terça-feira, 30 de dezembro de 2014

219 - NATAL, O POSTAL DA ALDA ……………


Era já crescido quando visitei a Suíça, talvez vinte, ou à volta disso. E visitei-a no verão, pelo que me escaparam os alpes gelados, os chalés cobertos de neve, as coníferas resplandecentes de ramos carregados de cristais de gelo e todo o mistério do Natal que arrasto desde a infância. Valeu-me a irreverência da Luisinha, por aquela época tão irreverente (perdão pela redundância), quanto as cabras monteses, logo ali ao estender da mão, nos prados verdes, e a minha proverbial bonomia de alentejano. O acolhimento da Brigite e do saudoso Quim da Cruz (falecido há um mês) completaram o postal que naquele longínquo verão trouxe de Emmenbruck e de Luzern.

Mas o postal da Alda despoletou em mim recordações muito mais antigas, atrevo-me a dizer que mais vívidas, pelo menos as poucas que de tanto natais ainda guardo, já que somente essas ficaram, como num Natal em que presenteei o meu filhote de 5 ou 6 anos com uma soberba bicicleta de corrida, azul metalizada, de que eu tanto gostara. Leram bem, eu, de que EU gostara. Claro que o miúdo sorriu, um sorriso amarelo, e meteu-a de lado até que mais tarde a trocámos por uma outra de que ele gostou, ele. ELE.

Não nevava na minha infância, quando muito caíam geadas de morte que deixavam no tanque da horta e nas poças uma fina pelicula de gelo, límpida, transparente, nas quais por vezes pegávamos com os dedos nus e comíamos como se fora uma bolacha americana. Não havia geada nem gelo que entrasse connosco, acho que até calções usávamos em pleno inverno.

Não havia neve mas havia lama, muita lama. O autocarro avançando deixava nela sulcos que nos davam até aos joelhos, e poças fundas, largas, de uma água barrenta e suja que contudo formava inexplicável e fina camada de gelo, fina como o vidro, que nos entretínhamos partindo saltando-lhe em cima aos pés juntos.

Num qualquer Natal ficara para mim na chaminé um carro dos bombeiros. Ainda hoje o recordo tal qual era, de um vermelho vivo em plástico, sobreposta ao comprido dele e de um branco mais branco que a neve a enorme escada extensível, puxava-se e de dentro dela saía outra duplicando-lhe o alcance, e que dizer das rodas meu Deus ! Uns pneus vigorosos, de rastros cruzados ! Havia lá lamaçal que prendesse o seu caminho !

Mas que tinha afinal o postal da Alda que tanto me impressionou e tantas memórias avivou ?

Magia.

Somente a magia do Natal.

De todos os natais, da excitação da noite que o antecede, do não adormecer cuidando de ouvir o Pai Natal descer, do acordar de manhãzinha em sobressalto e sumir-me para a chaminé, abrir todos os presentes ao mesmo tempo e encher a boca de rebuçados e chocolates à bruta, esquecer o pequeno-almoço e correr para a rua ignorando o frio, brincar com os demais, admirar o que ganharam, morrer com inveja de uns e provocá-la noutros, até acalmar e regressar a casa e às caixas em folhinha que escondiam os melhores rebuçados bombons e chocolates, as que vinham das tias, e é aí que regressamos ao postal da Alda, gravado nas latas de bombons e chocolates dos meus natais e que guardei durante anos só as abandonando ao sair de casa para me casar.

Estampada nessas caixas de lata estava toda a magia que em criança me habitara, a neve, as montanhas, o céu azul, o amor das tias, a tia Benilde, solteira e tardia, que talvez exorcizasse em mim a maternidade que via fugir-lhe por ter ficado sempre solteira, a tia Tina, que por essa época estava noiva e cujos carinhos me foram sempre caros. Era nessas estampas, nas tampas, que se podiam ver as paisagens que eu mirava e remirava tempo sem fim, abrindo as latas com cuidado, comendo-lhes os chocolates com parcimónia mas que racionava com acrimónia e em cujas palhinhas fofinhas repousavam doces maravilha onde, prolongando o prazer, enterrava os dedos numa gulodice desmedida em busca de cada bombom. Latinhas que depois escondia como sendo o Tesouro do Barba Ruiva, como se não conhecessem os meus pais e irmãos todos os cantos à casa.

Curioso que nada mais lembre do Natal que não esta magia encantada, nem almoços, nem jantares, nem o Ano Novo ou os festejos da sua passagem recordo. Recordo sim estas caixas, estas latas de folha, prenhes de palhinhas de papel e chocolates, as sombrinhas coloridas que me pintavam a boca de castanho e comia à dentada, os coelhinhos de papel de prata arrancada com pressa, os pais natais ocos forrados de papel vermelhinho com estrelinhas, os pequenos bombons multicoloridos do tamanho de cerejas, a geada branca, o gelo transparente, a lama da rua, quilómetros de lama, a ribeira que corria cheia arrastando laranjas do pomar da quinta do Menino de Oiro e cujas águas enfrentávamos de calções arregaçados, num equilíbrio perigosíssimo para as apanharmos.

O Natal pra mim são todas estas recordações, lembro o sempre enfurecido Rim Tim Tim e a Violeta de pelo bronze, o canavial por trás da casa bordejando o quintal, a extensa vereda para o tanque, o limoeiro grande a meio caminho, a vacaria, a cancela do portão onde me balançava para cá e para lá, a vereda acompanhando a rua e por onde caminhávamos, a fim de evitar caír na lama até à paragem do autocarro, onde todos os dias como um relógio descia o Bolas para namoriscar a Ricarda, os homens sentados no murete do Granja, pavões lindos na quinta do Sacramento, o click das latinhas da campanha do gás Mobil e que andavam nas mãos de toda a gente, a mesa cheia de postais da Luzévora que todos ajudávamos a preencher para enviar as Boas Festas à clientela, a mãe trazendo um bolo-rei enorme dos da Pastelaria Violeta, toda a gente de roupas novas, uma vez ganhei umas luvas de lã, vermelhinhas como sangue e que adorei e usei até ficarem rotas, noutro Natal um blusão de cabedal herdado do Nito e que me ficava curto nas mangas, o professor Pulga antes de irmos de férias enfeitara a sala com a ajuda de todos nós, o Proença levara musgo para o presépio, sim esse, reformou-se há meses da UGT, era meu parceiro de carteira, a D. Bia montara ao lado dos Reis Magos uma mesa e repartiu um gigantesco bolo antes de irmos de férias, e pronto já estou emocionado sou um coração de atum.

Pelo que o melhor é aproveitar esta comoção e desejar-vos umas sinceras Boas Festas e em especial um Ano Novo cheio de propriedades e prosperidade, e já agora pedir ao Senhor que proteja a minha família e a Malala, e que descarregue uma maldição e fulmine todos os talibãs e se não for pedir muito, lembra-te Senhor que nada te peço há mais de trinta anos, por isso era só esturricares mais uma dúzia ou duas, nada Te custaria, com o mesmo incómodo podias arrumar o Cavaco, o Marcelo, o Berlusconi, o Coelho, o Soares, a Maria Luís, o Costa, o Marco António, o Portas, o Menezes, o Sócrates, o Schauble, o Barroso, o Juncker. A Merkel, e a Troika ! Não esqueças a Troika Senhor que se esta malta que me lê não vê aqui um pedido pra linchar a Troika apesar dela não ter culpa pela nossa estupidez mata-me, como bons cristãos que são irão crucificar-me, portanto Senhor carrega forte e feio na Troika que Te juro fidelidade até ao fim dos meus dias Senhor !

P.S. – Perdoai-me Senhor a arrogância demonstrada, estava possuído de rancores Senhor, só mais uma cunhazita Senhor, aqui na minha rua poderias abençoar as vizinhas Cândida Cerqueira e Guiomar Batarda que estão em boa idade e é um gosto vê-las Senhor, quanto aos outros faz como entenderes, que só me estorvam e ocupam os lugares de estacionamento, sem nenhum respeito pelo facto de eu morar aqui e até frente à minha porta pararem quando moram a mais de vinte metros de distancia,, e nem os cães me desviam da porta, de tal modo que desconfio virem pô-los a cagar aqui de propósito só para me desatinarem, pelo que fico indiferente às Tuas acções Senhor, mas esperançado que saibas fazer cair sobre eles uma chuva de enxofre que lhes queime as pinturas dos carros e os cegue, e já é pedir pouco porque quando olho para o que fizeste em Sodoma e Gomorra fico meditando e hesitando quanto seria demais pedir-Te isso ou um diluvio…




domingo, 28 de dezembro de 2014

218 - D. CARMINHA UMA LATA DE QUEIJO, MUITA DEVOÇÃO E UM MUSTANG P 51...


Tremendo, D. Carminha gritava por mim apavorada e ferrada ao escadote. Larguei de imediato os brinquedos e pronto lhe acudi segurando-o firmemente, ao erguer a vista deparei-me com as suas pernas longas, brancas como o mármore do altar, de um branco leitoso, encimadas por umas cuecas mais brancas ainda de onde sobressaía o rendilhado em filigrana, igualzinho ao das irmãs Doroteias e que eu sabia o padre Tiago detestar, por uma vez o ter visto arrancar-lhas à força sem que a D. Carminha tivesse dado um pio sequer.

Empoleirada no escadote decorava a improvisada igreja do bairro onde eu vivia em criança, com folhas de palmeira, fitinhas coloridas e balões em papel. Estávamos na novena, D. Carminha capitaneava um grupo de bem-intencionadas benfeitoras, cuja beatitude as levava a dedicar muito do seu tempo às famílias pobres do bairro operário do Salvador, o único lugar da cidade que se poderia gabar de uma equipa de voluntariado assim, onde militavam num propósito comum as mais prendadas e caridosas senhoras.

Sorridentes e devotas organizavam e comandavam o exército de pobrezinhos da paróquia, especialmente em datas como esta, de festa, ou nos dias em que a caminheta da Legião Portuguesa vinha descarregar as ofertas dos United States of América, dias em que os homens eram escalados para descarregar e as mulheres se dedicavam a limpar e decorar a pequena e improvisada igreja a que o padre Tiago a D. Carminha e o seu exército de almas carinhosas davam vida.

Arrastando os meus carrinhos de lata e os modelos à escala da Corgi Toys e da Western Models pelos compridos bancos da igreja eu sentia e vivia todo este clima de festa e de emoção, atrevo-me até a dizer de competição. No dia da dádiva de bens alimentares era visível em todos nós o empenho e o orgulho em relação às outras paróquias e aos outros bairros. Hoje sorrio de ironia, na época achava que ninguém tinha tantas voluntárias da Cáritas, da Misericórdia, do Movimento Nacional Feminino, das Escravas de Maria, ou das Doroteias como nós, nem tão boas como as nossas, quero dizer tão bonitas, e perfumadas, e por essa ordem de ideias nem tantos pobres nem tão miseráveis quanto o éramos no bairro do Salvador.

Gosto de patê de sardinha, e antes de cada almoço só não me empanturro de o barrar no pão faltando na mesa. Vem desses tempos longínquos o meu gosto por ele que, pressionado contra o palato me deixa aquela impressão de granulado miudinho, um pouco como as ovas de peixe, e me recorda ao passar-lhe a língua, arrastando-o, esses tempos em que dos USA vinham como dádiva embalagens e embalagens de manteiga de cor neutra, um pouco sonsa, mas que barrada no pão me proporcionava essa sensação do patê e das ovas, como as ovas.

A modesta igreja tinha vários anexos, a sacristia, também ela improvisada, onde o padre Tiago me surpreendera ao vê-lo insurgir-se contra as rendas em filigrana da D. Carminha, que num ímpeto rasgara sem que ela largasse um pio que fosse, aflita com falta de ar, e uma sala enorme, decerto a divisão mais antiga, pois nela inda se via uma manjedoura, agora servindo de prateleira para arrumações, portanto devia ter sido em tempos a cocheira da quinta do Sacramento. Pelo chão de terra ali se passeavam as galinhas, tantas vezes abafadas pelos galos, contudo cacarejando e intentando livrar-se deles, já a D. Carminho,  de nada parecia desejosa de livrar-se, nem da apneia induzida pelo padre Tiago e se era asmática ou não nunca cheguei a sabê-lo, mas adiante, divisão enorme esta e que nos dias de distribuição alimentar custava a albergar todos quantos aflitos com a vida ali acorriam, solícitos.

Também eu, no meio dos outros estendia as mãos ao alto na ânsia de um pacote de manteiga de cacau ou de amendoim, não lembro já, o barulho era ensurdecedor e somente recordo as mãos, muitas mãos ao alto, e a D. Carminho, e cada uma das senhoras da equipa, cuidando dos seus pobres, atentas, pressurosas, enxotando os que lhes não pertencessem, altivas no seu desprendimento, sisudas na sua beatitude, felizes na sua entrega à causa, mirando pelo canto do olho o padre Tiago e diligentes da sua aprovação.

Repentinamente um clamor ! Os homens carregavam e traziam as latas de 5 quilos de queijo flamengo vindas dos EUA, uma bênção, quilos de queijo alaranjado oferecido pela Cáritas aos pobrezinhos das senhoras do bairro, saboroso, gracioso, nunca eu comera queijo assim, ainda recordo o seu sabor, o sabor e as letras azuis, uma estrela grande, a águia em vermelho, estrelinhas brancas, como mais tarde veria na bandeira, muitas estrelas, as latas de queijo brilhantes como prata, como os aviões nos filmes da guerra do pacifico no cinema, reluzentes, apetecia-me tocar-lhes, toquei-lhes, e quando os meus dedos escorregavam pelas latas resplandecentes numa caricia e o padre Tiago se preparava para lhes furar o fundo com um punção alguém gritou :

- Não as furem se faz favor ! Preciso delas, precisamos delas ! São boas para tirar água do poço !  Não as furem !

Demorei anos a perceber aquele homem, decerto até aos meus doze, ou treze, e a Dra. Escária Santos nos explicar a pressão atmosférica, o peso e a densidade do ar, a sua omnipresença, as pressões a as altitudes, a coluna de mercúrio e a experiencia de Torricelli, os barómetros, a adivinhação do tempo, as altas pressões e os anticiclones.

Só então percebi a irritação do padre Tiago e o porquê do queijo não querer sair das latas mesmo que abertas, mesmo que viradas ao contrário, não saindo apesar das pancadas e o milagre do furo que afinal ninguém lhes fez.

Até que um dia, sem aviso, tudo se acabou. Os homens falavam excitados ao balcão da taberna do senhor Saúl, tanques, cravos, mfa, espingardas, liberdade, eleições, o meu pai não saiu pra trabalhar nesse dia, solidariedade, soldados unidos jamais serão vencidos, pão paz habitação, pessoas aos magotes na rua, o senhor Saúl bebendo e brindando com os outros homens, nesse dia nem uma única vez puxou do chicote para enxotar os cães, nem para nos enxotar a nós.

Havia uma nova epifania na cidade. Sem aviso tudo acabou, as senhoras, a equipa, a manteiga, o queijo flamengo, o padre Tiago, o leite em pó que eu tanto adorava comer à guloseima e de boca cheia, às colheradas, até as novenas se acabaram, e o terço e as missas.

Passados poucos meses cruzei-me com a D. Carminho, carregava olheiras, os cabelos desalinhados, imagino que ainda tivesse a pele branquinha que tanto me impressionara e as rendinhas em filigrana como a minha mana feminista então se gabava de também usar, ainda que tirasse o sutiã, pra se libertar dizia ela.

Cresci, mudei o vocabulário, patronato, luta, greve, opressão, saneamento, ocupação, liberdade, povo, num ápice os heróis judeus passaram a vilões na guerra do médio oriente, e os americanos de combatentes da liberdade a fascistas capitalistas que tiveram que abandonar com o rabo entre as pernas o glorioso Vietname, fugindo das forças progressistas e libertadoras do vitorioso povo indochino que desferiu a machadada final no explorador ocupante e no opressor exército fascista capitalista dos EUA.

Acabei de ver há momentos pela 4ª ou 5ª vez o Império do Sol, de Steven Spielberg, deliro quando já perto do final do filme vejo passar frente aos olhos do jovem protagonista o Mustang P 51 com as cores dos States, as mesmas cores que vi há tantos anos nas latas reluzentes de queijo flamengo. O piloto acenando, sorrindo por trás da carlinga aberta, o motor rugindo, a fuselagem brilhando ao sol nascente daquela manhã libertadora.

Aqui, na terra aonde vivo, até das janelas e portas das casas em alumínio, apesar de proibidas na cidade eu gosto, e vocês ? 




               

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

217 - 697, SEISCENTOS E NOVENTA E SETE, NOVES FORA…… RUA !!! ………


Seiscentos e noventa e sete e mais quantos ? Outros tantos ? O dobro? O triplo ? Dez, cem, mil vezes mais ? Reiterada e regularmente vem à baila a questão, torneada, escamoteada, iludida, manipulada com pinças, do despedimento de funcionários públicos. As pessoas, e ao contrário do que se diz, afinal são ou não são números ? Nem são números nem são culpadas, sobretudo não são elas as culpadas, ainda que os poderes públicos tudo façam para nos fazer crer o contrário.

É hoje do conhecimento de todos nós a incompetência e a irresponsabilidade com que de há quarenta anos para cá tem sido gerida a coisa pública, e as admissões de pessoal não fogem a esta regra. As pessoas não são números, mas até quem tanto agitou este slogan não fez melhor que os demais neste item. As pessoas não são culpadas, são geridas, são guiadas, e são-lhes induzidas expectativas, de estabilidade e segurança num emprego, que é o caso que abordamos, e nessa base gerem as suas vidas, da compra de casa ao número de filhos passando pela compra de um carro ou de férias longe, movendo e alimentando por sua vez a economia, e os outros empregos…

Os desastres acontecidos já todos conhecemos, BPN, BPP, BCP, BESCL, etc. etc. etc. para mencionar somente os mais nefastos. Os desastres por acontecer amadurecem e crescem há anos sem que ninguém tenha coragem de os pegar pelos cornos. Pessimamente gerido, em vez de crescer o país encolheu, em vez de criar empregos tornou desnecessários muitos dos existentes, quando não acabou mesmo com imensos. Falências e encerramentos sucedem-se, obrigando ao aumento substancial dos gastos com subsídios de desemprego, enquanto em simultâneo diminuem as contribuições para a segurança social.

Outros impostos, os que recaem sobretudo sobre os que ainda têm emprego, aumentaram significativamente, sugam-nos, todavia nunca chegam e, apesar de todos os anos crescerem em volume, são porém insuficientes para fazer face à divida, aos juros, ao investimento publico, que caiu praticamente para zero há muitos anos, não criando emprego e destruindo devido à sua ausência alguns dos que existiam, contudo é a alimentar o elevado numero de funcionários públicos que quarenta anos de desregramento criaram que o absurdo mais se revela.

Mas serão culpados disso os funcionários públicos ? É evidente que não ! E sublinho que não ! Mas alguém é, e esse alguém meteu o país num beco sem saída. Em teoria, e numa situação extrema a colecta recebida chegará para pagar o funcionalismo público desde que este não faça nada, porque se fizer alguma coisita por pouca que seja originará despesa para a qual não existirá qualquer cabimentação.

Pescadinha de rabo na boca, a receita paga um exagerado número de funcionários públicos, desnecessários por excessivos, e aos quais ou dos quais não podemos esperar mais nada que não seja ficarem quietinhos e caladinhos, sem se mexerem, preferencialmente às escuras, para evitar o consumo de electricidade, sem fazerem ondas, sem gastarem papel, nem tinteiros, nem outros consumíveis para os quais deixou de haver há muito tempo dinheiros…

Um absurdo ? É ! Mas foi aqui que 40 anos de criminosa gestão nos conduziram. Com um pouco de sorte uma guerrinha civil reporia tudo nos eixos, pequenina, controlada, decerto resolveria a questão com poucos estragos, mas quem controla uma coisa dessas depois de iniciada ?  Por favor não comecem já a olhar-me de esguelha, nem a julgar-me.

Thomas Malthus, o “pai da demografia”, explicava as guerras como medidas higiénicas e repositoras da estabilidade e do equilíbrio dos excessos dos homens. Havia mais factores de equilíbrio claro mas não podemos contar com eles, as doenças, pestes, cataclismos, fomes, confesso que ainda alimentei alguma esperança que com a legionella as coisas se compusessem mas foi sol de pouca dura, como sabem foi prontamente debelado o foco.

Uma guerra civil é relativamente fácil de atear mas difícil de controlar, contudo purgaria muitos excessos, ódios, raivas, vinganças, frustrações, traumas, acredito ser de facto muito profiláctica, não sei se aos nossos excelsos gestores agradará tanto qualquer outra solução, preparemo-nos para o pior… volto a recordar que o mal não é o euro nem o escudo é a falta de produção, a entrada na moeda única foi uma manobra dilatória deles para esconder o que agora salta à vista de todos… mas claro que este é um assunto candente que vem sendo empurrado com a barriga para debaixo do tapete há mais de vinte anos, começou com os supranumerários do Ministério da Agricultura lembram-se ?

Logicamente um assunto destes tem que ser tratado com pinças, ou luvas, claro que ninguém irá falar em despedimentos, lagarto lagarto lagarto, claro que tem que se lhe arranjar sempre um nome virtuoso, uma coisa a apontar para qualidade, assim como requalificação, a quem não fica bem requalificar os seus ? E quem não quer ser requalificado ? Mas para sermos sinceros o objectivo é sempre o mesmo, correr com os madraços, correr com os excessos, queimar gorduras ao estado, emagrecê-lo, alijar o peso que o contribuinte português já não suporta, antes o sufoca, a ele e à economia, de tal modo que está a conduzir a zero o investimento privado (o público já é = a 0) gerando um incontrolável desemprego e défice. 

E solução ? E remédio ? Há ? Claro que há mas vai ser doloroso, de qualquer modo não tomar a colher cheia irá doer muito mais. Vamos ter que cortar salários cima de um valor X ou Y, forçar plafonds nas pensões altas melhorando as baixas, estabelecer com a população, ou com o povo, um contrato social, definir quer cortes quer custos suportáveis e desejáveis, calendarizar metas e objectivos, indexar ganhos e distribuições, criar uma reforma justa e aceitável na fiscalidade de pessoas e empresas, divulgar rankings pretendidos e mobilizar todos para os alcançar, distribuir mais equitativa e justamente a riqueza criada e havida, reformar a justiça recuperando a guilhotina para julgar os senhores juízes se necessário, ser claro nos esforços pedidos a cada um, tudo preto no branco, escrito, assumido, assinado, acompanhado, medido, explicado, mas sobretudo apostar a sério no crescimento, sim, vou repetir, CRESCIMENTO, sem ele nada será possível, e crescer é fazer, cooperar, colaborar, é deixar de dificultar, deixar de bloquear, de boicotar.

Há milhares e milhares de funcionários públicos a mais nos diversos ministérios e serviços do estado, nas autarquias locais, todos sabemos onde, mas haverá mesmo ? Isto é, estarão mesmo a mais ou simplesmente teremos ECONOMIA A MENOS ? Trata-se de pessoas, não de culpados, são gente que somente deseja que lhe entreguem trabalho, mas, para isso teremos que crescer, crescer mais que 0,8%, muito mais que 1,5%, mais que 5 ou 6% ao ano. Por menos jamais nos salvaremos.

Uma última questão, a EU tem-se queixado, e por muito que nos desagrade, com razão. Induzem-nos a fazer o que devíamos ter feito sem encontrões, deles ou dela claro, mas já imaginaram quantos milhares de milhões os contribuintes europeus enterraram aqui para nada ? Sim, para nada, porque estamos pior agora que quando entrámos na CEE, temos dez vezes mais problemas agora que nessa época, e, o que o dinheiro que nos deram não fez por nós deixou de fazer por eles. Perdemos os dois, eles e nós, quem tem razão para reclamar ?




quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

ABRACADABRA .................................................



Não era a fé que me movia, nunca a tive, aliás, peço desculpa, uma vez houve em que me vi tão atrapalhado que supliquei perdão por todas as minhas faltas e roguei pela minha salvação daquele inferno, tudo prometi e todo esse empenho ficou por cumprir. Sou portanto devedor, devedor de mim mesmo, que me obriguei num momento de aflição para depois aligeirar o fardo, quando sobre as costas me não pesavam já os receios, os medos, os terrores.

Não era o caso agora, agora tratava-se de cumprir um mandamento tão velho quanto o mundo, tratava-se de dobrar-me sob o jugo de uma força maior que eu, de soçobrar perante o instinto inato que protege as espécies e lhes garante sobreviverem e multiplicarem-se.

Nesse momento mágico, como um crente ante sacra imagem, entrei em transe e, mais que a vergasta com que o desejo soe golpear-me nesse recolhimento, o corpo se me verga sob o truísmo encantado da minha devoção,

digo-to para que saibas desta fé em mim e me ofereças o linimento das águas desse cálice que sedento busco, sequioso, na mira de abafar as tormentosas chamas que me queimam e me não trazem nunca a quietude que desejo e só alcanço quando em ti me dessedento.

Compreende então que não suportando a angústia me ajoelhei ante ti numa penitência de mártir, te abracei como um náufrago suspenso do salvador, arrastando-o na espiral da morte, na vertigem dos abismos em que a redenção não é o meio mas o fim último da submissão, do gesto e da catarse.

Por isso te abri como a um sacrário, ávido de maravilhar-me no teu santo graal, como quem sucumbe ao encanto duma odalisca, ao aroma adocicado das amêndoas, ao sabor agridoce de travo suave dos pêssegos rosa, por isso me quedei como se ante um cibório, não antevendo mas vivendo os prazeres do êxtase, vogando no paraíso prometido por todos os profetas em todos os sonhos e em todas as vidas.

E feliz sucumbo à minha voracidade, por ser aí que finalmente me perco e me encontro, porque então, sim, só então sublimo a tentação que me arrastara, sôfrego, ao âmago de ti, por em ti encontrar o carrasco e a salvação dos tormentos em que me deleito e suplício, qual cilício e cura desta paixão que me consome.

Somente isso explica a profusão de beijos com que, enlouquecido, numa fúria aparente, cubro o objecto da minha fé, da minha devoção, da minha entrega, ciente de ser este paroxismo avassalador que simultaneamente me subjuga e liberta da sensação, em mim somatizada, que me guia e me cega enquanto se não cumpre o destino, a sina, o fado, e os lábios te tocam, a língua te procura, porque a sede é tortura consumindo-me as entranhas.

Apazigua-me esta dor o néctar dos deuses, ou d’uma flor, é vibrando que o procuro, e então, num estremecimento, guloso, sorvo-o num estertor, alarvemente, esquecido do tempo e do lugar, esquecido de mim precisamente quando eu um outro, quando e se ousas derramar sobre mim essa taça, ou me obrigas, também tu já toldada, já possuída da mesma fé, da mesma devoção, a beber do cálice a cicuta da vida, por sentires e saberes que só a ressurreição nos limpa do pecado se por amor nele mergulhámos.

Cega-se, cega-se e só a mente em turbilhão nos acompanha, não guia, acompanha, enquanto a língua tacteia o caminho, o cruzamento, enquanto a boca clama, voraz, o veneno e a paz, o tudo e o nada …

E antes que tudo termine caio a teus pés, prostrado, numa pausa redentora, porque agora sim, estamos prontos, pois a noite é nossa e chegada a hora de nos cumprirmos,
                 
                   seja...




terça-feira, 23 de dezembro de 2014

216 - NUMA ESPLANADA DA DINAMARCA... *


O sol arrancava, apesar do frio intenso, reverberações e reflexos das mesas polidas da esplanada, e a Mara, enterrada num gorro que lhe dava até aos pés batia as mãos uma na outra pra esconjurar o maligno. Não era hábito vê-la ali tão cedo, escondia os olhos nuns óculos maiores que ela e sorria optimista, como sempre.

- Olá Mara ! tu já por aqui ? E a tua dor de dentes ?

- Olá Umberto bom dia, estou melhor, mas nem dormi por isso me vês aqui tão cedo e contra o que é o meu hábito. Já agora explica-me lá uma coisa que disseste ontem, aquilo de na Europa os nossos descobrimentos terem despoletado paixões.

- Eheheh ! Fizeste-me rir, por momentos pensei outra coisa, essa é fácil, gosto que tenhas estado atenta, então tu pensas que na Europa quer o Iluminismo quer a Revolução Industrial aconteceram por acaso ? E por acaso sabias que na Europa dos séculos XVI em diante, em especial no séc. XVII em vez de dizerem “bem feito” diziam “feito à portuguesa” ? O Iluminismo tem uma  costela nossa...

E era verdade, aquelas nossas façanhas por todos os mares e por todo o mundo estavam a revolucionar muito mais que a cartografia, também a zoologia, a medicina, a geologia, a botânica, o magnetismo, as correntes, os ventos, em cada dia derrubávamos tabus, preconceitos e idéias feitas  desde a antiguidade, e comprovávamo-lo ! De bússola numa mão e a experiencia noutra !

A descoberta do Telescópio, que Galileu Galilei (1564 – 1642) na esteira do desenvolvimento da óptica e do microscópio aperfeiçoou, foi fruto das ideias iluministas que exigiam então que tudo fosse comprovado e feito com pés e cabeça, “feito à maneira portuguesa”, repudiando tudo que era saber escolástico e não tivesse sido submetido ao experiencialismo de que os portugueses se arrogavam. Essa opção de Galileu permitir-lhe-ia desenvolver os primeiros estudos das leis dos corpos celestes, (comprovados, isto é submetidos a prova e não meramente pensados, a prova que faltara a Copérnico) estudos de que enunciou o princípio fundador cujas ideias se repercutiram posteriormente na mecânica de Newton.

- Pois, realmente tem lógica, nunca pensamos nisso sabes Umberto, nunca idealizamos os cenário em que as coisas aconteceram. La dynamique de choses.

- É a realidade Mara, por essa altura na Europa o que não pudesse ser comprovado experimentalmente não tinha futuro, daí o aparecimento de microscópios e telescópios e tantos outros instrumentos de precisão, que medissem, comprovassem, atestassem, permitissem ver, pesar, ir mais longe com o pensamento…

Isaac Newton (1643 – 1727) não surgiu do nada, lera Copérnico (1473-1543, coisa impossível sem ter existido Gutenberg) e Johannes Kepler (1571-1630)  e formulou a lei da gravitação universal e as três leis que fundamentaram a sua mecânica celestial clássica. Newton avalizou-se tendo demonstrado a consistência entre o sistema por si idealizado e as anteriores leis formuladas por  Kepler (1571-1630), que também era amante dos telescópios e que por eles firmou digamos que as primeiras leis de mecânica celeste e do movimento dos planetas. Observador atento foi até o primeiro a demonstrar que os movimentos de objectos, tanto na Terra como noutros corpos celestes são governados pelo mesmo conjunto de leis naturais. As leis da Física, essenciais para percebermos as órbitas, a atracção universal e a gravidade.  

Claro que tudo isto, todo este saber, não caiu do céu, e se a idéia de mundo antes dos portugueses era muito limitada, até se acreditava ser ele plano, os nossos navegadores foram muito além dos fenícios, foram mais longe que a rota da seda, deram ao mundo uma outra noção dele mesmo, maior, diferente, e sobretudo despoletaram novas ideias e perspectivas, novos métodos, novos modelos e novas descobertas. Algumas descobertas se deverão decerto a causas fortuitas, casualidade ou sorte, outras somente com muito trabalho foram paridas, caso por exemplo de Thomas Edison (1847 – 1931) que durante uma vida registrou 2.332 patentes !

- Não é o teu sogro que é engenheiro Mara ? E terão nascido por geração espontânea os engenheiros ? Ou terá sido todo este movimento que despertámos que levou à procura de soluções, que reuniu o artesãos mais habilitados e com mais engenho ? Estou a ver latoeiros, carpinteiros, ferreiros, todos armados em engenhocas, primeiro de roda de uma panela fervendo a que salta a tampa, depois em redor de uma máquina a vapor, mais tarde transmitindo a experiência aos aprendizes, posteriormente em escolas, liceus, universidades, institutos, tornando-se eles mesmo modo de vida. Foram mais longe que Aristóteles (384-322AC) e Leonardo da Vinci (145-1519) mesmo a brincar poderão ter imaginado não achas ?

Thomas Edison o “pai da lâmpada” era um engenhocas, não a descobriu, comprou uma patente e melhorou-a, tornou de gabarito mundial uma invenção pela qual ninguém dava dois tostões furados nem durava duas horas, Edison melhorou-a e fê-la durar 1200 horas !  Mas o material cuja incandescência era o ideal para o filamento brilhante e duradouro obrigou-o a repetir a experiência 2.678 vezes até atingir a tentativa vencedora ! Realmente a sorte protege e premeia os audazes, e os trabalhadores e persistentes acho eu.

Edison, a quem devemos tantas descobertas, não foi um inventor prolífico, mas tendo-se apercebido cedo da vantagem que era (em especial materialmente) o encontrar soluções novas para problemas velhos explorou-a. Foi o primeiro instigador, em moldes novos, do laboratório de investigação científica moderno, que fez produzir e render, a cujos técnicos e engenheiros foram dados problemas concretos a fim de lhes descobrirem soluções práticas virtuosas, económicas e fáceis de aplicar ou usar.

Mas atenção Mara, acrescente-se que naquelas terras jamais se empurraram os problemas com a barriga, muito menos para as calendas gregas ou para debaixo do tapete. Parece-me que, ao contrário do que aqui se passa, noutras partes do mundo não é comum esperar 30 ou 40 anos para se resolver um problema ou suprir uma necessidade. Que te parece ?

Curiosamente o português, regra geral, vê-se a si mesmo e ao país em tons superlativos, nunca se sentindo acossado porque nem conhece os outros, os outros países, os outros povos, as outras cidades, outros mundos, outras realidades. Vive e convive bem com as suas curtas, limitadas e peculiares certezas, as quais jamais viu, vê ou verá como uma enxúndia, antes e sempre como o melhor dos mundos, ao qual nem o reino da Dinamarca ** alguma vez se comparará.

Até o nosso modo de ensinar e aprender história, até de a estudar, é compartimentado, mais baseado em factos e datas que nas suas causalidades e relações ou dependências, o que nos limita, é o chamado estudo diacrónico. Há que perceber causas e efeitos, inter-relações e interdependências, há que saber em simultâneo o que fazia ou acontecia no outro lado do mundo e acreditar que tal nos surpreenderá. Este é o modelo de estudo sincrónico, de sincronismo, em sintonia, em simultaneidade.

Para aprender temos que perceber que mecanismos, que condicionalismos, que determinismos permitiram avançar, evoluir ou recuar, regredir, pois assim será possível comparar, avaliar a justeza da nossa visão do mundo e qual a sua implantação nele, melhor que isso, qual ou quais benefícios dela resultaram. O mundo é injusto, pois é. Mas o mundo não pára, nunca parou, nem esperará por nós, teremos que correr para o acompanhar.

A expulsão dos judeus em 1500 (desde a reconquista e em especial com D. Manuel I) e dos jesuítas em 1760 (D. José I e Marquês de Pombal) cavaram dois buracos negros na nossa cultura. Somente muitos anos mais tarde reformas com algum significado foram tomadas, de modo incipiente e (in) discutivelmente muito contestadas as lançadas por Salazar durante os 40 anos do seu reinado. Veiga Simão quando ministro de Marcelo Caetano em boa hora e meritóriamente reformou o ensino em 1973, tendo sido parcialmente travado com o eclodir do 25 de Abril. Infelizmente, e mesmo que incompleta, nenhuma outra reforma viria posteriormente a alcançar o mérito da sua.

Mas Thomas Edison sobre quem me debruçava não foi um fenómeno isolado. Como ele muitos em todo o mundo cooperaram e beneficiaram de trabalho conjunto. Henry Ford por exemplo, não foi o inventor da linha de montagem, antes o primeiro utilizador prático das teorias de gestão de Frederick Taylor (o mentor do Taylorismo) o pai da organização do trabalho que se consubstanciaria na célebre cadeia de montagem.

Henry Ford foi perdulário a pagar aos seus colaboradores (a par de outras atitudes muito criticáveis), Edison chegou mesmo a pagar-lhes os prémios em acções da sua própria companhia ! Quanto mais trabalhassem e rendessem maior benefício ou proveito retirariam do esforço do seu próprio trabalho. Além de que se criavam interdependências que a todos beneficiavam, Henry Ford tinha entre os seus operários (bem pagos) muitos clientes dos modelos que eles próprios fabricavam, contribuindo para o consumo da produção e o desenvolvimento da economia e do bem-estar de todos.

Aposto já terem percebido que só trouxe à colação todas estas histórias para que concluam que em Portugal se faz tudo ao contrário, com quem nada faz a beneficiar de quem trabalha, com quem menos faz a dificultar, quando não a impedir os que desejam trabalhar, de evoluir, e produzir.

Ao contrário dos que tudo fazem para criar valor, somos excelentes a destrui-lo. É olhar os jornais e ver os exemplos destes dias, uma dúzia de oportunistas sumindo pelo cano o trabalho de décadas de todo um povo. Sem que ninguém se ofenda. A desresponsabilização e a irresponsabilidade estão dando frutos em grande. E que frutos ! Haja calma que ainda há algumas coisas de pé, contudo temo que a nossa peculiar ignorância deite todos a perder. Já demos novos mundos ao mundo sim, mas foi há quinhentos anos e com outra gente, outra gente que por lá ficou, por cá ficaram os invejosos, os videirinhos e oportunistas, os parasitas e todos os grunhos que melhor ou pior irão continuando a fazer estragos…

Até ver… porque o português não é, está, ou parece, pois o ser o estar e o parecer na cultura portuguesa são modos intrínsecos mas visceralmente distintos de a viver…

* Atenção; este texto vem na sequência do anterior, e como tal deve ser entendido.
** Alusão à peça trágico satírica de William Shakespeare, Hamlet 

E
Esculturas de João Concha - Évora