domingo, 20 de agosto de 2023

793 - COM UMA MÃO CHEIA DE NADA E OUTRA DE COUSA NENHUMA …

      

 

Diz-se por aí à boca cheia que o poder nesta histórica cidade, está na mão de cegos que a si mesmos se cegaram apanhados que foram pela revolução de Abril, a tal que a ninguém vai deixando nem saudades, nem memória, tantos são os problemas que trouxe e as soluções que esqueceu.

 

Abril deixou-nos até hoje uma mão cheia de nada e outra de cousa nenhuma, e morre às mãos de democratas que por tudo e por nada enchem a boca de democracia. Enchem, verbo encher, porque a toda a hora a atropelam, por si mesmos, pelos amigos, pelos conhecidos, camaradas, companheiros, tendo para cada ocasião ou desiderato sempre preparados variadíssimos discursos e justificações.

 

É vê-los ou ouvi-los nas entrevistas, cheios de hesitações, desconhecimentos, silêncios ou contradições que naturalmente me fazem rir, e com razão. Não tenho por hábito rir-me das pessoas quando eu mesmo posso ser, como quaisquer outros, motivo de riso ou chacota e, não rio de cada um mas das suas variadas atitudes. Há muito tempo já, numa delas, salvo erro numa entrevista a um jornal de referência, tentava um ex. presidente da CME, de nome Abílio, justificar a riqueza e pluralidade das, segundo ele, perto de trezentas (300) associações cívico/culturais existentes no concelho sobre o qual reinava.

 

Ainda fiz uma tentativa para as encontrar mas foi trabalho inútil, encontrei uma dúzia delas, das mais conhecidas e expressivas, ligadas a corporativismos diversos, à cidade, ao comércio, aos deficientes, aos deficientíssimos (ligada à Grande Guerra de 14/18 e já nenhum vivo decerto), se bem que nada de especial nas mesmas tenha notado, já que nem se pode afirmar contribuírem para o seu próprio múnus, p'ra um enriquecimento da civitas ou tão pouco da cultura.

 

A não ser para a cultura se considerada em circuito fechado, em que o grupo beneficiado se move e vive. Tal panóplia de associações em nada contribuem para o desenvolvimento do concelho. Vivem para si mesmas e fechadas em si mesmas, não criam emprego que se note, talvez e no total meia dúzia de postos de trabalho manhosos, mas alegraram o Abílio como agora alegram os tolos.

 

Segundo ele éramos o concelho do país com mais associações culturais, talvez ainda sejamos, aposto que sim, e não esqueçamos a dificuldade em listá-las ou ordená-las por actividade ou categoria. Porém apostaria que no gabinete da CME onde os subsídios são rateados haverá listagem (secreta?) escorreita, assinalada e vigilante de quem e por quê merecerá o subsídio que estiver em causa. (eu acrescentaria mais uma dúzia de entidades, grémios, sindicatos, associações patronais, ordens, ministérios diversos, delegações regionais, fundações, uniiversidade).  É muita gente a empurrar, não entendo como não saímos do marasmo.  Mais vale não empurrarem tanto que quanto mais empurram mais nos atolamos... 

 

A continuarem a sua misteriosa existência será caso para dizer que por aqui a cultura avança de vento em poupa, com uma mão cheia de nada, outra de cousa nenhuma e recomendar-se-á… E todas elas, associações, pró Évora claro, sendo aqui que me interrogo, qual a razão de sermos a cidade mais pobre, da província mais pobre, do país mais pobre da Europa cinquenta anos depois deste bodo aos pobres, digo às associações ? Mais um motivo para acreditarmos na Évora Cidade Europeia da Cultura 2027.  Por incrível que pareça consegui, pela primeira vez, dizer, digo escrever isto, sem que me tivesse desmanchado a rir.

  

Mas fiquei pensando se compensará derramar milhões em subsídios sobre tanta associação. Quer a CME quer as freguesias alimentarão porventura uma miríade de associações completamente inúteis, que nada produzem, cujos votos serão desse modo alegadamente comprados, digo alegadamente porque não creio que alguma delas tivesse passado recibo de tal transacção, tantos votos tantos euros, X votos por Y euros, e assim se vai vivendo e sobrevivendo. Como disse não acredito no que acabei de afirmar, mas confirmo que desta sim, desta vez desmanchei-me a rir.

 

Não quero parecer um cidadão mal educado ou mal intencionado, mas será com esses votos que a cidade conta para se apresentar digna de confiança ? Obra de que possa gabar-se não tem, aliás a urbe vem de modo crescente perdendo importância desde o 25 de Abril. Virá Évora no futuro continuando a apresentar-se-nos de mãos a abanar ou com uma mão cheia de nada e outra de cousa nenhuma ? Ou espera-se algum milagre das rosas ? São rosas senhor… São rosas… Ou trará promessas ? Promessas e a continuação da chuva de estrelas, perdão, dos tais subsídios que alimentarão as tais associações que fazem de Évora um concelho imbatível em termos culturais ?

 

Kultura para o povo, culturazinha cozinhada a preceito ou, como diria o Herman José, cozinha para o povo… Já o irreverente e sarcástico Quim Barreiros cantaria “Cuzinho Para o Povo” numa interpretação tão matreira quanto o tema em mãos… A verdade é que o empenho, a devoção e a persistência, aliada à excelsa inteligência dos eborenses têm conseguido avacalhar a cidade e rebentar com ela. Tempo não lhes faltou, quase 50 anos de degradação podem ser contados. Em boa hora um grupo de crentes no futuro vem reunindo em busca de estratégias que afastem de vez a hegemonia da esquerda do nosso concelho e se possível do Alentejo e do país. Não há outro modo (pacifico) de “dar a volta às coisas”. É lamentável mas é a realidade….

 

Bem, bom jantar pessoal chamam-me da cozinha, deve ser para descascar uns nabos ..........

terça-feira, 1 de agosto de 2023

ERVIDEIRO, ANT. - OS ROSTOS DA IGUALDADE



    
           792 - OS ROSTOS DA IGUALDADE  

O nome soava-me levemente a uma marca de vinhos afamados daí a minha curiosidade. Depois vinha o título da exposição, ROSTOS DA IGUALDADE, não que eu seja contra ela, que não sou, simplesmente é coisa em que não acredito, Deus fez-nos todos diferentes, todos diferentes e todos iguais, portanto alinhavava-se segundo e forte motivo para ir até à igreja de S. Vicente* ver a mostra de desenhos de António José Ervedeiro. Estão lá desde 8 de Julho e ficarão até 19 de Agosto. Vale a pena a visita.

 

Quem será o crente que nos dias d’hoje ainda acredita no “todos iguais” ia eu pensando, e perguntando-me, céptico, enquanto rumava à exposição.  Não era nome que eu conhecesse, nem tão pouco o ouvira alguma vez antes, e depois, cinquenta anos após Abril alguém volta novamente a invocar a igualdade, em cada rosto igualdade e tal e coiso, Grândola Vila Morena, rostos, esquinas, amigos, fraternidade, povo, solidariedade, azinheiras, sombras. Quem seria o tolinho que ainda ia atrás destas patranhas ?

 

Tirei-me de cuidados e fui indagar, uma volta pela Net e logo à primeira o tolinho tolheu-me a simpatia por completo. Tem obra feita, obra bonita e bela, uma delas uma exposição sobre a minha terrinha, Monsaraz, que nem sei como perdi (depois conferi as datas e bateram certo com os dois meses que passei nos Cárpatos em 2017), uma outra sobre os faróis da nossa costa, bela e bonita, talvez melhor ainda que a anterior. Repentinamente senti-me conquistado, arrebatado, empolgado e, quando percebi que afinal ali o tolinho era eu resolutamente me tirei de cuidados, como vos dissera, e fui ver a obra do mestre com os meus próprios olhos. 

 

Já vira anteriormente um cartaz de papel, ou vira na Net algo alusivo à exposição em causa, não me recordo bem, e pelo que vira embirrara até com o tipo como embirramos com uma qualquer garrafa sempre que ela chega ao fim. Voltei à Net e dei com ele, fotos e tudo, muitas pinturas, cartazes das muitas exposições que carrega no espinhaço, digo curriculum, um portfólio de encantar e, sobretudo uma fácies de pasmar. O homem deve ser um tipo feliz, tem uma cara que mo diz, secalhando até será um tipo agradável, daqueles com quem acabamos por gostar de estar à fala, e eu, só porque vira meia dúzia de pequenas reproduções desta exposição na igreja de S. Vicente, ROSTOS DA IGUALDADE, só por não crer na igualdade e por não ter ido à bola com o pouco que vira alimentei um preconceito contra o mestre sorrisinhos, preconceitozinho que me custou a engolir e a derribar.

 

À primeira apreciação noto-lhe um traço muito definido muito próprio quase como uma impressão digital, como acontece com o nosso Marcelino Bravo. Bastará olhar para os quadros destes dois marmelos para sabermos que são deles, cores e traço denunciam-nos, são fortes, são firmes, são muito próprios, são os seus BI’s, ou mais hodiernamente os seus CC.

 

Passei em revista vagarosa e cautelosamente toda a exposição e cada quadro, não queria estatelar-me de novo como acontecera com a primeira e superficial impressão que colhera, já vos confessei que me custara a levantar do chão, motivo mais que suficiente para agora estar atento e firme nas canetas. Atentamente vi, li, uma ou outra critica, umas escritas por gente famosa, outras por gente que assim se julga e, mais uma vez julguei apressadamente pois

 

Não ! 

Não não, como se pode dizer isto duma mostra destas ?

Impossível !

 

e realmente desta vez eu tinha razão, as criticas eram sobre outras exposições. Ali, naquela, só atestariam ou testemunhariam o valor do mestre, a sua práxis.

 

Mas não gostei, não que o bonecos estivessem mal, ou fossem feios (um ou outro é mesmo), é que o António não tem grande queda para os detalhes, um olhar, uma boca, uma expressão, um trejeito, uma postura, são os pequenos pormenores que por vezes lhe falham, mas no geral estava tudo bem, apesar disso dei-lhe nota positiva, afastei-me meia dúzia de passos desses quadros e desses pormenores / detalhes et voilá ! Desapareceram !

 

Lá está, na exposição sobre Monsaraz ou sobre os faróis da nossa costa não há pormenores desses a sublinhar, não há detalhes de que cuidar, é só dar guita ao pincel. Mas o que mais me desagradou nem foram os bonecos as cores ou os traços, foi o Crono(s), esta exposição traz cinquenta anos de atraso, retrata gentes e figuras do antigamente, retratando um cenário, propondo uma imagética do passado, denunciando umas vezes, apostrofando outras, criticando bastante algumas, aplaudindo poucas. 

 

Foi então que me interroguei pois todas as cenas retratadas terão mais de meio século e, embora sendo verdade que muito nos contam e nos dizem sobre esses tempos que já ninguém lembra, nem quer lembrar, tempos que muitos só conhecem de ouvir, habituados que estão a emprenhar pelos ouvidos sempre que alguém lhes fala desses antigos tempos.

 

Muito haveria a dizer sobre os tempos actuais (os que mais interessam directamente ao nosso bem estar e futuro), muito haveria a dizer sobre esta democracia, mas nem eles nem ela estão aqui representados nesta mostra. Vontade e opção do autor que eu respeito, e gabo-lhe a arte, não a intenção, mas sim, antigamente talvez houvesse mais fraternidade, mais igualdade, mais solidariedade, mais coesão, todos por um e um por todos, Salazar catalisava em si e contra si toda a oposição, tudo e todos. Agora é o que se vê …. Cada um por si, adeus coesão, adeus solidariedade, adeus igualdade, adeus fraternidade.

 

Muitas mais criticas haveria a pintar agora, que se faz menos e fala mais, ou demais. Não por acaso o nosso insuspeito INE dá como o período áureo da economia portuguesa as décadas d 1954 a 1974, + ou – as retratadas nos ROSTOS DA IGUALDADE, porque agora não há crescimento económico, há atraso, regressão, crescimento só da dívida.

 

Humorística, trágica, polémica, triste ou satírica, certamente uma exposição alusiva às décadas actuais seria deveras interessante, não lhe faltando motivos ou prismas sob os quais a abordar. Se situarmos esta exposição entre os anos 30 e 60/70 do seculo passado sim, retrata-os bem, quer a nação quer os nacionais estavam ainda na idade da pedra mas, não esqueçamos, em 1928, quando Salazar entrou na caverna trouxe-nos a luz, trouxe o fogo, com ele acabou-se a nossa pré-história. O resto são histórias que se contam às criancinhas ou aos tontinhos…

 

Aqueles tempos nunca me envergonharam, mas esta democracia sim, deixa muito a desejar e já carrega um estigma, o facto de não envergonhar ninguém …..

 

ALGUMAS FOTOS SAIRAM COM REFLEXO DO FLASH. AS MINHS DESCULPAS. OBRIGADO.


* UMA NOTA NEGATIVA: É mais que óbvio que António Ervedeiro não merecia a desconsideração a que foi votado, e naturalmente nem foi o próprio a ter montado a exposição ou teria dado pelo óbice. A igreja de S. Vicente, lugar de culto no que à cultura em Évora concerne carece de quem trate dela a preceito. Capital Europeia da Cultura, aquele lugar da nossa cidade fede a mijo e cheira a merda. Entrem lá e constatem o facto com os vossos narizes. Uma vergonha para quem expõe, para quaisquer visitantes e em especial para a cidade e para os eborenses.

Parece que o recepcionista ou o cuidador da exposição, ou os dois segundo me foi dito por empregada da pastelaria em frente, a Zoca, terão dado uma pequena lavagem na igreja sem que para isso tivessem obrigação. Imagino que também eles se terão sentido envergonhados e tentaram antecipar-se aos serviços de limpeza (que deveriam ser no mínimo semanais) serviços de limpeza que além da obrigação têm os produtos aconselhados em casos tais.

Os experts da cultura da CME que lá dêem um pulo, tirem o cu das secretárias e secretarias e percorram o burgo, é para isso que lhes pagamos. Até parece que quanto mais bem pagos são menos fazem.