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terça-feira, 4 de agosto de 2015

263 - MUROS .................................................................

MUROS ...
I
A brincar alguém ergueu em 1907 um muro de 2.000 quilómetros
Que quase quase de uma ponta à outra da Austrália se estendeu
Por causa da cegueira, do sexo imparável, da reprodução inimaginável
Porém outros muros vieram a erguer-se e bem piores que este
Diria Catroga em seu português venal; Coelhos, mera pentelhice afinal…
                                                                         II
Em muros a sério pensaram Maginot e Siegfried
Porque primeiro foram as valas e só depois outras valas...
E o arame farpado, enovelado, quase quase 1.400 quilómetros contados
Depois destas graças os famosos ninhos de metralhadoras
Que duraram e duraram
Inté se chegar aos automatismos mal fadados
                                                                        III
Então, como se aqueles muros não bastassem
Chegara a hora bendita e desdita da economia
E propagando baixá-las se ergueram por todo lado barreiras monetárias
Cercando as economias galopantes, arbitrárias
Protegendo-as dos furores cegos das forças libertárias
                                                                       IV
Foi então que outro muro intransponível se ergueu
Mas cautela, credo ! Desta vez felizmente em louvor a Deus
Faz lá ao menos uma tentativa… sim, foi aí, foi na Palestina
Como se a sorte fosse uma casa de meninas e
Forçada a dita a rodar de mão em mão, sorte canina
                                                                       V
E por entre o tráfego e o tráfico do México
Demos por ela entalada entre infortúnio e outro muro
Cedo mudou de poiso, abandonou  Tijuana e Conchita
Ora sendo o mal uma firma de investimento em comandita
Cercaram-lhes de redes Ceuta & Melilla, coitaditas
                                                                       VI
P’ra proxenetar uma hungarazita magiar desnataram
Travando a paixão a sírios e a sérvios que, afinal
Para que siervem os siervos dos sérvios ?
P’ra nada servem no final, nem prestam, que desandem…
                                                                     VII
E assim chegámos a Calais, via Lampedusa
Que isto das muertes é destino, e musa
É o espanto de quem tira sortes
É o esperanto a quem sorriu a morte
                                                                     VIII
E, antes c’o horror se espalhe p’los países do norte
Mais muros, mais novelos, mais arames
Estão ameaçados o turismo, os vinhos, os salames
Está apavorada a Europa da temperança
Da idolatria, da idiotia, da tia…
                                                                     IX
Os sobrinhos  Schäuble, Juncker, Dijsselbloem,
Gaspares, Moedas, Marias, Maçães…
Largando caganitas por Portas e travessas não,
Fechai-me esse mar agora ! Fechai-o já !
Virá de imediato, e sem demora a BlackWater de triste memória
Para nos salvar ,   ra ta ta      ra ta ta      ra ta ta      ra ta ta      ra ta ta 
                                                                      X
Que deixem metade deles viva
A esses sortudos deixai ir embora
Levarão choque & terror aos que lá estão
Pregá-los-ão ao mesmo chão que os devora
O medo guarda a vinha, nunca ouviste, e então ?
                                                                     XI
Agora sim, descansa que não dormiste
Aqui não entram drones, nem mirones…
Aqui a história será igualzinha aos nossos informes…
- - - não, à civil, fato de banho, sem uniformes, fim de transmissão, stop- - -

Évora, Humberto Baião, em 04-08-2015
   
                         

sexta-feira, 31 de julho de 2015

262 - THE DECAMERON .............................................

                        

            A linguagem tirou o homem da pré historia, quero dizer, da barbárie, passámos de grunhidos e monossílabos a um pensamento estruturado, passámos a comunicar uns aos outros necessidades, estados de alma, estratégias e tácticas, passámos a comer melhor, mais carne, mais proteínas, mais vitaminas e sais minerais.

Passámos a expressar tudo e mais alguma coisa, a expressar e a dar corpo, a corporizar os sentimentos, quero dizer a amar e a sussurrar-lhes aos ouvidos ao mesmo tempo. Hoje todos entendemos mais ou menos isso, mais ou menos o alcance e a comodidade da linguagem, seja ela conotativa seja denotativa, seja directo ou indirecto o discurso, inda que eu tenha demorado séculos a entender por que razão a Hermengarda ruborizava e se desfazia em risinhos quando no palheiro da quinta do Menino de Oiro eu lhe segredava ao ouvido,

- Ai filha não sei porquê mas enlouqueces-me minha querida santa.

Loucuras de jovens, a verdade é que durante uma hora ou duas regressávamos ao passado como alguns mergulham no futuro, e quem nos ouvisse ouviria os neandertais grunhindo e afogando-se em monossílabos.

Não é presente a que queira regressar, mas não era mau de todo e deixou gratas recordações. A alergia ao pó da palha é que nunca mais me passou e ainda hoje me despoleta a asma, quase me sufocando por vezes.

Não, felizmente ou infelizmente nunca tivemos filhos, ela sim, um lindo casal que o Aurélio lhe deu, por sinal padrinho do meu mais novo e um dos meus melhores amigos embora em termos políticos estejamos nos antípodas, ele na última era glaciar e eu já em Marte… A Hermengarda sim, é fixe, e foi a primeira convidar-me há muitos anos para padrinho da, agora mais velha, a Milinha, que muito me orgulha pois tirou uma licenciatura em Físico-química, um mestrado em Biologia, concorreu a uma bolsa de estudo para fazer nos states um doutoramento em Bioquímica e preparava-se para ganhar um concurso a que concorrera, ela e mais dezassete mil e quinhentos eborenses, aqui em Évora, para vendedora balconista da rede de padarias da Panificadora Eborense, quando me remeteu um sms muito estranho:

- Padrinho ! Eu não disse sempre que Évora seria o meu futuro ? Está garantido ! Não caibo em mim de contente temos que falar !

Já o Aurélio e a Milinha, muito excitados, me tinham telefonado quase de seguida para eu aparecer lá em casa, pois a minha afilhada estaria com um super dilema, acabara de ganhar um concurso para balconista, recebera um e-mail esquisito e agora hesitava entre uma padaria e a NASA…

E falámos todos, do e-mail que ela sem esperanças enviara com o currículo, anexando uma solicitação de concurso à vaga para o doutoramento em Bioquímica, e da mirabolante volta que o correio lhe trouxera. A realidade é que a Milinha recebera em menos de dois dias uma resposta de espantar, era convidada a trabalhar no Astrophysics Research Projects of NASA, sendo-lhe em simultâneo concedido tempo para efectuar o doutoramento. Alegando modéstia ofereciam-lhe ainda um vencimento de 12.500 dólares, sujeito a contestação ou a discussão. Mas a surpresa das surpresas surgiu quando passadas horas e devido a uma melhor tradução da Katia reparou que o vencimento era mensal e não anual como ela inicialmente pensara. Benditos 26 aninhos….

Contudo, todavia, mas porém a minha retórica de hoje vem a propósito de amigas e amigos and familiares que tenho espalhados por essa Europa fora, Londres, Suíça, Suécia, Noruega e Allgarve, e because as palavras, sempre a palavras. A linguagem, ainda que sem palavras pode perder-nos, como aconteceu há dias com o jogador Nuno Silva ao chegar ao Jaén Futrebol Real Clube que o contratara, todo orgulhoso e envergando uma camisola onde estava estampada toda a sua ignorância, quero dizer a carinha laroca del caudillo Francisco Franco, figura senão odiada pelo menos abominada em toda a Espanha. Estes percalços são fruto da estupidez, não basta a um jogador de topo saber dar chutos numa bola, um pouco de cultura, um mínimo de história ter-lhe-ia evitado o infeliz deslize e a assumpção televisionada de uma ignorância maior que o número que calça…

E já que vem à baila a Tv direi eu também não basta aos nossos políticos abrir a boca ou tomar atitudes que lhes denunciam essa tal de ignorância com maior clamor que os sinos do Carmo e da Trindade, e o mesmo poderemos dizer de David Cameron, sobre quem recai a agravante de ser Prime Minister e ter supostamente sido educado nos melhores colégios protestantes e nas melhores universidades laicas. O modo como se expressou em relação aos emigrantes foi o mesmo com que Hitler anos atrás começara a sua saga contra os judeus, e todos sabemos como essa coisa acabou…

Doravante todo o grupelho neonazi ou nacionalista por essa Europa fora sentir-se-á moralmente autorizado a malhar nos emigrantes, muitos verão as suas casas, barracas, rulotes ou contentores incendiados, muitos serão simplesmente linchados por hordas de fanáticos, todos se sentirão perseguidos e até algum policia mais confiante e ortodoxo, encorajado pelo pensamento liberal de Cameron nem pensará duas vezes antes de enfiar uns balázios ou fazer cair o cacete sobre o crânio desprotegido de um qualquer desgraçado cuja culpa não é maior que os pecados que também esta Europa tem deixado pelo mundo.

Por este andar não demorará muito que regressemos aos monossílabos e aos grunhidos e arrastemos as Hermengardas pelos cabelos para que possamos fazê-las nossas, a qualquer preço enquanto a Europa há mais de dez anos que se atasca em contradições, não resolve problema nenhum mas todos os dias nos arranja novos…