quinta-feira, 30 de julho de 2015

261 - CUTILEIRO ..........................................................


Afinal quem vai ganhar ? O ambiente que já se vive na pré campanha mais parece de festa, e claro que nós melhor até que no reino da Dinamarca, pelo que acho ser impossível desgraça maior, contudo confiemos, inda que seja de toda a prudência manter um olho no burro e outro no cigano, ou no árabe, ou no romeno, no ucraniano, no vadio, no drogado, no desempregado, no preto, and so on…

O céu está limpo, as nuvens negras desapareceram, a manhã aqueceu e a esplanada ficou agradável, bebo uma bica para me reconfortar da Exposição do amigo João Cutileiro, “Árvores do Conhecimento Com Alguns Frutos”, à Igreja de S. Vicente, de onde acabei de sair e na qual nem cinco minutos me demorei, espera o artista  que o fruto da dita lhe vá parar às mãos, está bem está ...

Cinco ou seis árvores de pedra, coisa pequena, coisa miúda, e tal qual o publicitado, produto de mãos hábeis e da mente rica criativa e lúcida de Cutileiro, por aí nada a dizer, nem da montagem, cuidada como sempre, nem sei se alguém faria melhor com o pouco que lhe meteram nas mãos, parabéns portanto à organização, pois o que me deixou meditando no artístico Cutileiro foi o seu estado de espirito, o que me conduz a outro desvio colateral nesta conversa, os parabéns à Associação Cultural Colecção B, que o soube cooptar, sabido ser Cutileiro um artista de peso, e de regime, um artista que sempre fez trabalhos essencialmente para determinado partido, obras grandes e melhor pagas. Lembro o designado “Falo”, um amontoado de pedregulhos ao cimo do Parque Eduardo VII e que um tal partido alegadamente terá pago bem, perdão, um partido não, supostamente a CML pagou, suponho que bem e a tempo e horas. Bem mais próximo de nós, temos o “Arco do Triunfo” ali às Portas do Raimundo, que deve ter sido pago a peso, sendo precisamente a questão do peso, peso institucional enquanto mandatário de campanhas e não só, o que verdadeiramente me atira para uma outra vereda colateral…

Os tempos vão maus, só cortes, as instituições públicas contam os tostões e o artístico amigo Cutileiro tem um estaleiro para gerir, armazéns, matérias-primas, gruas, monta-cargas, energia, combustíveis, rendas, provavelmente vencimentos já que acolhe lá uma catrefada de vocações que não acredito vivam somente do ar, portanto há que diversificar a oferta, descobrir-lhe novos nichos, torná-la acessível a outros espaços, a outras bolsas mais moderadas que os cofres ou contas bancárias de quaisquer municípios amigos, torna-la menos volumosa, e pesada, a fim de caber numa entrada, numa sala, na caixa de uma carrinha, na mala de um carro, ou até capaz de ser levada embrulhada debaixo do braço. Um novo conceito de arte ao portador e ao domicílio, um impulso no binómio da produtividade versus rentabilidade.

Portanto parabéns às produções Colecção B, que o cooptaram e parabéns ao amigo Cutileiro que teve visão para prever a quebra no mercado da arte e soube magistralmente delinear com a antecedência necessária e exigida uma estratégia salvífica (peditório para o qual já dei), de que a exposição que visitei é um genial instrumento, multiplicado em S. Bento de Cástris e a multiplicar em centos de sítios, assim os Deuses lhe propiciem longa vida, inspiração e compradores porque é aí que bate o galho, já que falávamos de árvores e jardins e todos sabemos que a cavalo dado não se olha o dente.

E por falar em cavalos, o amigo Cutileiro, e outros, que tirem o cavalinho da chuva pois os tempos estão mudando e não voltarão atrás, se bem que continuemos promovendo, homenageando, louvando e premiando precisamente os mesmos, precisamente aqueles que nos trouxeram até aqui, até este buraco onde soçobramos com merda até ao pescoço, lamento muito o amigo Cutileiro e outros, mas as pessoas não comem pedras, tal como não comem TGV’s disse o outro, que hora a hora se contradiz e nem sabe o que diz…







quarta-feira, 29 de julho de 2015

260 - ALL THE ALLENTEJO .......................................

               
              No momento em que, sem hesitações lhe espetaram o facalhão na garganta eu arrepiei-me, e, ainda que a faca não tenha sido enfiada até ao cabo o sangue jorrava em golfadas, e arrepiei-me de novo ao sentir rodarem a faca, como se fosse em mim que a forçavam, arrepiei-me uma terceira vez quando a faca, digo o facalhão, foi retirado e atrás dele mais sangue jorrou ainda, esguichava-lhe e escorria-lhe pelo pescoço quando o meu pai lhe procurou o buraco da primeira facada com os dedos aí introduzindo outro facalhão, de lâmina brilhante e muito mais larga que a primeira, havia que alargar o golpe e sangrá-la depressa.

A tudo isto eu assistia encostado à parede, melhor, colado à parede, enquanto ela gemia, já só gemia, estrebuchara imenso, mas dois homens fortes tinham-lhe colocado os joelhos na barriga para se firmarem e agarraram-lhe com denodo os membros bem atados. O pior tinha sido a atrapalhação do meu pai, mangas arregaçadas, o suor ensopando-lhe a testa, fácies tenso deixando antever os dentes, pequeninos, as mãos pingando sangue, escorrendo sangue, gritando aos homens, ordens curtas, precisas, um último grunhido, minha mãe aparando o sangue num alguidar de barro, a avó Inácia doseando o sal para que não coagulasse, coalhasse ou a rechina não sairia boa, a tia Aia picando a salsa e os alhos para a parte destinada a coalhar e a ser cortada em cubos miudinhos e transformada num petisco.

Homens acudiram à forquilha e aos tojos que, ardendo musgariam a marrã a fim de, com raspadeiras improvisadas lhe retirarem as cerdas, o lume foi chegado às patas e os cascos arrancados fumegantes, eu e outros miúdos lutámos por eles para lhes roermos o sabugo, a marrã inteiriçada, depois lavada até ficar luzidia, dependurada em dois postes atados em X e aberta, os intestinos caindo no chão, as miudezas aventadas para outro alguidar e
repentinamente perdem-se-me as recordações, por que raio não sou capaz de lembrar quem eram os outros gaiatos se era com eles que eu brincava, e tanto que eu brinquei, sumiram-se-me as lembranças, só as recupero em casa, a salgadeira aberta, mantas de toucinho, a perna para presunto pintada com pimentão e colorau, punhados de sal, cheiro a pimentão, muito pimentão na carne, e lá vou eu com a tia Aia p’ra casa da avó Inácia pois em dias assim só atrapalharia e nem vagar havia, nem vagar nem ninguém para tomar conta de mim.

Um dia seria destemido como o meu pai, destemido e convencido, o melhor e mais rápido a matar e abrir porcos no Alentejo, onde por enquanto somente brincava mas a cuja magia me estava habituando, descobrindo e deslumbrando, até com os mimos que me prodigalizavam todos quantos me rodeavam, especialmente a avó Inácia e a tia Aia.

Tantas vezes me disseram ser o Alentejo impar que acabei acreditando, os pais, os avós, tias e tios, até a avó Inácia, com quem em miúdo passava longos períodos de férias na aldeia. A tia Aia também me fizera acreditar em tal, e seria injusto esquecê-la.

Sou extrovertido, e confiante, diria que demasiado confiante (até há quem diga que sou um convencido), talvez por ter nascido aqui, nesta terra de xisto e fragas lascadas, de espaços abertos e campos extraordinariamente iluminados, amplos, resplandecentes, melhor dizer reverberantes se quiser ser fiel à memória da tia Aia, ela chamava-lhe a marca da terra.

A tia Aia colocava marcas em tudo, desconhecia a gramática, nunca ouvira falar de adjectivos, tinha contudo um modo muito próprio de catalogar o mundo, eu, por exemplo, nunca fui só Berto, eu era o Bertinho querido umas vezes e o Bertinho lindo outras, tal como as flores das giestas no campo não eram somente bonitas, eram celestialmente bonitas pois Deus decerto as quisera diferentes de todas as outras, e para melhor.

Já provaram vocês o mel alentejano de abelhas que sobretudo se alimentem destas flores de giesta e esteva ? E já repararam como em relação aos demais o gosto é desigual, para melhor ? Repararam como nem coalha no inverno ? O único que não coalha ? A tia Aia tinha razão, Deus colocou uma marca no Alentejo, aliás várias marcas, até o perfume dessa flor não se limitava a ser agradável, ele era, na tabela da tia Aia, indelevelmente agradável e inesquecivelmente inolvidável.

Custa-nos crer como neste cenário de horizontes largos o homem se deixou aprisionar durante séculos, custa-me aceitar que não tenham partido daqui todas as revoluções, não aceito que a submissão, que o cante alentejano tão bem exprime seja ainda hoje uma das nossas marcas, porque aqui, nestes campos lindos e que, como adjectivaria a tia Aia, luxuriantes, onde a ausência de solidariedade campeia, a única coisa que, mau grado o paredão de Alqueva parece não se deixar submeter é a natureza, que, alheia à luta dos homens se renova em cada primavera e, ao contrário de nós, gente, humanos, prima por manter ainda a diferenciação do carácter das suas estações bem marcado, ao invés do indígena, que aos poucos e em quarenta anos se transformou num camaleão gelatinoso, ou, como diria a tia Aia, em lindíssimos e gelatinosos camaleões, inda que sendo bichinhos que ela, que jamais saíra daqui, vez alguma tivesse visto.

Visto ou ouvido, estas vastas terras aplanam a alma e injectam nos seres vírus de bonomia, estado anímico que a tia Aia, sempre mexendo, adjectivaria de letargia, no que pacificamente lhe concedo toda a razão. Aqui o tempo não anda para a frente, não avança, regride, olhemos as nossas vilas aldeias e cidades e comprovemo-lo, um paraíso perdido, um vazio no tempo que nem Einstein previra mas que agora, mentes brilhantes, vendem aos turistas em pacotinhos de fins de semana, disso se encarregarão os operadores turísticos e para tal a GenuineLand preparou os nativos alentejanos cujo céu, livre de poeiras e fumos, vendemos em pastilhas  de noites de breu com um sabor estrelado através da Dark Sky Alqueva.

A novidade aqui passa só e somente por essas adjectivadas e exageradas promoções, os publicitários sempre foram excessivos, e não o foram ou são somente com este Alentejo, lugar onde procuram, ou alguém força, estabelecer novas tradições com mais rapidez que aquela com que enterram as velhas. Pôr em pé o misticismo Endovélico no Alandroal, obrigar-nos a todos a olhar o balão como pategos no Dark Sky, ou tentar tapar o buraco que a desertificação abriu na peneira com o projecto GenuineLand, embasbacando perante as centenas de empregos, milhares de empregos que estas coisas geram, tá-se mesmo vendo, é andar brincando com o Alentejo.

Brinca-se no Alentejo e no país, agora até promovem e homenageiam quem mais brinca.

Brincalhões …

Foto 1 – A arma usada na matança.
Foto 2 – Monsaraz no horizonte.
Foto 3 - O horizonte visto de Monsaraz.
Foto 3 – Afloramentos de xisto perto da ribeira de Lucefecit.







                      

domingo, 26 de julho de 2015

259 - ARRANJA-SE EMPREGO * Parte 5 …….......…

              
Parte 5 e última O CONTRATO SOCIAL

Entremos de cabeça na quinta e última explanação sobre a área de formação que temos vindo abordando nos textos anteriores com um pedido de desculpas meu. Este verão, o calor e as temperaturas, que não se faziam sentir tão ásperas desde há 85 anos atrás, especialmente aqui no Alentejo, ou a cerveja, com muita saída e provavelmente sujeita a menos tempo de fermentação podem estar na origem do meu esquecimento e consequente descuido.

Seja como for ainda vamos a tempo de acudir à coisa, até por não se tratar de nenhuma desgraça irrevogável, ao indicar-vos a bibliografia esqueci-me citar e recomendar-vos como leitura deveras imprescindível (aliás, como a primeira), um livrinho já com uns anos mas que toda a gente parece ter esquecido, esquecido o livrinho e o assunto, desde governantes a deputados, ex-governantes e ex-deputados de vários quadrantes, políticos em geral, jotas e jotinhas em particular. Logo um livrinho que para eles deveria funcionar como uma Bíblia, trata-se da obra ímpar de Jean-Jacques Rousseau, “O Contrato Social”, no fim do texto deixo um link de um ficheiro em PDF e poderás colher a obra para leitura sem gastares um tusta.

Sim, porque há que ter em conta que o Contrato Social, um direito natural, funciona como um direito adquirido, e não pode ser sobrecarregado com obrigações que este povo tem cumprido sem contrapartidas. Respeitar compromissos não pode ser uma via de sentido único, só de cá para lá, de lá p’ra cá exige-se no mínimo reciprocidade. Até porque só chegámos onde chegámos por também tu seres um camelo, tu e a cáfila de dez milhões que anda por aí pavoneando a ignorância, quer sejam da situação quer sejam da oposição. Admito que por estar resguardado de ti no conforto deste mundo virtual posso arriar-te a valer não é meu artolas ? E já agora dou igualmente razões à tal recalcitrante de merda, que as aproveita todas para me tratar abaixo de besta, tratar e lá no íntimo chamar…

Deves lê-lo com atenção porque, se não sabes deverias saber que há muito tempo todos falham em relação a ti, o que te autorizará (não sou eu quem concede nem tem que conceder autorizações), a que possas tomar, confiada e justamente, com perfeito conhecimento de causa as opções que entenderes. Por mim torná-lo-ia leitura obrigatória nas fantochadas das universidades de verão que os partidos promovem, ao menos sempre aproveitariam alguma coisita. Colocada que está a questão, e as desculpas, importa não deixarmos arrefecer a vaca…

Para hoje ficáramos de abordar a questão crucial das relações sociais e humanas, portanto limitemo-nos à matéria de reflexão, ás amizades, e para despachar o assunto e arrumar de vez a questão terás que saber distinguir as amizades umas das outras e, concomitantemente (mais uma palavra cara ó Xarabaneka, por vezes tenho que te dar razões para teres razão nas tuas cóleras né ?) as suas subtis implicações e articulações, já que neste particular a subtileza conta, e muito. Vamos, para facilitar, dividir as humanas relações em quatro items, não esqueças estarmos a fazê-lo de um ponto de vista profissional e tendo em atenção sobretudo os resultados e os rendimentos, faço questão que comeces por aqui a pôr à prova o teu sangue frio. Deste modo teremos:

Amizades pessoais,
Amizades por interesse,
Amizades que são contactos,
Amizades profissionais,
E as amizades que não interessam a ninguém…

Pois comecemos precisamente por estas já que só passados alguns anos maioritariamente as reconhecemos, convindo estar atento desde já. Claro que existem sempre aquelas que, de tão evidentes podemos logo evitar de início, ou colocar à parte, à margem, logo à partida. Contudo é geralmente somente após alguns anos que bem as conhecemos, classificamos e arrumamos na prateleira das desinteressantes, das inconvenientes, das prejudiciais ou das incómodas ou até mesmo perigosas. Deves agir em conformidade mas sem dar cavaco, isto é sem fazeres alarde da atitude tomada para com tal pessoa (s), não esqueças que quanto menos souberem a teu respeito melhor para ti, “o segredo sempre foi a alma do negócio”. E quem sabe se não será vantajoso fazer-lhes uma visitinha anónima e secreta ? Quem sabe se não nos poderão ser úteis mais tarde ? Infelizmente haverá sempre quem apesar de tudo para nada disso interesse, ou compense…

As amizades por interesse podem ser piores que uma lapa e não te largarem. Confio que saberás lidar com elas, porque eu queria referir-me às outras, àquelas que, por teu interesse deves manter ou fazer, entre essas não faças distinções, em especial no campo politico, mantém-te neutro (a) e aproveita todos os convites e festas e tudo que te permita entrar, observar alvos potenciais a fim de ponderares se poderão um dia valer a pena… Esses amigos podem apresentar-te a outros amigos e assim ingenuamente manter-te num circuito interessante do ponto de vista profissional e da rentabilidade. Apenas uma nota breve, amigos à direita têm tendência a habitar casas mais recheadas e mais ricas, ainda que também melhor protegidas. Amigos à esquerda acumulam mais tralha e livros e menos valores, mas atenção, entre esses alguns há a quem a vida permitiu ser tão nababos quanto os anteriores e, por vezes, até acumulam mais que os primeiros, mais valor e mais exibicionismo, e por norma descuram muitíssimo a segurança, é gente que faz parte de uma certa elite caviar, de uma determinada nomenclatura, e que vale muitíssimo a pena visitar…

Quanto às amizades que são contactos, são um tipo de amizades que devem ser cultivadas, procuradas e mantidas por razões profissionais. (razões profissionais serão amizades profissionais). São das mais difíceis de obter e como tal devem ser tratadas com lealdade e jamais lhes deves dar a mínima razão para pensarem o contrário. Neste mundo confiança e lealdade são valores inestimáveis, insubstituíveis, terás isso sempre em conta. Nunca procures saber pormenores sobre essas amizades, contenta-te com o que te disserem ou que que souberes, jamais faças perguntas desnecessárias, inconvenientes ou impertinentes, jamais as confrontes com o que quer que seja. Se não confias não lhes apareças, não as solicites. De igual modo mantem, tanto quanto possível ante elas a tua privacidade e os teus segredos. São necessárias e úteis estas amizades, mas também podem ser denunciantes ou bufos, informadores, o “seguro morreu de velho”, fala pouco e ouve muito, cinge-te ao assunto que a elas te levar e mostra-te sempre agradecido. Se o resultado desse contacto for de louvar, se for bem sucedido, demonstra quanto ficas agradecido, faz-lhe uma oferta surpresa, um ramo de flores, ou um perfume (as mulheres adoram), uma garrafa de bom vinho, ou de bom uísque, são lembranças que têm muito significado para quem as recebe.

O grande problema deste tipo de amizades é arranjá-las, serve-te de todos os meios e de toda a gente, simula se necessário seres voluntário de uma qualquer organização de paz e visita-as nas cadeias, leva-lhes cigarros, ganha a confiança dessas amizades, oferece-te para porta-voz delas para a família e amigos que estejam “cá fora”, desse modo ganharás a sua amizade e confiança, o novelo desenrolar-se-á a partir daí, e tu tens necessidade de contactos, de receptadores, de informadores do meio, quem para os quadros ? Para o ouro, a prata, o estanho, as porcelanas, os automóveis ? Existe uma economia paralela e um mundo subterrâneo que vale a pena explorar, fica atento aos jornais, aos programas de Tv, às reportagens, e concluirás que, ao contrário do que dizem o crime compensa, nem precisarás licenciatura, nem licença, nem subsídios de desemprego, nem esmolas, nem cunhas, nem padrinhos, só precisarás ser esperto, inteligente, diligente, observador, calmo, paciente, cuidadoso, simpático, popular q.b. e comprar uma pata de coelho para porta-chaves… Muita sorte meu amigo, e não esqueças que a sorte protege os audazes…

Aproveitarei este parágrafo para te falar das amizades profissionais ou cúmplices. É verdade que podem projectar e potenciar os negócios, multiplicá-los imenso, por dez, por cem, ou por mil, poderão ajudar bastante, mas também podem ceder num momento de fraqueza e fazerem com que te atirem cinco, dez ou quinze anos para fora de circulação… Tudo tem um preço, pondera bem antes… Idem para namoradas ou até esposas, que considerarei amizades pessoais e quanto menos souberem de ti mais vantagens acumularás. O seguro morreu de velho não esqueças. Alega fazeres parte de uma brigada de agentes descaracterizados das forças paramilitares ou da nossa secreta, e habitua-te a fazer cair na conta dela, ou na comum, mensalmente, uma importância certa, à guisa de salário, tens que construir e manter uma fachada, fá-lo de modo profissional e convincente… Mantém as amizades pessoais tanto quanto possível a leste da tua vida, é um favor que lhes farás, a elas e a ti mesmo… 

Boa sorte.





sábado, 25 de julho de 2015

258 - TODA A MULHER É ÚNICA .............................


              Não há duas mulheres iguais, nem as gémeas o são, nasceram a horas diferentes, por vezes com segundos de diferença, além de que terão tido ao longo da vida experiências diversasdiversas dores, vivências e alegrias esculpindo nelas caracteres e personalidades próprias.

Contudo, todavia mas porém cada uma das mulheres deste mundo cultiva uma peculiaridade que sobressai aos nossos olhos, ou ao nosso coração, e que a torna diferente das demais. Podemos dizer nesse caso que essa mulher é única, é única nesse particular, nesse aspecto, nessa peculiaridade, e é única para nós que a olhamos, porque tal como a questão que o meu amigo Cainha aqui levantou há uns dias, observador e observado influenciam-se mutuamente, interagem a ponto de um poder modificar o outro. Logo, o que eu vejo na faceta que tal objecto da observação me mostra outros poderão não ver, e até talvez vejam nele perspectivas que eu não lobrigara. Portanto, também a mulher objecto de observação (não mulher objecto), será em determinado momento e para quaisquer indeterminadas pessoas um ser único, uma pessoa única, uma mulher única entre os quatro biliões de mulheres que compõem este planeta. Não, não sendo um fenómeno, não deixa de ser coisa fenomenal.

É neste quadro, ou sob esta perspectiva, que todas as outras qualidades que essa mulher possa possuir, e os defeitos ou deméritos, passam também a ser para esse mesmo observador, aspectos secundários, menorizados, aspectos aos quais jamais dará importância, pelo menos não lhes dará importância suficiente para ofuscar o que nela vê de único. Enquanto ela mantiver a peculiaridade que aos olhos dele a tornou única, manter-se-á única, perdida essa particularidade todos os méritos se perdem com ela. Perdido o encanto, diria então que perdeu a graça, ou deixou de ser engraçada, já que neste mundo mais vale cair em graça do que ser engraçado, como todos bem sabemos.

Esta retórica filosófica de hoje nasceu à mesa do café, pois logo cedinho o sol aqueceu como na Grécia e as cervejas escorreram goela abaixo colmatando uma canícula que não se sentia há mais de 80 anos, assim gritava o cabeçalho do jornal que o Amadeu Coelho vinha arvorando na mão mas, fosse qual fosse a tirada, de nada teria valido ao Amadeu já que de imediato alguém que o conhece bem lhe atirou:

- Não venhas com merdas porque qualquer que seja o assunto não te sentas aqui na mesa sem primeiro mandares vir uma rodada, já te conheço suficientemente bem, e nem sou nenhuma das tuas mulheres…

Estava entornado o caldo, não porque a Amadeu Coelho fosse bígamo, que o não era, verdade que tivera várias mulheres, ia na quinta, mas diga-se em abono do desgraçado que apenas uma de cada vez. O caso é que o facto de o Amadeu já ter sido casado tantas vezes lhe pesava, ele era daqueles que não se contentava com o que numa mulher a tornasse única, para ele todas seriam únicas, e nesse particular as quereria a todas só para si, ainda que a malta o castigasse amiúde com picardias do género;

- Tu não podes ser bom, pois por onde tens parado todas têm corrido contigo.

Ao que ele contrapunha buscar e continuar buscando enquanto a saúde e a idade lho permitissem, a mulher ideal, que, sem êxito, há tanto tempo procurava sem que a encontrasse. Embora de poucas falas a Carmelinda nunca perdia a ocasião de lhe atirar à cara:

- Nas Caldas, manda fazer uma de barro e a desejo nas Caldas. (Caldas da Rainha, apresso-me a esclarecer antes que vossas senhorias dêem outro rumo à conversa e que ela não tinha, ou tinha). E rematava emborcando de uma vez a caneca, ou o copo, dependendo do que tivesse à frente, levantando-se e atirando ao Amadeu já de abalada:

- Olha ó perfeitinho, já agora paga a conta, para que pelo menos uma vez na vida alguém te veja a cor, aposto que nem as mulheres por ti tidas a viram meu Coelho de merda…

Nunca havia discussão, por muito que o Amadeu ficasse a espumar e vermelho de raiva a Carmelinda sumia-se num instante pelas escadas do prédio, paredes-meias com o café. Consta-se que certa vez tendo ele ficado sozinho na esplanada ela lhe atirara um alguidar de água acima, a verdade é nunca se ter apurado de que andar a trovoada caíra.

A questão da mulher única, única entre os quatro biliões delas que o mundo carrega tem muito que se lhe diga, estudos demográficos e estatisticos reduzem esse mundo por vezes a uns escassos milhares ou escassas centenas, quando não meras dezenas… Está provado que escolhemos a mulher única geralmente no nosso mundo, e o nosso mundo é a nossa cidade, a nossa vila, a nossa aldeia, e por vezes o nosso bairro, a nossa rua, escola, sala de aulas, a turma, o escritório, a fábrica, ou o café frequentado, e mesmo aí nesse circunscrito universo, fazemo-lo geralmente dentro do nosso escalão social, cultural ou económico. 

Não há duvida que os predicados da mulher única ficam agora circunscritos a uma galáxia de possibilidades ou escolhas muito mais reduzida, mas igualmente o olhar delas sobre nós, que pudendo recair noutra dimensão provavelmente lhes daria também a elas a hipótese de encontrar alguém com muitos mais pergaminhos, alguém com mais interesse ou interessante que nós para ser mais claro. Que isso nos sirva ao menos para cultivarmos a modéstia, haverá por aí bué de milhares de homens por quem as nossas queridas e únicas mulheres nos poderiam trocar sem pensar duas vezes. Vale-nos o facto do amor ser cego, ou cegar… Parece que com o Amadeu elas abrem os olhos bem cedo e se metem a milhas, alguma qualidade escondida ele terá que a malta ignora…

São tantas as coisas que perante nós poderão fazer de uma mulher única como mulheres há neste mundo, há gostos para tudo, dos olhos profundos ao nariz arrebitado, da covinha no queixo aos seios empinados, ao sinal na face, ou ao cabelo, penteado ou despenteado. Pessoalmente gosto de mulheres modestas, minimamente cultas (muito cultas não, geralmente ninguém dá conta delas, nem na cama são grande coisa, sei do que falo, tive uma assim),* mas há quem as adore pretensiosas, e até dominadoras. Como disse há gostos para tudo e desde que isso não prejudique ninguém, nem nos mate, tudo bem…

O meu amigo Ramires, que enterrámos o ano passado e sobrevivera apenas dois anos à morte da extremosa esposa, faleceu devido à ausência dela, todos nós o sabemos. A amiga Mavilde ia muito além do papel da devota esposa do saudoso Ramires, a Mavilde era mãe dele e sem ela sentiu-se perdido. A terna Mavilde dava-lhe colinho, e mama, não era segredo para ninguém, provavelmente o Ramires já a elegera pelos seios fartos, talvez lembrando-lhe a mãe, sei lá, essa senhora não a conheci eu, este cenário é coisa que imaginamos e até já discutimos todos à mesa do café, e quando digo todos refiro-me à roda de amigos (e amigas). Temos de comum e pacífico que a primeira vez que a Mavilde lhe terá dado ordens após a mama conseguiu o pleno, dois em um, tornando-se para o Ramires a mulher única, a mulher dos seus sonhos, seios fartos, mãe autoritária, epicentro de segurança. Ela morrera de acidente coitada, uma distracção e caíra no poço do elevador da Misericórdia, mas ele morreu de saudades, da falta dela, e todos sabemos quanto e durante tantos anos ela o fizera bem feliz.

Não se casou o Cesário com a Martinha por se ter apaixonado ao vê-la fazer bolos ? Não resistiu ao cheirinho, nem ao chocolate, ou aos morangos com chantily, há pelo menos duas décadas que se enfarinham mutuamente, e sempre felicíssimos aqueles dois !

A sensualidade tem razões que a razão desconhece, agora não, e nem o faço por uma questão de respeito, mas sim porque mudei, as pessoas com os anos mudam, vá lá, concedo que o faço também para a não recordar, nesse aspecto ela fora única, e não posso dizer que a dezena de anos casados não tenham sido de amor e felicidade, a coisa ficava entre nós, não extravasava, a Rorinha adorava gritar, guinchar e falar mal, sim, largar palavrões, abusar do vernáculo. Quando na cama transmutava-se, e transmutava-me a mim. Faleceu numa ocasião dessas, com uma arritmia que a fulminou. Fui muito feliz com a Rorinha, o senhor lhe tenha em descanso a alminha. Não a teria trocado por nada nem por ninguém, mas o apelo do Senhor falou mais alto…

Gosto da que tenho agora, com quem me dou maravilhosamente, com quem embirro casualmente, que me azucrina, a quem espeto alfinetadas, pico, e com quem me zango de vez em quando. É girinha, mais para o pequeno que o grande, adoro-lhe sobretudo os cabelos, os olhos, os lábios, o sorriso, é divertida e alegre qb, e uma boa amiga, sendo sobretudo terna, amorosa e querida. Soube tornar-se numa mulher única, e atura-me, o que não deve ser nada fácil, se bem me conheço.

E vocês que têm de único para oferecer ?
   
* Nota: este parêntesis não se destina a contemplar as minhas amigas que amiúde me sarrazinam a cabeça com críticas descabeladas, aliás, algumas nem perceberiam a piada.



terça-feira, 21 de julho de 2015

257 - ARRANJA-SE EMPREGO * Parte 4…............…


                Agora, que já te vais familiarizando com a coisa, é chegada a altura de dar um avanço na dita e o momento p'ra fazermos um suponhamos. Supõe que tens a formação efectuada e que, mau grado o 9º, ou o 12º ano, ou alguma licenciatura que tenhas não te servem para nada. Ainda tentaste um mestrado, de seguida um doutoramento, igualmente para nada. Neste pais não tens a mínima hipótese de saída profissional, ainda por cima teimas não aderir a um partido… E emigrar não queres… Serás como eu, que sou teimoso e entendo esta terra minha, dos portugueses, e não acho justo que justamente os outros, os estrangeiros, sejam quem nela tem maiores oportunidades e nível de vida… Eles compram tudo e não nos deixam nada…

Olhamos para os Salgados, para os Oliveira e Costa, para os Rendeiro, para os Dias Loureiro, para os Lima e tantos outros e perdemos a fé na justiça. Há muito conclui que nesta terra vale a pena ser sério, sobretudo se esperarmos um lugarzinho no céu. Por isso deduzo que farás as tuas contas, como eu fiz as minhas, cujo resultado foi ainda acreditar nesta democracia. Ela terá também uma oportunidade p'ra mim, assim eu queira, assim eu saiba, assim eu resolva os problemas de consciência que, desgraçadamente me afligem a moleirinha. Toda essa gente que atrás citei, ou não tem problemas ou não tem consciência, ou nenhuma das duas. No tempo de Salazar era tudo mais fácil, nem essa tal gente teria ousado, seriam chamados à pedra de manhã e atirados para o Aljube ou Caxias à tarde, e antes que piscassem um olho os bens estariam confiscados. Agora é diferente, temos democracia e temos justiça, e leis, e buracos, e virgulas, e legalismos processuais que permitem a quem tenha dinheiro eternizar os processos até à prescrição, ou até que os netos morram de velhos…

Subtil, disfarçada, camuflada, a luta de classes aí está para te tornar servo da gleba de novo.  A escolha é tua, sim ou sopas ?

Meio mundo a foder o outro meio mundo, desejas ficar por cima ou por baixo ? Faz como o Catroga que soube escolher bem … Ele e tantos, desde a 1ª República que não se via nada assim…

Continuando o nosso suponhamos, fizeste as tuas contas, fizeste a tua opção, fizeste a tua revisãozinha moral e constitucional, e supondo teres concluído que a democracia jamais se ajustará a ti, irás tu ajustar-te a esta democracia. Muito bem, ou muito mal, já que se há alguém que não deve meter prego nem estopa sou eu, que me devo manter a leste, não influenciar, não meter o bedelho, nada de intromissões, serás tu, terás que ser tu sozinho (a) quem terá que ultrapassar pruridos, se inda os houver.

Pois bem, vamos supor que os ultrapassaste, que leste com atenção o primeiro, segundo e terceiro textos desta série, alegadamente estarás disposto (a) a ir em frente, então entremos noutros campos, o do equipamento pessoal de auto-ajuda e o das relações pessoais e humanas, qualquer deles como verás, igual e extremamente importante para o teu desempenho e futuro, para o teu sucesso, para o aproveitamento de todas as tuas potencialidades. Vamos debruçar-nos sobre o equipamento primeiro por ser atar e pendurar, como no fumeiro, num instante despacharemos esta parte, a outra exigirá mais tempo e atenção.

Começarei pelo primordial, óculos de sol que te permitam ver sem que ninguém se aperceba para que lado ou para onde estás olhando, para disfarçadamente poderes olhar de viés… Bloco-notas, tomar nota é essencial, em muitos casos pode ser a pedra angular de um resultado, deverás observar qualquer situação muito bem antes de agires, não o faças sempre às mesmas horas nem a partir dos mesmo locais, já há dois séculos Darwin se referia e explicava a coisa aludindo à riqueza infinita da variedade, portanto varia, varia para que ninguém te estranhe e ou te denuncie, varia o local, as roupas, as horas e se possível o carro ou a mota, mas varia muito.

Vivenda, apartamento, condomínio, escritório, fábrica ? Aponta tudo muito bem, quantas pessoas, a que horas partem, a que horas voltam, quantos carros, marca, cor, modelo, se estacionam sempre no mesmo local, se frente à casa ou na garagem, voltam ao almoço, um, os dois moradores, nenhum ? Como são as portas, as janelas, existe quintal, portas e janelas nas traseiras, quem são os vizinhos, quais os seus hábitos, a que horas o carteiro costuma aparecer, existem cães ? Este questionário, que pode e deve ser constantemente melhorado e tão extenso quanto possível e as circunstâncias o permitirem e aconselharem nem é o primeiro passo, mas dar-te-á milhares de informações e poderá permitir-te laborar às claras, sem pressas, sem stress, portanto com menos risco e maior proveito. Disse o segundo passo porque o primeiro deverá abranger o “quem” ? Quem observar, quem eleger para fulcro da tua atenção ?

Se tiveres veia voyeurista escolhe gajas boas, ou machos musculosos, eu não tenho que discriminar, se tiveres outros motivos ou intenções então os teus alvos terão naturalmente que ser outros, deduzo eu. Eu que somente uma vez, e há muitos anos espreitei uma vizinha no banho, mas calma, fazia-o porque ela sabia, ela deixava, ela incentivava, e até abria a janela da casa de banho e afastava os cortinados mal acabava de me acenar e dar os bons dias. Eu fui seduzido é verdade, mas não posso dizer que tenha sido enganado, primeiro porque o produto era de primeira, e em segundo lugar porque quem acabou por casar com ela e manter-lhe os gastos caros foi o capitão Evaristo, meu vizinho, que avançou apesar dos seus sessenta e muitos, e que ainda ontem vi, aliás vi os dois (ela amparava-o carinhosamente), saindo do escritório de advogados de Honório & Otário, ali à travessa da Mangalaça.

Mas enfim, sê justo (a) e democrata, nem tudo servirá nem será eticamente indicado para alvo da nossa atenção, ainda que haja mulheres que pela sua beleza a suscitem, ou gajos bem apresentados e que a mereçam, montados em Ferraris mas com salários em dívida a centenas de trabalhadores. Nunca esqueças quão efémera é a beleza, até porque gajas boas haverá sempre, centra-te na justiça, essencialmente na justiça redistributiva, como o Robin os Bosques, ou o Zé do Telhado, para que não digam que excluo a nossa literatura.

Após esta fase de observação e selecção de alvos, sobre a qual muito mais poderás aprender em manuais de treino militares, passemos ao equipamento de uma forma rápida e geral, superficial, pois a prática e as necessidades que sentires em cada ocasião te aconselharão a ir melhorando esse arsenal, até por não haver muitas situações iguais, como concluirás. Já tens óculos de sol, bloco-notas, pois arranja também binóculos bons, anti reflexo, e se possível uns que te permitam tirar distancias e tirar fotos, já estão no mercado uns digitais, ainda caros, mas um must !  Gravam e fotografam tudo, até fazem pequenos vídeos como os telemóveis e gravam as observações verbais que lhes queiras adicionar ! Depois e genericamente, luvas finas de algodão, há baratas em qualquer hipermercado, atenção, nunca as uses mais que numa ocasião e tem cuidado a desfazer-te delas, como aliás do bloco-notas etc etc etc… Todo o cuidado é pouco, assegura-te que essas provas sejam mesmo destruídas.  

Continuando, uma dúzia de ténis discretos e baratos cuja sola seja sempre desigual, também não devem ser utilizados mais que uma vez, destrói-os sem complacência depois de utilizados, se usares sempre os mesmos qualquer perícia e observação atenta será capaz de provar em quantos e quais os lugares onde passaste ou estiveste…. Um aparte, usa o cabelo curto, (caem menos) e os bolsos tanto quanto possível vazios, tal reduzirá as hipóteses de, inadvertidamente deixar pistas nos locais visitados. Nunca abandones ou atires fora um lenço onde cuspiste, te assoaste ou limpaste, temos tendência a atirá-los fora, quer para o lixo quer para a sanita, e mesmo nessas, nunca urines ou defeques quando estiveres a trabalhar, nem que puxes dez vezes o autoclismo, o ADN agarra-se a tudo, e nunca o vemos…

E finalmente o estojo, deverás compor um com várias ferramentas, um canivete suíço e um apalpa folga adaptados, um busca polos daqueles com fio entre o ânodo e o cátodo (normalmente trazem um fio de 20 a 30 cm), fio que substituirás por outro de 2, 3 ou 5 metros de alcance. Uma ventosa e um bom corta vidro de diamante, digo bom porque os baratos acabam por sair caros… e nunca cortes o vidro do mesmo modo pois isso acabará como sendo uma “assinatura” que te identificará. O modus operandi já tem mandado a baixo resultados muito bons…Habitua-te a usar e a levar roupas justas e discretas, roupas que não prendam os movimentos nem se prendam deixando comprometedores bocados… até um fio nos codilha… as coisas falam... Podes até ter fardas, dos serviços de gás, de electricidade, dos telefones, das águas, não esqueças o boné, cuja pala deve recair sobre o rosto, como não deves esquecer os emblemas dessas entidades e o uso de uma ficha/questionário elaborada por ti e para recolha de informação.

Tais adereços permitir-te-ão entrar nas residências em quaisquer altura em que os ocupantes lá se encontrem, e assim poderás “ver” os equipamentos e, claro, aproveitares para observares outros pormenores, tranca-portas, alarmes, outros familiares que também habitem a casa, gatos, quadros, castiçais, bibelots, porcelanas, pratas, guarda-jóias, estanhos, terás que treinar o olhar até se tornar fotográfico, tens bons argumentos para seguir canalizações, torneiras, tomadas e fios eléctricos, de telefones e cabo, chuveiros e esquentadores, desculpas que te permitirão deambular por toda a casa e, mal saias, registar as peculiaridades no bloco-notas antes que te esqueças do que viste. Atenção a esse bloco, dar-te-á muito, mas também te pode dar uns bons anos de arrelias, o bloco ou imagens que fiquem nos binóculos, telemóveis, máquinas fotográficas ou pc’s. Aprende a limpar tudo, mas a limpar mesmo e não só apagar.

O resto são trivialidades, um alicate, uma chave de fendas forte, ou várias, uma gazua não pois daria muito nas vistas, em vez dela um desmonta pneus preferencialmente usado fará melhor, passará despercebido, e sempre podes alegar ter sido esquecido dentro do carro por alguma oficina onde tenhas estado, uma pequena lanterna de foco fraco e concentrado também será de muita utilidade e não chamará a atenção a partir do exterior, o que para já completará o nosso estojo, a vida e a prática te aconselharão melhor que eu a torná-lo mais e mais completo e bem apetrechado. Ah ! Uma marreta de mão e um punção serão muito uteis para sacar canhões de fechaduras…

Por hoje é tudo, já estou a adivinhar a tal gaja a espumar pelos cantos da boca, na nossa próxima e última aula abordaremos a complexa questão das relações sociais e humanas sob variadíssimas perspectivas, é a parte que geralmente toda a gente adora. Incluindo eu.

* http://mentcapto.blogspot.pt/2015/07/256-arranja-se-emprego-parte-3.html