quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

313 - DEAMBULANDO NO PARAÍSO .......................


Saio de casa dou meia dúzia de passinhos e tomo a bica, não curta mas quente * e saio fazendo a língua estalar no palato para prolongar o sabor do café, dou os bons dias à Micas, compro os jornais do dia, troco com ela duas lérias de conversa e desando antes que ela me dê a entender que posso estar a atrasar-me, embora sabendo que tenho todo o tempo do mundo…

Rumo mais adiante uns passinhos e sou de imediato apanhado pelo cheiro do pão quente, de lenha de azinho queimada, e num reflexo condicionado meto a mão ao bolso do blusão e retiro o saco do pão, adoro aquela padeira, perdão, aquela padaria, o pão alentejano, os doces caseiros, o calor do forno, a sensação da cinza no chão se calho pisá-la.

A Micas é assim, não aprecia passarões à volta do quiosque, mas gosta de passarinhos e passarinhas, tem em casa um casal de periquitos, um de canarinhos e outro de rouxinóis, passarões dão mau nome ao negócio e afastam a clientela, diz ela que é espertalhona e sabidona como uma pardaloca…

Umas vezes sigo em frente, outras completo o triângulo e volto ao meu café / pastelaria preferidos, onde não por acaso muita gente pensa ter eu ali lugar cativo, não tenho, mas quase. Onde me sinto mesmo bem é na padaria, pena não haver mesas naquela, o calor aconchegante nestes dias invernosos e o cheirinho do pão inebriam-me, dias havendo em que esse olor me leva a esquecer o troco, ou sair sem pagar o pão, até já me tem acontecido abalar sem levar o saco do dito, nariz no ar, emproado e sonhador, atrasando o passo e julgando-me numa soirée do Éden Esplanada com a minha Luisinha, depois o passeio nocturno pela cidade que era nossa e cujos recantos conhecíamos como a palma da mão.

Abraçados deambulávamos por ruas e ruelas, eu encantado ouvindo-a e pendurado nas suas conversas, o futuro vai sorrir a todos, está tudo por fazer dizia ela, e a certeza e esperança naquela democracia tão nova e avassaladora que emergia cegava-nos, cegava-nos a todos

e por vezes a Micas:

- Areia para os olhos ! É só o que fazem é atirar-nos areia para os olhos ! São todos iguais !

E nós sonhando, deitados de costas ou estirados na relva fresca olhando as estrelas no céu e tentando adivinhar percursos e horizontes, a Luisinha falando, embora falando ainda muito pouco de economia,** e eu ouvindo-a, o que eu gostava ouvi-la falar de economia … ou de qualquer outra coisa, matemática, física, história, ou geografia… Estirado na relva inalando indolentemente um cigarro, ela falando, eu ouvindo, fosse história, ou geografia o que ela dizia, à pressa, como se o vagar pudesse acabar-se, ou eu, a quem a conversa seduzia, eu quem, como feitiço sobre mim caído, resolvesse numa inquietação obscena falar-lhe dos lugares exóticos onde ela e eu iríamos, e eu, nostálgico, em puritanos sonhos sorrindo, numa ternura impaciente, desatando-lhe os laços e lacinhos, por vezes com os dentes, enquanto pelo canto do olho me maravilhava com as mirificas e reluzentes bolas de sabão que da sua boca se soltavam, cada uma com uma nota musical, refulgentes, seguindo enfiadas uma nas outras, a mais pequenina atrás, a maior na frente, numa fileira ordenada e ondulante numa melodia que eu ouvia por um instante e, de repente, pof ! rebentavam num alarido estridente, numa gargalhada, num sorriso, num abraço, um beijo, uma volta, duas voltas até um qualquer arbusto nos parar e esconder na noite fresca, de olhares indiscretos, do senso comum e, inquietos, tomávamos em nós o cuidado pelo bem estar do outro e sossegávamo-nos, umas vezes apressados, em torvelinho, outras devagar, devagarinho, até que, exaustos, famintos e sedentos, cabelo e roupas em desalinho, nos erguíamos rindo, atarantados ainda, aparvalhados de felizes e, de braço dado ou abraçados descíamos rumando ao mercado em busca do cacau, da massa frita, do alarido dos pregoeiros, dos cheiros das frutas e hortaliças, do peixe fresco, do calor do forno na padaria da Tia Maria Benta onde logo pelas matinas e no meio dos molhes de lenha ganhava a azáfama no manejo da pá de cabo comprido, compridíssimo

- Sai mais uma cabazada ! Puxem os cestos para aqui !

e o pão com chouriço, e café quente em copos grandes, café forte, que aquecia e dava nova vida aos corações batendo de contentes.

E inda o sol não despontava apontávamos à Heróis do Ultramar Rossio, CAPLE, onde um leiteiro, sempre o mesmo, sempre alarve, invariavelmente nos gritava:

- Deixa-a acabar de criar !

E nós rindo apertávamos o abraço e estugávamos o passo, Bombeiros, Nau, mais dez minutos e estaremos lá, ela subindo as escadas do prédio, correndo e mostrando o rabo, eu montando a mota que ali deixara e desandando para casebres.

Uma manhã quando sorrateiramente entrava em casa, o meu saudoso paizinho:

- Sete da manhã, onde andaste ? Isto são horas de chegar a casa ?

E eu, matreiro, tendo-lhe virado as costas ainda antes que ele me tivesse visto:

- Estou de saída pai, não estou de chegada, tenho que fazer cedo hoje, até logo, beijinhos.

Saí, dei uma volta ao quarteirão para queimar tempo e, cansado e sonolento atirei-me para dentro da cama mesmo vestido.

Não foi a Luisinha quem me enganou ou desiludiu, foi antes esta democracia de merda da qual tanto nós esperávamos, esperávamos tudo, esperançados no melhor. 

             Fodeu-nos a magana, ou, como diria a Micas:

- Fodem as paredes todas com cartazes e cagam o pé todo cada vez que fazem alguma coisa ! …

exasperada com a colagem de cartazes nas paredes do quiosque cada vez que há eleições............................


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

312 - CRISE, SEPARAÇÃO, DIVÓRCIO.....................


Naturalmente não posso deixar de ser critico de palhaçadas quer à direita quer à esquerda, parece até sermos dois países num, ou três em um, quatro em um, existe um Portugal Dos Pequeninos e existe um Portugal pequenino por cada partido de merda dos que há quarenta anos se sentam na Assembleia da República e que, por acção ou omissão nos meteram neste buraco.

E que fique desde já esclarecido, se critico aqui ou nas minhas páginas nas redes sociais o meu partido, é por me sentir com direito a isso, se ele me mente e engana há quarenta anos e é um dos grandes culpados da pilhéria em que vivemos, também eu tenho direito ao meu desabafo, até por não ser do meu feitio mudar de partido, não sou eu quem está errado, é ele, logo é ele quem tem que mudar, e não eu.

Quem perde votos e eleitores há quarenta anos não sou eu, não sou eu quem perde eleições consecutivas, não sou eu quem protagoniza episódios oportunistas que envergonham, não sou eu quem se cala e consente no seu seio gente que apouca, que desprestigia, que envilece, não serei eu a visitar na prisão quem clama por uma justiça transparente sem que alguma vez tenha dado um passo na vida que não seja opaco, não sou eu quem segue a voz do dono num unanimismo maniqueísta falso e num seguidismo doentio, vereda directa apontada ao oposto do que apregoam, não sou eu quem há quarenta anos assume abstenções violentas ou vota “nim”, o tal nem sim nem não cujo resultado estamos a ver, que afugenta os veros socialistas e mantém no partido oportunistas ou beneficiários de subvenções vitalícias, vergonha das vergonhas.

Eu sou socialista e o meu partido algum dia o será, não tem sido, nunca foi. Portanto, se o crítico faço-o por ser o meu e querer o seu bem, faço-o nas minhas páginas, jamais o fiz nas páginas de outrem, como jamais critiquei outros partidos nas minhas páginas e muito menos nas de outros. Haja decoro.

E já que estamos em maré de avisos deixo um para as senhoras, por favor, lá porque eu deixo um like ou um bonequinho amarelinho daqueles emojis com um sorriso, tal não quer dizer que vos esteja a cortejar, por favor deixem de me telefonar e de me enviar mensagens e e-mails. Até porque já estou comprometido pelo menos até 2050.

Neste país a crítica interpartidária soez e a baixeza têm adquirido foros impensáveis, e os partidos não expurgam das suas fileiras os mais cretinos de entre eles, parecendo mesmo estar a classe dos idiotas apoderando-se de direcções e presidências. Assim nunca iremos lá, nem com o Pedro nem com o Costa nem com nenhum que se perfile, todos eles sem uma ideia do que seja um país ou de como deve conduzir-se uma nação. 

Morto Salazar por ter caído da cadeira, não foi apeado, julgo até que se tivesse tido saúde o teriam deixado ficar mais uns trinta anos, deposto Marcelo Caetano e assassinado Sá Carneiro (o mistério da sua morte dura há quarenta anos, tanto tempo quanto a decisão final sobre o aborto, o saber a escola que queremos ou se deveremos enveredar pela regionalização, o caso dos submarinos é matéria para durar muito mais tempo a esclarecer, cito estes casos somente a titulo de exemplo, há muitas mais indecisões no cardápio), a verdade é que depois destas três mortes nunca mais tivemos entre nós alguém com um pensamento profundo, com conhecimento, cultura e discernimento suficientes para nos colocar nos carris do bom senso. Mário Soares, que dentro de poucos meses choraremos, tem da democracia e do socialismo uma concepção dinástica que o faz imaginar-se um rei entre plebeus, e trouxe com ele uma praxis da intriga e da chicana politica, mesquinha e vingativa cujo vírus inoculou no partido, o qual demorará décadas a combater, Soares nem é muito diferente de Cavaco e Silva, o grunho que tanto detesta. Bem sei que lhe bati palmas muitas vezes mas julgo ter ele  imprimido na democracia um estilo tal que hoje me interrogo quão prejudicial terá sido, bem podem portanto chamar-lhe o “Pai da Democracia” que o problema é a filha, uma magana que não interessa a ninguém. E para terminar este parágrafo, é olhar à nossa volta e ver onde como país conseguimos chegar…

Após 1945 uma Europa arrasada logrou levantar-se de novo em poucos anos, nós definhamos desde 74 e continuamos sem um objectivo, sem um rumo, sem um desígnio,. Termos empobrecido não foi uma fatalidade, foi uma consequência das mentes esclarecidas que nos têm governado e onde, pelo menos metade da culpa cabe, para meu grande desgosto, ao meu partido, culpa de que nunca se penitenciou nem desceu até nós para nos pedir desculpa.

A partir de 1945 essa Europa que vos falei levantou-se erguendo um sistema bancário e financeiro de confiança, e confiando nas pessoas, por cá, à excepção de Armando Vara, que confiou e emprestou milhões aos amigos sem cobrar quaisquer garantias, a nossa democrática banca só serve para nos esmifrar, enriquecendo ela na razão directa em que nos empobrece.

Portugal precisa de um plano ou orçamento de “economia de guerra”, tal como a Europa fez para se levantar das ruínas, e não estes orçamentos de caca que não levam a lado nenhum, nem a nada, nem à esperança. Não estamos condenados, estamos é rodeados de políticos inúteis, incompetentes, irresponsáveis e ignorantes.

Talvez agora percebam porque há dias afirmei ironicamente, referindo-me a Salazar e Caetano;  Por favor voltem ! Estão perdoados !

Esses sim, esses saberiam avaliar a situação e sobretudo o que fazer, não estes pintarroxos pintados de democratas, com estes jamais iremos a lado algum, sejam eles socialistas sejam social-democratas ou quaisquer outros, e que levam a vida como se nada do que aconteceu fosse com eles. Poderemos nós alguma vez acreditar naqueles que, prometendo-nos uma vida melhor, comecem por assegurá-la primeiramente para si próprios ?

O meu partido tem sido um dos mais prejudicados nesta democracia da treta que tem ajudado a erguer, portanto nem se pode queixar, felizmente para ele não somos como a Grécia, ou a Espanha, quando não já teria desaparecido do mapa, nesta democracia ele é o grande perdedor, considero-o um grande falhanço, falhado ele e por tabela nós…

E já agora tomem os meus leitores nota, acabei de dar ordens para que se construa o novo Hospital Central de Évora, vão ver que será construído, não sei é se daqui a trinta se a quarenta anos, mas nessa altura por favor lembrem-se de mim e do quanto eu lutei para que esse sonho se concretizasse… 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

311 - SONHO DE PRíNCIPES ENCANTADOS .........


O meu amigo Francisco Nunes Liberato Cardoso morreu, uma surpresa para mim, quer dizer soube disso há quinze dias, dei com a coisa num jornal, casualmente, nem costumo ler aquele pasquim, amarrotado sobre a mesa do cabeleireiro onde fora dar um caldinho ao cabelo para ir jeitoso ao almoço de anos da Felicidade que, atendendo a que o Senhor a protege e beneficia, não tem pejo em dizer a quem quer que seja a idade, está com cinquenta e é uma felicidade olhá-la, é daquelas mulheres de quem se diz serem como o vinho do Porto, quanto mais velhas melhores, salvo seja o exagero, mas na verdade nunca a vi tão bonitinha como agora, em adolescente e jovem era até muito feiinha confesso.

O tempo muda-as, muda-nos a todos, e se umas ficam piores, outras, poucas, para compensar ficam muito melhores. Atente-se na Felicidade, então não é uma felicidade mirá-la ? Vê-la, ser seu amigo ? Reuniu à mesa mais de trinta de nós, os mais chegados, todos amigos de infância, mas estou a desviar-me do essencial, a felicidade tem destas coisas, sonega-nos a atenção, e quando damos por nós estamos de beicinho.

O jornal, puxara dele para ver umas fotos da Sara Sampaio na capa e ao folheá-lo deparei-me com a noticia da missa por alma do Francisco Cardoso, que se foi já há uns bons sete meses, apagou-se coitado, e a viúva, a Idalina, nicles batatóides, calou-se bem caladinha pois nunca foi muito à bola comigo, daí nem me ter dado a triste noticia. Na verdade fora ela que nos separara como amigos, achava que eu o influenciava demasiado quando nada mais fiz que ele não me tivesse pedido ou fosse ideia sua, mas os pesos de consciência pesam mais que um par de cornos, dizem, e arrastam sempre esqueletos atrás de si.

Mas a Idalina, assim se chama a megera, que hoje se comporta como uma senhora, que não deixa de ser, não engraça comigo porque eu dei corpo aos seus planos oportunistas que tanto viriam a beneficiar o meu amigo Cardoso e por arrastamento a si mesma. Estava portanto a Idalina muito adiantada para o seu tempo quando em 1978 ou 79, já nem sei precisar bem, lembro apenas que a coisa foi feita a correr e a rasar os prazos máximos, que por duas vezes tinham sido gentilmente dilatados pois iriam encerrar irrevogavelmente as inscrições, os plafonds, os programas, e os planos de ajuda financeira que o IARN, Instituto de Apoio aos Retornados Nacionais, quero dizer os EUA, afinal quem financiava tudo e que colocara milhões de dólares à disposição dos retornados das ex-colónias. 

A esta distância toda a gente lamentará os retornados, mas na época eram mal vistos, mal quistos e mal-amados pela generalidade dos portugueses, porque alguns partidos, alguns jornais, algumas rádios e por vezes mesmo a televisão os mostravam como gente que beneficiara tempo demais de privilégios que os da metrópole jamais tinham tido, e sobretudo de ajudas e de condições que aos nacionais não eram oferecidas, nem nunca tinham sido.

Em boa verdade, para além da hostilidade com que foram recebidos e tratados, os retornados não tiveram à sua espera ajudas que não aquelas que o povo fascista capitalista dos Estados Unidos da América lhes quis dar, e que por cá foram canalizadas para e pelo IARN. (como habitualmente ninguém tem, veja-se o caso das ajudas governamentais aos lesados pelas cheias em Albufeira.)

Essas ajudas foram mais um motivo de inveja e de ódio para com os que, fugidos às guerras da independência descontrolada que os acordos de Bicesse permitiram, não acautelando nem cuidando das suas vidas, nem da segurança e bens desses portugueses nas e das colónias, obrigados a fugir, muitos deles somente com a roupinha que tinham no corpo.

Mas deixemo-nos de pieguices que não foi para isso que peguei na caneta e no papel, foi antes para vos demonstrar que a inveja, o ódio e a vergonha pelos esqueletos no armário, e o incómodo quanto a quem nos conhece o passado pode levar, pois foi tudo isso que levou a Idalina a esconder-me o Francisco primeiro e a sua morte depois.

Francisco Cardoso tinha em fins de 1973 sido contemplado pela Junta de Colonização Interna, um organismo do Estado Novo (ver link) destinado a promover o povoamento e o desenvolvimento económico territorial e agrícola na metrópole e nas colónias, com um soberbo lote, ou parcela considerável, no perímetro de Pegões e que fizera dele um jovem agricultor e um jovem rendeiro.

Contudo o advento do 25 de Abril deitara tudo por água abaixo e o bom do Cardoso nunca chegou a agricultor apesar de, já em democracia, muito ter tentado mas, o estado democrático, às voltas com as ocupações selvagens e consequentes devoluções de terras (ver lei 77, também conhecida por lei Barreto, link no fim do texto) nunca lhe deu atenção. Não lha deu a ele nem a centenas ou milhares de pequenos agricultores ou rendeiros, o que deitou por terra os sonhos de casamento da Idalina, que pintara na vida tudo quanto havia para pintar e encontrara no parvalhão do Francisco o seu seguro de vida. 

Ao observar os apoios que o IARN prodigalizava aos atrasados mentais dos retornados a Idalina encontrou o furo da sua vida, todavia os pruridos de honestidade do noivo e até a sua limitada inteligência (foi ela quem assim mo classificou) e desenvoltura bloqueavam-lhe os planos. Foi aí que eu entrei em cena, competindo-me criar-lhes ou inventar-lhes como agora se diz uma nova narrativa, o que na inocência dos meus vinte e poucos anos fiz, tendo até ido mais longe que a prudência aconselharia e incutido coragem ao meu amigo Francisco garantindo-lhe que dali não viria mal e ele sempre poderia ressarcir-se do tanto que já tinha penado à procura de lugar no mundo. Deus escreve direito por linhas tortas lembro-me de lhe ter dito quando assinou a papelada que a Idalina levaria ao IARN e faria dele um homem novo, e se não fizesse, mais velho também não o tornaria, mais a mais viviam-se tempos irrepetíveis e quem tivesse dois olhos chegaria longe, isto não lho ouvi, mas pensei ter ela pensado, afinal o irmão tinha declarado numa escola ser licenciado e nem lhe exigiram comprovativo algum, (tinha a frequência do segundo ano, e nem esse acabou) pelo contrário, passaram a chamar-lhe senhor doutor e a dobrar-se numa vénia sempre que passava. Pouco mais de um ano depois tornar-se-ia director daquela escola secundária, onde se manteve até há um ano atrás, ou dois, data em que se reformou, aos sessenta e dois anos de idade.    

Enquanto Instituto o IARN vivia de fundos americanos, de muita solidariedade e de boas vontades, coisas que, como sabemos são extremamente difíceis de encontrar entre nós. Sabendo da miséria em que muitos tinham chegado o IARN pouco exigia além do nome e da idade, nem garantias sobre os créditos concedidos exigia. Como o IARN, nos nossos tempos, só conheço o exemplo de Armando Vara que emprestou milhões aos amigos em qualquer tipo de garantia lhes solicitar.

Ora o bom do Francisco Cardoso muniu-se das respectivas certidões de nascimento e de registo criminal, preencheu a papelada que o dava como retornado de Angola (onde nunca estivera), fugido de Malange, onde teria uma plantação (quem o poderia negar, ou desmentir?) alegou desejar recomeçar a vida na metrópole para o que pretendia um crédito de vinte mil contos (na época uma fortuna) a fim de adquirir um prédio rústico para o que apresentava a respectiva caderneta predial, sito na freguesia de S. Teotónio, concelho de Odemira, avaliações do imóvel igualmente apensas ao processo, em triplicado conforme à lei, e efectuadas pelos serviços competentes das delegações dos bancos Totta & Açores, Nacional Ultramarino e Português do Atlântico, solicitação requerida com a finalidade de transformar o citado prédio rústico numa Albergaria tipo turismo rural, a explorar no sector cujo desenvolvimento entre Odemira e Vila Nova de Mil Fontes é esperado, de acordo com o Parecer Técnico do Gabinete de Arquitectura Mário & Glória Ldª, que se anexa, bem como croquis da pretendida Albergaria, a construir no prazo de dois anos, durante o qual se solicita um período de carência.

Ora todos sabemos como os Américas tratavam o dinheiro por esses tempos de fartura, tempos de Mário Soares, o amigo americano, de Frank Carlucci, de Artur Albarran, o estrangeirado que se meteu em negócios pouco claros mas ainda assim longe da burlazinha do nosso amigo Cardoso, tempos de Henry Kissinger, de Richard Nixon, de Gerald Ford, era despejá-lo aos sacos de notas onde fizesse falta ou desse jeito.

A sabida da Idalina esperava de antemão o resultado daquilo, só não esperava que viesse em menos de quinze dias, ou tinha amigos dentro do IARN, e ela era do tipo de quem tinha amigos em todo o lado, e se não tinha iria ter, pelo que foi a única de nós a não se surpreender quando o IARN meteu o totobola nas mãos do Francisco (não havia ainda totoloto nem Euro milhões).

Casaram-se, foram muito felizes, e hoje, que o bom do Francisco Cardoso morreu, podemos encontrar de novo à venda o Monte das Pedrinhas (link abaixo), como ternamente o baptizaram no seu sonho de príncipes encantados.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

310 - CRISE OU OPORTUNIDADE, 危机或机会 .......

                         Genghis Khan montado no seu cavalo e olhando o futuro...

Bento Espinoza, nascido em 1632 na cidade de Amsterdão, filho de Miguel Espinosa, natural da Vidigueira, Alentejo, e descendente dos judeus expulsos daqui em 1497 por El-Rei D. Manuel, era leitor frequente da Biblioteca da sinagoga de Amesterdão, que funciona ininterruptamente desde 1616, é a mais antiga biblioteca judaica em actividade, e na qual, procurando bem entre os banquinhos corridos, com gavetas para guardar uma espécie de cachecóis e os chapelinhos do culto, encontraremos numa placa o nome dos homens que ergueram o templo de que vos falo. O homem pensa, Deus quer, e a obra nasce, esta nasceu pelas mãos e contributos de Moisés Curiel, Daniel Pinto, Moisés Ismael Pereira, Isaac Pinto, José Israel Nunes, Samuel Vaz, David Salom de Azevedo, Abraão da Veiga, Jacob Aboab Osório, Jacob Israel Pereira, Isaac Henriques Coutinho, Isaac Aboab da Fonseca.*

Bento Espinosa era quadrilingue, esse homem ilustre que hoje tão bem conhecemos era descendente de gentes que Portugal não quis, mais tarde o Marquês de Pombal (1699-1782) viria a perdoar-lhes as acusações de que tinham sido alvo desde o tempo de D. Manuel e da posterior Inquisição, a quem nem os cristãos novos escaparam, perdão que já o Padre Jesuíta António Vieira (1608-1697) exigira, padre que se bateu inclusive e muito antes do tempo pela abolição da escravatura, a qual viria a acabar precisamente às mãos de Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, corria o ano de 1761.

Recordo tudo isto pois Bento Espinosa, a quem devemos a “Ética” (em latim: Ethica, ordine geometrico demonstrata), a obra-prima do filósofo holandês de origem portuguesa Bento Espinosa, "Baruch de Espinosa " Benedictus Espinoza, mais conhecido como Benedito Espinoza, obra que está Dividida em cinco partes, a metafísica, tratando do ser, a ética que trata do homem, a terceira que aborda os afectos, a quarta que nos fala da servidão humana, e a quinta, fazendo a apologia da liberdade, obra que foi publicada pela primeira vez em 1677 e que nem por ser antiga, famosa e de leitura altamente recomendável parece ser conhecida dos nossos políticos. Contudo devia ser.

A ignorância da história, da filosofia da ética e da moralidade leva a que façamos figuras de urso, como foi o tristemente caso de Neville Chamberlain, 1869-1940 (que vá lá saber-se porquê confundo sempre com Konrad Adenauer, 1876-1967), e se escrevo tudo isto hoje é por me parecer estar de novo a Europa pejada de Nevilles Chamberlains em tudo que seja lugar decisivo, e o pior é que 80% dos europeus, e talvez 90% dos portugueses nem saibam quem foi esse tal Neville nem em que trabalhos se viu metido ou a figura de parvo que protagonizou e que o remeteram para as notas de rodapé da história. A história devia ser para nós como uma mãe, porém fazemos dela madrasta, esquecemo-la, ignoramo-la, e quanto mais o fazemos mais ela se vinga e se ri de nós a bom rir.

Mas também eu neste momento rio a bom rir, porque a Micas levou demasiado a sério os dois dias seguidos de sol que nos alegraram as manhãs desta semana, e apareceu com umas leggings que lhe moldam até o tutano do escafóide o que, se por um lado a tornam radiante, por outro atestam que ainda vale a pena comprar-lhe os jornais, as revistas, e as flores, mesmo sendo de plástico, pois o resto não é…
O amarelo desmaiado dos leggins da Micas

Quem também se deve estar rindo são os fantasmas daqueles que marcaram a história com um cunho bem vincado, D. Afonso Henriques, Infante D. Henrique, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães, Pedro Alvares Cabral, Fontes Pereira de Melo, Pombal, Mouzinho da Silveira, Salazar, Franco, De Gaulle, Churchill, Hitler, Mussolini, Tito, Estaline, Lenine, Mao, Putin, Alexandre Magno, Gengis Cão (Genghis Khan), Leif Erikson, e concluo que estes sim, para o bem e para o mal foram líderes que se souberam impor, marcar posição, fazer história, fazer andar o mundo, as coisas, as suas cidades, os seus países, e se me estou rindo é apenas por mentalmente os estar passando em revista e comparando com os pintarroxos que há quarenta anos nos governam e nem merecem uma morte honrosa…

Se PPC era um garoto aldrabão e trapalhão A. Costa não passa de mais um trapalhão aldrabão, quer um quer outro haviam jurado subir o que desceram e descer o que afinal subiram, um e outro navegaram e navegam ao acaso, à bolina, ao sabor do vento, sem rumo e ao sabor das circunstâncias. Nunca iremos longe com caramelos deste jaez, o primeiro ajoelhou ante uma Europa de Nevilles, ela própria, como o FMI, tendo assumido e retractado já quanto aos clamorosos erros cometidos contra nós, agora, e perante Costa, Pedro critica o que devia ter contestado, e Costa enfrenta-a com um programa pouco menos que decalcado do de Pedro, um voltando a dobrar a cerviz e o joelho, outro não sabendo nem ousando sair de um austeritarismo balofo, parvo, inconsequente e inútil.

Para governar é preciso ter visão, não basta ter lata, onde teriam ido os homens que atrás citei sem essa visão ? Esses homens não avançaram em tempos de vacas magras, todos pegaram o touro pelos cornos quando os seus países ou povos atravessavam crises, fizeram dessas crises oportunidades, oportunidade que quer com um quer com outro nós já perdemos e continuamos a perder, sem que nunca reformemos devidamente Portugal. Arte é isso, começar no fundo de um buraco e erguermo-nos aos céus, nada tem de artístico fazer floreados com uma mão e aumentar os impostos com a outra…

Desta vez a Troika traz essencialmente 3 grandes dúvidas, a primeira quanto ao orçamento, já o sabemos eleitoralista e com mais do mesmo, uma estratégia vergonhosa onde para alimentar a voracidade dos trabalhadores vanguardistas do sector público se esmagam com impostos os eternos escravos do sector privado, a segunda abordando o investimento, que seja público ou privado se resume praticamente a zero há bué de anos e a fiscalidade que nos sufoca e não deixa dar um peido. Não ter reformado o estado está a custar-nos os olhos da cara, finalmente o terceiro ponto de interrogação dos homens de negro, a economia, para a qual há muitos anos há resposta, podemos afirmar que quer anteriores governos quer o actual dedicam à economia uma especial atenção e a encaram e sempre encararam com muita fé, muita esperança, e sobretudo com uma gigantesca e esfuziante confiança na sorte.

De PPC nunca esperei nada, não tem conhecimentos nem cultura para o que quer que seja, mas de A. Costa esperava mais, e esperava sobretudo capacidade para dar um murro na mesa e colocar todos em sentido;

- Quem manda aqui sou eu, e quem não se sentir bem que se mude…

e devia ter começado por Maria de Belém, que não só fragilizou como ridicularizou o secretário geral, o partido e o primeiro ministro, Nóvoa não pontuou mas também não envergonhou. Tal como PPC se deveria calar ele mesmo ou mandar calar Marco António Costa, pois peroram exigindo credibilidade moral aos outros, precisamente aquilo que de modo gritante lhes falta.

Os partidos têm que deixar de ser muletas incondicionais de todos os coxos, cegos e outros deficientes e aleijadinhos que lhes cabem em sorte como presidentes, deputados ou ministros, com gente que só os desprestigia e diminui. Parasitas e inúteis não podem continuar a acoitar-se nos partidos e a viver e sobreviver à custa de gente séria, todos os dias temos exemplos desses, desde o 44 ao 99… De tachistas e comissionistas a ou corta-relvas…

Um PM tem que ser o cavaleiro andante dos interesses do país, de todos, e não do partido ou de facções, não de classes, freguesias ou cidades, tem que saber o que quer e para aonde vai, tem que ter visão e não somente o desejo de se sentar na cadeira do poder por mais enganador que ele seja. Portugal tem que deixar de ser guiado pela UE e pela Troika que parecem saber melhor que  nós, e sabem, não o duvido, os caminhos correctos que deveremos trilhar, começando por produzir, produzir, produzir... O mal deste governo foi começar a distribuir o que custa a arranjar, o que não temos, e ainda por cima de forma grotescamente iníqua... Repondo a meia dúzia de bem aventurados o que nunca suaram para conseguir... Infelizmente caminhamos para uma situação em que já só já falta que as finanças nos assaltem à beira da estrada, como fazia o celebérrimo bandoleiro José do Telhado.
                      Posição a partir da qual se pode imaginar o escafóide da Micas

Ainda é cedo para alças e mangas cava, as tardes ainda refrescam por muito soalheiras que as manhãs sejam. A minha amiga Micas arrisca-se a apanhar uma pneumonia de que nem a fé em Deus a livrará, por enquanto e pelo que vejo é só mostrar saúde e provar ter ainda algo que se veja…

- Olá senhor Baião, por aqui hoje, então o que vai ser ?

Repentinamente fiquei sem fala, não ia dizer-lhe que o conjunto vermelho lhe assenta melhor que o azulão, que por sua vez está longe de igualar a sensualidade do fúxia, ou que aquele corte de cabelo lhe fica a matar e a torna super super sensual, meto a mão ao bolso e agito as massas, isto é faço tilintar as moedas, uma brincadeira para ganhar tempo pois fui apanhado de surpresa e nem sei que responder-lhe.

- Como disse senhor Baião, a Exame, a National Geographic, a Visão Júnior para a netinha, Corte & Costura para se entreter ?

Mas eu não a ouvia, pensava na Carmo que me atirara um “Rezemos Para que esta corja caia rápido, Estes ainda São piores que o outro, Promessas e benesses de quem sempre teve o cu lavado com agua das malvas e ainda assim se queixa, Bardamerda para isto tudo, Na próxima voto MURP”… Enquanto eu lhe concedia razão e me lembrava de quantos e quantos Espinosas não obrigamos, por falta de condições, a fugir de cá…. 

       Não é de partidos da treta, de coligações ou de parlamentares vendidos nem de grupos parlamentares dominados e dóceis que precisamos, é de homens com visão e que saibam ver o futuro.... 

            Decididamente só cá ficou o refugo….

* Pedro Mexia – Os Judeus de Portugal, Revista E 2257, 30-01-2016


                                   A Micas e as amigas dançando em leggins

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

309 - VERGÍLIO FERREIRA, EU E O MONSTRO…..


Em vida Vergílio Ferreira foi editado pela Bertrand, que além de editora era distribuidora, a Distribuidora Bertrand, de nível e âmbito nacional e trabalhando com todas as restantes editoras do país, sendo-nos contudo mais familiar como Livraria, pois possuía uma cadeia de livrarias, hoje conhecida como Bertrand Livreiros. 

Em Évora, onde marcou presença em 1993, a Bertrand lançou-me um desafio o qual, após limarmos arestas e acertarmos contas eu aceitei, para o que contaram a minha experiência e conhecimentos de literatura, aliados à rede de contactos no mundo escolar e académico, ou sociais como agora se diz, tornando-me com um contrato sedutor responsável pelo seu investimento nesta cidade, que aplaudi, Évora merecia uma extensão da Bertrand Livreiros, que mais tarde prontamente contestei ao saber a localização prevista para a livraria, o “Centro Comercial Feira Nova”, hoje Pingo Doce, à saída para Lisboa e local bem exterior ao perímetro urbano da cidade. O tempo viria a dar-me razão, as gentes iam ali para o arroz e o feijão, passando ao lado da livraria praticamente sem olharem as montras. Abandonei funções em 1995, embora a Bertrand tenha teimado e tentado subsistir naquele inadequado lugar mais um ano ou dois, não consigo precisar já.

Porém, apesar ou por tudo isso foi entendido propiciar-me formação especifica, mais ainda e mais precisa, pelo que passei algumas semanas por trimestre em Lisboa, nas instalações do Chiado, e na Amadora, onde à época se situava a distribuidora, esta última gerida pelo senhor qualquer coisa Morais, hoje ele mesmo livreiro, para o que adquiriu em Lisboa uma livraria em situação de falência, após a queda do império Bertrand às mãos de gente do calibre daquela que nos tem governado, gente que durante algum tempo se foi sucedendo sucessivamente sem cessar à frente dos destinos do grupo e por pouco não rebentou com ele.

Mas do que vos quero falar é de Vergílio Ferreira, já um homem velho quando o conheci, mas opinioso, garboso e desempenado, que por esses dias e numa dessas formações me foi pessoal e casualmente apresentado pelo citado senhor Morais, não recordo se no Chiado se na Amadora, no momento em que preparavam o lançamento da sua biografia fotográfica, “pois havia que fazer render o peixe antes que se fosse desta para melhor” segundo palavras do próprio Vergílio Ferreira cujo falecimento, um momento infeliz, teve lugar um ano ou dois após este nosso encontro. Dessa biografia guardo ainda hoje com muita consideração, estima e carinho um exemplar autografado por ele mesmo, que ao saber-me de Évora e seu leitor indefectível me abriu a porta da sua amizade com condescendência.



Por duas ou três vezes nos encontrámos, falámos, por junto três ou quatro horas, se não mais, tive pois oportunidade para lhe fazer saber quanto apreciava os seus escritos e volumes do “Espaço do Invisível” e de “Conta Corrente”, memórias que considerava e considero conversas com os leitores e muito para além dos próprios romances, estes mais limitados na amplitude do pensamento e circunscritos a um tema, a uma história ou a um título, no que concordou comigo, pois esses monólogos / diálogos com o leitor encerram um caracter mais intimista que os romances, tolhidos pelos personagens, enquanto no “Espaço” e na “Conta Corrente” o sentia falando comigo liberto de amarras e constrangimentos, enquanto eu, seu leitor, o ouvia e lia permitindo-me simultaneamente desvendar-lhe a intimidade, o âmago, e arrancando desse mistério a luz.

- Acha mesmo que foi um maravilhamento amigo Humberto ? (usou mesmo esta palavra, maravilhamento).

Sim, respondi-lhe, essas obras dão-nos a conhecer e a sentir o prazer da leitura, essas suas confissões proporcionam ao leitor uma, como dizer, iniciação ao pensar, à meditação, ao pensarmo-nos a nós e aos outros, incutem um exercício mental que a convivência torna exigente e que nos força a uma conivência condescendente para com os fundamentos da existência que em cada um de nós existe, independentemente de mais conscientes uns de nós que noutros e da própria avidez com que alimentamos essa moral, essa cumplicidade.

- Os olhos comem, mas o espirito também, felizes os que o alimentam, sussurrou.

Na realidade assim é, pena que os leitores de Vergílio Ferreira lhe procurem sobretudo os fantásticos romances, fenomenais certamente, mas para quem exija mais, encontrará nos volumes de “Espaço do Invisível” e de “Conta Corrente” a alma do mestre, aberta, mostrando-nos com uma terna candura o modo como vê o mundo que nos cerca e por vezes não compreendemos, ou nem sequer vemos, por inexperientes, por desatentos, por ignorantes, por incultos. Com extrema delicadeza diplomacia e grandeza Vergílio Ferreira vai inculcando em nós, seus leitores, a sementinha da inquietação, da curiosidade, da interrogação, e vai sugerindo respostas, caminhos, versões, soluções, sem nunca nos pressionar, sem jamais pretender conduzir-nos, apenas informando, seduzindo não empurrando, mostrando não impondo, e que melhor que nos fazer acreditar e levar a fazer, e a crer, que coisa melhor que ficar vendo-nos por nós mesmos alcançar, descobrir, chegar, concluir ?

É bom lê-lo, mas melhor ainda é “falar” com ele, percebê-lo, entendê-lo, vivê-lo, porque depois de lido é o mestre que vive em nós, que vive por nós, se eterniza em nós. Devemos-lhe isso pois nos seus escritos jamais nos ocultou a sua mente ou nos fechou o coração. É o meu Nobel, será sempre o meu Nobel ainda que as circunstâncias tenham concorrido em contrário.