domingo, 27 de junho de 2021

714 - ELES SABEM QUAL A MULHER IDEAL * …



Já lá vai o tempo em que os estados civis se resumiam a três, e, se vida e cronologia não interferissem, eram comummente e salvo raríssimas excepções vividos pela seguinte ordem; solteiro, casado e viúvo. Idem para o género feminino.

 

O problema é que a sociedade entrou em ebulição tão acelerada quanto o progresso no estudo da fissão e fusão do átomo e se reflectiu na evolução do estado da matéria que, da clássica categorização em terra, fogo, água e ar, passando agora pela designação elementar de sólido, líquido e gasoso passou a apresentar mais um patamar, plasma, matéria negra ou outra qualquer coisa do domínio do imaterial.

 

Estou a falar bem ou não senhora engenheira ? Não estou a safar-me mal atendendo à minha ignorância na matéria pois não ?

 

Isto a propósito de mais um estado que o dito civil passou igualmente a apresentar, divorciado, não falando nos intermédios mais ou menos densos ou de duvidosa densidade de, numa relação, aberta normalmente, separado, unido de facto, algo confuso ou vivendo maritalmente.

 

Lembram-se de vos ter falado nos cinco maridos da prima Michele ? Ou será que ainda não falei ? Se não falei juro fazê-lo em breve ta bem ? (vide texto 66 ).

 

Bem, voltando à minha prima Michele que com um, ela foi casada, de outro está divorciada, portanto separada, com um terceiro viveu uma relação de facto, desisti de saber se aberta  se fechada e que tipo de relação existe agora, ainda que tenha adivinhado que se aproxima de concretização mais uma vivência marital, (mais uma experiência ?) desta vez com um marinheiro entradote e reformado que, a julgar pelas cores que começou a apresentar, consumado que está apenas um mês dessa relação, dará à Michele o conhecimento do, ignoro se ambicionado mas pelo menos até agora não experimentado estado de viúva.

 

Aposto que redundará numa viúva-alegre e por pouco tempo, conheço-a bem melhor que ela a mim.

 

O problema, nem meu nem dela, mas de muita gente actualmente, é não se adaptarem, conviverem mal com os nuevos e hodiernos estados que, fermentados e fomentados pela crise tanta gente englobam já, refiro-me à separação e ao divórcio.

 

Não vou falar-vos do ponto de vista feminino, bem sei quanto gostariam mas coíbo-me de tal enquanto houver mulheres a preencher aqui perfis e a saber disso muito mais que eu, medida sensata não acham ? (prova de que nem sou tão parvo quanto me julgam).

 

Do ponto de vista dos homens, e bastantes amigos tenho divorciados ou separados, é outra coisa, e para já vos garanto que tudo que vou afirmar é inventado e jamais lhes ouvi o que quer que seja, mesmo quando chorando ao meu ombro, baba escorrendo pelos cantos da boca, olhos vidrados e mais amarelos que um eléctrico da carris, debitam vinganças, arrependimentos, saudades, amores, perdões, e tudo e todos culpam da situação, menos a eles próprios que, quanto a mim e a julgar pela fasquia do que tenho ouvido, de tudo serão os únicos culpados.

 

Nunca soube se depois de etilizados me confundem com uma mulher da vida, ou o bar com um lupanar, visto em nada se parecer com qualquer confessionário já por mim visto, nem eu tenha cara de padre ou por hábito desnudar os ombros.

 

Mas a questão de hoje resolve-se com poucas explicações, e deriva, toda ela, do facto de a mulher “dever” ter capacidade de encarnar três estados, não civis, não físicos, antes psicológicos, filosóficos, quânticos, tântricos, teatrais ou metafísicos, capacidade que a faltar-lhes as coloca debaixo de um mau-olhado, e péssimos karma ou chacra se à altura de tão compreensível quão inusitado desempenho se não mostrarem.

 

Pois bem, o mal ou a coisa, é que me apercebi que, de modo largamente maioritário, os meus amigos aspiram a uma mulher tripla, coisa que, pelo menos no que me toca, não conheço, não há, nunca vi, embora tenha ouvido falar bastante, como dos unicórnios, do ciclope, do abominável homem das neves ou das sereias...

 

Pois fiquem V. Exª.s sabendo que, para manter um matrimónio, segundo opiniões de gente respeitadíssima, tão respeitada quanto a de um digníssimo coronel reformado que tive como vizinho, sempre apalpando as criadas que por isso não lhe paravam lá em casa até que uma mais afoita o levou ao altar, vivendo agora da reforma generosa que o Ministério da Defesa não recusa a nenhuma viúva de qualquer dos seus graduados, medalhados ou não. Para sobreviver há que sofrer como ela sofreu, palavras dela mesma.

 

Ia eu dizendo que a mulher tripla que tanta gente pretende, deverá ser exemplarmente casta e ofuscantemente linda aos olhares dos amigos, para orgulho do maridinho, dona de casa exímia, incansável e aplicada, cursada em lavoures (não confundir com louvores), e na cama, que deverá ter largura qb, possuir a experiência de uma grandessíssima puta, pois não havendo causa sem efeito, (ou o contrário ?) proporcionará ao queridinho um superior êxtase de sensualidade e prazer.

 

Ora digam lá vocês se este paleio de merda terá algum fundo de verdade, batidas que serão em aturar asnos destes, pois é precisamente por vossa culpa e devido às vossas incapacidades e incompetências que todas as sextas feiras os aturo eu, bêbedos que nem cachos, e calhando uma destas noites, chamando-me à pedra por este escrito e esmurrando-me o focinho. É um risco que corro só por querer demonstrar-lhes por A mais B que estão melhor assim, separados ou divorciados, e nem culpas devem carregar nas suas consciências atormentadas, tormentos de que tanto me custa vê-los perecer.

 

As que estão casadoiras que se preparem pois por vezes para sobreviver há que sofrer como a outra sofreu. Depois não digam que ninguém as avisou.

 

Nuno !

 

Saem mais seis imperiais!

 

Em copo de vidro fininho não esqueça ! 


* Texto escrito antes, somente publicado neste blogue em 5 de Maio de 2011 sob o Nº 45 com o título; " PUTAS NA CAMA "


sábado, 19 de junho de 2021

... ESPELHO, HÁ OUTRA MAIS BONITA QUE EU ?

                         



713 ESPELHO MEU, HÁ OUTRA MAIS BONITA QUE EU ?

    # TEXTOS POLÍTICOS 22 #


Na actual situação de focos problemáticos distritais e concelhios que fustigam o Chega um pouco por todo o país, e devido à existência em muitos deles de um deficit de democracia, de imparcialidade, de isenção e de experiência politica, fácil se torna concluir que a fasquia deveria ter sido colocada muito mais alta, ou o CHEGA não passará da breve colheita de um flash. Nas próximas eleições autárquicas preconizo-lhe uma ascensão fulgurante que contudo e pelo que disse não passará dum breve flash, dum breve benefício e ainda mais curto momento.

 

Ocupando assembleias municipais e presidências de câmaras de norte a sul com gente impreparada, irão surgir forçosamente centenas senão milhares de impugnações dos precipitados, impulsivos, irreflectidos e transviados actos das administrações Chega, as quais encherão tribunais mas sobretudo inviabilizarão o normal funcionamento de quaisquer autarquias, resultando dessa vitória a apreensão pelos eleitores de que os quadros do Chega não estão preparados para a função e a sua acção será mais perniciosa que benéfica para o concelho. Os mesmos eleitores que lhe deram a vitória ir-lhe-ão  gradualmente retirando os votos que tinham impulsionado essa ascensão, e a vitoriosa curva ascendente do Chega virará uma outra curva de natureza diferente, descendente, e acusando a diluição dos votos, da confiança perdida, e do declinar do poder do Chega.   

 

Muito dificilmente o Chega recuperará duma queda assim, nenhum populismo lhe valerá nem poderá continuar sendo o partido de um homem só. Só então AV verá com pesar de nada lhe ter servido andar a correr para assim se estampar, terá que redobrar de esforços para voltar a convencer, não aliciar mas convencer intelectuais, artistas, académicos, cientistas, investigadores, professores, enfermeiros, carpinteiros, serralheiros, empresários, quadros médios e superiores, e a todos aqueles de que não se soube rodear.

 

O problema é de justiça, o pessoal anda sedento de justiça, e o Chega aproveitou para montar essa sede e transformar-se no cavaleiro justiceiro, num rolo compressor, num cilindro justicialista. Vai daí soltou todos os demónios da sua tropa fandanga esquecendo-se de que lhe será muito difícil ou mesmo impossível voltar a encerrá-los na lamparina. O país vai estar uns anos não diria desgovernado mas reformando-se aos encontrões e tropeções, o país será alvo não de um Tsunami reformista originado pelo Chega mas por um verdadeiro arrastão que tudo levará cegamente na frente.

 

A culpa desta passagem cronológica do que será a nossa história futura ? Os mesmos de sempre, os partidos do sistema que, travando reformas que há muito deveriam ter sido tomadas criaram as condições pra que agora o sejam sem quaisquer travões. Vai haver justiça, vai haver reformas em catadupa, o país vai mudar, o país vai sofrer mas as reformas vão fazer-se. Atabalhoadamente, mas far-se-ão, vamos ter pelo menos uma década de revolução e reformas, vai ser a nossa Revolução Cultural à moda da China, vinganças, mesquinhices, ajustes de contas, delações, falsas ou não, disse que disse e bufaria irão ser o pão nosso de cada dia. É darem a chave de um palheiro a um pobre se o querem ver arrogante, presunçoso e mais papista que o Papa.

 

Não é o facto do Chega ser de direita ou extrema direita que nos deve preocupar, essa terminologia caducou há muito, deve preocupar-nos o Chega ter feito da ética letra morta e seguido as pegadas de Teresa Guilherme, que afirmou não me lembro já onde nem quando “ não dar a ética de comer a ninguém” … Pois não, mas também não lhe tira a comida da boca… Avizinham-se tempos conturbados. O recuo na disciplina de filosofia no ensino secundário, efectuado há uns bons anos iremos pagá-lo agora, às mãos de gente sem princípios, sem valores, enfim, às mãos de uns amores…

 

Não se ter dedicado A.V. e o partido a causas e problemas estruturais, a problemas globais, dando de si uma imagem sólida, eficiente, capaz, responsável, íntegra, e que gerasse confiança no eleitorado e no futuro dos portugueses, nem que para isso tivesse sido necessário distribuir bastonadas à direita e à esquerda, fosse sobre pretos fosse sobre brancos mas vincando a garantindo a autoridade e a justiça, a igualdade e uma democracia musculada, vai sair-lhe caro.  Como diria Shakespeare se fosse vivo, assim não passou de, “Tanto barulho para nada” …

 

Tanta correria para nada digo eu.


NOTA: - Este texto foi extraído da Moção - " PORTUGAL A ECONOMIA A ESPERANÇA O FUTURO " * a moção que não foi ao III CONGRESSO e deveria ter sido apresentada por Humberto Ventura Palma Baião – Évora – Militante Nº 6085  *

*  https://mentcapto.blogspot.com/2021/05/700-carta-aberta-ao-senhor-manuel.html

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terça-feira, 15 de junho de 2021

712 - SEMPRE ACREDITEI EM MILAGRES, E TU ?

 


Descreviam um arco no céu os rastos dos fogachos na noite escura, vindos de leste, do norte e de oeste, numa sinfonia sibilante e rouca, premeditada e imprevista, que atormentava uns e aterrorizava outros.

 De nada serviria abrigares-te atrás dos muros do aquartelamento, da base, ou nas trincheiras pouco fundas do acampamento, se uma caísse lá dentro PUM !

Acabar-se-ia a festa e o tormento …

Ripostar enquanto elas caíam era perigoso e desaconselhável, ali e no momento era aguentar, e rezar claro, rezar acalma, a alma, não a tormenta.

- Era rezar pá !

- Olha, e aguenta !

Da primeira vez ainda me quedei de boca aberta ante o arco parabólico da besta e dos fogachos alindando a noite quando caíam no chão, se desfaziam em pedaços, em cachos luminosos, lindos, coloridos e mortais.

Depois do espanto, da surpresa, da admiração o medo, um medo que me prendia ao chão como nos sonhos de infância, em que um touro bravo investia contra mim e eu, imóvel, estático, siderado, sem conseguir mexer-me, sem conseguir fugir até que, no preciso momento da marrada acordava em sobressalto, suado, assustado, pasmado, aliviado, surpreendido.

 Assim foi ali nos primeiros segundos, depois um salto, mais um voo que um salto para a vala mais próxima, a fundura consolando-me a psico, diluindo em mim o medo dessa noite feita inferno e, nessa escura, trágica, simultânea e surpreendente luminosidade repentinamente uns braços procurando os meus braços, o medo dispersando-se no abandonado enleio desses braços, no conforto de um corpo quente colando-se ao meu, vibrando comigo a cada rebentamento, comprimindo-se contra mim a cada explosão e então, como um relâmpago, uma explosão de euforia, medo, temor e pudor virando amor, alegria e,

na noite escura uns dentes brancos, um sorriso no caos, um salva-vidas na tempestade,

- Fiora ?

- Fernandes ?

 Estreitámos o abraço que nos uniu e colou naquela valeta baixa quando sentimos difundindo-se p’los nossos braços a segurança do Paraíso e, aos poucos tomar-nos a calma de um céu imaginado e nós, debaixo dele, debaixo desse céu abençoado, fazendo juras que sabíamos nunca cumprir mas que nos abriram o caminho, nos encorajaram, a darmos o passo.

 Durante meses e sempre que caía sobre o acampamento uma noite escura ou era esperado um ataque, lá estávamos nós, preparados, mão no salva-vidas, procurando uma porta para o paraíso, abençoados por um céu que nos cobriria de estrelas e encanto, num qualquer canto de uma qualquer vala, orando, exorcizando o medo e alimentando a esperança numa bonança de horas que mais ninguém via.

 Sempre acreditei em milagres.




Fiora, ke nunca largava a AK 47


ÉVORA, OS EUROS REDONDOS E O TURISMO ...



711 - ÉVORA, OS EUROS REDONDOS E O TURISMO


E pronto ! Já me lembro ! Às vezes basta um pequeno empurrão para que a memória retome o seu carreiro, os neurónios e as conexões têm destas coisas, em redor do poço o meu pai descascava uma tangerina, do meu irmão mais novo népia, não me recordo, mas o mais velho segurava um envelope grande e volumoso que a embaixada da Rodésia, actual Zimbaué, lhe enviara com vasta, completa e belíssima informação sobre o Parque Nacional de Matobo*, que ele dissera querer visitar, ludibriando a embaixada, essa e muitas outras, que caindo no logro o enchiam, para deleite do meu pai, de belas fotos de países e lugares onde a imaginação os levava. Não havia net é certo, mas havia muita fantasia e originalidade nos modos de contornar os limites que a pobreza material ditava.

 

Pois foi precisamente uma fotografia inserida numa dessas revistas que me chamou a atenção, um grupo de banhistas, qual delas a mais bronzeada, algumas negras esculturais, não sei se zulus, fulas  ou bantas, e a legenda respectiva, a que na altura nem dei a devida importância mas que mais tarde, fazendo contas de cabeça e somando dois mais dois.

 

A legenda da foto dizia nem mais nem menos que isto;

 

“Mulher boa e melancia grande ninguém come sozinho” 

 

Mas desvio-me do essencial, a questão do turismo em Évora, as suas vantagens e desvantagens, a ilusão criada, e a necessidade de se pensar em formas de tornar o nosso turismo efectivamente nosso, isto é, dele não retirarmos somente a fama mas também o proveito.

 

Falo de surtos turísticos que paradisíacas praias, lugares, cidades e países experimentam, e de como esse boom em alguns casos ao invés de os enriquecer os arruinou, de tudo me lembro como se fosse hoje, até das bundinhas. Hoje custa-me a crer como foi possível uma dessas revistas apresentar tal artigo e tais fotos, tanta a censura actual, como certamente ninguém desconhecerá.

 

Mas apresentou, e eu jamais o esqueci, nem esqueci o facto de que nem tudo que parece é. Grosso modo o vanguardista artigo mostrava e demonstrava como o dinheiro só aparentemente existe e enriquece os países e cidades onde o turismo agita a economia, tal como acontece com Évora.

 

Quanto à riqueza supostamente criada pelo tal desenvolvimento turístico não só nem aparecia como desaparecia tal como um boomerang volta à mão que o lançou ou uma moeda que caia no chão rola e rebola descrevendo um círculo até tombar no sítio onde começara a rolar. O mecanismo, ou o fenómeno como era descrito na revista funcionava assim;

 

Milhares, ou centenas de milhares de turistas adquiriam ou pagavam na origem os respectivos pacotes de férias ou de fim-de-semana.

 

Nas estâncias, cidades de férias, como Évora, deixam no máximo uns trocos numas bicas, nuns gelados, ou numas coca-colas, na maioria das vezes nem na diversão nocturna apostarão nem nos aperitivos ou cocktails. Gastarão na sua curta estada só e provavelmente algum dinheiro de bolso, em postais ilustrados, numas pilhas ou cartões de memória para máquinas fotográficas, nuns maços de cigarrets, num isqueiro com uma bela imagem do Templo de Diana, numa qualquer recordação não muito cara do handcraft local para levar à mamã à amiga ou ao amigo, umas chinelas maded handcork, uma miniatura da fonte das Portas de Moura, um chapeuzinho preto com uma foice e um ramo de espigas, um grupinho em barro representando os cantadores de cante alentejano, talvez um capote no inverno e pronto, estão o fim-de-semana ou as férias feitas.

 

Claro que os hotéis que os albergam sempre têm despesas, com luz, com água, com o aprovisionamento da cozinha, do bar, mas raras unidades hoteleiras pertencem a gentes da terra, normalmente são pertença de cadeias internacionais cujo dono se desconhece e estará algures na Arábia, nos USA, na Rússia ou na África do Sul ou noutro sítio qualquer. Agora digam-me lá, será que todos os hotéis instalados entre nós têm cá o seu domicilio fiscal ? Ou terão a fiscalidade radicada na GB, França, Luxemburgo, ou Holanda ?

 

 Qual será então o nosso beneficio para além dos parcos e indiferenciados postos de trabalho como barmans, gente para a copa e cozinha, para os quartos, limpeza, recepção, a fim de ocuparem os lugares de que vos falei atrás ?

 

Mas p’lo contrário seremos nós a custear as despesas com arranjos nos gastos das calçadas e outras infra-estruturas cuja manutenção, reparação ou reposição nos caberá a nós pagar, como caberá pagar e abrir estradas e ruas e ruelas e acessos e viadutos e colmatar os estragos que esses turistas façam na cidade. Para já em Lisboa estão a facturar os italianos que se fartaram de para lá vender tuck-tucks …

 

Ora ficando o dinheiro dos pacotes logo na origem, ou se pago por cartão de crédito aterra logo numa conta em Lisboa, Porto, Luxemburgo, Bruxelas ou Amesterdão, só por mero acaso a parte de leão ficará entre nós. Isto quando não sucede o hotel dessa cadeia, se apesar de tudo tiver lucros, ser chamado a contribuir e suportar os custos de investimento da casa mãe dessa cadeia hoteleira no seu país de origem, forma sagaz e encapotada de para lá transferir os lucros, apresentando posteriormente prejuízos e muito licitamente escapando-se a ser taxado local e fiscalmente, e quiçá provavelmente candidatar-se a receber subsídios aqui, nossos. 

 

Os Euros ou poucos euros do pé-de-meia, redondos que são acabam rebolando sempre no sentido da partida, da origem, da casa mãe, poucos ou nenhuns atingem o ponto de chegada, no caso nós, Évora, pois é raro que esses hotéis reinvistam nos locais que exploram até à medula e a que se agarram como lapas.

 

Por cá o dinheirinho da luz vai para os chinocas, o da água para os amigos do Mário Lino que deu a volta ao Zé do Cano, ou deu a volta ou deu comissões, isto sou eu feito má-língua, claro que não passa de uma aleivosia minha, de uma suposição de mau gosto, pois toda a gente sabe não haver o mínimo de provas em que se fundamente esta afirmação. No fundo a questão do boom turístico em Évora e no Alentejo é saber-se quem ganha com ele.

 

Por enquanto sopeiras, recepcionistas, ajudantes de copa e cozinha, empregados de mesa, seguranças e barmans têm o futuro assegurado, pedreiros, serventes, canalizadores e electricistas também têm feito uns biscates, porém são essas as profissões que por agora o radioso futuro do turismo nos oferece, mais que isso o tempo o dirá…

 

Festeje-se então, pelo menos enquanto houver quem saiba como usufruir dos fundos europeus, não podemos criticar quem tem olho, afinal os da terra também podem concorrer a eles e se o não fazem será porque não querem, ainda há pouco uma amiga me perguntava o que seria a democracia num mundo dominado por imbecis… 


Um mero problema de consciências ou de olhos que se não abrem  ?  E surge daí a necessidade de se pensar em formas de tornar o nosso turismo efectivamente nosso, isto é, dele não retirarmos somente a fama mas também o proveito.


E depois interrogam-se por não haver dinheiro suficiente para tapar os muitos buracos que temos um pouco por todo o lado ? 

 Pensem nisso. 


 * http://www.dobrarfronteiras.com/colinas-matobo/

 

Uma curiosidade; http://www.dn.pt/dinheiro/interior/verao-de-recordes-no-turismo-nao-criou-emprego-4953968.html

Também pode ler acerca deste tema: 

https://mentcapto.blogspot.com/2016/03/328-turismo-alentejo-dolares-redondos.html

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quarta-feira, 9 de junho de 2021

710 - SAIR PELA PORTA GRANDE ..........

 



 Minhas caras amigas, meus caros amigos, compatriotas, conterrâneos, eborenses.

 Aproximo-me hoje de vós para vos confessar quanto amo a nossa Pólis, e vos garantir quanto me enobrece servi-la na condição mais nobre, a de apaixonado p’la civitas.

 A condição de candidato envolve e exige nobreza de carácter, foi essa condição que me levou hoje a sentar-me numa profunda reflexão, caneta na mão para, preto no branco, vos garantir que Évora para mim estará sempre primeiro, e a confessar-vos que a nossa Pólis é para mim como para todos vós uma Mui Nobre e Leal Cidade, devendo merecer-nos todo o respeito e amor.

 Nobreza de carácter, civismo, urbanidade, três adjectivos que me habitam e estruturam o carácter, que são forma e conteúdo da complexa personalidade que me anima, elementos da alma inseparáveis da minha práxis e, portanto incontestáveis, insubstituíveis e inegociáveis. Não enfermo de qualquer tipo de apego ao poder.

 Sempre fui mais exigente e intransigente comigo que com os outros e o artificialismo, tanto quanto o amadorismo, não me seduzem. Gosto de manter e apresentar tanta constância quanta possível, tanta verticalidade quanta a elevada formação que me caracteriza e enforma.

 Não me peçam nem exijam flexibilidade nestes items, nem militância solicitando adaptabilidade ou contorcionismo nestes tempos em que tudo é ou parece descartável. Estes tempos não são o meu tempo, esta não é a minha praia, nem sequer a minha onda. Tenho um sonho, mas não matar e esfolar, como digo no meu curriculum, sou um reformista, não um revolucionário.

 Alimentar questiúnculas, animar intrigas ou eleger subjectividades como o deus dos nossos dias nunca fizeram e jamais farão parte de mim, são atributos não valores, eu primo pela coragem, pela verdade, pela justiça, pela compaixão, pela dignidade, pela humildade. Creio firmemente serem estas as qualidades que devem ser ou devem definir carácter e liderança.

 Gosto de manter a elevação de carácter habitual e a que vos  habituei, p’lo que jamais transigirei com os espíritos mesquinhos nem com os pequenos gnomos que habitam a floresta em que se tornou o presente. Foram esses nobres atributos que encontrei naqueles que, embora por pouco tempo constituíram a minha lista, e a quem devo o mais profundo respeito, admiração pela coragem, e uma enorme gratidão.  

 É insuperável e inultrapassável o confronto surgido entre mim e as estruturas locais do partido a que ainda pertenço. Quer a cidade de Évora quer os eborenses merecem todo o meu respeito e, como tal retirei a minha candidatura uma vez que não existem ou deixaram de existir entre nós as condições e confiança mínimas e necessárias para que a mesma tivesse continuidade.

 Lamento por Évora e p'los eborenses. A inexperiência política faz-se pagar bem cara, lamento que a inexperiência de alguns esteja a dar de bandeja e bem antes de tempo a vitória à oposição, quando essa guerra nem tinha ainda sequer começado.

 Os que me temiam ou não me aceitavam podem agora dormir descansados, aos que se encolheram com medo de me apoiar recomendo que comprem um cão, aos que me encorajaram reitero a minha gratidão, os que me encorajaram e apoiaram mas tiveram medo de me dar um apoio aberto poderão agora dormir enrolados nas suas contradições mas não de consciência tranquila, lembremos neste caso Martin Luther King, “O que mais me preocupa não é tanto o grito dos maus, mas o amedrontado e envergonhado silêncio dos bons”… 

Ah ! E os que querem mudar Évora sem que contudo nada mude poderão continuar confortavelmente sentados mas recordem Sá Carneiro; “a política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha” … Foi isto que com ele aprendi e dele recordo, como atrás vos recordei de Martin Luther King, as sábias palavras do pastor Niemöller.

 Sou de antes quebrar que torcer e sempre acreditei ser Deus e o destino a moldar as nossas vidas. Como sempre continuo de cabeça erguida, e lembremo-nos que a luta continua, que Évora merece o melhor, sendo por isso que devemos lutar, mas lutar todos os dias, a qualquer hora e em qualquer lugar.

 Não tem grandeza quem dobra o joelho ante os pequenos. Nasci destinado a grandes obras, não para os pequenos dichotes, para os boatos, para a vacuidade, para a infantilidade ou impunidade que tanta gente nos nossos dias enverga.

 Considero-me um político, um homem da pólis, e nunca virarei costas a Évora nem aos eborenses. Um percalço não é uma morte, é somente um contratempo. Há que lutar por um mundo melhor e é na nossa terra que o devemos fazer, é por ela que devemos começar.

 Não vos direi até sempre, direi até qualquer dia, contem comigo, como eu conto com aqueles com quem devo contar e já contei, com aqueles que eu sei, aqueles com quem quero contar, e com todos aqueles que estiverem disponíveis para lutar.


 Com consideração,

Humberto Ventura Palma Baião