Toma mas é juízo pá, e porque ela estava logo ali do outro lado do monitor, e porque o perfil a dizia online, e tu sem saberes o correio electrónico dela, e tu agarrado ao monitor, beijando o monitor…
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
105 - DEDICA-TE À POESIA…................................. *
Toma mas é juízo pá, e porque ela estava logo ali do outro lado do monitor, e porque o perfil a dizia online, e tu sem saberes o correio electrónico dela, e tu agarrado ao monitor, beijando o monitor…
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
104 - A LIBERDADE AO VIVO.........
Ficámos no Hotel Faraó, no centro da velha cidade, mesmo no centro da baixa, cosmopolita como poucas cidades do médio oriente, simultaneamente moderna na parte alta, mesmo muito moderna.
O hotel era barato mas acolhedor e muito asseado, ali voltei a encontrar muitos outros companheiros de Bagdade e também Haniko, ainda zangada com o mundo.
Matámos saudades enquanto embalámos e preparámos cuidadosamente, para uma viagem de quase dez mil quilómetros, um presépio artesanal iraquiano que eu trazia, de propósito, para um homem bom cuja colecção de presépios, mais de mil, de todo o mundo, é uma das maravilhas da terra.
Ficámos somente os dias necessários à obtenção de visto para entrar na Síria, os bilhetes de avião tinham o regresso marcado a partir de Damasco, pelo que o tempo urgia, havia à nossa frente mais quinhentos quilómetros para fazer em contra relógio e com o dinheiro a escassear nos bolsos, então sim seria uma aventura não ficarmos pelo caminho.
Apanhar um avião de Ammã até Damasco estava fora de hipótese e fora do orçamento, um carro, um táxi seria muito mais barato mas muito mais lento, na fronteira seríamos por certo retidos mais tempo que o que fôramos pelos americanos quando entrámos na Jordânia, as probabilidades de perdermos o avião eram enormes, a minha esposa tinha entrado no Hospital do Espírito Santo, em Évora, para ser operada, e eu sem qualquer nave espacial à mão.
Valeu-nos Alá, que na pessoa do Counter Agent da Air France em Ammã, o Senhor Suhail Halaseh, Senhor com letra grande, nos salvou de todas essas vicissitudes, por gentileza sua e da companhia aérea, na qual procurarei viajar o resto dos meus dias. Depois de saber a nossa história, colocou-nos num avião direitinho a Paris, sem escalas nem pagamentos suplementares. A esse homem e à Air France, os meus mais sinceros e maiores agradecimentos, nunca o esquecerei.
Foram mais de doze horas de viajem até aterrar em Lisboa, onde me esperava o meu filho, a namorada e dezenas de órgãos de informação.
A todos cedi uns minutos, para me arrepender nos minutos seguintes. Ainda as palavras não me tinham saído da boca e já estavam a ser deturpadas. Fiquei para sempre com a sensação que os repórteres são capazes de cortar palavra por palavra o nosso discurso, voltar a colá-las e colocar-nos na boca coisas que nunca sonhámos dizer.
Por essa e por outras parecidas é que hoje tenho, da comunicação social, a imagem que tenho, por essa e por outras é que a minha luta só terminará quando este livro vir a luz do dia, estou curioso em saber como vão reescrevê-lo.
Quando parti, meti férias e vi-me forçado a uma adaptação repentina a uma situação que nunca imaginara, uma coisa é o que vemos na Tv, outra, completamente diferente, a realidade. A diferença entre o que nos deram a conhecer e a verdade foi, neste caso, abissal. Hoje, refeito dessa surpresa, confesso não me ter adaptado ainda e de novo a este mundo. Estou muito mais calmo, sou quase outro, não sou decerto o mesmo.
Apesar deste testemunho, por hábito, não comento nem partilho a minha experiência com ninguém, não vejo necessidade disso, as mentiras sobre a guerra, que começaram muito antes dela, e as contradições em que mais tarde ou mais cedo todos os mentirosos acabam por cair, farão esse trabalho por mim. Limito-me a contar o que vi e vivi, em vez de armas de destruição maciça, miséria, muita miséria e um tirano destronado por Bush, um vencedor cem vezes mais perigoso que o vencido.
Hoje os iraquianos resistem, chamam-lhes terroristas, não digo que não haja por lá terroristas, decerto muitos mais que haveria antes da guerra, mas haja a coragem de lhes chamar, pelo menos à maioria, patriotas ou nacionalistas.
È certo que parti para o Iraque com o espírito de um militar, disposto a aguentar contratempos e contrariedades, não foi uma vida de lorde mas não passei fome, nem sede, não senti necessidades prementes. Como a restante população, que por não ter dinheiro não tinha vícios, nem com que os alimentar se os tivesse, também eu não achei falta do que não esperava encontrar, em compensação sobrou-me muito com que não contava, e isso, folgo em repartir convosco.
5820
domingo, 15 de janeiro de 2012
103 - CEGOCENTRISMO.......................
Gosto de falar com o Paulo P. e com o
Baptista, além de revelarem maturidade, revelam também, coisa rara nos dias de
hoje, uma preocupação e visão do futuro não desfocada da realidade.
Numa dessas nossas conversas, e a propósito de uma peça que o primeiro viu no “VILLARET”, consagrada aos usos e costumes nacionais, em vez de nos ficarmos pela rama, derivámos mesmo para uma apreciação mais objectiva, racional e baseada em factos concretos, tal como aconteceu após o experimentalismo português, com o nascimento do racionalismo, do positivismo, dos enciclopedistas, da ciência em geral, assuntos que vínhamos discutindo há dias.
Sendo uma questão que por norma eu não tenderia a abordar aqui, já que pode ser considerada melindrosa por alguns leitores, mas sem querer deixar sem resposta os meus amigos, abordarei o assunto de forma isenta, e de cujas observações não me excluo.
Assente portanto a ideia que sou
pecador, mortal e falível quanto qualquer de vós, vamos ao que interessa.
Consultado o tira teimas de um Dicionário, logo concluímos, sem dúvida, metódica ou não, o seguinte: “ Egocentrismo; Ego; “eu”, o nosso eu “. Tendência para referir tudo a si mesmo, atitude normal para a infância, ausência de distinção entre realidade pessoal e realidade objectiva, ou seja ver as coisas como nos convém, não como são, e geralmente com uma análise muito infantil e nada profunda.
“ Etnocentrismo; atitude baseada na convicção de que o povo a que se pertence, com suas crenças, tradições e valores é um modelo a que tudo deve referir-se, Etno; povo, nação, raça “. Que é o mesmo que dizer que quem não for como nós é contra nós, e não é perfeito.
“ Narcisismo; amor excessivo e
doentio à própria pessoa, caso em que o objecto do amor é a personalidade
própria, homem enamorado de si próprio, vaidoso, adamado “. Aquele que se revê
na sua beleza ou nos seus méritos pessoais, méritos que normalmente nega ver
nos demais.
Ora estas qualidades, ou a falta delas, são infelizmente comuns a muitos de nós. Ainda muito recentemente a imprensa se referia a um inquérito efectuado junto de gestores estrangeiros em Portugal, incidindo sobre a sua visão do gestor português. O resultado, divulgado junto do público, mostrou-se arrasador para os nossos homens, cuja única nota positiva apareceu no item do “improviso”, o que não abona nada em seu favor nem conduz a proveito palpável ou duradouro.
Acontece que o nosso planeta é hoje um vasto reservatório de saber, e nos países mais evoluídos, a palavra-chave tem sido, na última década, a descoberta de competências, nos outros, e que se possam misturar com as nossas, empatia na acção.
As competências individuais, ou nucleares já não chegam, (nunca chegaram), hoje impõe-se o trabalho em parceria, a recombinação de competências, (as nossas e as dos outros) e de capacidades para atingir objectivos comuns e mais elevados.
A inovação, área em que somos pobres, só de mãos dadas se consegue, longe vão os tempos das descobertas e invenções isoladas, hoje tudo se complicou, no sentido de maior complexidade, e globalizou. A modernidade, a concorrência, a produtividade, não se compadecem com amadorismos ou improvisos.
Há que estabelecer estratégias de intervenção que forçosamente contem com as capacidades dos outros, aquilo a que chamamos trabalho de equipa. O português dá-se mal com o trabalho de equipa, e as razões podem ser variadas, tais como a fuga de cérebros ou a ausência deles no momento e no lugar, ou baseadas na justificada falta de confiança e capacidade nos que nos rodeiam por muitos que sejam.
Uma outra faceta que ao português tolhe a capacidade é o facto, muitas vezes assumido, de se ver ele como o único capaz, com razão, conhecedor dos factos, e sem o qual nada é possível fazer-se, ou fazer-se bem feito, são, no caso, tarefeiros e individualistas assumidos.
Temos por um lado o improvisador nato, e no extremo oposto o perfeccionista empedernido.
Entre um e outro encontraremos a razão, talvez não a virtude, nem sempre necessária, mas pelo menos o motivo para que em conjunto consigamos transpor obstáculos que pela sua natureza serão impossíveis de galgar sozinhos, esse sim, o nosso calcanhar de Aquiles.
Por estas e por outras, uma vezes nada fazemos, outras fazemos menos do que seria útil ou possível, outras ainda, fazemos alguma coisa que, posteriormente e para que lhe não percamos o controle, não deixamos crescer, ou seja, limitamos-lhe o crescimento.
Tal qual como os pais que, não reconhecendo capacidades aos filhos, os tratam sempre como se fossem crianças, incapacitando-os de se tornarem homens autónomos, confiantes, capazes e empreendedores.
Muitos acomodam-se a esta situação e viverão sempre à sombra sem que nada criem, outros sentir-se-ão limitados, desmotivados e logicamente acabarão por produzir tanto quanto os primeiros.
Entre uma atitude e outra, e apesar da aparente complexidade da coisa, entre um extremo e outro diria, venha o diabo e escolha ...