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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

623 - SINA PARA UMA DÉCADA, OU DUAS ...


Isto não é o mesmo que ir à bruxa pelo que não faço, leio ou deito sinas a torto e a direito, só o fazendo a nível particular por até nesse particular ser enorme o risco e grande a possibilidade de errar pelo que evito enganar-vos e, descurando esses casos pessoais, as ditarei somente em prol do geral, do mundo em geral e especialmente sobre o país.

Ditadas ao geral poucas mudanças ou emendas teria eu que fazer-lhes se as ditasse, quando é sabido ser o geral uma ciência, p’lo menos é-o em relação à lei dos grandes números, daí não hesitar em fazer-vos, à borla, este prognóstico;

- É muitíssimo provável que daqui a 10 anos alguns de vós estejam enterrados, outros casados ou divorciados, alguns ricos, outros pobres, pouquíssimos podres de ricos, e muitos na pobreza, pobres, miseráveis. Quantos de vós exactamente não sei, e quem ou qual é ou deixará de o ser ainda sei menos. No geral aceito deitar a sina, sei que no futuro seremos menos e sobretudo seremos pobres, muito mais pobres.


Senão vejamos, em primeiro lugar a corrupção continuará como bandeira, além disso vai-se notando estar até cada vez mais ousada e descarada, em segundo lugar um ponto fulcral para que tudo fique na mesma, é muito importante este item, para parecer alguma coisa ter sido mudada nada será mexido, nada será alterado, a não ser no supérfluo, nunca no essencial refiro-me concretamente à lei eleitoral.

Uma outra variável a considerar para quem deita as sinas ou se atreve a deitar a sina é a observação do incontornável PIB, cujo crescimento é agora como sempre foi, assente em valores baixíssimos e que na prática não significam crescimento nenhum, rondando eternamente à volta de dois por cento, um bocadinho a mais, um bocadinho a menos, levando a que se discutam décimas, nem sequer unidades, pelo que derivado da contínua sangria migratória da nossa juventude e da sangria fiscal das empresas, dos trabalhadores e da actividade económica em geral se produzirá cada vez menos, e portanto o PIB e a concomitante taxa de crescimento tenderão a baixar muito mais no futuro malgrado estarem já vergonhosamente em valores baixíssimos.

Fácil se torna mediante estas provas prognosticar o futuro, será miserável, paupérrimo, e de sol para os mesmos, sempre os mesmos, cada vez menos esta peculiar democracia será para os outros, para a populaça, essa que coma brioches, de pneus velhos, de borracha...

Chegará uma altura em que não valerá a pena trabalhar ou será mais aconselhável ou conveniente não trabalhar mesmo ou trabalhar menos, ou mesmo nada e viver de subsídios e rendimentos de inserção ou sociais. O aperto fiscal levará á resignação e por arrastamento à inacção, o Simplex por mais Simplex que seja não derribará a desmotivadora burocracia nem o edifício legal do país, todo ele mais parecendo uma superestrutura criada para complicar e proibir, e que eleva a extremos a mentalidade destrutiva e desmotivadora em que a nação há mais de quatro décadas se empenha.


A entropia ganhou já foros de maturidade, os tugas continuarão a aderir à ideia e a votar com os pés, migrando, abalando, levando com eles a esperança de renovação demográfica e de repovoamento, em especial do interior deste depauperado país.

A contra emigração será um recurso, mas ter imigrantes está muito longe de ter o país habitado por indígenas pois o imigrante trará força nos braços mas complicações na cabeça, dará mais trabalho do que aquele que produzirá, originará contestações e convulsões sociais, as quais por sua vez promoverão o crescimento da extrema-direita, obrigando a que esta esquerda finalmente acorde do seu sono e sonho de lirismo Idealista, sendo aí que encontraremos a única vantagem em repovoarem isto de gente estranha, diferente e esquisita ao invés de terem criado condições aceitáveis, senão mesmo agradáveis para que os autóctones não se tivessem pirado deste país enredado em si mesmo e nas contradições que há mais de quarenta anos anda tecendo mas não resolvendo.

Por várias razões os salários baixarão, não só porque a vinda de imigrantes famintos os levará a vender a mão-de-obra ao preço da chuva ou da uva mijona, como entretanto o governo em geral encherá o país de pretos para satisfazer os construtores civis nacionais e os governantes Angolanos, também eles a braços com desemprego alto e galopante.

Imigrantes caucasianos ou chinocas, digo asiáticos, e pretos farão descer o custo da mão-de-obra e as empresas agradecerão esse balão de oxigénio. Mas com os salários em queda os tugas emigrarão ainda mais, deixarão para trás montes de problemas sociais que as empresas descartarão como não sendo culpas suas, a GNR e a PSP que se amolem e amouxem, e aturem a pretalhada e a canalha imigrante. A par disso a Segurança Social que derrame sobre eles subsídios atrás de subsídios, para os manter e conter dentro de uma violência minimamente aceitável mas que nunca serão suficientes, inda que provoquem a destruição da coesão e solidariedade nacionais. Enfim, o último a sair que apague as luzes e feche a porta.

Quanto ao emprego ou desemprego, sempre umbilicalmente ligados ao grau de criminalidade observado numa sociedade, pouco mais haverá a dizer que aquilo que atrás ficou dito, brigas entre imigrantes pretos e tugas, na babugem de apanharem os restos nesta depauperada democrazia. Quanto ao mais os mais inteligentes já se foram ou estarão fazendo as malas para zarpar.

O desemprego manter-se-á alto, a inactividade é má conselheira, e ainda que sejamos um país de baixa criminalidade, somo-lo porque nem sabemos roubar sequer, porque nem bandidos dignos desse nome temos e alguma da criminalidade de teor mais elevado tem sido prática de gangues oriundos de outros países, os quais aqui vêm fazer um biscatinho. Não sabemos roubar nem proteger, há quem repare nessas coisas e aproveite, a fraqueza de uns é a riqueza de outros.

        O tipo de criminalidade praticada no nosso país dá-nos a medida do povo que somos, sendo mais do tipo faca e alguidar, atestando os nossos baixos instintos e valores, ou ao nível do terceiro mundo e da pretalhada, mata-se para comer ou para surripiar uma nota de vinte, somos básicos. Há quem faça ou cometa assaltos e deixe lá o cartão de cidadão ou a carteira toda. Risível.

        Algum emprego que surja, e será pouco, como sempre manter-se-á restrito a áreas e funções desqualificadas, no turismo haverá pratos para lavar, camas para fazer,  a relva nos jardins a aparar. Dar banho a cães e passear os animais de estimação dos vips será outra função que nos destinarão, enquanto isso os robots roubar-nos-ão cada vez mais postos de trabalho e os tugas não terão nem lugar lavando carros pois as estações de serviço foram entretanto automatizadas.


O subsídio de desemprego será cada vez mais reduzido para motivar a malta a procurar o trabalho que não há, mas é uma patranha bem metida esta ou não é ? A escola não ensinará nada a ninguém, já não ensina e a muito poucos prepara para a vida, nem ao menos ensina uma profissão decente, todavia mete cada vez mais gente na rua com a escolaridade obrigatória terminada, gente que uma vez cá fora não encontrará nada à medida da sua ignorância, e já vamos na terceira geração queimada após o 25 de Abril… Felizmente nota-se uma redução de crianças e de alunos e, como nada disso foi pensado, nem planeado, chegou em massa a vez de os professores ficarem desempregados.

Isto anda tudo ligado, salários baixos, dificuldades económicas, vida difícil, não há casamentos, não há filhos, não há crianças, não há alunos, não há trabalhadores, não há crescimento, há emigração, voltar de costas, abandono, deserção, problemas com a diminuição de contribuições e fundos para segurança social para acudir aos velhos, aos desempregados, aos doentes, aos inválidos, todos ralhando e ninguém tendo razão.

É assim numa casa ou num país onde não há pão, o consumo desce, o desemprego aumenta, as falências surgem, a poupança rareia e o investimento desaparece. Há muito que todos estes sintomas se vêm fazendo notar sem que ninguém os combata e o resultado está aí, é o salve-se quem puder, os bancos as finanças e as câmaras lançando taxas e taxinhas, os preços subindo, o pessoal gemendo, a dívida sem controlo, vamos demorar mais trezentos anos bem sofridos a pagá-la.


O défice esse continuará a ser contido unicamente graças ao emagrecimento de um povo por via dos impostos cobrados, enquanto a dívida nos estrangula (o saldo das contas externas, importações X exportações acelera loucamente) e tece nova forca onde nos pendurarem enquanto nos deslumbramos parva e alegremente com as maravilhas da Web Summit. 

        Pois pois, 25 de Abril sempre, democracia sim fascismo nunca mais, e a malta pá ? Em que parte da equação esqueceram a malta ? A malta, o pagode vai-se distraindo e endividando em inutilidades, telemóveis, smartphone e plasmas caríssimos, ares condicionados, carros e carrinhos, fazemos as delícias e a alegria e riqueza de espanhóis, coreanos, japoneses, italianos, franceses, ingleses, alemães e americanos, só não mexemos uma palha em prol da nossa própria riqueza, incapazes que somos de um mínimo de organização, de autoridade, de responsabilidade, de competência, de inteligência, de decência, de integridade, de isenção e de razão, de racionalidade…

A igualdade democrática espera-nos ao virar da esquina e, já que não podemos ser todos ricos seremos pelo menos todos igualmente pobres, a pobreza e humildade esperam-nos, haja saúde e dinheiro para pagar aos privados que o SNS já deu o que tinha a dar.

A culpa ? A culpa é minha de quem haveria de ser ?

O problema como sempre são as pessoas, que se esquecem de fazer as perguntas que nunca devem ser esquecidas.



sexta-feira, 4 de setembro de 2015

273 - O FADO DE DEODATA ....................................

                                

               Ela não imagina, mas quis a sorte, a sina, o destino ou o fado que Deodata tivesse nascido numa família numerosa, ainda que não houvesse necessidade de dividir uma sardinha por todos, nunca deixou de existir uma absurda competição pelos mimos prodigalizados numa parentela cujo existir lutava por uma sobrevivência digna. Era uma casa portuguesa com certeza, gente trabalhadora, amante do caldo verde e dos cortinados de chita às florzinhas. Muito provavelmente de um gato ou um cão, que comporiam ainda o quadro em cujo cenário seria desenhado igualmente um equino, preferencialmente em pose garbosa e de crina farta.

Naquela casa a felicidade nunca fora tanta que pudessem andar aos pontapés a ela, é certo que também não eram de temer nuvens negras no horizonte, mas comedimento e parcimónia, como a presunção e a água benta,  seriam os pratos do dia, e Deodata bem o sabia.

Neste ambiente familiar eram disputados quer os miminhos quer o colinho dos pais, já que um deles não seria muito atreito a manifestar exteriormente as suas emoções e afeições, facto que só avivava a disputa pelas graças disponíveis. Sorrateiramente a competição por elas entrava nas suas vidas e esses momentos Deodata passava-os atenta, para não perder a oportunidade e, se calhava uma irmã mais afoita ultrapassá-la no mister não se perdoava e ressentia-se, como se fosse traída, já que o fora nos seus propósitos.

Sem que o pressentisse esta disputa sub-reptícia instalar-se-ia insidiosa no mais fundo do seu ser. Detestava ser ultrapassada, abominava ver escapar-se-lhe por entre os dedos tudo que quer que augurasse e, secretamente alimentava animosidades que se faziam velhas contra quem lhe alterasse o rumo ao destino que traçara. Não gostava de perder nem a feijões. Deodata passou assim a ser senhora de si e de um cada vez mais perceptível e indisfarçável rancor, o qual crescia na razão directa da insegurança que passou a sentir, ou sentia, em cada situação vivida.  

Era um rancor amedrontado, ou antes um medo rancoroso, que tomou conta dela antes de ter conseguido determinar a vontade e o domínio de si mesma, medo e rancor que aos poucos fizeram dela, mulher linda e madura, uma pessoa temente e insegura, e de tal modo que, antes de pressentir o medo ela afivelava uma resposta automática cuja rigidez e dureza de conduta se encarregariam de, por ou para uma sua e muito antecipada protecção, colocar a milhas os mais afoitos, simpáticos, amáveis ou sorridentes que se atrevessem a chegar-lhe ao pé. Interrogo-me por vezes se Deodata terá inexplicavelmente sido muito amada, e posteriormente abandonada, trocada, resumindo, traída.

Primeiro com as irmãs. Instalou-se entre ela e elas a figura de Electra, anos mais tarde entre ela e os namorados que iam aparecendo foi a vez de Édipo. Seriam estes complexos que, ao invés de Cupido, ditariam a sorte das suas relações e o confinamento dos seus padrões, o chamar sobre ela as atenções, o fechar sobre si as soluções, e, a exemplo de Salazar, passar a professar religiosamente o mesmo “orgulhosamente só” que se em política dificilmente se compreenderia, agora constituía uma aberração incontornável que surpreendentemente parecia fazê-la feliz.

Poderia se junto dos especialistas insistisse, descobrir ou talvez ver diagnosticada uma psicose aguda ou profunda, somática, e ainda que o não entendesse era o sentir, seria a causa/efeito, explicaria ao menos aquele rancor assumido e colocado em prática que a alimentava e mantinha viva.

Essa psicopatia tornara-se parte de si própria, tornara-se um suplicio redentor e nem saberia dizer quando essa aversão se transmutara de amedrontada e medrosa em avassaladora, em imperiosa, em droga e doping que a mantinham viva e lhe satisfaziam ou amoleciam como um silício os desejos do corpo que, desse modo eram sublimados, amortecidos, e por sua vez reciclados em novas e renovadas investidas contra quem ousasse acercar-se de si, tornar-se mais próximo, quiçá mais intimo.

Resplandeciam, reverberavam nela as nervuras do ser e as veias do viver a cada recusa disparada com desdém, como se Deodata a cuspisse na face de outrém e fosse o alfa e o ómega dos seus dias agora, e não a compreensão ou aceitação do outro, mas a sua repulsão, o seu afastamento, como se nesse gesto pudesse estar contida toda a raiva de quando mimos e colo lhe não foram proporcionados, ou oferecidos, ou como se purificasse na fogueira todo o atrevido que num momento de paixão ou euforia lhe tivesse oferecido o coração.

Deodata ficou pra tia.

Será caso para dizer que nem por isso enxergava a estrada monótona e de uma só via em que se transformara a sua vida, uma estrada sem fim, sem árvores, poeirenta, seca, bafienta. Nem via nem ouvia quem se atrevesse a gritar-lhe a verdade, descobrir-lhe a verdade ou desmontar-lhe o artifício insidioso da falsidade erigida à monumentalidade ofuscante mas perigosa do escorpião a quem, todos o sabem, o frémito da morte corre nas veias, na natureza do sangue, na essência do ser, na genética.

Por isso lhe correm monocórdicos os dias, sem sobressaltos que autorizem o menor facto a descortinar-lhe horizontes diferentes, reclusa e vitima da sua couraça artificialmente impenetrável mas que, incapaz de despir, lhe atormenta as noites com o peso da insónia, soando como gota de água em torneira mal cerrada, cujo pingar se avoluma do leve toque de um sininho ao ribombar de um gongo roubando-lhe a paz, o sossego, o descanso, o sonhar, o esperançar, o devir.

Desejar-lhe-ei, um dia que calhe rezar na sua campa que descanse em paz. Mudar-lhe-ei as flores, a água bafienta das jarras, e semearei na sua campa rasa flores novas, rosas, cravos, crisântemos, gerânios, dálias, malmequeres, e verdura q.b.

Não esquecerei uma pequena lápide;

“Aqui jaz quem a teimosia guardou e o orgulho hasteou”.

Paz á sua alma.

R. I. P.