Parte 2
As
linhas apresentadas no texto anterior* são, modo geral, as directrizes que
balizam e possibilitam a formação de um profissional independente, de resto,
a vontade de adquirir um talento, e ser senhor de si mesmo, ou senhora de si
mesma, dependerá de ti, é uma especialização destinada a altos voos,
largamente remunerada e garantida, pelo que abraçar ou não uma carreira free
lancer de elevado potencial como os publicitários costumam dizer e exagerando
até, pois tantas vezes se referem a um qualquer lugar de caixeiro-viajante, o
que nem é o nosso caso. Caixeiros-viajantes aqui, só se for “A Morte de Um
Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller, que aliás te aconselho vivamente a ler,
como distracção.
Por
falar em ler, terás que ler algumas coisinhas, não te assustes que não te
recomendarei o Eça de Queirós, até por pressupor que já o tenhas lido. A
bibliografia recomendada ser-te-à a seu tempo indicada, não é muita, nem
fácil de obter ou arranjar. Alguém anda evitando que de um qualquer modo
adquiras formação nesta área, penso já te ter confessado ser o segredo a alma
do negócio. A lista andará à volta de dez obras essenciais (estou a puxar pela
cabeça), sendo que o primeiro que poderás adquirir e encetar já, é de Pierre
Joseph Proudhon, “O Que É a Propriedade”, e te abrirá imenso os olhos, a
Editorial Estampa editou em tempos um livrinho que nem chega aos dez euros e
encontrarás facilmente na WOOK, na FNAC ou em qualquer alfarrabista. É um livro
rico, cheio de conteúdo e estimulará os teus princípios morais, detesto gente
mal formada ou inculta, banal, e já agora deixa-me avisar-te, nunca me venhas
com citações de Paulo Coelho, Rui Zink, Miguel Esteves Cardoso ou Pedro Chagas
Freitas por favor. Há mais alguns como o Walter Hugo Mãe o Tordo, o Lucas Pires ou o Peixoto,
mas a seu tempo saberás quais abomino.
O
Capital, de Marx, e leituras de David Ricardo, Keynes e Adam Smith também farão parte da bibliografia recomendada para as matérias teóricas, se te
digo tudo isto é para que avalies já um pouco as coisas e faças as tuas contas,
este aviso tem-me poupado dissabores e a aturar gente que nem aprecia ler e
aprecia ainda menos o saber, enfim, gente sem estofo para uma formação desta
envergadura e que acabou por reclamar de mim avenças já pagas, o que
naturalmente gerou atritos, me fez perder tempo e paciência, e só por não haver
cheques passados nem recibos não me fez perder dinheiro. Nos tempos que correm
todo o cuidado é pouco, quando aldrabões chegam a ministros já podemos fazer
uma pequena ideia de como se “estará cá fora na selva”…
Nunca
será demais insistir na ideia de que todo o valor que me seja pago será
investimento a recuperar 10, 20, 50, ou mil vezes, tanto mais que se trata de um
sector dinâmico e dos que, na nossa economia têm registado um crescimento
exponencial, ainda que haja gente já instalada há espaço para gente melhor, ou
bem preparada para fazer face à concorrência. No nosso mercado o que abunda é
sobretudo a iniciativa desorganizada, baseada no improviso, muito à maneira
portuguesa e que nem precisamos abater, funcionam noutra escala, num patamar
muito abaixo daquele em que pretendo introduzir-te, pelo que se te esforçares e
aplicares, guindar-te-ás a uma altura onde pura e simplesmente a concorrência nem
sequer existe, ou conseguiu chegar.
De
vez em quando é-me confidenciado por este ou por aquela já ter enviado, 100,
200, 500 currículos, e penso que uma até enviou mil ! Estará tudo doido ? Pensem !
Desistam de mendigar, criem a vossa própria oportunidade e tornem-se independentes de sucesso, atirem o desemprego para trás das costas. Libertem-se de
salários mínimos ou de 500 euros, libertem-se de contratos, tornem-se empreendedores e inovadores de elevado potencial. Em vez de semearem currículos
disfrutem dum mercado de trabalho amplo e à espera dos melhores, giram a vossa
própria carreira, concentrdem-se em experiencias relevantes para a função,
tornem-se profissionais qualificados (as) de low profile. Prestem contas
somente a vocês mesmos. (garantido que nem ao fisco as prestarão).
Mas
por falar em potencial, potencia, força, capacidade, agilidade, como vai a tua
forma física ? “Mente sã em corpo são”, nunca ouviste dizer ? Fumas ? Chutas na
veia ? Cheiras cola ? É bom que não, porque tudo isso, por junto ou separado, te
impedirá de passares do meio da tabela adiante e sem isso não há diploma p’ra
ninguém. Não é disciplina da minha lavra, mas é-o a apreciação e classificação,
que não descuro. Toma nota e providencia se necessário.
Várias
vezes aludi aqui ao cultivo de um low profile, pois não será despiciendo que a
par da tua formação adquiras o bom hábito, repito bom hábito, de não dar nas
vistas e passares despercebido (a). Isto não é um casting nem uma passagem de
modelos, neste caso concreto passar anónimo (a) na multidão será uma mais-valia
considerável. Deverás apresentar um ar limpo, nem demasiado asséptico nem
enxovalhado, usar cores discretas, que não chamem a atenção nem pela cor nem
pela forma. Um dia ajuizarás da vantagem de não ser visto nem lembrado. Idem
para algum carro que tenhas, porque uma mota que não nos envergonhe dará sempre
nas vistas. Pergunta-me, ou pergunta ao Varoufakis…
A
parte da formação que me cabe é, naturalmente, toda a área teórica, e já nem é
pouco, porém não te assustes, corre a par uma parte prática cuja
responsabilidade, não sendo minha, eu não tenho condições para leccionar, nem
a nível de conhecimentos práticos nem de equipamento ou de materiais, todavia
em momento algum descurarei o teu acompanhamento e progressão, até porque uma parte,
sem a outra, nem faria sentido.
Penso
já ter abordado a bibliografia, fi-lo de um modo geral, e, para sermos mais
explícitos, adiantarei que terás que te debruçar, estudar, os rudimentos da
Psicologia, da Sociologia, da Economia, o estudo da arte e dos materiais
nobres, seria uma pena que, por ignorância, um dia te visses com muito dinheiro
e alguém te aldrabasse com uma filigrana de pechisbeque ou te vendesse gato por
lebre, uma qualquer falsificação por um Picasso. Mas não desesperes, nessa área
sou entendido e fá-lo-emos com facilidade e como distracção.
Todo este trabalho te dou porque se não passares de um grunho (a) por muito bonito (a) que sejas, nunca facturarás nada de jeito, e até por haver necessidade de entenderes o mundo em que te moves e que, ao contrário do que pensas, concluirás nunca ter visto. Diria que se adapta perfeitamente às circunstâncias aquele velho aforismo popular “vícios privados, públicas virtudes”, terás que ser exemplar, sem dar nas vistas ou chamar a atenção sobre ti, um camaleão.
Todo este trabalho te dou porque se não passares de um grunho (a) por muito bonito (a) que sejas, nunca facturarás nada de jeito, e até por haver necessidade de entenderes o mundo em que te moves e que, ao contrário do que pensas, concluirás nunca ter visto. Diria que se adapta perfeitamente às circunstâncias aquele velho aforismo popular “vícios privados, públicas virtudes”, terás que ser exemplar, sem dar nas vistas ou chamar a atenção sobre ti, um camaleão.
(continuará num próximo texto)