sábado, 9 de fevereiro de 2019

575 - GOSTARIA DE TER IDO, by Luísa Baião‎ * ...


Na lufa-lufa dos dias algo por vezes se perde, um comboio, um autocarro, ou outra coisa que enerve. Também eu, como quem ferve em pouca água, que tanto queria ter estado presente, perdi por falta de secretária e de álibi, um evento que na semana passada teve lugar na U.E. e promovido pelo Núcleo do Alentejo da Associação das Mulheres Empresárias, por mor disso ganhei um frenesi, dos tais que tanto incomodam quem por vezes quer estar em dois lados ao mesmo tempo.

Foi realmente uma falha minha, falta de sentido de oportunidade, coisa de que não me desculpo, já que não tenho, avulso, “parenta” internada ou em maternidade.

Promoveu na nossa terra, há dias, a Coordenadora Regional da instituição a que aludi, uma mulher pró-activa, uma guerra no feminino p’lo combate sem tréguas a desigualdades certas que afectam as nossas mestras de ofícios e misteres. (e mestres).

Não foi o amadorismo a causa que ao nosso antigo Liceu levou o dever dessa mulher a valer, que ali reuniu personalidades e vontades como quem força a capicua, forçando mentalidades, desta e de outras cidades, a fazer por vivermos ou melhor por sobrevivermos, como faziam os frades, pegando numa charrua se é que queremos comer.

Não se falou de turismo, nem tão pouco de biscates, antes de muitas e variadas artes para as quais se buscou sim um caminho, um incentivo que, não o duvido, com mulheres deste quilate desate o nó de disparates que há anos se vem atando e sofrendo, qual sorvedouro ou remoinho, nado e criado por gente que sempre disse que nunca haveria défice e outros dislates tais, mas que de modo intemporal e paulatinamente, desde há décadas nos mente.

“Empreendedorismo” disse ela era a palavra de ordem, força que teremos que buscar como quem busca uma janela d’onde, de forma singela nos ergamos do abismo sustentado onde jazem enterrados o saber e o progresso tão aclamado, que muitos dizem ser sucesso mas que nesta terra como tudo, não vemos nem por um canudo.

É a economia, dizem, agora nova panaceia global e que temos que enfrentar com a mesma coragem com que enfrentaríamos decerto um qualquer bravo animal. Jargão que muito orador usa como canto de sereia, pois de diagnósticos, prognósticos e teóricos andam as páginas de jornais cheias. E como nada se perde, tudo se transforma ou se cria, a mulher, no plural, tem que ter verve, energia, para alterar um conceito que fará da noite dia e não se quer mais um pregão mas sim uma tomada de consciência, aquiescência, militância.

Desenvolvimento a preceito era por certo aquilo que mais queríamos todas, não esta feira de vaidades em que há muito se mantém a escassez de actividades no concelho, no distrito, até mesmo no país. Queríamos era ver isto crescer, a andar para a frente a valer e de modo que alimentasse fogos de continuidade, focos de actividade, ou como agora se diz em economês, que quebrasse a passividade, gerasse sinergias e empatias, milagre que permitisse alavancar o arranque do investimento feito mas serenando em águas de bacalhau, que lograsse optimizar a captação de novas unidades industriais ou empresariais, que nos catapultasse para um ranking capaz de nos resgatar à vergonha dos rácios que apresentamos...

Claro que essa mulher de peso deve conhecer a trabalheira que tem às costas, farta deve ela estar de fazer orelhas moucas aos velhos do Restelo, que também os temos como temos infelizmente e às dúzias, gente contaminada com o pior dos tipos que as muitas variedades de cegueira apresentam, que é aquela muito típica dos que não querem ver nem à força.

Incómodos, é o que essa mulher anda a trazer-nos a todas, incómodos que, queira Deus consigam fazer despertar do sono dos justos tantas e tantas instituições que proliferam na nossa terra e parecem acordar de um ano inteirinho dormindo, simplesmente para elaborar o Plano de Actividades e o Orçamento do ano seguinte.

Conseguirá ela ? Deus a ouça.

By Maria Luísa Baião,‎ escrito ‎quinta-feira, ‎4‎ de ‎Dezembro‎ de ‎2003 pelas ‏‎19:56 horas e provavelmente publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE MULHER" nos dias seguintes. Homenagem a Anabela Palma coordenadora do Núcleo do Alentejo da Associação das Mulheres Empresárias.