terça-feira, 2 de junho de 2015

244 - CORPETE RENDADO, APERTADO ........

             
              E foi assim, uma borboleta bateu as asas  e, nos antípodas a brisa agitou-se refrescando-me as ideias, que a esturrina empastara. A esturrina ou a cerveja, porque isto de viver no inferno tem o seu preço, um homem acalorado acaba por afogar-se onde pode, mais a mais os torresmos estavam uma delicia e havia que empurrá-los goela abaixo com qualquer ajuda né ?

             Pudesse eu e até os pés enfiaria num alguidar com cervejames fresco. Os pés e a cabeça, que me estourava com os arremedos do vocalista, menos sofríveis que os arrotos dos rateres que, de vez em quando uma alma mais inebriada fazia soar no recinto.

Galhofei com os compinchas e, respaldado numa cadeira mais mole que o alcatrão da estrada libertei os olhos para que vogassem desinteressadamente pelas coisas, pelas coisas e pelas pessoas. Pelos sorrisos, pelas gargalhadas, pelas bocas prenhes de ânimo, pelos cabelos e lábios pintados,

- E pelas unhas ! Mete aí as dos pés pois também contam Madaleno !

E depois há aquela ali, trouxe-me à memória as aventuras do Tom Vitoin.

- Topa bem a personagem ó Margarido, 
sim, podes deixar ficar essas p’ra mim.

- Topem-me aquele corpete rendado, a cintura apertada…

- Apertada não sff ! Diria antes cintada, torneada pá, aquilo é uma boneca de banda desenhada, já a reconheci, das desventuras do Tom Vitoin, repara na chinela a fugir-lhe do pé, o calção acabando estrategicamente entre a canela e o joelho, em seda... A unha vermelha, não bem vermelha, antes fúxia, como diria a Soromenha.

- À nossa ! À nossa que se há quem mereça somos nós ó Margarido !

- Sim, claro, aquilo é Wonderbra com certeza ó professor !

- No, no, no, no, no, no, mil vezes no pá !!! É natural man ! 
Mas não teimo que eu já estou a ver mal e o vocalista confunde-me as ideias.

- Claro que é natural pá, não vês que rebenta pelas costuras ? Aquilo nem são formas ó miúdo, aquilo são tentações, claro que acredito em Deus, e olha que Ele é mesmo provocador não achas ?

- Olha, passa-me aí a cabeça de xara que nem sei o que me abriu o apetite.

Sim Heliodoro, eu sei que não estas nos teus dias e que a carne é fraca, mas também tens ali pasteis de bacalhau filho, eheheheheheh !!!!

Naturalmente não é de pau, duvido que haja aqui alguém ou pior já toda a gente teve a sua quedazinha, á excepção do Barnabé, coitado, esse teve uma quedazona… cai sempre… está sempre a cair.

- E já ta c’os copos claro, não demorará a cair da cadeira. Quando está assim fujam dele pois a conversa é sempre a mesma, a Fany, Deus lhe tenha a alma em descanso, e a Dora, que naturalmente não era de pau e ficou toda amolgada. Enfim, tristezas, diz-se que ele nem ia bebido, ao menos isso.

Esta malta gosta é de emoções fortes de quando em vez…

- E de vez em quando uma coisinha assim ! Que até se me acelerou o bater do coração, rematou o Hilário babando-se e que ate ali se tinha mantido um tanto ou quanto alheio à conversa.

E, repentinamente, badammmmmmmmmmm !!!!!!!!!

O Adelino, que ainda não tinha sido noticia, levantou-se, elevando a sua voz de barítono, erguendo na mão uma garrafa de Pêra Manca, balbucia duas ou três palavras ininteligíveis, rodopia tropeça no seu próprio entusiasmo e estende-se ao comprido arrastando mesas e cadeiras.

O primeiro pensamento que me ocorreu foi que, se não se tinham divorciado ontem a megera jamais lhe perdoaria aquela triste figura e divorciar-se-ia amanhã, o segundo pensamento a atravessar-me os neurónios, deveu-se ao facto decerto casual de ter anteontem feito oferta pessoalíssima duma garrafita precisamente igualzita.

E estava eu cogitando estas manigâncias quando me cai uma mosca no prato, quer-se dizer-se, um moscardo no copo da cerveja, atravessara nem sei como os destroços que o Heliodoro espalhara ao espalhar-se, pardon por cause da redundância, e avançou, caminhando como Cristo sobre as águas, ou sobre as pedras, pé ante pé, abeirando-se de mim, o único que antes durante e depois do reboliço se mantivera impávido, porém, ninguém tal adivinharia, se me levantasse mijar-me-ia…

Havia que conter-me e, saber esperar a ocasião, e depois, num relâmpago, correr para a casa de banho rezando para que estivesse desocupada. Mas quem sabia, a não ser eu, os fluidos onde já vogava ?

Como Mata Hari ela veio, condicionando o bailado, até puxar de uma cadeira e sentar-se á minha beira. Até rima, repararam ? Será sinal de bons auspícios ?

Há muito que eu andava fugindo dela, falava muito, falava muito depressa, fazia perguntas a mais, começava confundindo-me primeiro e irritando-me depois, era demasiado insistente para o meu gosto, demasiado solicita, demasiado independente e demasiado oferecida.

Nunca simpatizara com a personagem, mas hoje era dia festa e eu transbordava de cerveja, de paciência e complacência, e para ser franco, estava quase a mijar-me só para me não levantar, todavia encarei-a com placidez.  

- Admiro o esforço estudado e aplicado na irrelevância que atribuís a tudo quanto te orbita. Simulado, disse ela mirando a paz com que eu pairava sobre toda aquela rebaldaria.

- Oh ! Tu outra vez, tu e de novo essa tua dissimulada irrelevante aparência de esforço aplicado a cada coisa que fazes ou dizes, isso é uma fuga estudada pá, já te conheço de ginjeira essa aparente indiferença por tudo quanto pões na mira… vá lá saber-se porquê, vá lá a gente adivinhar, quando muito abordaremos hipóteses, e já será muito, já é dar-te muita atenção e a coisas que nem o merecem dedicar muita minucia, como dizer, colocar em demasiada evidencia coisas a que nem minudencias devíamos   dedicar, assim és tu e os assuntos que arrastas sempre atrás de ti, como os pavões o penacho.

- Enfim santa, haja quem te compreenda e te ature, e quem saiba aturar-te, aposto que nem haverá muitos, ou pelo menos nem assim tantos. Desconfiei sempre da tua irrelevância ensaiada, escondendo uma assumpção que evitas a todo o custo mostrar, camuflando os limites da coisa ignorada mas que a tua táctica descortina estrategicamente.

- Desculpa que te diga amiga, mas toda essa tua conversa mais não pretende que confundamos o género humano com o Manel Germano, é essa a tua filosofia.

Ela sorriu, e ao sorrir quis enlear-me na turbulência daqueles olhos e daqueles lábios vermelhos e carnudos (aposto que estivera a morde-los), lábios que um homem, qualquer homem, não desdenharia morder, mordiscar, para não dizer melhor.

Adorava-lhe os lábios, bem demarcados, e os seios pequenos, nem grandes nem pequenos, mais para o pequeno, a meu gosto, cheiinhos e redondinhos, nem duros nem flácidos, mesmo a meu gosto e desejo e senti, juro que senti naquele momento vontade de dizer-lho, sussurrar-lho, ao ouvido, contudo as circunstâncias ditam o destino de um homem, distraído exagerei no tempo de espera e, muito conscientemente senti a bexiga aliviar-se antes que pudesse fazer alguma coisa pelo que, bem bebido como estava, nem pudor tive para corar ao saber-me todo mijado.

- Olha querida, isto tá cheio de malta porreira, escolhe á tua volta e filosofa quanto quiseres que eu já estou como hei-de ir, a casa chegarei decerto, é só atravessar a rua, moro ali em frente. Fica bem.

Ziguezagueando entre as motas saltei o portão e airosamente entrei em casa. Meti-me debaixo do chuveiro e esqueci a água fria correndo enquanto me aliviava outra vez, mas agora por vontade própria.

- Estás a espirrar querido toma cuidado contigo !  Gritou-me a Luisinha do outo lado da porta, e eu desejando que ela não entrasse ou gritaria logo, como só raras vezes fazia; meu grande porcalhão !

- Tá bem amor OK tá bem ! Respondi.

Mas não estava nada bem, apanhara uma valente constipação que me deitou abaixo e ainda ando a tentar curar quase 15 dias depois.

Filosofias ? Só Kant, ou Schopenhauer, e em sítio resguardado. 




sexta-feira, 29 de maio de 2015

243 - CONTRA - LAVAGEM CEREBRAL III .............


Ora bem Leocádio, sei que como emigrante continuas com receios da xenofobia mas, atenta nisto pá, Umberto Eco deu há pouco tempo uma entrevista internacional onde focava o presente e a tecnologia que nos permite comunicar, falar, escrever e editar quase em tempo real e para todo o mundo, e com essa parafernália a quem demos voz em 1º lugar ?

- Aos idiotas …. Disse ele, e bem dito…

Como podes ver os idiotas falam, falam, falam, mas não dizem nada, e muita da virulência verbal que aí contestas, toda ela virada contra os migrantes como tu, muita dela é fogo fátuo… mas, nunca fiando Leocádio, observa, um olho na burra outro no cigano, acautela-te e mantem-te sempre à margem do barulho…

Quando tu nasceste corria mundo uma teoria que se apelidava “Diálogo Norte-sul”, era defendida por muitas nações e pela ONU, depois a moda passou, cansaram-se, e o mundo, em especial África e o Médio Oriente seguiram a sua vida, até aos migrantes que agora morrem no Mediterrâneo todos os dias…

Isto anda tudo ligado... O tal diálogo também morrera afogado…

É certo que o mundo árabe deu cartas há 1000 anos, em 1004 o califa al-Mamun inaugurara com pompa e circunstância a "Casa da Sabedoria" em Bagdade, que funcionou bué da time como centro de tradução de manuscritos e de reflexão científica, recuando à Grécia antiga e à China. Outra razão importante da preponderância absoluta do mundo islâmico nas ciências entre os anos, aproximadamente, 750 e 1100 da nossa era (era, espaço temporal), era (era do verbo ser) o seu carácter internacional e proletário, os muçulmanos englobaram uma grande variedade de povos e raças, e a sociedade islâmica era muito tolerante com os estrangeiros e as suas ideias… mas isto foi noutra era, you understand ?

Depois veio a religião e fodeu tudo, e claro as invasões mongóis ajudaram, Genghis Khan, que tu conheceste, ou viste quero dizer, viste aquela estátua colossal a que subiste, conquistou Bagdad e o mundo islâmico, e, embora tendo os mongóis sido mais tarde escorraçados, o mundo islâmico nunca mais ficou o mesmo, ficou aliás entregue aos "mamelucos", dividido em reinos, gozando o prazer dos sultanatos, doravante pouco se importando com a ciência mas de novo bué com os seus haréns.

Mais tarde o homem branco colonizou, possuiu e explorou todo o mundo, sempre fomos os melhores nisso, por isso desenhámos fronteiras, dividimos e reinámos neste mundo e no outro. Até termos que” pôr-nos a milhas“ asneirámos a nosso bel-prazer, não criámos estruturas, nem infra estruturas, nem presentes nem futuros e só saímos quando exacerbados nacionalismos nos obrigaram, é certo, mas deixámos-lhes um presente envenenado, deixámos-lhes de herança praticamente os nossos vícios, e no poder lacaios submissos e subservientes que ainda hoje nos compram tudo sem discutir preços…

O esplendor do poder ocidental…
 
E os amigos árabes lá voltaram de novo às preocupações com riquezas e haréns… véus vaporosos e voluptuosas danças do ventre...

Que tem hoje em dia o mundo árabe para oferecer à juventude a não ser areia, só areia e muita areia ? E para além da areia, dos camelos, das frustrações, sublimações e masturbações, que mais ? O mesmo poderia ser dito de África, que deixou lá o homem branco a não ser vícios, restos e filhos ?

É essa juventude sem futuro que procura agora os seus “pais”, porque na sua terra só tem a fome e a morte como desígnio, esperança e futuro, alguns desses jovens já estão nos países europeus há muitos anos, vieram quando das ondas de descolonização, da India para a GB, da Indochina para França, do Médio Oriente para GB e Alemanha, do norte de África para França. Esses e quase todos os restantes, que depois chamaram outros  mais outros. E, enquanto os europeus atirados com unhas e dentes ao bem-estar e de barrigas cheias fodem muito, mas não fazem filhos, a fome dessas gentes aguça-lhes o apetite sexual, fazendo filhos como coelhos (aliás um mecanismo inato da espécie humana e de outras espécies, que ameaçadas se reproduzem muito mais).

E que espécie de integração, assimilação, aceitação lhes é dada pela fraca Europa ? Quase tudo menos o essencial, autoridade, (que paradoxalmente é sinónimo de segurança para essa gente) faltam-lhe coisas nas línguas próprias, jornais revistas e tvs , editoras, etc.  etc.  São como que forçados a viver num gueto africano ou islâmico, e aí as cobras como esses  mueslins de que amiúde ouvimos falar e te queixas, pagas ou não,  pregam, largam o seu veneno… Num tal ambiente que mais sobra para fazer além de conspirar vinganças ?

Claro que esse veneno só actua em mentes fracas, mas quem passou a vida a ver areia e camelos, que nada tem e a nada pode aspirar, só pode considerar uma honra morrer mártir e ser contemplado com 72 virgens, mulheres a que de outro modo nunca teria acesso… 

Leocádio vai ver a biografia dos bombistas de Boston, ou dos que degolaram o soldadinho british, ou desses que deram cabo do Charlie em Paris, e verás que é gente de intelecto diminuto. Mas quem pouco ou nada tem, que receio tem de o perder ?  Que têm a perder ? É aí que a Europa falha, porque o homem, o ser humano precisa de algo mais que $$$, precisa realizar-se como pessoa. Depois dos currículos acabarem com as filosofias no ensino secundário que ficou sabendo o homem de hoje a não ser que é contribuinte e consumista ? E isso realiza-o ? Qual o sentido da vida ? Que sentido tem de comunidade ? Devemos viver para comer ou comer para viver ?

Isto já está tudo pensado Leocádio, matematicamente pensado, não são somente as companhias de seguros a fazer cálculos, aos benefícios e aos riscos. O capitalismo (e isto não é uma critica) precisa de gente para expandir as suas actividades e os seus negócios e as suas riquezas (é por isso que te deixam estar aí, te chamaram, te acolheram) e o capitalismo já fez as suas contas. A violência era de X, com a entrada de Y estranhos crescerá até Z, que ainda assim é um risco aceitável, continuando compensador aceitá-lo…

"TUDO TEM UM PREÇO" * lembras-te ? Mas não te distraias, mantém-te atento, para que esse ónus não recaia sobre ti…. Está tudo estudado…. Sem os migrantes os negócios suecos perderiam uma fortuna colossal anualmente, mesmo que morram alguns suecos ou mesmo que alguns ou algumas sejam violados (as) as coisas não estão descontroladas, mantêm-se dentro dos parâmetros estudados e que foram programados e aceites, todo beneficio tem uma contrapartida, ou um custo, mas é um preço baixo, e desde que o risco e os prejuízos sejam baixos as sociedades aceitam-nos ... Capice ???

“ Mas tenho andado a estudar o assunto e noto que a imigração, nomeadamente islâmica, é uma questão que vai ser mais e mais falado no futuro “ …

          - Claro, os europeus nem fazer filhos sabem, ou querem, além disso as coisas são cíclicas, secalhando vem aí o tempo áureo do islão outra vez, e lá para o séc. XXX a Europa de novo por cima, e os árabes todos estorricados com uma arma nova e milagrosa… A vida é um carrocel… A gente é que só vive cem anos, ou nem isso querido…

Deves vir a constatar no fim da leitura que não fiz futurologia, pois, é que isso da futurologia é com uma cartomante de Oeiras... Ou com a Maya que trabalha pra a SIC... Eu simplesmente observei, pensei, projectei e socorri-me tanto quanto me foi possível da psicologia de massas... Faz o mesmo, tens rudimentos de psicologia aposto, toda a gente tem, nem que seja a inata... Psicologia de massas, massas Triunfo, massas Leões, massas cotovelo, massas letrinhas, enfim, massas finas e grossas…

“ Mas um facto adquirido aqui na suécia é que a imigração tem disparado nos últimos 30 anos, e consequentemente (ou não) a criminalidade, casos reportados de violação, revoltas e etc. também têm vindo a subir “ …

Keep kalm Leocádio, está tudo estudado e pensado e dentro dos valores normais para a época .........  :D ........ACABEI, XAU XAU  Arroz xinês :D  

- Para completa informação ver texto anterior http://mentcapto.blogspot.pt/2015/05/242-sede-um-cidadao-do-mundo.html 



quarta-feira, 27 de maio de 2015

" O HOMEM PÕE E DEUS DISPÕE " ..........................



Que esperar além do nada que não a sabedoria vivida e adquirida desinteressadamente ? Que esperar além do nada que não a experiencia acumulada e vivenciada ? Que esperar além do nada que não a entrega, solta, desprendida e não engajada de quem conscientemente a abraçou e escolheu como opção ?

Que esperar então além do nada senão tudo ?

Aprendi a viver com o que tenho, aprendi a nada esperar e a dar o que posso. Não sou um estilita mas sou parcimonioso, frugal, estóico, contido, espartano, sem chegar a asceta. Creio nada acontecer por acaso e não acredito em coincidências, nem em Deus. A realidade, os factos, tudo o que sabemos aponta para o cosmos, o universo, o infinito, sendo nesse contexto que busco situar-me, ver-me e observar-me enquanto ser vivo, pensante e racional.

Não corro atras das coisas, o que há-de ser meu à minha mão virá, mas interrogo-me e procuro respostas para as minhas questões e interrogações.

Nunca foste uma questão mas foste uma hipótese. E como hipótese mirei-te e remirei-te, avaliei-te e medi-te tal qual António Gedeão fez com uma “Lágrima de preta” * No fundo não eras mais que tu e os teus ais, e isso era muito, para mim era tudo.

Sofreras na pele as arremetidas alarves do amor quando ainda nem sabias o que isso seria, portanto cresceste na sabedoria. Foste fêmea brava e mãe quando ainda nem sonhavas o quanto isso importava, comportava, e aprendeste a ser mulher.

Gritaste Ipiranga quando sentiste chegada a tua hora de dizer basta, e honraste-te quando ainda nem sabias nem sonhavas como desenvencilhar-te num mundo disfuncional, irracional, animal. Cuidaste de cuidar-te imaginando ainda que neste pequeno mundo, neste pequeno país, mérito e sabedoria contariam, porém, vivida e avisada poupaste-te a tempo de te sujeitares a mais despesa, mais trabalho e mais desilusões, que visão !

Por fim sucumbiste aos cânones da beleza e compraste uma webcam com Photoshop, daquelas que tiram verrugas, sinais, rugas e manchas que tais mas não alteram os modos, nem a linguagem, muito menos o interior, o coração, a mente, o caracter, a personalidade. No fundo o Photoshop muda tudo menos o essencial, e é bom que assim tenha sido porque foi o essencial que, essencialmente me levou a desejar conhecer a essência do que eras, e vieste correndo. Ainda me lembro.

Correndo cheia de esperança num frango de churrasco picante que nem lembras, por mim não lembro se tinha ou não tinha, mas tu tinhas, uma conversa interessante, e o mesmo sorriso que, mal passaras no carro arreganharas à janela, baixando o vidro apressada como se tivesse chegado a desejada.

 E chegara. Chegara tolerante, benevolente e carente, por isso nos despachámos, acorrendo às águas calmas de um lago onde deslizavam patinhos, e peixinhos vermelhinhos de que fugimos para a sombra de um prédio altíssimo onde, perante Ele o altíssimo nos confessámos mutuamente e, sem darmos pelo tempo decorrido debandámos para o almoço de onde derivámos tomando um rumo aleatório que nos levou à albufeira sem gente, a uma paisagem despida, escondida e, onde acoitados pela sede e coragem que nos preenchiam ousámos não sucumbir, e resistir, concordar, comungar e vencer.

Já antes guardara uma foto ou duas tuas com o carinho de um crente e a esperança de um deserdado, todavia passei a venerá-las com o fervor dum apaixonado, a fé de um devoto e a clarividência de um iludido. Nem eras bonita por aí além, nunca deves ter sido, nem era isso que buscava em ti porque o que em ti encontrei só eu sei, e só eu sinto. Bastaste-me, bastas-me, bastar-me-ás sempre, assim tu não mudes pois nada há a mudar e para pior já basta assim. Pouquíssimas pessoas encontrei na vida com quem me identificasse pronta e completamente, a primeira estou prestes a perdê-la, Deus tem contudo sido bom p'ra mim, a segunda foste tu que num irreflectido gesto te apagaste, ciosa de ti, temendo ser observada, como se eu não tivesse milhares de canais pornográficos na net e precisasse mirar-te, quando nem os outros miro, mesmo aos milhares. Quando quero ou preciso mirar-te vou olhar a tua foto, nem te vejo bem, estás de viés, mas o que vejo sossega-me. A esplanada sobre o rio, a calma na tua expressão, o nariz árabe, o enxame de cabelos onde sonhei enfiar os dedos como um pente pelo menos umas cem ou duzentas vezes.

Sem ter que ter perdido a paciência ensinando-te, aprendeste tudo que há de importante a aprender, a saber, perder-te seria perder um património inigualável, uma caixa de ressonância ou câmara de eco da minha consciência. Naquele dia, naquela tarde, não te perdi, ganhei-te, ou ganhaste-me, ganhámo-nos, não merecemos perdermo-nos e, a perder, que nos percamos um dia nos braços um do outro.

Merecemo-nos. 


segunda-feira, 25 de maio de 2015

242 - SEDE UM CIDADÃO DO MUNDO…...............


-------- Ola Baião tenho aqui um artigo para te mostrar, gostava de saber a tua opinião acerca disto ----- http://www.brusselsjournal.com/node/938  ----- é um assunto que tenho vindo a investigar mais e mais, e em certas frentes tem-me levado a alguma preocupação, o que é que achas desta questão, do Islão na Europa, especialmente depois de teres estado no Iraque e teres passado por essa experiência ? ----------


Querido amigo:

Em primeiro lugar quero destacar o facto de que, ter estado no Iraque não me dá pergaminhos suficientes para falar sobre o mundo muçulmano. Dão-mos sim o conhecimento dos factos históricos, esses sim a minha especialidade, e desde o ano 1000 e das cruzadas que são conhecidos, não são suposições, são factos provados e comprovados. Naturalmente que, antes e depois da minha ida ao Iraque, investiguei e documentei-me bastante sobre esse mundo, e é isso que me vale, e valeu na altura para a compreensão do muito que vi e vivi.

Contudo agradeço a tua confiança e consulta, até me envaidece, raramente a opinião histórica de alguém é solicitada, e todos teríamos muito a ganhar se conhecêssemos bem os factos e a sua origem. O texto do link que me enviaste parece-me ser de 2006, e ter origem num lunático, daqueles que por cá temos muitos, (por cá só o Jornal do Crime ou o Correio da Manhã perderiam tempo com ele, e o Correio da Manhã abreviá-lo-ia até só lhe restarem 3 a 5 linhas) mas calma que só agora comecei a analisar o texto, avancemos com calma e a sempre necessária cautela nestes casos.

Vou falar por tópicos que a coisa é longa, mas tu entenderás, e os tópicos ir-se-ão desenrolando de acordo com o texto, meterei referências para te saberes situar no mesmo ok ?

- Desintegrando a IceGreenLand…. Há pelo menos 2 mil, ou pelo menos mil anos que o avanço no mundo ocidental é tão rápido para as mentes quadradas, paradas e acomodadas que lhes parecerá sempre estar-se desintegrando…

- Volvo Abba… etc etc, saudosismo puro, eu também tenho saudades de Camões, Vasco da Gama, Pessoa, Cidália Meireles, Beatriz Costa, Egas Moniz etc. etc

- Bósnia e tal … “o modelo escandinavo deixaria de” … portanto o nosso homem entrou decididamente no campo das suposições…. Especulação pura…. Delírio… Utopia… Guerra civil…

Olha amigo Leocádio... Parvoíce pura… o homem teme o multiculturalismo e a perda de emprego e influencia, nada que não se tenha já visto suceder em 5000 lugares no mundo ao longo da história…. Não percas tempo com paranóicos , mas…  E este “mas” vale ouro…

- O nosso paranóico cita o Jornal “Aftonbladet!”, que jornal é ? Qual a sua expressão (tiragem) no país ? E qual a sua credibilidade ?? Tens que te habituar a separar o trigo do joio Leocádio, mas atendendo a que ainda te sentirás aí um estranho, avancemos com cautela…

- Pois... Toda a gente sabe que os muçulmanos são uns bandidos, e se não forem eles foram os pais, ou serão os netos… nem há imigrante que não seja um ladrão... Já vi que é diarreia mental o mal desse senhor… acredita que antes de ler isto eu tinha melhor opinião da Escandinávia, afinal lá, como cá, há parvos a rodos.

- O homem não generaliza, como teria feito qualquer jornalista inteligente, o homem particulariza, o que só demonstra falta de senso, ódio ao estrangeiro, ao imigrante, e falta de educação, cultura geral e mundividência… não leves a mal mas a partir daqui vou analisar a coisa por capítulos ou grandes parágrafos ok Leocádio ?

- O problema dele é haver jornais que o aceitem, e nunca ter sido obrigado a trabalhar a sério ou no duro, olha, nem sequer o vou incluir no grupo dos intelectuais, que também os haverá na Escandinávia, e decerto bons, quando muito inclui-lo-ei num grupo de arruaceiros virtuais, de extrema-direita, com os quais contudo há que ter cuidado e contar, lá está o tal “mas”…. O tal mas dourado… Que eu atrás deixara…

- Perde-se em considerações avulsas de quem quer parecer dominar a história e o conhecimento do mundo, eu também uma vez coloquei um panamá e imitei o sotaque brasileiro, muita gente acreditou em mim, o panamá era de palhinha branca ... Até pensaram que eu era do Rio De Janeiro...

Afinal o nosso homem facilitou-me muito o trabalho, não o ter levado a sério permitiu-me ler a coisa em diagonal, analisar por atacado ou grosso, e até ter pensado de mim para mim que uns conselhos de mim pra ti não te fariam mal nenhum… Baseados na História claro...

- Um, o 1º, mas que vale ouro : caríssimo Leocádio e Felismina, a história é rica em migrações, em factos com emigrantes e imigrantes, aliás se não fossem as migrações o mundo seria completamente diferente e já teria tombado para um qualquer dos seus lados. As migrações são a seiva do mundo, da vida, mas... São também a seiva ou o leit motiv que alimenta muita incompetência, esconde muita insensibilidade, válvula de escape para imensas incapacidades, etc. etc etc

- Migrantes são cavalo de tróia de riquezas e bode expiatório de fraquezas…. E é aí que está o busílis, e é com isso que devem contar e é a isso que devem estar atentos.

- De um modo geral eu diria que até há meia dúzia de anos atrás todas as migrações, integrações e assimilações tiveram sucesso, mas o mundo complicou-se com a globalização e em especial com o excesso de desregulamentação e liberalização. Vai haver problemas, já há aliás, e o modo mais fácil de parecer resolvê-los dentro de cada país, vai ser o mesmo método que é utilizado (que eu saiba) há 5.000 anos, arriar cacetada nos imigrantes e expulsá-los “do templo”, pois nem a nossa santa religião se esqueceu de entre tantos nos deixar um exemplo de como resolver essas questões aparentemente irresolúveis…

Portanto meu rico amigo, também Hitler não tinha nada contra os judeus, mas desde que perdida a I GG, com a inflação e o desemprego reinantes na Alemanha, quem culpar ?

O Kaiser Guilherme ?
Bismark ?
Os militares ?
Que falta de patriotismo !
Não há mais ninguém… conveniente ?

Não há outras gentes ? Outras raças ? E assim os judeus se foderam na Alemanha, que por sua vez fodem quanto podem os palestinianos, pois se até os gregos haviam escravizado os metecos que nem eram considerados gente…

A Ku Klux Klan fode os pretos na América, na Africa do Sul os brancos fodem os pretos e em Angola os pretos fodem os brancos, na américa do norte os ingleses lixaram os autócnes e estes por sua vez já tinham lixado os indígenas. Idem para os negros, que os brancos haviam escravizado aos milhões…

Mais abaixo Colombo, Pizarro, Cortez e outros lixaram os aztecas maias e incas. Nós tornámos grande o Brasil, e construímos à conta dele uma data de igrejas monumentais para as quais agora nem para a limpeza ganhamos, mas corremos com os ucranianos…

E no cabo de África os boers não fizeram até hoje o que quiseram dos pretos ? E por que não experimentas ler a nossa história trágico marítima ? Os nossos antepassados de antanho arrancavam braços e pernas, marzápios, tomates, olhos, narizes, e orelhas como quem arrancava  dentes…

O problema Leocádio (e Felismina) é ser-se outro … o outro… O estrangeiro… portanto, uma vez que a história está pejada de tristes exemplos, atenção ao facto, e «em Roma sê romano», jamais esqueçam este dito popular, pois está mais certo que 2 + 2 serem 4... Retira de casa, das roupas, do carro, do porta chaves, da carteira, do porta moedas, da pen e do caralho, toda e a mínima coisa que te ligue ainda que remotamente a Portugal, aliás ter orgulho de Portugal porquê ? De quê ? Ainda se vivesses no séc. XV ou XVI ... Vá que não vá. Mas para isso já lá vai tempo demais... Percebes o que te digo ?

O pior bicho ao cimo da terra é o homem…. Toma cuidado com ele…. Mistura-te entre eles, disfarça-te, camufla-te, pois não estás na tua terra, cá até nos comeremos uns aos outros, não faltará muito...

E claro, mantém os olhos abertos e a mente clara, esforça-te por distinguir entre gente de bom senso e arruaceiros, cá também os temos, ou nunca ouviste falar de Mário Machado e do PND ? (basta googlares... Nem é menos parvo que o teu artista) e distingue jornais sérios de pasquins… Quando não, nunca mais o tempo te irá sobrar, nem o sono deixar de te atormentar…

Espero que esta rajada de ironia tenha respondido aos teus anseios e te ajude a construir Leocádio, aí e em paz, sem receios, aquilo que o homem faz pelo mundo há 10 mil anos… Uma vida, um lar… 

Beijinhos e abraços aos dois e sempre ao dispor .

Humberto, Évora, 25 de Maio de 2015, dia de S. Gregório, que bebia demais.




sexta-feira, 22 de maio de 2015

241 - ......................O JOGO HOJE ...............................


Preparámo-nos com antecedência por a expectativa ser enorme devido à solenidade da coisa, frigorifico atibado de fresquinhas, até os copos colocáramos a refrescar. Os armários igualmente cheios, atafulhados de pacotinhos de caju, pinhão, fava frita com piri piri, amendoins, nozes e amêndoas descascadas, e, na geleira um quilo de camarão a desejo. A festa prometia e a vitória, não garantida mas quase certa.

Uma hora antes já ela ligara o ar condicionado, eu baixara os estores e colocara na mesa do centro os cachecóis, os apitos, as buzinas, os confetti e os bonés. Para compor o cenário acrescente-se que quer eu quer ela envergáramos os calções e as camisolas da praxe logo pela manhã e até à praça e ao mercado fôramos numa corrida.

O nosso clube passara toda a época arrancando a ferros os pontos que o mantinham na frente, o lugar dificilmente lhe seria disputado mas ainda não se considerava garantido e, como cautela e caldos de galinha nunca tinham feito mal a ninguém... O tira teimas far-se-ia naquela tarde e o percurso até ali tinha sido bastante suado.

Os nervos ressentiam-se com o aproximar da hora e se um de nós levantava a música logo o outro a baixava e vice-versa, idem para a Tv, onde o zapping testemunhava bem a medida do nosso ânimo, ansiosidade e expectativas. 

Para entreter e queimar tempo dançámos passo dobles, tangos, e até lambada e quizomba, mas nem assim lográmos acalmar, pois a ansiedade era demasiada e o rubor subia-nos às faces ao mínimo pretexto.

Uma panorâmica visual e histórica da cidade onde o derby se iria disputar entretinha a ânsia dos telespectadores mais fanáticos, idêntico tratamento mereceu a vida e história do clube anfitrião pelo que, finalmente, eu e a Leonarda sossegámos um bocadinho sentados lado a lado no sofá. 

       Reservei o braço e mão direita para emborcar as minis enquanto ela me colocava com ternura imaculada os aperitivos na boca, e o braço esquerdo para lho passar sobre os ombros, puxá-la com carinho para mim de vez em quando e sempre que lhe pespegava uma dentadinha na orelha, ou uns beijinhos nos cabelos nos olhos ou no que ela colocasse a jeito apesar da instabilidade provocada pela tempestade que se ia desenrolando no meio campo.

Por vezes puxava-a pelo cachecol e, enquanto entusiasmado gritava pelo meu clube, selava-lhe a boquinha apetitosa com um beijo que momentaneamente me libertava da ansiedade avassaladora de que estava possuído que nem um possesso.

De exaltação em exaltação, ou de susto em susto, cada vez que o esférico ameaçava a nossa área se iam passando os minutos nos quais intercalávamos umas cervejas, uns carinhos, uns beijinhos, e à medida que a tensão aumentava, o controle do ar condicionado mudava de mão em mão, ora para desce-lo se estivéssemos acalorados, ora para subi-lo se a coisa arrefecesse em demasia.

Ainda o jogo não tinha terminado e já pairava sobre nós como uma ameaça o findarem-se a dúzia e meia de packs de minis com que o frigo tinha sido atafulhado, valeu-nos o ímpeto e o ânimo estarem esmorecendo ou acalmando, não tanto pelo resultado do jogo cuja vitoria era já certa, a coisa estava no papo, mas talvez por termos exagerado os calmantes emborcados e a coisa estar a fazer o seu efeito. 

   Verdade é que uma vez libertos das roupas e constrangimentos a calorina deixara de nos apoquentar, cedendo espaço a uma calma bonança que me permitiu conceder-lhe mais atenção e rodeá-la de meiguice, uma vez que o jogo estaria no papo, e quando tirei os olhos do televisor reparei no anjo esbelto cuja magreza de uma beldade indiscritível me resguardava de exageros, como se me vigiasse os passos naquele momento em que a alma se tornava capaz de todos os atropelos e audácias.

Quando já os dois nas nuvens beijei-lhe as asas, depois o pescoço, a orelhinha, rocei pela sua face a minha e, juro não recordar já nem como nem quem começou aquele jogo de lábios instigado por sequiosas línguas, nem sei como nem de onde surgiu uma auréola, um biquinho, uma maçã redondinha na palma da mão, os lábios em maliciosa trincadinha sugando-lhe a seiva para logo em avidez desmedida lhe sorverem o sumo, a polpa escorrendo-me dos beiços.

O locutor falando, o árbitro arbitrando e nós orbitando já outra galáxia, umas mãos pressurosas percorrendo-me as coxas, macias, quentes, diria sedosas, tocando-me, descobrindo-me, deslizando em mim com premeditada e conspícua malicia, o meu anjo da guarda segredando-me:

- Fica quieto, é agora a tua vez de te aguentares e viveres o momento.

E foi assim, primeiro pegando-me com calma, como quem somente pretende manifestar uma intenção, depois agarrando-me com desenvoltura, erguendo-o, agitando-o freneticamente frente a meus olhos e eu deliciado mas, ainda que a cor significasse expulsão, não teria consequências a minutos do fim do jogo, por isso muita gente considerou o agitar daquele cartão vermelho uma prepotência do árbitro, uma manifestação autoritária sem qualquer expressão no resultado já inscrito no marcador. 

          Era só mais uma mão entre tantas mãos erguidas no ar em protesto, mas não esta deslizando em mim com um propósito determinado, com uma intenção revelada, a que me entrego lúbrico recostando-me no sofá, contorcendo-me, descaradamente deixando-me subjugar àquela jogada licenciosa alternando o rápido com o rapidíssimo, e esse com a calma suave de sagaz e provocadora mordacidade e, quando já prestes prestes a fazer-se soar o apito de final de jogada, eu, estremecendo de comoção, cupidamente emocionado, cerrei os olhos incapaz de os manter abertos ante o gozo vivido e, inadvertida ou automaticamente o meu dedo procurando onde quando, no último segundo do jogo o locutor:

- Bela jogada ! Está dentro ! É golo é golo é golo ! 
           
              - Goooooooooooolo !

e uma calma apaziguadora derramou-se sobre mim, abracei-a com toda a meiguice que o carinho me prodigalizou, sentei-a no colo, os braços rodeando-a com vigor, uma maçã em cada mão, aninhou-se, ajeitou-se, e, no momento em que lhe beijei ombros e costas ouvia-se ainda lá longe, muito longe

- gooooooooooooooooooooooooolo !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!