sábado, 9 de fevereiro de 2019

576 - O MISTERIOSO SENHOR X, by Luísa Baião *


Há muito tempo que regularmente, semana após semana, quer esta coluna seja publicada quer não, o empático senhor X me remete um e-mail de regozijo, parabéns, contestação, critica ou incentivo e impreterivelmente na própria segunda-feira da publicação ou não, desta coluna. Em abono da verdade se diga que é muito simpático, educado, cerimonioso e contido q.b., pelo que, embora o não conheça, tenho dele a ideia de um jovem na casa dos cinquenta, que terá frequentado a velha escola e os velhos cursos. O domínio da gramática da sintaxe da ortografia e semântica da língua mãe, a par da educação e do civismo demonstrado assim o atestam, uma vasta cultura e o conhecimento que detém sobre aspectos mais herméticos da minha prosa dão-me essa certeza absoluta.

Não sendo o meu único correspondente será todavia o mais representativo, pela acutilância do pensamento, a constância da sua presença semanal no meu correio electrónico e a parcimónia que o alimenta, já que nunca alvitrou conhecer-me pessoalmente, nem envidou dois dedos de conversa ou um simples café. Mantém uma distância salutar e uma independência que eu respeito e talvez por isso lhe pague na mesma moeda. Apreço e consideração.   

Moderado, nunca deixou quando o entendeu, de fazer uma crítica ou contestar o que digo, sempre de forma correcta e construtiva, parecendo por vezes temer melindrar-me. Apenas o conheço pelo endereço electrónico, não faço a mínima ideia de quem seja, mas agradeço-lhe tanta afabilidade e regularidade vai já para três anos ou mais.

Posto este preâmbulo as palavras que vou dirigir-lhe são para todas as minhas leitoras e leitores, em especial para as (os) que comigo trocam correio ou mensagens e vulgarmente se queixam do facto de eu ser “medrosa”, de “não abrir totalmente o jogo” e por vezes as minhas crónicas serem autênticos exercícios de adivinhação, a tal ponto que sucede o senhor X esporadicamente as apelidar de oráculos !

Aprendi há muito e isto a propósito de haver quem afirme que o Diário do Sul só servirá para saber quem morreu, aprendi há muito com o seu velho Director que, na nossa cidade e no Alentejo somos uma grande família, onde todas temos parentes onde quer que seja, sendo impossível atacar uns sem melindrar outros. Num Alentejo desertificado a consideração e apreço pelos leitores conta. Também o sei, e se sei.

Do hermetismo destas crónicas, cada uma, cada um, que tire a ilação que entender, crónicas haverá que por mor disto poderão ter até mais que uma leitura, desenvolverão a imaginação, aguçarão o engenho e a capacidade de análise e crítica das leitoras, sem nunca serem, disso não há necessidade, ofensivas para quem quer que seja. Por outro lado compreenderão que há, sempre houve e haverá, temas tabu que não me compete a mim lançar como provocação ou a debate. Para isso existem lugares próprios, desde fóruns de cidadãos a associações, meios de comunicação e partidos políticos.

Sempre haverá quem melhor que eu conheça e domine os temas que gostariam que eu “esfarrapasse”. Neste mesmo jornal há quem a esses temas se dedique com proficiência e regularidade, com seriedade, boa-fé e boas intenções. Será que os lêem ? Ou passam por cima e só vos agrada o que escalda e queima ? A minha coluna neste jornal não é um anódino ou anónimo blog, é a expressão sincera e aberta do meu sentir, é um modo de convosco me dar, convosco conviver e não para vos ofender ou a quem quer que seja e muito menos modo de alimentar fogueiras ou boatos. É um modo de me conhecerem melhor já que pela cara e pelo nome ninguém me alcunhará de anónima ou sequer simpatizante desse lugar cómodo que o anonimato a tantos propicia.   

Esta coluna encerra mensagens que devem descodificar, não flechas que eu deva atirar. É por estas razões minhas amigas e amigos, que não embarco em certas loas ou temas que me sugerem. Por outro lado, leiam bem nas minhas linhas e entrelinhas e digam-me quantas vezes eles são abordados pelo seu lado humano, pelos resultados de uma acção ou pela reacção a um qualquer efeito.

Respeito e consideração devo eu e todas a toda a gente. Quem que não eu se considera no direito de lançar a primeira pedra ?

* By Maria Luísa Baião,‎ escrito ‎ segunda-feira, ‎12‎ de ‎Novembro‎ de ‎2007 pelas ‏‎15:32 horas e provavelmente publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE MULHER" nos dias seguintes.