Na
lufa-lufa dos dias algo por vezes se perde, um comboio, um autocarro, ou outra
coisa que enerve. Também eu, como quem ferve em pouca água, que tanto queria
ter estado presente, perdi por falta de secretária e de álibi, um evento que na
semana passada teve lugar na U.E. e promovido pelo Núcleo do Alentejo da
Associação das Mulheres Empresárias, por mor disso ganhei um frenesi, dos tais
que tanto incomodam quem por vezes quer estar em dois lados ao mesmo tempo.
Foi
realmente uma falha minha, falta de sentido de oportunidade, coisa de que não
me desculpo, já que não tenho, avulso, “parenta” internada ou em maternidade.
Promoveu
na nossa terra, há dias, a Coordenadora Regional da instituição a que aludi,
uma mulher pró-activa, uma guerra no feminino p’lo combate sem tréguas a
desigualdades certas que afectam as nossas mestras de ofícios e misteres. (e
mestres).
Não
foi o amadorismo a causa que ao nosso antigo Liceu levou o dever dessa mulher a
valer, que ali reuniu personalidades e vontades como quem força a capicua,
forçando mentalidades, desta e de outras cidades, a fazer por vivermos ou
melhor por sobrevivermos, como faziam os frades, pegando numa charrua se é que
queremos comer.
Não
se falou de turismo, nem tão pouco de biscates, antes de muitas e variadas artes
para as quais se buscou sim um caminho, um incentivo que, não o duvido, com
mulheres deste quilate desate o nó de disparates que há anos se vem atando e
sofrendo, qual sorvedouro ou remoinho, nado e criado por gente que sempre disse
que nunca haveria défice e outros dislates tais, mas que de modo intemporal e
paulatinamente, desde há décadas nos mente.
“Empreendedorismo”
disse ela era a palavra de ordem, força que teremos que buscar como quem busca
uma janela d’onde, de forma singela nos ergamos do abismo sustentado onde jazem
enterrados o saber e o progresso tão aclamado, que muitos dizem ser sucesso mas
que nesta terra como tudo, não vemos nem por um canudo.
É
a economia, dizem, agora nova panaceia global e que temos que enfrentar com a
mesma coragem com que enfrentaríamos decerto um qualquer bravo animal. Jargão
que muito orador usa como canto de sereia, pois de diagnósticos, prognósticos e
teóricos andam as páginas de jornais cheias. E como nada se perde, tudo se
transforma ou se cria, a mulher, no plural, tem que ter verve, energia, para
alterar um conceito que fará da noite dia e não se quer mais um pregão mas sim
uma tomada de consciência, aquiescência, militância.
Desenvolvimento
a preceito era por certo aquilo que mais queríamos todas, não esta feira de
vaidades em que há muito se mantém a escassez de actividades no concelho, no
distrito, até mesmo no país. Queríamos era ver isto crescer, a andar para a
frente a valer e de modo que alimentasse fogos de continuidade, focos de actividade,
ou como agora se diz em economês, que quebrasse a passividade, gerasse
sinergias e empatias, milagre que permitisse alavancar o arranque do
investimento feito mas serenando em águas de bacalhau, que lograsse optimizar a
captação de novas unidades industriais ou empresariais, que nos catapultasse
para um ranking capaz de nos resgatar à vergonha dos rácios que apresentamos...
Claro
que essa mulher de peso deve conhecer a trabalheira que tem às costas, farta
deve ela estar de fazer orelhas moucas aos velhos do Restelo, que também os
temos como temos infelizmente e às dúzias, gente contaminada com o pior dos
tipos que as muitas variedades de cegueira apresentam, que é aquela muito
típica dos que não querem ver nem à força.
Incómodos,
é o que essa mulher anda a trazer-nos a todas, incómodos que, queira Deus
consigam fazer despertar do sono dos justos tantas e tantas instituições que
proliferam na nossa terra e parecem acordar de um ano inteirinho dormindo,
simplesmente para elaborar o Plano de Actividades e o Orçamento do ano
seguinte.
Conseguirá
ela ? Deus a ouça.
By Maria
Luísa Baião, escrito quinta-feira, 4 de Dezembro de 2003 pelas 19:56 horas
e provavelmente publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE MULHER"
nos dias seguintes. Homenagem a Anabela Palma coordenadora do Núcleo do
Alentejo da Associação das Mulheres Empresárias.