Há
muito tempo que regularmente, semana após semana, quer esta coluna seja
publicada quer não, o empático senhor X me remete um e-mail de regozijo,
parabéns, contestação, critica ou incentivo e impreterivelmente na própria segunda-feira
da publicação ou não, desta coluna. Em abono da verdade se diga que é muito
simpático, educado, cerimonioso e contido q.b., pelo que, embora o não conheça,
tenho dele a ideia de um jovem na casa dos cinquenta, que terá frequentado a
velha escola e os velhos cursos. O domínio da gramática da sintaxe da
ortografia e semântica da língua mãe, a par da educação e do civismo
demonstrado assim o atestam, uma vasta cultura e o conhecimento que detém sobre
aspectos mais herméticos da minha prosa dão-me essa certeza absoluta.
Não
sendo o meu único correspondente será todavia o mais representativo, pela
acutilância do pensamento, a constância da sua presença semanal no meu correio
electrónico e a parcimónia que o alimenta, já que nunca alvitrou conhecer-me
pessoalmente, nem envidou dois dedos de conversa ou um simples café. Mantém uma
distância salutar e uma independência que eu respeito e talvez por isso lhe
pague na mesma moeda. Apreço e consideração.
Moderado,
nunca deixou quando o entendeu, de fazer uma crítica ou contestar o que digo,
sempre de forma correcta e construtiva, parecendo por vezes temer melindrar-me.
Apenas o conheço pelo endereço electrónico, não faço a mínima ideia de quem
seja, mas agradeço-lhe tanta afabilidade e regularidade vai já para três anos
ou mais.
Posto
este preâmbulo as palavras que vou dirigir-lhe são para todas as minhas
leitoras e leitores, em especial para as (os) que comigo trocam correio ou mensagens
e vulgarmente se queixam do facto de eu ser “medrosa”, de “não abrir totalmente
o jogo” e por vezes as minhas crónicas serem autênticos exercícios de adivinhação,
a tal ponto que sucede o senhor X esporadicamente as apelidar de oráculos !
Aprendi
há muito e isto a propósito de haver quem afirme que o Diário do Sul só servirá
para saber quem morreu, aprendi há muito com o seu velho Director que, na nossa
cidade e no Alentejo somos uma grande família, onde todas temos parentes onde
quer que seja, sendo impossível atacar uns sem melindrar outros. Num Alentejo desertificado
a consideração e apreço pelos leitores conta. Também o sei, e se sei.
Do
hermetismo destas crónicas, cada uma, cada um, que tire a ilação que entender,
crónicas haverá que por mor disto poderão ter até mais que uma leitura,
desenvolverão a imaginação, aguçarão o engenho e a capacidade de análise e crítica
das leitoras, sem nunca serem, disso não há necessidade, ofensivas para quem
quer que seja. Por outro lado compreenderão que há, sempre houve e haverá,
temas tabu que não me compete a mim lançar como provocação ou a debate. Para
isso existem lugares próprios, desde fóruns de cidadãos a associações, meios de
comunicação e partidos políticos.
Sempre
haverá quem melhor que eu conheça e domine os temas que gostariam que eu
“esfarrapasse”. Neste mesmo jornal há quem a esses temas se dedique com
proficiência e regularidade, com seriedade, boa-fé e boas intenções. Será que
os lêem ? Ou passam por cima e só vos agrada o que escalda e queima ? A minha
coluna neste jornal não é um anódino ou anónimo blog, é a expressão sincera e
aberta do meu sentir, é um modo de convosco me dar, convosco conviver e não
para vos ofender ou a quem quer que seja e muito menos modo de alimentar
fogueiras ou boatos. É um modo de me conhecerem melhor já que pela cara e pelo
nome ninguém me alcunhará de anónima ou sequer simpatizante desse lugar cómodo que
o anonimato a tantos propicia.
Esta
coluna encerra mensagens que devem descodificar, não flechas que eu deva
atirar. É por estas razões minhas amigas e amigos, que não embarco em certas loas
ou temas que me sugerem. Por outro lado, leiam bem nas minhas linhas e
entrelinhas e digam-me quantas vezes eles são abordados pelo seu lado humano,
pelos resultados de uma acção ou pela reacção a um qualquer efeito.
Respeito
e consideração devo eu e todas a toda a gente. Quem que não eu se considera no
direito de lançar a primeira pedra ?
* By
Maria Luísa Baião, escrito segunda-feira, 12 de Novembro de 2007 pelas
15:32 horas e provavelmente publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE
MULHER" nos dias seguintes.