Pasmo com a lucidez que algumas das minhas amizades demonstram pondo-se a milhas!
As mais ingénuas, castas e sonsas nem se fazem novas, quanto mais velhas!
Mal detectam em mim um rasto de loucura, ou de bom senso, no caso parece ser indiferente, ala que se faz tarde!
Isto quando não calha ficarem para ali, mudas e quedas, observando a minha vida com a curiosidade de um ornitorrinco.
Valem-me vida e comportamento exemplares, quando não vejam só os dissabores em que incorreria. Deixem-me esclarecer, antes de tudo, que esta crónica não vai dirigida a ninguém, absolutamente a ninguém, e faço questão que isso fique desde já esclarecido, é de abrangência total e não leva recados nem destinatários expressos, ok? Isto é um simples cogito de vacances...
Confunde-me nem me darem tempo para apurar qual dos meus excelsos predicados as pôs ao fresco ou ao largo com tão surpreendente rapidez. Deixam-me confuso!
Eu tão dotado! Um moço que transpira simpatia!
É que nem se dignam terçar armas comigo!
Nem uma hipótese de defesa me dão!
Para elas tudo que eu diga ou faça é considerado ataque, e fará parte de um plano sabiamente urdido por mim não sei para quê confesso-vos de coração nas mãos.
Algumas mentem-me à saciedade, e o que elas se divertem à minha custa? Não posso dizer o mesmo delas, na maioria dos casos nem chego a conhecê-las praticamente, mas durante algum tempo, e enquanto a coisa dura, como num puzzle, permito-me ir construindo dia a dia as suas imagens.
Por vezes, por brincadeira minha e só cá para mim, acrescento a esses perfis algumas categorias; arrogante, convencida, xica-esperta, mentirosa, beata, loura-burra, intelectual, casta, boazona, santa, virgem, sonsa, cação, ingénua, bombom, parva, moralista, estúpida, inteligente, inconsequente, puritana, etc.
Nada de grave, é um modo muito meu de as diferençar e conhecer e, claro que embora o mereçam não as chamo nem trato por estes mimos, posso ser parvo, mas não sou estúpido.
Enfim, atendendo a que vivemos numa selva, compreensivelmente perdoo-lhes a forma pouco delicada e civilizada com que muitas vezes lidam comigo ou me correspondem.
Fico até algo contente por saber ter contribuído com alguma coisa para lhes aliviar ou alegrar os dias, ao menos sirvo para algo, penso, já não se perde tudo!
Alguma coisa porém haverá, dita ou feita, que será a gota de água que as põe a milhas! Porquê ou o quê, estou para saber !
E logo algumas, que, ante os cânones, mais parecerão inteligências superiores, reflectindo a imagem da sabedoria eterna. Por vezes semblantes divinos em corpos perfeitos, esquecendo que nem somente a beleza é digna de ser amada, ainda que o amor seja o único caminho permitido ao homem sensível para o acesso à espiritualidade, à alma, ao divino ou divinal, se entendida a beleza num sentido lato, e não exclusivamente a beleza das formas como comum e infelizmente é vista.
Nunca cheguei a saber quais os misteres a que muitas se entregavam, tão rápidas se fecharam na sua concha protectora, de quê não imagino, a não ser delas próprias.
E com estes espíritos tão tolerantes quanto os de uma preceptora do séc. XVIII e flexíveis como uma barra de aço, conheci professoras, vendedoras de Herbalife, de vassouras, time-sharing, repositoras de hiper’s, da revista “Cais”, mas também especialistas em biologia, nutricionismo, ecologia, psicologia, economia, xamanismo, arte, estética, estatística, estilística, música, só não conheci entendidas em ética, e talvez aí o meu pecado, ou o delas, é irrelevante, já que o resultado foi o mesmo.
Por vezes ter-me – ei perdido por erro de cálculo, pensando estar a lidar com “primus inter pares”, estarei inconscientemente alimentando mentes mesquinhas, fechadas, retrógradas, intolerantes, inflexíveis e tão senhoras de si quanto a ignorância o garante e o convencimento ilude e decepciona.
Uma tristeza, uma verdadeira tristeza.
Tantos e tantos casos em que inteligência zero, sabedoria ainda menos, incapazes de um gracejo brejeiro ou de uma piada mundana, umas todas viradex para o intelecto e o cultural, com mail’s e ditos espirituosos que só apetece mandar meter no …, como se eu não estivesse farto de cultura e de gente pseudo culta ou aborrecida e vaidosamente intelectual, que à mais pequena coisa respondem com uma tese de Kant, Chopenhauer, Freud, quando não de Paulo Coelho ou Gonçalo M. Tavares, mas que nem se babam quando me vêem, e que, para mal dos seus pecados, nem ao menos falar ou escrever sabem.
Diria que a maioria não serve para nada!
E não compreendem que o que lhes quero é a alma, a inteligência, a franqueza, a sinceridade, que não troco por nada do que elas imaginam sobrar-lhes, já que corpos há muitos à mão.
Infelizmente jamais virei a conhecer-lhes a capacidade para um dito espirituoso, uma graça inteligente, um sorriso franco. O que eu aprecio é inteligência normal, normalíssima, de gente normal, normalíssima, e não de teorias abstractas de sumas sacerdotisas da sapiência ou tias ou sobrinhas da Lili Caneças e com tanta inteligência quanto ela.
Verdadinha que tenho dedicado algum tempo à introspecção, revisto a forma como lido com as pessoas, verdade que relativamente a algumas nem sei afirmar se me têm desiludido se sou eu a desiludi-las a elas, há que contar, prever e aguentar alguma da desarmonia do mundo, da abjecção, da infâmia, da torpeza, do opróbrio, da baixeza e degradação dos valores em que nos movemos, veja-se o meu exemplo, nada aconselhável a ninguém, especialmente a menores muito influenciáveis, ou a adultos sugestionáveis, questionáveis, impreparados, sobretudo se uns convencidos.
Deixa ver quantas das minhas amizades, depois desta crónica, terão coragem para enrolar a trouxa e zarpar, seria um favor que me fariam, já que por questões de formação sou incapaz de “apagar” quem quer que seja.
Valham-me em boa verdade as amizades sinceras e pacientes que me aturam e desculpam ou perdoam todos os excessos e, apesar disso ou por isso se mantêm firmes que nem um soldado da rainha, mesmo aquelas que por mor de razões que a razão desconhece e nem alvitro pôr em causa, só me aparecem quinzenal ou mensalmente, mas aparecem e fazem questão de me deixar a sua solidariedade, quando não o seu carinho, é por elas que me mantenho, quando não já tinha atirado com esta banca ao ar e batido com a porta, é a essas que faço aqui mesmo, aproveitando a ocasião, prova da minha gratidão desmedida e carinho incontido, porque se há coisa que adoro é ter gente de quem gostar e jamais me ocorreu ter eu mesmo que me enquadrar no agrado de alguém.
Cuidado portanto comigo!
Já vou acreditando ser amizade ou companhia totalmente desaconselhável!
Que ao menos tal me faça feliz. Já não se perderá tudo!
Tenho a moto pronta, será só pegar nela e arrancar!
E alas p’ra que te quero!
Não há fome que não dê em fartura!
São quilómetros de prazer, fugir daqui e depressa!
Dar uma volta p’ra descontrair!
É fartar vilanagem, que Évora está nas berças e só dá p’ra embrutecer!
Mas ka gand’aldeia esta!
Aldeia de m…….. é o que é !
Xauzinho !
Ficar aqui encerrado depois de uma semana de trabalho?
JAMÉ !