FOI SOMENTE UMA SIMPLES E MERA PERGUNTA ?
Uma
pergunta fácil tem por vezes uma resposta difícil e, já que comemoramos o 5º centenário
do nascimento de Camões, aqui fica ela; “Qual
a importância de Vasco da Gama e de “Os Lusíadas” no Processo de Globalização” ?
A
pergunta foi-me atirada há semanas por um painel de gente, motivada e
interessada neste fenómeno que nos rouba empregos e dificulta a vida, numa
sessão ricamente participada de uma Associação Cultural e Recreativa de uma
vila dos arredores de Évora, imerecidamente ou antes do tempo próprio elevada a
cidade (a politica tem destes fenómenos) e que busca, com estes encontros
culturais, suprir o que a economia lhe recusará sempre, seja por falta de
dimensão ou massa critica.
Mas
essa é outra questão que não desejo abordar aqui hoje, pois se repararem a
minha preocupação do momento é portar-me bem, como se portam os homens cultos,
e dar-vos de mim uma imagem que não conhecem, também ela verdadeira, tanto que
nem vou botar aqui alarvices nem excessos desses a que me dou liberdade sempre
que de coração nas mãos escrevo para o meu blogue.
Voltando
ao discurso, diria que não foi uma pergunta fácil, muito exigiu que eu
dissesse, muito ficou por dizer, como aliás ficará em todas as perguntas que a
este título façamos, por muito bem organizado que tenhamos o discurso o saber e
o pensamento.
Esta
questão teve o desaforo de amigos chegados, alguns velhos alunos, hoje homens
de ciência e, como eu, amantes da história e do saber, ainda que não tenhamos
tido o apoio da “Comissão Para os Descobrimentos, nem da que está lembrando
Camões”.
Mesmo
essas comissões, acredito, teriam sido insuficientes para recordar tudo que aprendemos
na escola sobre o tema e que hoje é, enquanto fenómeno global, uma preocupação
essencial de países pobres, sobretudo como Portugal, que á décadas se tem vindo colocando a
jeito e agora, não surpreendentemente se vê atirado para a periferia do centro de
gravidade económico e europeu.
Em
primeiro lugar, como terão sido os encontros de culturas e trocas de
influências a esse nível durante os descobrimentos ?
Sabemos
alguma coisa, delas nos falam “Os Lusíadas” de Camões, “A Peregrinação” de
Fernão Mendes Pinto, ou "Os Sermões" do Padre António Vieira e ainda um ou outro testemunho
que foi ficando da nossa presença, um ou outro escrito de historiadores e
sábios nossos de então, ainda que pouco acesso tenhamos ao que de importante em
nós contou para os outros.
Não
é despicienda esta posição, éramos os melhores na altura, demos mundos ao
mundo. Como então e ainda hoje se diz, revolucionámos os saberes, levámos a
dianteira na observação directa das cousas, directa e sistematicamente,
exercida sobre a natureza e seus fenómenos, sobrepusemo-nos ao empirismo
vigente, subvertemos lentes e escolásticos, fizemos ciência...
Mitos
mantidos durante séculos viram a sua gratuidade e inutilidade despedaçada pela
realidade concreta nascida durante as nossas viagens pelo globo e, naturalmente
das nossas observações e experimentações. Fizemos verdades.
Matámos
os monstros falados em textos eruditos e velhos de séculos, que deixaram de o
ser, demos a conhecer novos povos, novas raças e cores, novos costumes, novos
animais e plantas, novidades inimagináveis, explicado fica o eco " ter
Portugal dado novos mundos ao mundo "...
Esses
novos mundos, ou o novel conhecimento de outros povos, raças, nações e
sistemas, foi o princípio de uma nova era de que Portugal foi a vanguarda, mas
do qual é hoje, tristemente, a periferia.
Ainda
hoje é incalculável o preciosismo que demos ao surto do espírito europeu
moderno. Foi nosso o maior contributo para a revolução cultural da Idade
Moderna, já que o valor da experiência se impôs ao saber livresco estabelecido
até então. De tal modo que a frase mais badalada em toda a europa culta de então
era; à portuguesa, que significa como os portugueses, provar como nós provámos,
confirmar como nós confirmámos, in loco.
Quanto
mais os nossos descobridores recorriam aos livros legados pelos antigos, mais
os crassos erros de que enfermaram durante milénios eram por nós denunciados de
forma evidente. Pela observação directa se chegou à verdade, a experiência
tornou-se a matriz de todas as coisas; “Sabe-se mais agora num dia pelos
portugueses que se sabia em cem anos pelos romanos”, o que destronou de um dia
para o outro todo o saber das autoridades clássicas.
A
cultura letrada, livresca, tornou-se prisioneira do cepticismo em toda a parte
e em todas as latitudes era confrontada com as verdades que diariamente dávamos
ao mundo. Ptolomeu, aquele que foi um dos maiores “geógrafos” da antiguidade
clássica estava enganado, nós não somente redesenhámos as suas “cartas
marítimas”, como evidenciámos e corrigimos outros erros seus, como o da
inabitabilidade dos equadores, erro que permaneceu até que os portugueses o
desmistificaram, e desmentiram. Foram portanto os portugueses quem revelou à
Europa a forma geográfica e correcta do mundo.
Como
nos víamos por essa época uns aos outros ? Nós europeus, desde a antiguidade,
sempre víramos os africanos como caricaturas grotescas e monstruosas, fruto do
pouco conhecimento que sobre eles tínhamos.
Durante
a Idade Média o africano e o ameríndio eram assimilados à noite, ao mundo das
trevas, às forças do mal, ao diabo, com origem num misto de animal e vegetal.
Não esqueçamos que durante esse período da história o negro era a oposição do
branco e o branco a pureza, o maravilhoso, a luz, o que levou a que não tivesse
havido dificuldades em associar a cor negra dos africanos e ameríndios ao
diabo, o senhor das trevas.
Mais
tarde os mesmos africanos e ameríndios são vistos ou representados como
servidores domésticos, fruto da sua sina na época da escravatura, mas sempre
como selvagens. Veja-se a este propósito como estão caricaturados no lado
direito do Claustro da Sé de Évora os personagens negros ali esculpidos.
E os
africanos e ameríndios, e os outros, como nos viam eles a nós europeus ?
Naturalmente
como seus senhores, e ainda que a arte seja por natureza e regra subjectiva,
obras há, gravadas ou esculpidas em bronze ou em dentes de marfim, dentes de
elefante, em pau-preto, e outras cenas e gravuras ou relevos que nos dão essas
imagens. Que imagens ?
Imagens
em que o europeu é identificado pelas roupas, pelos narizes pontiagudos, lábios
finos, cabelos longos e lisos, barbas aparadas. Mais tarde, em plena época
colonizadora, essa imagem irá reflectir a sátira social e a crítica, englobando
o lado grotesco do colono e ou do cipaio, funcionário negro ou mulato, (este
ultimo filho da rica miscigenação que promovemos) ao serviço do branco.
E
desta forma, prenhe de empatia e vinhos alentejanos, acabámos a nossa noite
cultural, rica de conteúdos e ensinamentos, em que me portei como um senhor,
vejam só, provavelmente nunca me imaginariam assim, tão franco e directo sou
noutras crónicas espetadas neste blogue.
Na
realidade não fora o excesso de acolhimento a estragar a festa e tudo teria
corrido pelo melhor. A minha participação foi muito aplaudida, considerada e
comentada, não fora isso e não teria apanhado a bebedeira que apanhei, de
caixão à cova, acordei com um rosto angelical erguendo-me a cabeça a tempo de
não me afogar no meu próprio vomitado, com a mão segurei-me ao seu corpete, que
de imediato se rompeu deixando antever quatro seios alvos e mais redondos que a
bola com que ontem jogou a selecção, e ainda não sei como, mas recuperei a
tempo de um internamento a soro no hospital local, pois acabei de ver a
primeira janela do dia sem ser em duplicado !
Estou
pronto para outra mas, conferências, a partir de hoje só pagas, ficam já
sabendo, bem caro me custou o último fato que caguei todo.
Ficou sem conserto.
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