quinta-feira, 1 de abril de 2021

1 FAX PARA ESQUECER, UMA IDEIA DE CIDADE.

 


681 - UM FAX PARA ESQUECER UMA IDEIA DE CIDADE

Texto 2 de 12, escrito em 22 de Junho de 2000 e publicado no Diário do Sul em 31 de Julho de 2000 - ATENÇÃO ESTE TEXTO TEM VINTE ANOS !


Continuando a crónica anterior, que mais não foi que o intróito à ideia de cidade, cuja temática se baseia no desenvolvimento de um exercício de pensamento que permita conceber a cidade em termos futuros. Exporei hoje alguns factos que não deixarão de nos fazer meditar na amplitude de um problema magno e ao qual não tem sido dada a devida atenção.

 Debrucei-me criticamente sobre o FAX MUNICIPAL Nº 26 de Abril passado. (Abril de 2000) Não o fiz na mira de oportunidades para mal dizer, não me entendam mal, fi-lo como análise dos feitos apresentados em promoção, ou não é essa a finalidade do dito FAX ? E se é essa a finalidade aconselho vivamente que contratem um bom publicitário. Bem, o que vi deixou-me consternado pela pobreza dos factos apresentados, se não houve mais e melhor para mostrar a culpa não foi minha, se esse fax não me conquistou pelas obras apresentadas, menos ainda pelo futuro que não anunciou, é caso para dizer que há necessidade de mais um assessor nesta área.

 Um único aspecto positivo posso extrair do dito FAX, a entrada em vigor do novo Plano de Urbanização, PU, pioneiro e fundamental. Ergue como habitualmente a bandeira do desenvolvimento sustentado, tanto tenho ouvido apregoar esta palavra "sustentado", que o seu entendimento já perdeu para mim qualquer significado.

Que é afinal isso do desenvolvimento sustentado ? Sustentado em quê ?  Eu diria que não é o desenvolvimento que é sustentado, pois se não há desenvolvimento, quer parecer-me é que com o novo PU existem agora condições para sustentar o que há muito andamos a sustentar, as promessas, as velhas promessas.

 Num só especto o novo PU é digno de nota, o novo conceito de equidade que introduz, no resto é um plano, sujeito às oscilações e contingências de qualquer plano, que crises guerras ou clima num ápice deitam por terra. As melhores intenções têm sido tantas vezes traídas por meros acontecimentos que o PU tem um valor relativo e contingente, como tudo na vida.

Mas não sejamos pessimistas. O novo Plano é bom, é bom que o tenhamos, há agora condições para dar um salto qualitativo na organização e desenvolvimento da cidade, mas dará ela esse salto ? Ter o Plano de Urbanização, o PU, é condição necessária mas não suficiente, muito irá depender da forma como essa ferramenta for usada e das mãos ou do artificie que lhe pegar. Tenho na garagem todas as ferramentas que o Cutileiro usa e nunca me passou pela cabeça ser com elas capaz de fazer o mesmo que ele. Gostar gostava, nunca serei é capaz de tal. Fatal como o destino.

Mas voltemos ao FAX que nos apresenta as obras do regime, à sua imagem e à sua escala. Logo à partida um erro crasso nos é apresentado como algo a aplaudir, o restauro do antigo posto da Brigada de Trânsito à saída para Lisboa e a ser recuperado como Posto de Turismo Avançado. A ideia até não é má, mas onde é que já se viu um Posto de Turismo ainda por cima avançado, à saída de uma cidade, no lado direito, numa via por onde se processa pela esquerda o grosso caudal de quem chega ? Não estará ele do lado errado dessa via ? E a ninguém ocorreu isso ? Ficámos também a saber que continuam os esforços com o SITE, problema de difícil solução, até aí não duvido.

 Bem, não vou comentar exaustivamente o resto, a pavimentação de uma ou outra rua que não contesto ser necessária, mas daí até ser notícia, só na falta de melhor, e para encher página. Desde quando é que a pavimentação de uma rua, ou de dez, é caso para notícia ? Idem para a criação do Gabinete Municipal da Juventude, alguém tem que a controlar, não é ? Manuel Peres a quem a cidade muito deve também foi notícia, homenagem a ti tulo póstumo e nome em rua. Não contesto, melhor só o Diário do Sul.

 Em seguida meia página dedicada a sacos do lixo, outra meia página para a iniciativa Évora Cidade Limpa, e uma página para o Aterro Municipal que tanta polémica tem gerado. E é isto e pouco mais que o FAX tem para nos oferecer, fait divers, mais dignos de uma revista de coração e mexericos, nada de grandes ideias ou grandes projectos, nada que nos faça sonhar e acreditar. As miudezas com que nos presenteia, que nem um cariz eleitoralista satisfazem, talvez contentem uma população e um eleitorado pouco exigente, que aliás é a pedra basilar do corpo eleitoral do poder instituído.

Sim, que a capacidade de projecção de uma antevisão de futuro para uma cidade ou região não é monopólio de quem pode, mas de quem sabe, ter o poder é uma coisa, saber o melhor a fazer com ele é outra. Muito depende da vontade, do grau, da cultura e do nível de conhecimentos de que uma equipa dispõe, por vezes mais que do dinheiro à disposição, e já agora por falar em dinheiro, alguém já ouviu falar de engenharia financeira ? E para que serve ? E de imaginação ?

 Melhor será ficarmos hoje por aqui, por um FAX que é a imagem nítida das capacidades de que se dispõe, um FAX que não vence nem convence e que mostra o que é esta cidade, uma cidade que não sabe para onde vai, sem destino, sem futuro que conheçamos e do qual nos possamos orgulhar.

Para a semana a terceira crónica sobre o mesmo tema. 

 


ATENÇÃO !! Esta crónica foi escrita em 22 de Junho de 2000 e publicada no Diário do Sul em 31 de Julho de 2000 - ATENÇÃO ESTE TEXTO TEM VINTE ANOS ! QUALQUER COMPARAÇÃO COM A ACTUALIDADE SERÁ MERA ESPECULAÇÃO !!