Parte 5 e última O CONTRATO
SOCIAL
Entremos
de cabeça na quinta e última explanação sobre a área de formação que temos
vindo abordando nos textos anteriores com um pedido de desculpas meu. Este
verão, o calor e as temperaturas, que não se faziam sentir tão ásperas desde há 85 anos
atrás, especialmente aqui no Alentejo, ou a cerveja, com muita saída e
provavelmente sujeita a menos tempo de fermentação podem estar na origem do meu
esquecimento e consequente descuido.
Seja
como for ainda vamos a tempo de acudir à coisa, até por não se tratar de
nenhuma desgraça irrevogável, ao indicar-vos a bibliografia esqueci-me citar e
recomendar-vos como leitura deveras imprescindível (aliás, como a primeira), um
livrinho já com uns anos mas que toda a gente parece ter esquecido, esquecido o livrinho
e o assunto, desde governantes a deputados, ex-governantes e ex-deputados de vários
quadrantes, políticos em geral, jotas e jotinhas em particular. Logo um
livrinho que para eles deveria funcionar como uma Bíblia, trata-se da obra
ímpar de Jean-Jacques Rousseau, “O Contrato Social”, no fim do texto deixo um
link de um ficheiro em PDF e poderás colher a obra para leitura sem gastares um
tusta.
Sim,
porque há que ter em conta que o Contrato Social, um direito natural, funciona
como um direito adquirido, e não pode ser sobrecarregado com obrigações que
este povo tem cumprido sem contrapartidas. Respeitar compromissos não pode ser
uma via de sentido único, só de cá para lá, de lá p’ra cá exige-se no mínimo
reciprocidade. Até porque só chegámos onde chegámos por também tu seres um
camelo, tu e a cáfila de dez milhões que anda por aí pavoneando a ignorância,
quer sejam da situação quer sejam da oposição. Admito que por estar resguardado
de ti no conforto deste mundo virtual posso arriar-te a valer não é meu artolas
? E já agora dou igualmente razões à tal recalcitrante de merda, que as aproveita todas para me tratar abaixo de besta, tratar e lá no íntimo chamar…
Deves
lê-lo com atenção porque, se não sabes deverias saber que há muito tempo todos
falham em relação a ti, o que te autorizará (não sou eu quem concede nem tem
que conceder autorizações), a que possas tomar, confiada e justamente, com
perfeito conhecimento de causa as opções que entenderes. Por mim torná-lo-ia
leitura obrigatória nas fantochadas das universidades de verão que os partidos
promovem, ao menos sempre aproveitariam alguma coisita. Colocada que está a
questão, e as desculpas, importa não deixarmos arrefecer a vaca…
Para
hoje ficáramos de abordar a questão crucial das relações sociais e humanas, portanto
limitemo-nos à matéria de reflexão, ás amizades, e para despachar o assunto e
arrumar de vez a questão terás que saber distinguir as amizades umas das outras
e, concomitantemente (mais uma palavra cara ó Xarabaneka, por vezes tenho que
te dar razões para teres razão nas tuas cóleras né ?) as suas subtis
implicações e articulações, já que neste particular a subtileza conta, e muito.
Vamos, para facilitar, dividir as humanas relações em quatro items, não
esqueças estarmos a fazê-lo de um ponto de vista profissional e tendo em
atenção sobretudo os resultados e os rendimentos, faço questão que comeces por
aqui a pôr à prova o teu sangue frio. Deste modo teremos:
Amizades
pessoais,
Amizades
por interesse,
Amizades
que são contactos,
Amizades
profissionais,
E as
amizades que não interessam a ninguém…
Pois
comecemos precisamente por estas já que só passados alguns anos
maioritariamente as reconhecemos, convindo estar atento desde já. Claro que
existem sempre aquelas que, de tão evidentes podemos logo evitar de
início, ou colocar à parte, à margem, logo à partida. Contudo é geralmente
somente após alguns anos que bem as conhecemos, classificamos e arrumamos na
prateleira das desinteressantes, das inconvenientes, das prejudiciais ou das
incómodas ou até mesmo perigosas. Deves agir em conformidade mas sem dar
cavaco, isto é sem fazeres alarde da atitude tomada para com tal pessoa (s),
não esqueças que quanto menos souberem a teu respeito melhor para ti, “o
segredo sempre foi a alma do negócio”. E quem sabe se não será vantajoso fazer-lhes
uma visitinha anónima e secreta ? Quem sabe se não nos poderão ser úteis mais
tarde ? Infelizmente haverá sempre quem apesar de tudo para nada disso interesse,
ou compense…
As
amizades por interesse podem ser piores que uma lapa e não te largarem. Confio
que saberás lidar com elas, porque eu queria referir-me às outras, àquelas que,
por teu interesse deves manter ou fazer, entre essas não faças distinções, em
especial no campo politico, mantém-te neutro (a) e aproveita todos os convites
e festas e tudo que te permita entrar, observar alvos potenciais a fim de
ponderares se poderão um dia valer a pena… Esses amigos podem apresentar-te a
outros amigos e assim ingenuamente manter-te num circuito interessante do ponto
de vista profissional e da rentabilidade. Apenas uma nota breve, amigos à
direita têm tendência a habitar casas mais recheadas e mais ricas, ainda que
também melhor protegidas. Amigos à esquerda acumulam mais tralha e livros e
menos valores, mas atenção, entre esses alguns há a quem a vida permitiu ser
tão nababos quanto os anteriores e, por vezes, até acumulam mais que os
primeiros, mais valor e mais exibicionismo, e por norma descuram muitíssimo a
segurança, é gente que faz parte de uma certa elite caviar, de uma determinada
nomenclatura, e que vale muitíssimo a pena visitar…
Quanto
às amizades que são contactos, são um tipo de amizades que devem ser
cultivadas, procuradas e mantidas por razões profissionais. (razões
profissionais serão amizades profissionais). São das mais difíceis de obter e
como tal devem ser tratadas com lealdade e jamais lhes deves dar a mínima razão
para pensarem o contrário. Neste mundo confiança e lealdade são valores
inestimáveis, insubstituíveis, terás isso sempre em conta. Nunca procures saber
pormenores sobre essas amizades, contenta-te com o que te disserem ou que que
souberes, jamais faças perguntas desnecessárias, inconvenientes ou
impertinentes, jamais as confrontes com o que quer que seja. Se não confias não
lhes apareças, não as solicites. De igual modo mantem, tanto quanto possível
ante elas a tua privacidade e os teus segredos. São necessárias e úteis estas
amizades, mas também podem ser denunciantes ou bufos, informadores, o “seguro
morreu de velho”, fala pouco e ouve muito, cinge-te ao assunto que a elas te
levar e mostra-te sempre agradecido. Se o resultado desse contacto for de louvar,
se for bem sucedido, demonstra quanto ficas agradecido, faz-lhe uma oferta
surpresa, um ramo de flores, ou um perfume (as mulheres adoram), uma garrafa de
bom vinho, ou de bom uísque, são lembranças que têm muito significado para quem
as recebe.
O grande
problema deste tipo de amizades é arranjá-las, serve-te de todos os meios e de
toda a gente, simula se necessário seres voluntário de uma qualquer organização
de paz e visita-as nas cadeias, leva-lhes cigarros, ganha a confiança dessas
amizades, oferece-te para porta-voz delas para a família e amigos que estejam “cá
fora”, desse modo ganharás a sua amizade e confiança, o novelo desenrolar-se-á
a partir daí, e tu tens necessidade de contactos, de receptadores, de informadores
do meio, quem para os quadros ? Para o ouro, a prata, o estanho, as
porcelanas, os automóveis ? Existe uma economia paralela e um mundo subterrâneo
que vale a pena explorar, fica atento aos jornais, aos programas de Tv, às reportagens,
e concluirás que, ao contrário do que dizem o crime compensa, nem precisarás licenciatura,
nem licença, nem subsídios de desemprego, nem esmolas, nem cunhas, nem
padrinhos, só precisarás ser esperto, inteligente, diligente, observador,
calmo, paciente, cuidadoso, simpático, popular q.b. e comprar uma pata de coelho
para porta-chaves… Muita sorte meu amigo, e não esqueças que a sorte protege os
audazes…
Aproveitarei
este parágrafo para te falar das amizades profissionais ou cúmplices. É verdade
que podem projectar e potenciar os negócios, multiplicá-los imenso, por dez,
por cem, ou por mil, poderão ajudar bastante, mas também podem ceder num
momento de fraqueza e fazerem com que te atirem cinco, dez ou quinze anos para
fora de circulação… Tudo tem um preço, pondera bem antes… Idem para namoradas
ou até esposas, que considerarei amizades pessoais e quanto menos souberem de
ti mais vantagens acumularás. O seguro morreu de velho não esqueças. Alega
fazeres parte de uma brigada de agentes descaracterizados das forças
paramilitares ou da nossa secreta, e habitua-te a fazer cair na conta dela, ou
na comum, mensalmente, uma importância certa, à guisa de salário, tens que
construir e manter uma fachada, fá-lo de modo profissional e convincente…
Mantém as amizades pessoais tanto quanto possível a leste da tua vida, é um
favor que lhes farás, a elas e a ti mesmo…
Boa sorte.