domingo, 26 de abril de 2015

235 - TSU, UM POEMINHA DA PORRA .................


Ah ! Pois é ! Mas, como raio vamos descalçar a bota agora ? Um défice enorme, um PIB vergonhoso, uma festa de arromba que já dura há quarenta anos, alguém ainda lembra o que festejamos ?

Somos a sétima economia mais lenta do mundo, andámos dormindo 40 anos e o despertar atirou-nos para a ressaca… Alguém, algum dia, vai ter que admitir termos sido governados por incompetentes oportunistas e desonestos desde que M. Caetano se foi… Só agora reparamos estar tudo por fazer, andámos mesmo 40 anos tecendo loas a um tal Abril, filho de boa gente e que caiu no goto da rapaziada…

Ele é o desemprego que não baixa, ele é o emprego que não sobe, ele é a TSU para cima e para baixo, ele é os cofres cheios e as barrigas vazias. Tenho azia, padeço de azia. Tudo isto me arrelia e reviravolta-me o estomago em demasia. Como iremos sair desta ? Será c’uma festa de arromba em S. Mamede de Infesta ? Na realidade nem sei, mas sei que nã vai ser com o Costa. Temos um problema binário, fábricas sem produzir, ou nem sequer existir e ministérios and municípios cheios de pessoal excedentário…

Claro que todos somos gente, alguns em contramão certamente, e não o tal operário em construção. Que fazer com este povão ? Perguntou-me o Custódio Gingão. Parece um poema de treta para um problema de caca, mas não, porque o investimento acomoda-se, os empresários acomodam-se, e numa tal eventualidade, que fazer neste cenário? Baixar a TSU ?

- Que ideia p’ra meter no cu… dizem-me alguns,

- Sem baixar a taxa nunca iremos lá, dizem outros.

Afinal no que ficamos ? Direi eu.

E todos parecem esquecer, ser uma TSU alta quem alimenta esta malta que se arrasta p’los ministérios, e infesta os municípios. Verdade que não fazem nada, rentabilizam ou produzem, mas também nem culpa têm. Além de que sempre o ganham, se o ganham melhor o gastam, e se o gastam serão virtuosos, alimentando o consumo, mantendo o país de pé e a economia em apneia. É o milagre das rosas, a quadratura do círculo. Que fazer com esta malta que nem se verga nem presta, que nada mais sabe fazer que não número greves e festas ?

Exterminá-los não se pode, reciclá-los certamente, embrulhados em pacote, todos com lindas fitinhas, e debaixo de um nome pomposo, “Restauro Virtuoso de Gente de Estilo” , aposto que irão chutá-los c’um valente piparote. Hão-de pensar-me insensível, quando em verdade o que me aflige, é este drama inverosímil, espreitando debaixo da cama de quem inda não migrou. Pois bem meus queridos amigos, durante quarenta anos admitiram-vos, enganaram-vos, pois continuarão a mentir-vos, mas desta vez a demitir-vos, outros quarenta e mais uns tantos…. 
Meus tontos.

Tontos é o que nós “semos”, se com esta sina nascemos.

E, se dantes teria havido uma União Popular onde agarrarmo-nos podíamos, today são só democratas, socialistas e outros que tais, exorcistas e liberais, sem ponta por onde pegar e mais escorregadios ainda que uma bola de bilhar.

Ops ! Pardon madame ! Pardon monssieur ! Mentira ! Sempre haverá afilhados, afilhados e padrinhos a acabar baptizados nesta democracia da treta que rejeita a maioria, mas que aos protegidos dá têta. Aos protegidos, aos ungidos, apadrinhados, compungidos, tudo por sorte aparece. Qual mérito qual carapuça, qual vocação de perdição, qual jeito ou sensibilidade, nem interessa onde nem quando, nem como nem sequer porquê, pois só não vê quem não queira, como a sorte cá é matreira.

E, se insistires, de uma e qualquer maneira irás foder-te . 

E a bagalhoça para o investimento, onde a ir buscar se nem narda temos p’ra cantar um cego mandar ? Não basta sorrir e ver os juros a baixar, é que temos que pagar o que se vai lá buscar. E como aproveitá-lo se ninguém for lá buscá-lo ? Nem p’ra o meter a render, ou aplicar, multiplicar, de molde a pagar-se a si mesmo e ainda a sobrar p’ra todos ?

E toda essa gentinha e maralha andando por aí, por aí e excedentária, quando e como poderemos torná-la utilitária ? Serão bibelots de enfeitar ? E não se podem mudar ? Os sindicatos não vão deixar ? E pró maneta já deixam ? Pareço-vos o Aleixo ?

Faltam-nos inovadores, empreendedores, investidores, nesta terra de doutores da mula ruça. E ninguém dá uma ajudinha ? Nem nas Caldas da Rainha ? Pois que os façam de barro, saindo com agrado e a desejo, criai uma incubadora, inventai um novo ninho, um laboratório de ideias, ou algo que se pareça, e colocai lá na tal peanha alguém que a coisa mereça.

Emprego
Arranja-me um emprego
Pode ser na tua empresa com certeza
Arranja-me um emprego
Eu dava conta do recado e para ti era um sossego
Arranja-me um emprego

O investimento cai a pique há mais de dez anos, o público porque não há narda, carcanhol, e o que há mal chega pra pagar o tal exército de excedentários inúteis e desnecessários. O investimento privado cai porque qualquer investidor que se preze não arriscará um tusta com os impostos neste tão elevado nível. Trabalhar para aquecer trabalhem os esquimós.

É notório que o investidor privado se coíbe de arriscar, de investir, aos filhos ainda aceitará dar de comer, alimentar, mas a esta cáfila de inúteis que pululam por municípios, ministérios, direcções gerais, etc etc., aí chia mais fino, não estão para isso, que eu bem os ouço nas mesas do mesmo café onde me sento.

TSU sobe TSU desce, estamos para ver, ou desce e há investimento e criação de postos de trabalho, ou se mantém alta e o desemprego idem idem aspas aspas. Se é que me faço entender e não subirá ainda mais…

E entonces no que ficamos ? Quem tem desta vez razão ? Governo ou oposição ?

É assunto que devia ter sido debatido há mais de trinta anos, este e muitos outros. Não foi, nem a bem nem a mal, e agora a mãozinha marota dos mercados está a dar-nos um sinal. Amanhã será um estalo na cara, e depois de amanhã uma lambada. Para aprendermos. Isto começou mal logo em Abril, depois foram águas mil… até o Cavakinho balir e dar de frosques c’as pescas, a agricultura e quejandos, c’a malta só queria eram festas, té o Marokas defendia que duma manêra ou doutra a coisa se arranjaria. Foi tudo em cima do joelho, toda a gente se calou, toda a gente sacudiu a tal mui pressão a mais, o tal mui trabalho a mais, e quem se fodeu meus animais, foi o artelho… Nã aguentou o engelho…

O país não foi preparado p’ra deitar cedo e bulir, mas foi viciado e bem, em bem gastar e bem dormir. Deitar cedo e cedo erguer era coisa do passado, a moda agora era esturrar e nunca por nunca ser poupado. Do sector primário aos demais nada foi planeado, e ainda vos admirais que o caldo esteja entornado ? A gente tamos entalados.

Mas abre os jornais e pasma com o país em movimento, tanto encontro tanta mexida, que inté parece mudando, ele são apresentações de produtos ou sugestões, ele são apreensões quanto ao que nos trava o passo, ele são as edições, de brochuras ou negócios, ele são classificações de restaurantes ou monumentos, ele são encontros, debates, homenagens, parcerias, ele são acusações, apostas e audições, dinamizações e estratégias, ele são planos, cooperações, sessões orais e transfronteiriças, são parcerias, são arranques, são coisas p’ra dar a conhecer, ou singelamente assinalar, são jornadas p’ra celebrar, palcos e comemorações, ele são portas abertas, ele são provas non stop, ele são exibições, ele é o Workout e o Night Run, ele é o GIMN IN ou o Gymn OUt, ele são experiencias temáticas, são eventos e eventualidades, são abordagens de problemáticas, são os temas emergentes, os fracturantes e os designadamentes, são ofertas e convites, são iniciativas e reuniões, são exposições e representações, enfim, a gente pasma e ri dum país que se contorce c’as dores duma valente entorse que estou convencido que sim, foi a porta que Abril abriu, uma porta de acesso à cave, por onde aos baldões caiu…

Portanto haja calma meus tontos, o país há-de mudar, só mais um pouco de paciência, mais quarenta anos de indulgência kinda há chefes, presidentes, deputados, ministros e generais, académicos e outras gentes, directores e cardeais, e decerto muitos mais à tu frente, na fila  que procurais, a tal ke dá pra enricar …

Algumas observações avulsas além texto:

- TSU sim TSU não, contudo alguma coisa vai ter que ser feita, alguma coisa vai ter que mudar, e muito, pra trazer de volta o investimento privado... Tanto que A. Costa está a planear desce-la nas empresas privadas, mas não nas públicas….

- A democracia é um regime mole que tudo permite e acaba por dar guarida a todo o oportunista e oportunismo... Lembremos o caso Alves Reis, que pintou o que quis até ser preso em 1924.... Depois, com Salazar, após 1926, já não fez farinha.... Nem ele nem mais nenhum.... O medo do Tarrafal, do Aljube, de Caxias, o temor do confisco imediato de bens e valores, metiam muito má gente na linha.... Estou convicto que o caso BES nunca teria acontecido sob o regime Salazarista ou até Marcelista...

- Reflexão, é esse o meu fito com estes textos em que me divirto, muita desta malta mais nova nem sonha que estamos em muitíssimos aspectos bem pior que no tempo da outra mal afamada senhora, facto que deveria envergonhar todos os políticos  e todos os partidos... Que não souberam conduzir este pequeno país e as suas gentes, o que nos está acontecendo é sobretudo por culpa nossa.

-  Como povo, como gente, simplesmente não prestamos, venham os americanos, ou até os Angolanos e comprem esta trampa toda... de outro modo jamais a sangria da emigração parará. Falo a propósito das compras de Vilamoura e supostamente da Comporta.

- "Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África 1961-1973", durante os 13 anos de guerra colonial registou-se um total de 8.290 mortos nas três frentes de combate: Angola 3.250, Moçambique 2.962 e Guiné 2.070. (Muitas destas mortes foram devidas a acidentes e não a confrontos directos com o inimigo, o assunto está documentado). Tudo tem um preço. A questão é que não seja demasiado elevado, ou demasiado caro, e esta democracia custa-nos os olhos da cara tendo em atenção o que nos dá em troca... Morre-se mais hoje em acidentes, suicídios, fome, frio, tuberculose e outras doenças…

- A este propósito pode ser lido o texto nº 229 “ O PREÇO CERTO “, link :


sábado, 25 de abril de 2015

TEMOS CIGANOS * por Maria Luísa Baião ................

                                                                                                                                                                   

            É madrugada. Acordei cedo e bem disposta. Os últimos tempos têm-me sido favoráveis. O meu “astral” anda alto, e horóscopos que nunca consultei são unânimes em predizer-me dias felizes, muita saúde e amor. Nada mau como perspectivas.

Uma cigana bonita tentara ler-me a sina na palma da mão, fechada, com que disfarçara o valor das moedas que lhe colocara no regaço. Contudo lá foi atirando mais que uma vez ser eu descendente da realeza, uma mulher com alma, que encontraria a fortuna e a quem não faltariam homens na vida, ricos e carinhosos, inteligentes e formosos. A magana abotoara-se com as moedas e ainda gozava! Valeu-me não me ter rogado uma praga, ou atirado para os braços de homens menos recomendáveis. Devia portanto estar-lhe agradecida.

Retomando o fio à meada. É madrugada, acordei cedo e bem disposta. Ligo a música e sento-me à secretária, o amigo Madeira Piçarra não me perdoaria se faltasse à pontualidade e à constância com que lhe remeto estes escritos, estou em cima da hora, devo, tenho que enviar-lhos ainda esta manhã. Estou portanto ouvindo música. Clarinetes, trombones, pianos, violinos, lançam odores a uma Primavera ainda longínqua no meu espírito. Espirais de sons enovelam-me os sentidos. Busco Vivaldi e “As Quatro Estações”, assim não sairei do carreiro, vou mete-las todas no mesmo saco para não trair a sina, já que ainda mal começou o Outono.   

Vivaldi, esse virtuoso, filho de um barbeiro violinista e talentoso. O mesmo Vivaldi que virou padre e a quem não sei porquê chamaram “o Padre Vermelho”. Adorava crianças e há quem diga terem sido elas a inspirá-lo. Embora nascido no séc XVII, só na segunda metade do séc XX viria a ser descoberto. Morreu pobre, vendeu baratas milhares de obras por si compostas para sobreviver. Tão virtuoso era, (foi o percursor do romantismo na música), que compunha uma melodia mais rápido que um copista demorava a copiá-la.   

Uma caixinha de CD’s que há muito o meu marido me oferecera faz-me as delícias destes momentos. Conhecem aquela estória de uma senhora que em toda a sua vida nunca comprou, em segunda mão, um carro que a não tivesse satisfeito plenamente enquanto lhe durava ? E parece que ao longo da vida muitos comprou e nenhum a desiludiu ! O segredo ? Não percebia nada de mecânica, mas sentava-se neles, ia ligando os respectivos rádios, e o que encontrasse sintonizado numa estação de música clássica era o que escolhia. Consta que nunca falhou ! Dá para pensar não dá ? O sistema não terá aplicação na hora de escolher um homem ? Calhando todo aquele que víssemos numa festa de amigas de avental ao peito daria pelo menos jeito !

Uma aura divina parece rodear a imagem do compositor, em destaque na capa do CD, eu sinto-me no céu. Volto a lembrar a cigana e interrogo-me sobre que fazer com o meu homem já que a julgar pelas palavras dela irei ter muitos, ricos e formosos. Não me preocupo, o futuro a Deus pertence e os horóscopos predizem-me dias felizes, saúde e amor. O dinheiro é com a cigana. Nada de razões para me preocupar. Cada português devia ter uma cigana à perna, talvez a auto-estima nacional se elevasse.

            Não temos ciganas mas temos ciganos, o mundo está cheio deles, não têm pátria, a sua pátria é o dinheiro, ou melhor, a sobrevivência com os tachos, a qualquer custo. Outros arranjam louça estalada, guarda-chuvas de varetas partidas ou fechos emperrados, enfim, sobrevivem trabalhando.

Temos ciganos, ainda há poucos dias passou um na minha rua. Dei por ele ao longe, fazia-se anunciar com alarido, de tal modo que ninguém no bairro poderá dizer em consciência que não o ouviu, que não deu por ele. A minha gata, a Shamira, curiosa, saltou do sofá e correu para a janela. Aquilo era novo para ela, o som, o pregão, e ali ficou até perdê-lo de vista.   

O assobio da sua flauta, aquele assobio, há quantos anos o não ouvia ! E como faz bem à alma ! Um amola-tesouras ! Há quanto tempo o (s) não ouvem ? Pensava ser espécie já sumida da terra, como o lince da Malcata. Que alegria foi ouvi-lo de novo. E não foi que dias depois choveu ? Sempre me disseram que eles adivinhavam chuva ! Procurei tesouras e facas por amolar e nada ! Tudo é novo ou quase na cozinha. Ciganos, está visto, à minha custa não sobrevivem. Mas sobrevivem ciganas, o que vai dar no mesmo.
  
Oxalá a cigana não se engane quanto ao dinheiro ! Bom jeito me daria ! Homens já me chegam os que tenho. Tal pai tal filho, estão iguaizinhos em tudo ! A música parece agora subir enorme escadaria, vai em crescendo. No fim uma grinalda de cores projecta raios fulminantes de arco-íris em todas as direcções.
  
Vivaldi enche-me a manhã de harmonia. Já sei ir passar o dia cantarolando-o, e como não sou egoísta aqui vos deixo a sugestão de que o ouçam, alto e bom som, acredito piamente que igualmente alegrará o vosso dia. Remato ouvindo Strauss e “Wine, Woman and Song”, como sempre radiosa e intrigante. Quanto daria para conhecer a história desta belíssima composição !

Cesso, como tantas vezes acontece, ao som de “Voices of Spring”, do mesmo compositor, e acabo atirando os papéis ao ar, qual bailarina, o pijama virando lindo vestido de organza, rodopiando pela sala e saindo, pois tenho que ir trabalhar !

* Escrito em Évora a 30 de Outubro de 2006 por Maria Luísa Baião e publicado por esses
  dias no Diário do Sul, coluna Kota de Mulher.





     

                                    

sexta-feira, 24 de abril de 2015

234 - BAZANDO O DESGOSTO...................................


BAZANDO O DESGOSTO

Levaste-me a sorrir,
Correr e saltar,
Cabeça no ar,
Esquecendo passado,
Programando porvir,
Puxar do devir,
P’ra no finalizado
Ser tudo sonhado.

Tudo fora desejo,
Imaginação minha,
Não passara de ensejo,
Bloqueio no coração,
Paixão por priminha
vizinha ou amiguinha,
Fora recordação
Que me acudir'à pinha
Apaixonado, passando no brejo.

Quedei combalido,
Ferido de paixão,
Puxei do violão
P’ra ficar distraído
E, no meio do desgosto,
Troquei meu posto
Por um mais a gosto,
Saindo redimido, 
Rindo a contragosto.

Agó vou passeá até ou Brasi
No é bari ?????????????????????

humberto baião Évora 2015-05-03


                   





quarta-feira, 22 de abril de 2015

233 - HELENOS NA HÉLADE .....................................


               Acolheu-se sob o seu braço reconfortante, o mar azul e o sol chispando tornariam inesquecível aquela manhã. Não era a primeira vez, porém naquele dia tinha um significado especial, sorriu quando lhe sentiu a mão deslizando-lhe sob a túnica numa caricia que tão bem conhecia.

Recostou a cabeça e entreabriu as pernas, antevendo o gozo, habitualmente extremado, sem imaginar que outros motivos surgiriam para que jamais esquecesse aquele momento.

Ter arrancado as melhores notas na Academia antecipava-lhe um futuro radioso e brilhante, de cujo orgulho desfrutava já por antecipação. Com esse pensamento deixou que aquelas mãos lhe percorressem o corpo, numa provocadora carícia que lhe causava vera estranheza, como se a carícia fosse mais desejada, ou se tivesse tornado repentinamente mais perturbadora. Era uma sensação nova e agradável multiplicando por mil todas quantas sentira até ali.

 Aqueles dedos deslizando suavemente causavam-lhe agora arrepios, olhava os braços, tisnados do sol, mais ásperos que pele de galinha. Contudo abandonou-se numa concupiscência consentida e repartida, que lhe causou um estremeção sentidas que foram as mãos abrindo-lhe as pernas, e uma boca libidinosa de hálito quente sugando com urgente avidez a essência do seu ser.

A voracidade daquela boca impenitente fez com que se sentisse crescer, e um fogo subindo-lhe das entranhas tomou conta da situação até que o horizonte e a razão se toldaram. Primeiro um rubor nas faces, depois um tremor de mãos dadas com calafrios, desaguando num turbilhão incontrolável, o corpo aos sacões, tal qual olhasse de frente o sol ígneo. Algo algures no fundo de si eclodiu num jorro irreprimível, misto de luz e prazeres tais que só a graça dos deuses poderia igualar, foi como se tivesse sido derramada sobre todo o Peloponeso uma chuva de estrelas cadentes. 

Debaixo do sol e do céu, vindo de bem fundo de si e das suas entranhas, algo irrompeu em erupção contorcendo-lhe o corpo, algo que jorrou repentinamente, num relâmpago, deixando-lhe o corpo prostrado, desfalecido, sorriso rasgando-lhe a cara, provando a lânguida felicidade experimentada e vivida.

A fácies do mestre denunciava igualmente a enorme gratidão devida aos deuses inundando-lhe a alma. Cuspiu numa bacia sob a tarimba que lhes servira de leito o leite, ainda aguado, que tanto o deliciara, limpou-se a um pano branco de algodão do Egipto, procurou e beberricou uma taça de vinho quando, batendo solenemente com a mão na testa:

- Raios e coriscos Heitor ! Esqueci-me e profanei o jejum, que os deuses me perdoem.

Heitor sorriu ruidosamente lembrando-se que, a ser verdade ter o mestre compilado uma lista, era inegável ocupar o topo, não tinha sido alvo da sua atenção e acabado de testemunhar quanto era amado ? E que seria aquela sensação nova e avassaladora que minutos antes experimentara e sentira ?

- Já és um homem Heitor, acabaste de mo provar, não demorará que sejas chamado para a tua aprendizagem guerreira, o quê ? Isso que acabaste de experimentar ? A ejaculação ? Somente uma prova de que já não és menino, a infância foi-se, entraste na juventude, goza-a, quando findar terás metade da tua vida vivida. Agora vai, os teus pais esperar-te-ão, já é tarde, conta-lhes o sucedido hoje, antevejo-os felizes e orgulhosos do seu adónis.

Heitor atirou sobre o ombro à tiracolo a guita que amarrava os papiros e, apressando o passo rumou ao treino de triatlo, a hora tardava e queria desesperadamente passar por casa e relatar aos pais aquela maravilhosa manhã.

Abraçou o mestre, pensando para si mesmo estar explicado o acne que desde a última maratona vista lhe bexigava a cara. Confessou-lho e este prometeu levá-lo, interceder por ele e inscrevê-lo na cidade de Maratona, cuja prova para o ano que se aproximava exigia que começasse já intensa preparação. Teria tempo para treinar e completar os catorze anos, exigência mínima daquela prova.

Uma vez mais Heitor sentiu-se agradecido, apertando mais o abraço, naquele momento julgou serem eles as duas criaturas mais felizes do Pireu, em simultâneo notou no mestre uma ligeira mas notória excitação e, buscando-lhe uma abertura na túnica, subtilmente procurou-o e tomou-o na mão.

O mestre acusou o toque e, brincando, fez com que caíssem os dois sobre o leito modesto que a tarimba era. Respeitosamente percorreu-o com os dedos, primeiro numa ousada e propositada carícia, depois, num desafio, pegando-lhe com vigor e, sem deixar de o olhar nos olhos, masturbou-o com carinho e ternura.

Não demorou que ambos se imaginassem no Olimpo, com um esgar seguido de longo sorriso o mestre deixou-se adormecer.

Heitor tapou-o com uma manta leve, colorida, e fez-se à estrada cantarolando, feliz.


quarta-feira, 1 de abril de 2015

232 - EUROPA QUERIDA EUROPA * ........................


     O continente europeu e em especial os europeus ocidentais têm assistido ultimamente a um confinamento geoestratégico que, se ainda não os submeteu nem os pressiona, no mínimo lhes tira o dormir.

No seu interior o crescimento da extrema-direita, a leste a Crimeia primeiro e a Ucrânia depois, a sul o avanço do estado islâmico, são realidades, não somente aparências e constituem factos e presenças amplificadoras da ameaça terrorista que lhe morde os calos. É isto que a actual Europa tem hoje para nos oferecer, para além do espaço Schengen claro, e de uma moeda e política comum que cada vez mais são fontes de dissensões e dissabores. Não há uma estratégia comum, nem um exército comum, e quando chegar a altura e a necessidade também não haverá táctica comum que lhes valha… Nem gentes comuns dispostas a fazê-lo….

Nem vale a pena carpir mágoas, nem tudo será negativo ainda que ecluda o pior cenário. Apesar de tudo a Europa ainda é o continente com a mais favorável distribuição de riqueza, (existe porém enorme disparidade entre os países da UE) quer no que concerne à riqueza oriunda dos rendimentos do trabalho ou de rendimentos de capital ou de propriedade, digo apesar de tudo pois igualdade nunca houve e está mesmo a crescer de novo entre nós, lenta mas inexoravelmente, a desigualdade.

Causa maior desta apesar de tudo tao benfazeja, ou proclamada igualdade que a Europa actual goza, foi o período que englobou as duas grandes guerras. Havia, antes da destruição de nível mundial que elas provocaram, uma desigualdade muito maior no mundo, e entre nós. Benditas guerras que, mau grado os inconvenientes que induziram e o caos a que nos arrastaram, também nos legaram méritos que fruímos longo tempo mas estamos a esquecer, tais como liberdade, fraternidade, igualdade e solidariedade, pormenores não de somenos importância e reflectidos em coisas simples como o emprego, o crescimento, o bem-estar e a comodidade. Todavia com o passar do tempo todas estas “facilities” que 60 milhões de mortos nos legaram só nos tornaram mais cínicos, mais egoístas e mais individualistas.

Dantes era um por todos, todos por um, agora é cada um por si.

E não pensem que ironizo ou brinco, basta olhar para os estudos sobre o “Capital” que Thomas Piketty ** desenvolveu e felizmmente para nós muito fácilmente acessíveis na net em http://piketty.pse.ens.fr/fr/ e muito simpática e especialmente em http://piketty.pse.ens.fr/files/capital21c/en/Piketty2014FiguresTablesLinks.pdf para confirmarem a verdade das asserções que atrás fiz.

Cresce a desigualdade, cresce o desemprego, cresce a falta de solidariedade, cresce a pobreza, são variáveis muito perigosas de manipular se as não levarmos a sério, contudo não levamos, andamos a brincar com o fogo. **

Mas como ia dizendo, não desesperemos. Outra guerra só nos iria fazer bem, em primeiro lugar alguém, finalmente, criaria uma verdadeira politica virada para a juventude e de um dia para o outro, ao invés de agora que andam há meses, senão anos, para parirem politicas como o VEM, para os mais jovens, no caso emigrantes. No aperto seria o VEM E VEM JÁ !

... e ai de quem não viesse, portanto não é falta de atenção à juventude, é falta de motivação para perder tempo com ela. Imagino que todos os destinos do Erasmus passariam em exclusivo para as fronteiras nos Urais ou no Mediterrâneo e o recrutamento seria mais que certo ….

Uma das iminentes vantagens seria que se perderia nos jovens a atracção pela aventura e a sua partida incógnita para a Síria e para o Iraque. Um mundo de oportunidades se lhes abriria a leste, ali, de certeza haveria campo para demonstrarem e aplicarem a sua coragem, a sua heroicidade, a sua entrega a uma causa, o seu desprendimento das coisas terrenas e ou mundanas. Com a vantagem de se escoarem stocks e abrilhantarem o uso e comprovado sucesso das armas em armazém e em estudo ou desenvolvimento, sem que tal representasse para eles, jovens, um custo acrescido.

Muitos deles e delas encontrariam no seio das forças armadas e pela primeira vez uma família funcional, um lugar seu, uma cama, lençóis banho, aquecimento, roupa lavada e quiçá refeições quentes todos os dias, não esqueçamos que se trata de três ramos diferenciados portanto diversificados, e cabalmente capazes de acolherem as mais variadas vocações, atentem que vos falo de ramos sem aperto orçamental. Não duvido que todos esses e essas jovens saberiam gerir e prolongar a guerra, fazer-se ou tornar-se necessários, incontornáveis mesmo. Um bom planeador ou programador e já agora mobilizador, líder, mandaria fazer atempadamente centenas e centenas de condecorações e cruzes de guerra apropriadas.

O problema da ligação das linhas de caminho-de-ferro entre nós e a Europa seria solucionado em três tempos, mais rápido que de imediato, e aposto que o óbice da bitola nem sequer se colocaria.

O desemprego jovem baixaria como que por magia e a juventude encontraria finalmente uma razão de vida, uma ocupação digna, nobre mesmo, sendo que os mais empenhados saberiam começar a construir logo ali uma carreira profissional, um futuro, dando corpo a uma vocação, o que pela primeira vez em quarenta anos seria um desígnio vero, levado a sério e prosseguido com coerência neste país. Relembro os tais três ramos sem controle orçamental… absorvem muita coisa…

Meia dúzia de bombas a sério em meia dúzia de cidades mudariam de imediato a Europa. Então, e só então, seria vê-la a fazer em cima do joelho tudo o que não fez com tempo, a mobilizar-se mobilizando tudo e todos no interesse comum, a entregar / distribuir tarefas e planos definindo prazos e objectivos a cada país, navios de guerra na Lisnave e submarinos em Viana do Castelo, tanques de guerra na Krupp AG alemã e aviões aos franceses da Dassault-Breguet, destróieres aos estaleiros italianos Fincantieri, armas químicas na Unidade Experimental de Defesa Química em Porton Down, Wiltshire, Inglaterra e aos holandeses, belgas e luxemburgueses, espoletas.

Leis refinadas, justas e calibradas cairiam em cima de quem iludisse o fisco, e toda a organização europeia seria canalizada, à vez, para o esforço de guerra: Finalmente veríamos em três meses a tomada de medidas conjuntas que a CEE ou EU nunca bolsou em vinte anos e o futuro sorriria a todos nós por muito tempo, calcula-se que dada a capacidade técnica actual a reconstrução de uma Europa arrasada nos garantisse, a todos, (de novo a todos) a todos os que sobrassem vivos claro que dos mortos não reza a história, bons empregos por mais de cinquenta anos, além que aos mortos poderíamos ficar com as heranças, as namoradas, os empregos, as contas bancárias, as casas, (as que tivessem ficado de pé) as jóias, os PPR, os certificados de aforro, as acções e participações….

Enfim, uma indeterminada e extensa amálgama de facilidades, proventos e oportunidades que esta paz podre nunca saberá proporcionar-nos nem que dure cem ou duzentos anos. Estará, em especial nas mãos de Putin, resolver os seus problemas e os nossos, os seus de coesão da grande mãe Rússia, os nossos, mais comezinhos e somente uma catrefa de contradições e estrangulamentos em que o excesso de democracia e o politicamente correcto nos enredaram. Estamos enleados em necessidades que urgem e falta de coragem para as suprir, nunca se tornou tão difícil levar reformas adiante, todos querem tudo mudado desde que tudo fique na mesma, uma guerra aplanava o terreno para a aceitação de reformas que de outro modo jamais alguém se atreverá a efectuar, quem contesta mudanças ou o que quer seja depois de um país arrasado pelo destino ?

Uma guerra pode ser uma bênção, pode ser o princípio da redenção, uma boa calamidade tudo permite e tudo fundamenta, autoriza, aprova, já há trezentos anos Thomas Malthus,*** o pai da demografia, ao debruçar-se sobre os factores que nos iam equilibrando a fomeca meteu as guerras ao lado de medidas automáticas de harmonização deste mundo, ao lado do que ele chamou medidas higiénicas, que permitiriam garantir que os bens alimentares chegariam sempre para aguentar a população deste planeta, tais como febres, cóleras, pestes, há portanto males que vêm por bem…

 Benditas guerras repito, e se Thomas Malthus *** não as recomendou ou aceitou, pelo menos no-las explicou convenientemente, e de facto elas são motores de evolução, na tecnologia, na medicina, na biologia, na finança, ou vocês não sabem quanto elas mudaram o mundo ?

E pra melhor….