismo não é nem dinâmico nem inovador, é estático, e também ele
não deu ainda a devida atenção à qualidade dos recursos humanos, à qualidade
dos seus quadros, distraído e enfeudado como tem andado a forças políticas tão
distraídas quanto ele da velocidade a que o mundo roda.
Entretanto
cada vez menos trabalhadores hoje neles confiam, menos se associam, sem que
sindicatos e centrais sindicais deixem de alegremente repetir slogans,
manifestos e modelos há muitos esgotados.
Quando
veremos em Évora sentados á mesma mesa, sindicatos e empresários, na busca de
soluções que lhes são por força das circunstâncias comuns e que lhes deveriam
há muito ter dado consciência da ligação umbilical que os une, quando ? Não
viram ainda sindicatos e patronato que o seu percurso é indissociável, que é a
sua própria sobrevivência que está em jogo ? A nossa própria sobrevivência ? Não
reconheceram ainda que já não está nas suas mãos o poder de decidir ? Que é a
nível mundial que as decisões são tomadas e que do impacto desse embate
resultam maiores ou menores estragos consoante a força e a unidade que
apresentarmos ?
Quando
deixam os sindicatos de ver na classe empresarial o inimigo a abater ? Quando
deixam de ver em cada empresário um fascista sem escrúpulos ? E quando deixam
os empresários de ver nos sindicatos uma fonte de problemas ? Um bando de
ladrões ? Um grupo de arruaceiros ? Quando é que ambos tomam consciência de que
são parceiros sociais, actores do drama que liberalização e globalização nos
obrigam a encenar ? Claro que nem todos os empresários são uns
santinhos ou todos os sindicalistas um modelo de virtude, mas o mesmo se pode
dizer de qualquer outra classe profissional ou funcionário. Não confundamos a
floresta com a árvore, a excepção com a regra.
Quando
soube que se sentaram à mesma mesa, sindicatos, associações patronais e
empresariais, câmara municipal de Évora, Centro de Formação Profissional,
Instituto do Emprego, Ange e outras entidades com responsabilidades no nosso
desenvolvimento fiquei feliz. Começa finalmente a compreender-se que só a união
de esforços, a convergência de opções estratégicas, poderá contribuir para a
obtenção de resultados que a todos interessem. É que há tantos campos em que
parcerias entre todas as partes envolvidas podem ser trabalhados, e que são
caminho possível para que Évora possa emergir do marasmo em que sucumbiu que
não podem ser descurados.
A autarquia
certamente já concluiu, ao ter clamado em recente encontro por mais e melhor
democracia, participação e transparência, que lhe cabe um importantíssimo papel
no desbravar dos caminhos do futuro, que não pode fechar-se sobre si própria,
sobre a sua muito pessoal visão do mundo. Que com isso só motivará o desinteresses
e o alheamento de muitos, resignadamente à espera que caia de velha, como
aconteceu com o muro de Berlim, e que no entretanto o tempo se dissipa sem proveito
para ninguém.
Já
agora, a titulo que conclusão, porquê a simbiose nada aconselhável, que se tem
verificado ao longo de anos entre as posições da câmara e dos sindicatos eborenses
? Que procuram ? Que ganham com isso ? Que perdem ? Não são os seus papéis distintos
? Nunca ouviram dizer que trabalho é trabalho e conhaque é conhaque ? Nunca lhes
passou pela cabeça que nem todos os trabalhadores comungam das mesmas opções
políticas ?
Para
que Évora e o Alentejo possam um dia vestir a camisola amarela, terão primeiro
muitos eborenses que despir a camisola do preconceito e envergar a que diz “orgulho de ser Alentejano” Ah ! E arregaçar as mangas…
ATENÇÃO ! NOTA ! Esta
crónica, antecipada mor do 1º de Maio, foi escrita em 29 de Junho de 2000 e publicada
no Diário do Sul em 20 de Setembro de 2000 - ATENÇÃO ESTE TEXTO TEM VINTE ANOS
! QUALQUER COMPARAÇÃO COM A ACTUALIDADE SERÁ MERA ESPECULAÇÃO !!