segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

315 - RÁDIO, OS DIAS DA RÁDIO .............................


         Não sem alguma razão a minha amiga Floripes deu-me hoje um sermão. Não foi o sermão da montanha não, foi antes um responso perante a minha cruel insensibilidade, e o pior de tudo foi ter vindo acompanhado de uma piada maliciosa, susceptível de ferir terceiros e contra a qual me insurgi de imediato, infelizmente com pior resultado que o pretendido e de que logo me arrependi pois ela atirou-me:

- Pois pois, mas se fosse para comprares o livro do Banana no Quiosque Primavera até te babarias como um cão, nem que tivesses que esperar seis meses em pé numa fila…

um mordaz desabafo dito por ela numa injusta e soez alusão ao facto de eu pagar a simpatia da Micas com mais simpatia ainda, e para além disso por lhe comprar no quiosque, para a minha netinha, os volumes do “Diário de Um Banana”, que já vão na 10ª ou 15ª série… quiosque ao lado do qual ela passava sempre ao largo ou se obrigava a mudar de passeio...

Uma piadola descabelada daquelas não me atinge só a mim, mas também a Micas do Quiosque Primavera, a alegria da avenida, uma simpatiquíssima matrona cuja graça há-de superar sempre a da Floripes, demasiado séria para o meu gosto e que passa a vida colocando na rádio discos como Um Amor Impossível, O Meu Amor é Um Sonho, Um Dia Quero Ser Tua, e outros do mesmo jaez, para depois me vir perguntar se ouvi o programa dela naquela manhã, ao que eu invariavelmente faço orelhas moucas, ou ouvidos de mercador e respondo ter perdido a manhã na bicha das finanças para pagar o imposto de selo do carro ou o IMI.

Esclareça-se que a Floripes é radialista, tem um programa musical matinal, e aposto que adoraria que eu lhe ligasse um dia para o programa pedindo-lhe um disquinho, do género Acordar Ao Teu Lado É o Meu Sonho… claro que não o farei, sou homem de princípios, fiel a mim mesmo e à companheira que escolhi e não vai ser uma Floripes qualquer a dar-me a volta por muito que ela gostasse de o fazer.

Há uns três quinze dias a Floripes pedira-me que escrevesse algo sobre a rádio cujo dia mundial se comemoraria a 13 de Fevereiro, mas eu, que tudo que a Floripes diga arquivo na pasta “Aguas de Bacalhau”, esquecera-me completamente. Vem daí o seu recente azedume e ressentimento para comigo, porém não o fiz propositadamente, esqueci-me mesmo, e vou tentar emendar a mão dando-lhe esse prazer ainda que fora do prazo, até por eu mesmo ter algumas ligações fortes à rádio, coisa de que nem só a infeliz Marie Curie (1) se pode gabar, ou antes lamentar, o que terá sido o caso…

São mui antigas as minhas ligações à rádio, lembro-me da minha avó Bernarda (2) ter o que na época se chamava “Galena” (3), com a qual me seduzia e entretinha girando um botão, enquanto me pedia que colasse a ela o ouvido, isto é, que ficasse atento.

- Escuta esta, Sidney, deve ser a Rádio Antípodas, falam muito mas passam pouca música.

e eu ia “vendo” o mundo rodar à medida que ela girava o botão, como quem rodopia nas mãos um globo terrestre, pelo que cedo me familiarizei com os tangos argentinos e os pasodobles espanhóis, as rumbas cubanas e o samba brasileiro, e, numa noite estrelada, milagre dos milagres, deitados os dois numa esteira estendida no quintal olhando as estrelas, repentinamente ela:

- Olha ali Bertito ! Ali vai ele ! Vês aquele pontinho brilhante entre aquelas estrelas e voando de este para oeste ? 

entre nós um rádio numa cadência matemática, bip bip bip (4) anunciando novos mundos ao mundo e calando em Nova Iorque os Blues, o Jazz e o Charleston, que nessa noite a avó Bernarda não conseguia sintonizar ou ouvir de modo nenhum. Minha avó Bernarda era telegrafista mas amava a rádio, coisa que por magia dispensava os fios, chegava mais longe, mais depressa e até os americanos do Check Point Charlie (9) a usaram para namoriscar e seduzir, aliciando através dela os comunas do outro lado da cortina de ferro a que viessem viver para o paraíso. Hoje, ultrapassada que está a guerra fria, sabemos que o paraíso, ou o inferno, moram de ambos os lados e vivem em conúbio.

Depois destas experiências, que jamais esquecerei, a minha ligação à rádio estreitou-se ainda mais quando o meu mano comprou e levou lá para casa um pequeno transístor, daqueles com que os japoneses inundaram o planeta e que todo o dia cantarolava não havendo pilhas que chegassem, sobretudo depois dele, mano, me ter ensinado a captar a “Radio Caroline” (4), uma emissora de radio europeia que iniciou as transmissões em 28 de Março de 1964, a partir de um barco ancorado em águas internacionais ao largo da costa de Felixstowe, Suffolk, Inglaterra, e que sem licença durante a maior parte da sua existência, foi etiquetado como emissora pirata. Contudo transmitia músicas proibidas, actuais, actualíssimas, e de top. Fez história essa rádio porque sobre ela a Grã Bretanha não conseguia actuar por falta de jurisdição. Foi a partir da Rádio Caroline que conheci os Beatles (10) antes de todos e antes de eu mesmo saber quão famosos eles seriam, tal como foi a partir dessa rádio que me apaixonei pela música e intérprete Sandie Shaw, cuja canção me ficou no goto, “Puppet On A String, traduzido em Portugal como O Amor é Como Um Carrocel” (5), intérprete que partilhava uma peculiar característica, cantava descalça e tinha uns pés lindos, vi-os eu na televisão, e quem sabe se talvez daí a minha perdição por pezinhos, (6) a psicologia dá voltas inimagináveis e Freud já baqueou há bué da time…

Eu era demasiado novo para me aperceber da força da rádio e de como e a quem ela, rádio, atirava para o estrelato, a minha sensibilidade para tal começou ao ouvir falar da Guerra Dos Mundos (7) e de Orson Welles, ou de como nalguns países tiveram oportunidade de se tornarem fulcrais e terem até feito parte da resistência aos nazis durante a II Grande Guerra. O fenómeno Tv sim, acompanhei-o e apercebi-me claramente de que os Beatles (10), por muito bons que fossem, e eram, jamais teriam alcançado o sucesso que conseguiram sem os prodígios que a Tv permite e da sua divulgação a nível mundial, outros deverão os seus sucessos à rádio, mas como disse eu era novo demais e foi coisa que me escapou, peço-vos perdão.

Embora com falhas a minha ligação à rádio recrudescia, a partir de certa data passei a ser vizinho de uma, salvo erro a “Meridional”, onde ainda participei com uns programas de história a convite do amigo Liberato, rádio que nem sei para que meridiano emigrou. Todavia passei também a falar com outros amigos que tinha e tenho na rádio, ainda não fazia rádio, mas falava com eles, que faziam, até que o Espírito Santo me convidou e o Barrigoto me cedeu um espaço no programa dele, na “Rádio Jovem” e onde eu durante dois ou três anos todas as segundas feiras reproduzia oralmente uma crónica que pela minha mão saíra nesse mesmo dia num jornal da urbe. Mas confesso-vos, não gostava de me ouvir apesar da Floripes e tantas outras, começando pela Luisinha, ficarem presas pelo beicinho mal eu começava a falar. Tenho uma pronúncia acentuada e ainda por cima alentejana, e detesto ouvir-me a mim mesmo. Custa-me acreditar como há quem me ache graça ou tenha gosto em ouvir-me. 

Isto já depois do 25A de 74, porque antes disso a minha ligação à rádio se reforçaria às escondidas do poder, que desafiávamos em fins de 73 ouvindo a voz do poeta oriunda de Argel, pela “Rádio Voz da Liberdade” e encafuados num automóvel velho abandonado no Largo dos Penedos ao lado do portão da Carpintaria Braguês. Eu, o meu saudoso amigo Rosa, infelizmente já não entre nós, eu, ele, dois ou três outros compinchas e a Pimpinela Escarlate, que nunca cheguei a perceber se era ou não namorada dele e que eu assim baptizara por ela usar uma capa que a fazia parecer um espadachim. Namorada ou não marmelada haveria, pois sempre que nós entrávamos no bólide havia nítidos resquícios de cheiros pairando no ar, o mais forte deles nem era de ganzas, ao que se somariam os nítidos vestígios de roupas em desalinho e que eles tentavam atrapalhadamente disfarçar. Com o 25 de Abril a Pimpinela desapareceu, desapareceu o bólide do chaço velho onde nos acoitávamos, e desapareceu o poeta que contudo voltámos a ouvir já transformado em burguês e gozando os favores do poder, que eu saiba, esse poeta além de ter passado a viver a nossas expensas, nada mais vi fazer na vida que se aproveitasse, deixou até cair o nosso mundo no mesmo ou num pior buraco do que aquele que, quando de Argel nos ladrava, nos exortava a que não caíssemos. Um cão esse poeta, um cão como nós (8) que fomos na conversa dele…

Tal como o poeta, que nos abandonou, o paizinho a partir de certa altura também nos deixou à nossa sorte, quer dizer à sorte da rádio, e não mais nos levou ao coreto do jardim ouvir a banda da GNR aos Domingos, passámos a ouvir na rádio a Valsa do Danúbio Azul e outros concertos directamente, como se estivéssemos nos camarotes da ópera de Viena. Nem sei porque não gosta a Floripes de música sinfónica… 
















domingo, 14 de fevereiro de 2016

314 - HUMBERTO DELGADO, GENERAL SEM MEDO OU CANASTRÃO ? ..........................................


Continuo recebendo felicitações, que agradeço a todos os amigos os quais, aproveitando a incompreensível e inusitada alteração de nome do aeroporto de Lisboa e julgando ter o meu nome alguma ligação ao General Sem Medo me parabenizam e felicitam, sem que cabrão algum seja capaz de deduzir ter eu nascido antes do general se ter tornado famoso em virtude de uma frase proferida, aliás a única coisa que em vida disse ou fez com tino, a célebre frase:

 - Obviamente demito-o,

frase que naturalmente caiu no goto da populaça, o que tornou o General famoso a partir de 1958, ano em que aceitou encabeçar uma lista de oposição ao regime do Estado Novo, embora tudo aquilo não tenha passado de um fugaz flash de esperança, pois Humberto Delgado além de anticomunista primário tinha participado activamente no golpe de 1926, golpe que derrubara a República dando origem ao Estado Novo.

Ora acontece que devo o meu nome a acontecimentos ocorridos muito antes disso, pois Humberto me chamaram, porque nos idos de trinta, um aventureiro dos biplanos, ou triplanos, por arbítrio de mágico nevoeiro, trágico fim encontrou ao despenhar-se de encontro à torre de menagem do castelo de Monsaraz, cousa que fatalmente muito consternou os moradores, antepassados meus incluídos, tanto que no baptizado do meu padrinho lhe mudaram o nome de Benvindo para Humberto, numa solene e compungida homenagem ao louco da máquina voadora, acabado de perecer no exacto momento em que o tão desejado Benvindo ao mundo vinha. Humberto ele, Humberto eu anos mais tarde e por sua inteira vontade, tradição que mantive ao dar por minha vez o mesmo nome ao meu primeiro e único filho. Luís Humberto. *

Como podem constatar toda uma sequência de acontecimentos não simultânea nem paralela à trajectória do General, porém destinados a confundirem-se e a cruzarem-se. Aliás a trajectória do General é toda ela pouco abonatória e ainda que menos opaca que a de Sócrates nem por isso é mais louvável. Uma vez mais alguém anda a querer distrair-nos do essencial entretendo-nos com o acessório e fabricando mitos tão inconsequentes e inconsistentes como o mito de D. Sebastião.

Neste nosso Portugal democrático quem não está vale sempre mais do que qualquer vivo, e aos vivos a preocupação é abatê-los, não os deixando medrar, sobretudo se colidirem com os interesses instalados. A trajectória do General Humberto Delgado é contudo pouco abonatória e ainda menos recomendável, não pelo que quer que eu aqui diga, mas porque ele assim a fez ou construiu.

O nosso General Sem Medo era admirador confesso de Hitler, e um ainda maior apreciador e defensor das ideias e ideais nazis, faceta que vulgarmente nos não é mostrada, apenas o seu lado de opositor ao antigo regime, casual ou interesseiro, nos é comummente apresentado, porquê ? Porque não nos dizem que o homem, que era oriundo da arma de infantaria mas também estudara em instituições inglesas, incluindo militares, sobretudo americanas, e da NATO, da qual era apologista e onde exerceu cargos, uma instituição nascida da guerra fria e que nada tem de inocente. Porque não nos dizem que foi procurador à Câmara Corporativa do Estado Novo, regime que lhe concedeu fama, galões, bem-estar profissional, social e material, e que provavelmente, a história não é uma ciência exacta, sobretudo na ausência de provas, pelo que me fico pela possibilidade, pela hipóteses académica, pela probabilidade de ter anuído a encabeçar a lista da oposição democrática nas eleições Presidenciais de 1958 devido a alguma birrinha. Que terá sido que não lhe deram e que tanto o terá feito zangar ? Ter-lhe-ão negado a Chefia do Estado Maior da Força Aérea ? das Forças Armadas ? Ou foi-lhe negado ou sonegado tacho maior e mais vistoso, a ele que tanto gostava de medalhas ao peito ?

Conscientemente temos que nos interrogar qual a razão pela qual ele sim, vai levar o nome numa placa do aeroporto e não Henrique Galvão** ou Herminio da Palma Inácio***, que com factos efectivos, palpáveis, documentados, lutaram seriamente contra o regime fascista, o segundo com o sobrevoo do país por um avião da TAP que largou cem mil panfletos apelando à revolta contra o regime, o primeiro com o desvio do Paquete Santa Maria rebaptizado de Santa Liberdade. Duas acções de guerrilha que chamaram a atenção do mundo para a falta de liberdades no país certamente aconselhariam outro nome para o aeroporto da Portela, o nome de Herminio da Palma Inácio cairia muito melhor, tal como o de Henrique Galvão se aconselharia para rebaptizar o terminal / doca da Rocha do Conde de Óbidos, deixo a proposta e o desafio.

 Ultrapassada a euforia e a derrota das eleições falseadas de 1958, e destituído de todos os cargos civis e militares o nosso homem foi incapaz de harmonizar com a oposição nacional e internacional um esquema de cooperação e apoio, ou de ataque, e apesar de todo o saber adquirido não logrou desenhar uma estratégia ou desenvolver qualquer táctica de oposição e combate na oposição ao regime, fosse guerrilha urbana fosse guerra aberta, fosse dispositivo de defesa.

Esta incapacidade como sabemos foi-lhe fatal e sucumbiria às portas de Portugal, em Villanueva Del Fresno, no ano de 1965, às mãos de esbirros do regime que irritou mas não matou… (Quem o inimigo poupa às suas mãos morre…). Era um general sem ideais nem ideias, sem capacidade de esboçar uma estratégia ou antecipar uma táctica apesar de tantos estudos em academias militares, tanto que morreu às mãos do inimigo perante uma emboscada de caca...

Nascia um mito, coisa fácil de construir entre uma população tão bruta e analfabeta quanto hoje que os novos ismos e ismas continuam fazendo dela gato-sapato. Não consta tão pouco que Humberto Delgado, o General Sem medo, tivesse alguma vez contactado os chefes das regiões militares, nem sequer o da sua arma, a força aérea, no sentido de uma qualquer sublevação contra o regime. Humberto Delgado, o homem do sorriso franco, aberto, do sorriso de orelha a orelha, do sorriso de palhaço, não merece mais que o nosso riso, não passava de um produto do regime, de um pavão emproado que não merece o nome num aeroporto, valha-nos que não o rebaptizaram de Aeroporto Mário Soares… O Pai desta democracia de merda...

Toma lá povo um herói mártir e entretém-te, palerma...


Nota: O presente texto foi elaborado de acordo com os conhecimentos factuais, históricos e documentais existentes sobre o General Humberto Delgado, naturalmente é sempre possível com base neles romancear a sua vida e torna-la gloriosa aos nossos olhos, tal como é possível pegar nos mesmos dados e utilizá-los de modo negativo ou pejorativo. Limitei-me a eles sem acrescentar o que quer que fosse que não esteja comprovado, preconceitos que possam detectar no texto e juízos de valor emitidos sim, são meus, são de minha autoria e conscientemente formulados. Obrigado.



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

313 - DEAMBULANDO NO PARAÍSO .......................


Saio de casa dou meia dúzia de passinhos e tomo a bica, não curta mas quente * e saio fazendo a língua estalar no palato para prolongar o sabor do café, dou os bons dias à Micas, compro os jornais do dia, troco com ela duas lérias de conversa e desando antes que ela me dê a entender que posso estar a atrasar-me, embora sabendo que tenho todo o tempo do mundo…

Rumo mais adiante uns passinhos e sou de imediato apanhado pelo cheiro do pão quente, de lenha de azinho queimada, e num reflexo condicionado meto a mão ao bolso do blusão e retiro o saco do pão, adoro aquela padeira, perdão, aquela padaria, o pão alentejano, os doces caseiros, o calor do forno, a sensação da cinza no chão se calho pisá-la.

A Micas é assim, não aprecia passarões à volta do quiosque, mas gosta de passarinhos e passarinhas, tem em casa um casal de periquitos, um de canarinhos e outro de rouxinóis, passarões dão mau nome ao negócio e afastam a clientela, diz ela que é espertalhona e sabidona como uma pardaloca…

Umas vezes sigo em frente, outras completo o triângulo e volto ao meu café / pastelaria preferidos, onde não por acaso muita gente pensa ter eu ali lugar cativo, não tenho, mas quase. Onde me sinto mesmo bem é na padaria, pena não haver mesas naquela, o calor aconchegante nestes dias invernosos e o cheirinho do pão inebriam-me, dias havendo em que esse olor me leva a esquecer o troco, ou sair sem pagar o pão, até já me tem acontecido abalar sem levar o saco do dito, nariz no ar, emproado e sonhador, atrasando o passo e julgando-me numa soirée do Éden Esplanada com a minha Luisinha, depois o passeio nocturno pela cidade que era nossa e cujos recantos conhecíamos como a palma da mão.

Abraçados deambulávamos por ruas e ruelas, eu encantado ouvindo-a e pendurado nas suas conversas, o futuro vai sorrir a todos, está tudo por fazer dizia ela, e a certeza e esperança naquela democracia tão nova e avassaladora que emergia cegava-nos, cegava-nos a todos

e por vezes a Micas:

- Areia para os olhos ! É só o que fazem é atirar-nos areia para os olhos ! São todos iguais !

E nós sonhando, deitados de costas ou estirados na relva fresca olhando as estrelas no céu e tentando adivinhar percursos e horizontes, a Luisinha falando, embora falando ainda muito pouco de economia,** e eu ouvindo-a, o que eu gostava ouvi-la falar de economia … ou de qualquer outra coisa, matemática, física, história, ou geografia… Estirado na relva inalando indolentemente um cigarro, ela falando, eu ouvindo, fosse história, ou geografia o que ela dizia, à pressa, como se o vagar pudesse acabar-se, ou eu, a quem a conversa seduzia, eu quem, como feitiço sobre mim caído, resolvesse numa inquietação obscena falar-lhe dos lugares exóticos onde ela e eu iríamos, e eu, nostálgico, em puritanos sonhos sorrindo, numa ternura impaciente, desatando-lhe os laços e lacinhos, por vezes com os dentes, enquanto pelo canto do olho me maravilhava com as mirificas e reluzentes bolas de sabão que da sua boca se soltavam, cada uma com uma nota musical, refulgentes, seguindo enfiadas uma nas outras, a mais pequenina atrás, a maior na frente, numa fileira ordenada e ondulante numa melodia que eu ouvia por um instante e, de repente, pof ! rebentavam num alarido estridente, numa gargalhada, num sorriso, num abraço, um beijo, uma volta, duas voltas até um qualquer arbusto nos parar e esconder na noite fresca, de olhares indiscretos, do senso comum e, inquietos, tomávamos em nós o cuidado pelo bem estar do outro e sossegávamo-nos, umas vezes apressados, em torvelinho, outras devagar, devagarinho, até que, exaustos, famintos e sedentos, cabelo e roupas em desalinho, nos erguíamos rindo, atarantados ainda, aparvalhados de felizes e, de braço dado ou abraçados descíamos rumando ao mercado em busca do cacau, da massa frita, do alarido dos pregoeiros, dos cheiros das frutas e hortaliças, do peixe fresco, do calor do forno na padaria da Tia Maria Benta onde logo pelas matinas e no meio dos molhes de lenha ganhava a azáfama no manejo da pá de cabo comprido, compridíssimo

- Sai mais uma cabazada ! Puxem os cestos para aqui !

e o pão com chouriço, e café quente em copos grandes, café forte, que aquecia e dava nova vida aos corações batendo de contentes.

E inda o sol não despontava apontávamos à Heróis do Ultramar Rossio, CAPLE, onde um leiteiro, sempre o mesmo, sempre alarve, invariavelmente nos gritava:

- Deixa-a acabar de criar !

E nós rindo apertávamos o abraço e estugávamos o passo, Bombeiros, Nau, mais dez minutos e estaremos lá, ela subindo as escadas do prédio, correndo e mostrando o rabo, eu montando a mota que ali deixara e desandando para casebres.

Uma manhã quando sorrateiramente entrava em casa, o meu saudoso paizinho:

- Sete da manhã, onde andaste ? Isto são horas de chegar a casa ?

E eu, matreiro, tendo-lhe virado as costas ainda antes que ele me tivesse visto:

- Estou de saída pai, não estou de chegada, tenho que fazer cedo hoje, até logo, beijinhos.

Saí, dei uma volta ao quarteirão para queimar tempo e, cansado e sonolento atirei-me para dentro da cama mesmo vestido.

Não foi a Luisinha quem me enganou ou desiludiu, foi antes esta democracia de merda da qual tanto nós esperávamos, esperávamos tudo, esperançados no melhor. 

             Fodeu-nos a magana, ou, como diria a Micas:

- Fodem as paredes todas com cartazes e cagam o pé todo cada vez que fazem alguma coisa ! …

exasperada com a colagem de cartazes nas paredes do quiosque cada vez que há eleições............................


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

312 - CRISE, SEPARAÇÃO, DIVÓRCIO.....................


Naturalmente não posso deixar de ser critico de palhaçadas quer à direita quer à esquerda, parece até sermos dois países num, ou três em um, quatro em um, existe um Portugal Dos Pequeninos e existe um Portugal pequenino por cada partido de merda dos que há quarenta anos se sentam na Assembleia da República e que, por acção ou omissão nos meteram neste buraco.

E que fique desde já esclarecido, se critico aqui ou nas minhas páginas nas redes sociais o meu partido, é por me sentir com direito a isso, se ele me mente e engana há quarenta anos e é um dos grandes culpados da pilhéria em que vivemos, também eu tenho direito ao meu desabafo, até por não ser do meu feitio mudar de partido, não sou eu quem está errado, é ele, logo é ele quem tem que mudar, e não eu.

Quem perde votos e eleitores há quarenta anos não sou eu, não sou eu quem perde eleições consecutivas, não sou eu quem protagoniza episódios oportunistas que envergonham, não sou eu quem se cala e consente no seu seio gente que apouca, que desprestigia, que envilece, não serei eu a visitar na prisão quem clama por uma justiça transparente sem que alguma vez tenha dado um passo na vida que não seja opaco, não sou eu quem segue a voz do dono num unanimismo maniqueísta falso e num seguidismo doentio, vereda directa apontada ao oposto do que apregoam, não sou eu quem há quarenta anos assume abstenções violentas ou vota “nim”, o tal nem sim nem não cujo resultado estamos a ver, que afugenta os veros socialistas e mantém no partido oportunistas ou beneficiários de subvenções vitalícias, vergonha das vergonhas.

Eu sou socialista e o meu partido algum dia o será, não tem sido, nunca foi. Portanto, se o crítico faço-o por ser o meu e querer o seu bem, faço-o nas minhas páginas, jamais o fiz nas páginas de outrem, como jamais critiquei outros partidos nas minhas páginas e muito menos nas de outros. Haja decoro.

E já que estamos em maré de avisos deixo um para as senhoras, por favor, lá porque eu deixo um like ou um bonequinho amarelinho daqueles emojis com um sorriso, tal não quer dizer que vos esteja a cortejar, por favor deixem de me telefonar e de me enviar mensagens e e-mails. Até porque já estou comprometido pelo menos até 2050.

Neste país a crítica interpartidária soez e a baixeza têm adquirido foros impensáveis, e os partidos não expurgam das suas fileiras os mais cretinos de entre eles, parecendo mesmo estar a classe dos idiotas apoderando-se de direcções e presidências. Assim nunca iremos lá, nem com o Pedro nem com o Costa nem com nenhum que se perfile, todos eles sem uma ideia do que seja um país ou de como deve conduzir-se uma nação. 

Morto Salazar por ter caído da cadeira, não foi apeado, julgo até que se tivesse tido saúde o teriam deixado ficar mais uns trinta anos, deposto Marcelo Caetano e assassinado Sá Carneiro (o mistério da sua morte dura há quarenta anos, tanto tempo quanto a decisão final sobre o aborto, o saber a escola que queremos ou se deveremos enveredar pela regionalização, o caso dos submarinos é matéria para durar muito mais tempo a esclarecer, cito estes casos somente a titulo de exemplo, há muitas mais indecisões no cardápio), a verdade é que depois destas três mortes nunca mais tivemos entre nós alguém com um pensamento profundo, com conhecimento, cultura e discernimento suficientes para nos colocar nos carris do bom senso. Mário Soares, que dentro de poucos meses choraremos, tem da democracia e do socialismo uma concepção dinástica que o faz imaginar-se um rei entre plebeus, e trouxe com ele uma praxis da intriga e da chicana politica, mesquinha e vingativa cujo vírus inoculou no partido, o qual demorará décadas a combater, Soares nem é muito diferente de Cavaco e Silva, o grunho que tanto detesta. Bem sei que lhe bati palmas muitas vezes mas julgo ter ele  imprimido na democracia um estilo tal que hoje me interrogo quão prejudicial terá sido, bem podem portanto chamar-lhe o “Pai da Democracia” que o problema é a filha, uma magana que não interessa a ninguém. E para terminar este parágrafo, é olhar à nossa volta e ver onde como país conseguimos chegar…

Após 1945 uma Europa arrasada logrou levantar-se de novo em poucos anos, nós definhamos desde 74 e continuamos sem um objectivo, sem um rumo, sem um desígnio,. Termos empobrecido não foi uma fatalidade, foi uma consequência das mentes esclarecidas que nos têm governado e onde, pelo menos metade da culpa cabe, para meu grande desgosto, ao meu partido, culpa de que nunca se penitenciou nem desceu até nós para nos pedir desculpa.

A partir de 1945 essa Europa que vos falei levantou-se erguendo um sistema bancário e financeiro de confiança, e confiando nas pessoas, por cá, à excepção de Armando Vara, que confiou e emprestou milhões aos amigos sem cobrar quaisquer garantias, a nossa democrática banca só serve para nos esmifrar, enriquecendo ela na razão directa em que nos empobrece.

Portugal precisa de um plano ou orçamento de “economia de guerra”, tal como a Europa fez para se levantar das ruínas, e não estes orçamentos de caca que não levam a lado nenhum, nem a nada, nem à esperança. Não estamos condenados, estamos é rodeados de políticos inúteis, incompetentes, irresponsáveis e ignorantes.

Talvez agora percebam porque há dias afirmei ironicamente, referindo-me a Salazar e Caetano;  Por favor voltem ! Estão perdoados !

Esses sim, esses saberiam avaliar a situação e sobretudo o que fazer, não estes pintarroxos pintados de democratas, com estes jamais iremos a lado algum, sejam eles socialistas sejam social-democratas ou quaisquer outros, e que levam a vida como se nada do que aconteceu fosse com eles. Poderemos nós alguma vez acreditar naqueles que, prometendo-nos uma vida melhor, comecem por assegurá-la primeiramente para si próprios ?

O meu partido tem sido um dos mais prejudicados nesta democracia da treta que tem ajudado a erguer, portanto nem se pode queixar, felizmente para ele não somos como a Grécia, ou a Espanha, quando não já teria desaparecido do mapa, nesta democracia ele é o grande perdedor, considero-o um grande falhanço, falhado ele e por tabela nós…

E já agora tomem os meus leitores nota, acabei de dar ordens para que se construa o novo Hospital Central de Évora, vão ver que será construído, não sei é se daqui a trinta se a quarenta anos, mas nessa altura por favor lembrem-se de mim e do quanto eu lutei para que esse sonho se concretizasse… 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

311 - SONHO DE PRíNCIPES ENCANTADOS .........


O meu amigo Francisco Nunes Liberato Cardoso morreu, uma surpresa para mim, quer dizer soube disso há quinze dias, dei com a coisa num jornal, casualmente, nem costumo ler aquele pasquim, amarrotado sobre a mesa do cabeleireiro onde fora dar um caldinho ao cabelo para ir jeitoso ao almoço de anos da Felicidade que, atendendo a que o Senhor a protege e beneficia, não tem pejo em dizer a quem quer que seja a idade, está com cinquenta e é uma felicidade olhá-la, é daquelas mulheres de quem se diz serem como o vinho do Porto, quanto mais velhas melhores, salvo seja o exagero, mas na verdade nunca a vi tão bonitinha como agora, em adolescente e jovem era até muito feiinha confesso.

O tempo muda-as, muda-nos a todos, e se umas ficam piores, outras, poucas, para compensar ficam muito melhores. Atente-se na Felicidade, então não é uma felicidade mirá-la ? Vê-la, ser seu amigo ? Reuniu à mesa mais de trinta de nós, os mais chegados, todos amigos de infância, mas estou a desviar-me do essencial, a felicidade tem destas coisas, sonega-nos a atenção, e quando damos por nós estamos de beicinho.

O jornal, puxara dele para ver umas fotos da Sara Sampaio na capa e ao folheá-lo deparei-me com a noticia da missa por alma do Francisco Cardoso, que se foi já há uns bons sete meses, apagou-se coitado, e a viúva, a Idalina, nicles batatóides, calou-se bem caladinha pois nunca foi muito à bola comigo, daí nem me ter dado a triste noticia. Na verdade fora ela que nos separara como amigos, achava que eu o influenciava demasiado quando nada mais fiz que ele não me tivesse pedido ou fosse ideia sua, mas os pesos de consciência pesam mais que um par de cornos, dizem, e arrastam sempre esqueletos atrás de si.

Mas a Idalina, assim se chama a megera, que hoje se comporta como uma senhora, que não deixa de ser, não engraça comigo porque eu dei corpo aos seus planos oportunistas que tanto viriam a beneficiar o meu amigo Cardoso e por arrastamento a si mesma. Estava portanto a Idalina muito adiantada para o seu tempo quando em 1978 ou 79, já nem sei precisar bem, lembro apenas que a coisa foi feita a correr e a rasar os prazos máximos, que por duas vezes tinham sido gentilmente dilatados pois iriam encerrar irrevogavelmente as inscrições, os plafonds, os programas, e os planos de ajuda financeira que o IARN, Instituto de Apoio aos Retornados Nacionais, quero dizer os EUA, afinal quem financiava tudo e que colocara milhões de dólares à disposição dos retornados das ex-colónias. 

A esta distância toda a gente lamentará os retornados, mas na época eram mal vistos, mal quistos e mal-amados pela generalidade dos portugueses, porque alguns partidos, alguns jornais, algumas rádios e por vezes mesmo a televisão os mostravam como gente que beneficiara tempo demais de privilégios que os da metrópole jamais tinham tido, e sobretudo de ajudas e de condições que aos nacionais não eram oferecidas, nem nunca tinham sido.

Em boa verdade, para além da hostilidade com que foram recebidos e tratados, os retornados não tiveram à sua espera ajudas que não aquelas que o povo fascista capitalista dos Estados Unidos da América lhes quis dar, e que por cá foram canalizadas para e pelo IARN. (como habitualmente ninguém tem, veja-se o caso das ajudas governamentais aos lesados pelas cheias em Albufeira.)

Essas ajudas foram mais um motivo de inveja e de ódio para com os que, fugidos às guerras da independência descontrolada que os acordos de Bicesse permitiram, não acautelando nem cuidando das suas vidas, nem da segurança e bens desses portugueses nas e das colónias, obrigados a fugir, muitos deles somente com a roupinha que tinham no corpo.

Mas deixemo-nos de pieguices que não foi para isso que peguei na caneta e no papel, foi antes para vos demonstrar que a inveja, o ódio e a vergonha pelos esqueletos no armário, e o incómodo quanto a quem nos conhece o passado pode levar, pois foi tudo isso que levou a Idalina a esconder-me o Francisco primeiro e a sua morte depois.

Francisco Cardoso tinha em fins de 1973 sido contemplado pela Junta de Colonização Interna, um organismo do Estado Novo (ver link) destinado a promover o povoamento e o desenvolvimento económico territorial e agrícola na metrópole e nas colónias, com um soberbo lote, ou parcela considerável, no perímetro de Pegões e que fizera dele um jovem agricultor e um jovem rendeiro.

Contudo o advento do 25 de Abril deitara tudo por água abaixo e o bom do Cardoso nunca chegou a agricultor apesar de, já em democracia, muito ter tentado mas, o estado democrático, às voltas com as ocupações selvagens e consequentes devoluções de terras (ver lei 77, também conhecida por lei Barreto, link no fim do texto) nunca lhe deu atenção. Não lha deu a ele nem a centenas ou milhares de pequenos agricultores ou rendeiros, o que deitou por terra os sonhos de casamento da Idalina, que pintara na vida tudo quanto havia para pintar e encontrara no parvalhão do Francisco o seu seguro de vida. 

Ao observar os apoios que o IARN prodigalizava aos atrasados mentais dos retornados a Idalina encontrou o furo da sua vida, todavia os pruridos de honestidade do noivo e até a sua limitada inteligência (foi ela quem assim mo classificou) e desenvoltura bloqueavam-lhe os planos. Foi aí que eu entrei em cena, competindo-me criar-lhes ou inventar-lhes como agora se diz uma nova narrativa, o que na inocência dos meus vinte e poucos anos fiz, tendo até ido mais longe que a prudência aconselharia e incutido coragem ao meu amigo Francisco garantindo-lhe que dali não viria mal e ele sempre poderia ressarcir-se do tanto que já tinha penado à procura de lugar no mundo. Deus escreve direito por linhas tortas lembro-me de lhe ter dito quando assinou a papelada que a Idalina levaria ao IARN e faria dele um homem novo, e se não fizesse, mais velho também não o tornaria, mais a mais viviam-se tempos irrepetíveis e quem tivesse dois olhos chegaria longe, isto não lho ouvi, mas pensei ter ela pensado, afinal o irmão tinha declarado numa escola ser licenciado e nem lhe exigiram comprovativo algum, (tinha a frequência do segundo ano, e nem esse acabou) pelo contrário, passaram a chamar-lhe senhor doutor e a dobrar-se numa vénia sempre que passava. Pouco mais de um ano depois tornar-se-ia director daquela escola secundária, onde se manteve até há um ano atrás, ou dois, data em que se reformou, aos sessenta e dois anos de idade.    

Enquanto Instituto o IARN vivia de fundos americanos, de muita solidariedade e de boas vontades, coisas que, como sabemos são extremamente difíceis de encontrar entre nós. Sabendo da miséria em que muitos tinham chegado o IARN pouco exigia além do nome e da idade, nem garantias sobre os créditos concedidos exigia. Como o IARN, nos nossos tempos, só conheço o exemplo de Armando Vara que emprestou milhões aos amigos em qualquer tipo de garantia lhes solicitar.

Ora o bom do Francisco Cardoso muniu-se das respectivas certidões de nascimento e de registo criminal, preencheu a papelada que o dava como retornado de Angola (onde nunca estivera), fugido de Malange, onde teria uma plantação (quem o poderia negar, ou desmentir?) alegou desejar recomeçar a vida na metrópole para o que pretendia um crédito de vinte mil contos (na época uma fortuna) a fim de adquirir um prédio rústico para o que apresentava a respectiva caderneta predial, sito na freguesia de S. Teotónio, concelho de Odemira, avaliações do imóvel igualmente apensas ao processo, em triplicado conforme à lei, e efectuadas pelos serviços competentes das delegações dos bancos Totta & Açores, Nacional Ultramarino e Português do Atlântico, solicitação requerida com a finalidade de transformar o citado prédio rústico numa Albergaria tipo turismo rural, a explorar no sector cujo desenvolvimento entre Odemira e Vila Nova de Mil Fontes é esperado, de acordo com o Parecer Técnico do Gabinete de Arquitectura Mário & Glória Ldª, que se anexa, bem como croquis da pretendida Albergaria, a construir no prazo de dois anos, durante o qual se solicita um período de carência.

Ora todos sabemos como os Américas tratavam o dinheiro por esses tempos de fartura, tempos de Mário Soares, o amigo americano, de Frank Carlucci, de Artur Albarran, o estrangeirado que se meteu em negócios pouco claros mas ainda assim longe da burlazinha do nosso amigo Cardoso, tempos de Henry Kissinger, de Richard Nixon, de Gerald Ford, era despejá-lo aos sacos de notas onde fizesse falta ou desse jeito.

A sabida da Idalina esperava de antemão o resultado daquilo, só não esperava que viesse em menos de quinze dias, ou tinha amigos dentro do IARN, e ela era do tipo de quem tinha amigos em todo o lado, e se não tinha iria ter, pelo que foi a única de nós a não se surpreender quando o IARN meteu o totobola nas mãos do Francisco (não havia ainda totoloto nem Euro milhões).

Casaram-se, foram muito felizes, e hoje, que o bom do Francisco Cardoso morreu, podemos encontrar de novo à venda o Monte das Pedrinhas (link abaixo), como ternamente o baptizaram no seu sonho de príncipes encantados.